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terça-feira, maio 16, 2006
Crise de Pânico
A segunda-feira foi de caos em São Paulo. Por sorte, estive em casa durante todo o dia e pude acompanhar o noticiário de uma maneira mais calma e seletiva, filtrando os boatos e o sensacionalismo daquilo que realmente acontecia. Minha namorada, por outro lado, estava em pânico. Trabalhando na Av. Paulista, tudo que ela ouvia eram ordens de toque de recolher e notícias sobre universidades sendo metralhadas. Seguiu a orientação de voltar para casa o mais rápido possível e ficou duas horas presa num imenso congestionamento. Tudo também acabou bem, graças a Deus.
O calor dos acontecimentos permanece e ainda há muita discussão sobre o assunto. Mas, a posteriori e já com um pouco mais de cabeça fria, é impossível negar que o pânico que atacou a população hoje foi bastante superior a qualquer aumento real do perigo que já apresentam normalmente as ruas de São Paulo.
Quando digo isso, não menosprezo nada do que aconteceu durante o fim-de-semana. Não menosprezo a bárbara chacina premeditada de mais de 30 policiais e agentes (fato que derrubaria o Secretário de Segurança Pública em qualquer país civilizado), nem a tragédia e a dor de suas famílias. Não menosprezo a falência das políticas e das instituições de segurança e de justiça do Estado, muito menos menosprezo a força de organização e comando exibida pelo PCC.
Mas a fria verdade é que, hoje, o que se viu em São Paulo foi menos um perigo real a integridade de seus cidadãos e muito mais uma crise de pânico social. Nesta segunda-feira, apesar da gravidade dos atentados terem diminuído drasticamente, foi o medo que tomou conta das pessoas. Medo este que, ele sim, podia trazer um efeito dominó de eventos trágicos.
O terror instaurado, no entanto, levanta outra questão: afinal o pânico exibido pela população era gratuito? Não, não era. Eu, dentro do meu castelo, na hipotética segurança do meu lar, tive medo. O medo não é um sentimento racional. Ele não analisa probabilidades ou estatísticas. Nossos instintos psicológicos de sobrevivência são muito mais sutis e incontroláveis. Dentro da situação em que vivemos já há tanto tempo, o medo exibido pela população foi completamente legítimo.
A questão é que o medo legítimo de cada um transformou-se em pânico coletivo. E é aí onde constata-se o imenso despreparo de nossas autoridades em lidar com uma situação limite como a que vivemos nesta segunda-feira. É claro que houve sensacionalismo na imprensa. Isso é condenável, mas é usual. Vemos o Datena na TV toda a semana. No entanto, o grande causador de toda a histeria e desordem vistas hoje foi o completo vácuo de autoridade visto em São Paulo. No meio de boatos sobre fugas de presídios e bombas no aeroporto, fomos obrigados a esperar até as 17:00 para ouvir uma autoridade se pronunciar com alguma credibilidade e segurança. O Coronel da PM do Estado, cujo nome agora me escapa, exibiu objetividade, procurou demonstar sobriedade e ainda reclamou dos boatos. Excelente pronunciamento, sr. Coronel. Mas, convenhamos, onde estava o Estado, até então, para coibir os boatos e acalmar a população? Onde estava o governador Cláudio Lembo durante todo o dia? Onde está escondido o prefeito Kassab? Por acaso temos ainda líderes sérios neste país? Por Tutátis, não se brinca assim com a psicologia das massas.
O pânico da cidade de São Paulo é a mais evidente vitória atingida pelos atos terroristas do fim-de-semana. Conseguiram instaurar o terror entre a população, desestabilizar a sociedade, tomar as instituições como reféns. Este pânico, e não o desafio à polícia, é sem dúvida a grande conquista do PCC.
E fica a triste sensação de que, ainda além da tragédia lamentável de tantas mortes ocorridas, o que se comprovou nesta segunda-feira foi o completo despreparo de nossas autoridades para lidar com situações de crise.
Ainda há pouco tempo, Londres foi atacada impiedosamente por terroristas e a resposta da sociedade foi a mais completa manutenção da vida cotidiana da cidade. Se São Paulo não foi capaz de oferecer isso, a razão não é a diferença de temperamento de nossa população, mas sim a total incompetência e falta de credibilidade que infelizmente caracterizam nossos líderes.
E desculpem minha exaltação.
***
Alexande Inagaki e Vinicius Mota tem visões interessantes e coerentes sobre o que se passou.
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