domingo, junho 26, 2005

O Vermelho e o Negro



Só um tolo, pensou, encoleriza-se contra os outros: uma pedra cai porque é pesada. Serei sempre criança? Até quando terei o hábito de dar minha alma para essa gente, e justamente por seu dinheiro? Se quero ser estimado por eles e por mim mesmo, preciso mostrar-lhes que minha pobreza está em comércio com a riqueza deles, mas que meu coração está a mil léguas de sua insolência, situado numa esfera muito elevada para ser atingido por seus pequenos gestos de desdém ou de favor.


Stendhal, pela boca do espírito inquieto e orgulhoso de Julien. Rapazinho ambicioso esse. Mas sempre hesitante, sempre.

terça-feira, junho 21, 2005

Bolívia



É muito fácil, portanto, como fizeram durante esta semana o agora ex-presidente Sanchez de Lozada, a OEA e os EUA, alardear que a revolta popular em curso na Bolívia "põe em perigo a ordem constitucional" e é "uma conspiração para substituir a democracia por uma ditadura sindical". É muito fácil acusar que os líderes camponeses e indígenas Evo Morales e Felipe Quíspe são responsáveis por um "projeto subversivo" para instaurar uma ditadura.


Tudo muito parecido aos acontecimentos deste último mês, lá pelos idos dias de setembro de 2003 uma outra onda de protestos corria então a Bolívia. Daquela vez, consolidou-se o jornalista Carlos Mesa no poder. Desta, menos de dois anos depois, Carlos Mesa já caiu e o futuro ainda está em aberto.

Naquela oportunidade, publiquei um texto sobre a crise na Nova-e e no Imprensa Marrom. Como, quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas, segue o link para a coluna, se alguém estiver interessado. Se a situação mudou, foi muito pouco. Minhas opiniões continuam as mesmas.

segunda-feira, junho 20, 2005

Poesia numa hora dessas?*



Leveza e peso

Onde foi parar a poesia?
Pergunto, e já ouço a resposta
que vai, claro, me soar como troça.
Bendita a troça que me protege.
Ai de nós sem a ironia.

Mas perguntar ofende?
Sempre, inevitavelmente.
As respostas serão ridículas
sempre, oras. Sobretudo
as minhas próprias.

O medo das respostas
me escancara, sem fuga, o prazer
que tiro do preguiçoso conforto.
Me cospe no rosto, envergonhado,
a infâmia da apatia.

Mas não só.
Diga a verdade, oras!
Vá até o fim agora,
e assuma que
o medo da resposta
me escancara, sem fuga
me cospe na cara, suja,
a vergonha
da covardia.

Ai de nós sem a ironia.


* Expressão emprestada do L.F. Veríssimo.

quarta-feira, junho 15, 2005

A Aula de Governo do Sr. Roberto



Infelizmente não pude assistir pela TV ao depoimento do Deputado Roberto Jefferson, transmitido anteontem, como se dizia no meu tempo, ao vivo e a cores para todo o Brasil.

Li tudo nos jornais de hoje, mas o mais importante foi colher as impressões mais tarde, na mesa de jantar. Minha mãe ficou encantada com o sujeito. Depoimento dela: "Pode ser um canalha, mas meu Deus, que lábia, que talento, que articulação". Mamãe admirou também sua energia: "Falou mais de hora e meia, sem papel nenhum, citando nomes, datas e horários. E depois ainda esculhambou todos que faziam perguntas". E disse mais: "Aquele deputado presidente do PL, que tem banca de galã, suava em bicas, enquanto o Jefferson estava na maior tranquilidade...". É, mãe, não se fazem mais políticos como antigamente.

O surto do Sr. Roberto tem rendido frases memoráveis. "Vossa Excelência, me desculpe, mas o senhor recebia e repassava mensalão sim" é sensacional. O depoimento na Comissão de Ética foi praticamente uma aula magna, escancaradamente didática, de como funciona e sempre funcionou o sistema político, as eleições, os partidos, o governo e tudo mais neste país.

Neste ponto, ainda há o que agradecer ao PT. A impressão que se tem é que o Partido dos Trabalhadores ainda é um novato, um junior, um freshman no poder e, como tal, não teve a habilidade necessária para manter a esquemática sobre o devido e discreto controle. Lambuzou-se, afobou-se, atrapalhou-se e, então, o excremento de sempre acabou ficando bem de frente para o ventilador.

Lula, ao seu estilo, já prometeu: "não vai sobrar pedra sobre pedra". Se é para ficar no bordão, o clima aparenta estar mais adequado para o "salve-se quem puder".

Melinda & Melinda



Concordo com o Marcelo Costa. Woody Allen fez seu melhor filme em 5 anos. E isso não é pouca coisa quando se atende pelo nome de Woody Allen e se produz pontualmente sempre um longa por ano. Eu iria ainda mais além que o Marcelo, diria que é o melhor filme dele desde Celebridade, pois este tinha Winona e Charlize e aí também já é covardia. Mesmo que Melinda seja interpretada pela loirinha Rhanda Mitchel, com muito charme e talento, e que o filme ainda conte com a bela Amanda Peet, aquela que já foi a Jack, do Jack & Jill.

Para além das mulheres, os pontos positivos de Melinda & Melinda são aquelas qualidades já conhecidas dos filmes de Woody Allen – personagens tão esquisitos quanto verossímeis, charlando em intermináveis diálogos inteligentes, mas sempre muito honestos, vivendo uma história simples, mas sempre algo amalucada. Desta vez, o argumento de Allen é manjadíssimo demais – a vida é cheia de tragédia e comédia, tudo depende de como você a encara. Mas, apesar da aparente obviedade, a receita está tão bem equilibrada que é impossível não sair do cinema com um sorriso mezzo irônico mezzo bobo no rosto.

O próprio filme acaba confirmando a sua tese manjada - na vida, não só há tragédia e comédia, como elas frequentemente se confundem. A história de Melinda que propõe-se trágica, é cheia de momentos patetas e hilários. Do outro lado, a metade cômica do filme está repleta de dolorosos fracassos e paixões avassaladoras. Confesso que gostei mais da metade-dita-comédia, principalmente pelo Will Farell. Não conhecia muito o sujeito (era ele o Fartman??), mas foi aprovado com louvor no papel de alter-ego do chefe Woody.

Enfim, é tudo como os velhos gregos já diziam, e continuamos enfiados nessa grande roda tragicômica. Não à toa percebo que os filmes mais sinceros sempre acabam levando o rótulo de comédia dramática. O resto é tudo variação.

segunda-feira, junho 13, 2005

Melhor Opinião sobre o Assunto



Esse prédio da Daslu parece um pavilhão de cadeia, acho meio sinistro.


Fernanda, ex-Miss Penitenciária, moradora da favela da rua Funchal, vizinha da nova casa da sra. Tranchesi.

(a reportagem do Estadão, infelizmente, requer senha. Ou paciência para cadastrar-se)

terça-feira, junho 07, 2005

Cem Escovadas






Lá no Scream&Yell, um texto meu sobre o diário sapeca-romântico da italianinha Melissa Panarello, "Cem Escovadas Antes de Ir para Cama".