sexta-feira, agosto 11, 2006

Quem quer dinheiro?



Sim, eu devo ser um obsessivo-compulsivo. Tenho todo o acompanhamento da minha conta-corrente, numa planilhinha bacana no Excel, desde que comecei a ganhar minhas próprias patacas lá pelos idos de 1997.

Devo ser igual aquela senhora que foi descoberta guardando em casa toneladas de lixo. Ao invés de lixo, guardo esses dados. Esta noite, por exemplo, passei um bom tempo fazendo uma pequena revisão histórica. Olho para minhas despesas de 8 anos atrás, relembro de meus salários, revejo quanto ganhei e onde gastei, e sinto uma tremenda melancolia a partir de todos esses números.

É claro que não são os números. É minha pequena história. Mas o lixo daquela senhora espanhola também era, ao menos para ela, a sua pequena história. Sem dúvida, me diagnostico irremediavelmente como um maldito melancólico-saudosista-obsessivo-compulsivo.

A parte de tudo isso, o que me deixou deveras encafifado na revisão histórica desta noite foi verificar que, lá no meus longínquos tempos de recém-contratado, em 1997, havia mais dinheiro em minha conta-corrente que nos dias de hoje. Muito mais dinheiro. Há mais de oito anos atrás.

Apesar das justificativas óbvias (aumento dos custos-fixos, apartamento, morar sozinho, etc.) o fato por si só encerra um fracasso em qualquer plano de sucesso financeiro nesses primeiros anos de vida profissional.

Conclusão fácil e absolutamente pessoal: se meu objetivo até aqui foi $$$, o caminho está errado. Se meu objetivo até aqui não foi $$$, o caminho está completamente errado.

terça-feira, agosto 01, 2006

Grande discos da minha estante






Gilberto Gil (1968)


Alguns oito bons anos atrás, quando comecei a ouvir MPB com mais curiosidade, comprei uma caixa de 5 cds entitulada "Tropicália". Era uma edição comemorativa que continha os álbuns que inauguraram o Tropicalismo em 1968: os discos homônimos de Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e dos Mutantes, além do álbum-manifesto do movimento, a obra conjunta "Tropicalia ou Panis et Circensis".

Dos cinco, os melhores, sem dúvida, são os de Gilberto Gil e Gal Costa. Talvez Caetano tenha até construido posteriormente uma obra mais completa, mas esse seu disco tropicalista é simplesmente chato. Apesar de conter "Alegria, Alegria" e "Tropicália", o disco é plano e mal-produzido. Em seu livro "Verdade Tropical" (que também li naquela fase curiosa, vejam só) o próprio Caetano admite isso. Os Mutantes são mesmo demais, e seu disco, assim como o álbum-manifesto "Tropicalia", são bem interessantes. Ainda assim, Gil e Gal superaram os demais comparsas com álbuns repletos, não simplesmente de belas canções, mas de vida e energia. Era o tropicalismo, ora bolas.

Ambos os discos são deliciosos. Mas o de Gil, talvez, esteja um passo a frente. "Gal Costa" é pop até os ossos, tem até canção (duas!) de Roberto Carlos. Mas é também o álbum mais convencional do conjunto. "Gilberto Gil" ganha na inventividade, conseguindo unir os ousados arranjos do maestro Rogério Duprat com canções singelas, algumas de bucólica inocência, outras com dramaticidade visceral. Um álbum vivo, enfim, colorido como sua capa.

Confesso que hoje nem mais gosto de Gilberto Gil tanto assim. Mas é só esquecer que o sujeito virou ministro que esse disco continua lindo de se ouvir. E além de "Domingo no Parque", "Frevo Rasgado" e "Marginália II", tem uma daquelas minhas prediletas, um das famosas "canções que me fazem sorrir". É "Luzia Luluza", e a letra vai a seguir, só para deixar uma lembrança de sorriso aqui no blog.

Luzia Luluza
Gilberto Gil

Passei toda a tarde ensaiando, ensaiando
Essa vontade de ser ator acaba me matando
São quase oito horas da noite
E eu nesse táxi
Que trânsito horrível, meu Deus
E Luzia, e Luzia, e Luzia
Estou tão cansado, mas disse que ia
Luzia Luluza está lá
me esperando

Mais duas entradas, uma inteira, uma meia
São quase oito horas, a sala está cheia
Essa sessão das oito vai ficar lotada

Terceira semana em cartaz James Bond
Melhor pra Luzia, não fica parada
Quando não vem gente, ela fica abandonada

Naquela cabine do Cine Avenida
Revistas, bordados, um rádio de pilha
Na cela da morte do Cine Avenida, a me esperar

No próximo ano nós vamos casar
No próximo filme nós vamos casar

Luzia, Luluza, eu vou ficar famoso
Vou fazer um filme de ator principal
No filme eu me caso com você, Luluza
No carnaval

Eu desço do táxi, feliz, mascarado
Você me esperando na bilheteria
Sua fantasia é de papel crepom

Eu pego você pelas mãos como um raio
E saio com você, descendo a avenida
A avenida é comprida, é comprida, é comprida...
E termina na areia
Na beira do mar
E a gente se casa
Na areia, Luluza
Na beira do mar
Na beira do mar