quarta-feira, março 29, 2006

Cinema Popular Brasileiro






O Kléber Mendonça, editor do ótimo Cinemascópio, perdeu a paciência com as últimas produções do cinema nacional, coisas como Gatão de Meia-Idade e A Máquina, e conseguiu também disparar a verve, ao mesmo tempo, do Allan Sieber (charge acima) e do Arnaldo Branco (tirinha abaixo).

Faz-se então a rede nacional anti-comedinhas românticas mal-feitas e subsidiadas. Não sou visceralmente contra o apoio do governo à produção de cinema. Mas ver o dinheiro público financiando iniciativas sem nenhuma pretensão artística, ou seja, com temáticas comercialmente viáveis, e depois assistir a um filme ruim atrás do outro é dose. Faz duvidar do velho argumento “é preciso quantidade para obter qualidade”. Será? Acho que só quantidade não basta.

Aí você vai me perguntar: “então, seu merdinha, qual é a solução?”. Sei lá. Por enquanto sigo advogando pela importação de roteiristas argentinos. Um esforcinho diplomático do Ministro Gil e já seria um começo. Aliás, vão conferir Não É Você, Sou Eu e testemunhem uma comédia romântica bobinha, comercial até a medula, cheia de fórmulas recicladas, mas que ainda pode se chamar de cinema.




segunda-feira, março 27, 2006

Teatro






Aos poucos vou retomando o costume de ir ao teatro. Fomos ontem assistir "Leila Baby", em cartaz no Cultura Inglesa. O convite foi do Gravata, que vem a ser colega da atriz protagonista, Juliana Mesquita, e minha curiosidade pelo texto do Mário Bortolloto fechou o negócio.

Valeu muito a pena. Talvez num outro dia, ou numa outra peça, eu provavelmente rotularia a temática de drama pós-adolescente e desancaria aquela rebeldia de sarjeta como boba e simplista. Mas desta vez acho que fui pego pelo estômago, justamente por essa aparente simplicidade do texto do Bortolloto. Outro dia tínhamos ido ver a montagem de "A Serpente", com a Débora Falabella, e, apesar do pretensamente mais profundo texto do Nélson Rodrigues, a peça não me cativou da mesma maneira. Devo estar cansado de tantos psicanalismos.

Em "Leila Baby" não há traumas de infância. Há só o blues seco do cotidiano, um blues que começa com leveza e termina sem redenção. Os diálogos são ótimos, coloquiais e bem-humorados. O par de atores contribui muito. Juliana Mesquita conseguiu dosar bem o sotaque interiorano e o jeitinho patilene ingênuo da sua Leila, tirando bastante verdade do que poderia cair facilmente numa caricatura. O mesmo vale para Daniel Alvim. Seu personagem, o cruel destruidor de toda a inocência da Leila bebê, é, ainda assim, cativante.

O final me trouxe um gosto amargo. Não vou contar aqui, claro, mas acho que eu faria diferente. Mas, enfim, a peça não é minha, é do Mário. Cruel Mário, cruel.

Leila Baby
com Daniel Alvim e Juliana Mesquita
Direção de Jairo Mattos
Sexta (21h30) Sábado (21h) Domingo (19h)
Teatro Cultura Inglesa – Pinheiros
Rua Deputado Lacerda Franco, 333

quinta-feira, março 23, 2006

Tenha modos, Dona Angela



Dona Angela, a senhora até tem jeito de ser uma daquelas tiazinhas simpáticas que sorriem pra gente na fila da padaria. Leva jeito de ser uma vovó carinhosa, daquelas que ainda fazem permanente nos cabelos e tem cheiro de talco.

Mas isso não se faz, Dona Angela. Por mais curriculum que a senhora tenha pra mostrar, a senhora vacilou. Agora virou símbolo dessa nossa cultura política execrável, retrato daqueles que expandem a malemolência simpática do dia-a-dia para o trato irresponsavel com a coisa pública.

A senhora é o sinal mais fiel deste nosso tempo. O povo vai te esquecer, claro, porque o brasileiro é bundão por demais da conta. Mas a senhora vai virar bode-expiatório da imprensa, pelo menos por uns três dias. Eu acho que isso é bem feito.

Quem acha que a Dona Angela merece um pouco mais de aporrinhação, pode enviar um e-mail para o endereço angela@angelaguadagnin.net. Ou entrar na campanha de achincalhamento que o Nova Corja está promovendo.

quarta-feira, março 22, 2006

Itália



Das coisas bonitas que se lê pelos blogues. Eu não conheço a Itália, só alguns italianos, mas o post da Vanessa Wozcniaki me encheu de vontade.

Made in Italy

Eu gosto dos costumes, dos rituais de refeiçoes, dos pratos sazonais e dos doces tipicos da Italia. Antipasto, primo, secondo, contorno, dolce, fruta, cafe. Pasta fredda no verao, melao e prosciuto crudo. Pene alla matriciana no inverno. Aspargus pra a primavera e castanhas no outono. Doces tipicos de carnaval, vinhos e cafes, um mundo todo a ser descoberto.

A maneira que levam a vida e seus slogans "Italians do it better". Pergunta-se pra que lado fica, mesmo que a placa esteja a sua frente... elas nao sao confiaveis. Um responsavel mandou pinta-la, mas o operario que a plantou ali achava que era mais style virada ao contrario. A noçao norte-sul varia de italiano pra italiano, quindi....

O carnaval eh cheio de mascaras e fantasias. O chao coberto de confete e muitos baloes coloridos. Os doces tipicos e as crianças correndo na rua. Nao quero lembrar dos marrocos. Na manha seguinte a praça esta limpa.

O modo relaxado como vivem. Como reconhecem a sua condiçao humana e limitada e ao mesmo tempo nao colocam a culpa de seus defeitos nisso. A moda que dita tendencias. Os elogios multiplicados. Os mil cafes oferecidos. A mafia. A familia. A Igreja. E o individuo. Complexo.

segunda-feira, março 20, 2006

O menino é maluquinho



E ela levou uns tapinhas e se fez de indignada.

Mais leituras à luz de G.Alckmin



Brizola nunca formulou qualquer plataforma que cheire sequer a socialismo. É nacionalista e acredita em governo sob comando autoritário do Estado. Quando o conheci pessoalmente, no Rio, em 1962, (...), estava em companhia de Marcos Vinícius Caldeira Brant e de José Serra, então dirigentes da UNE e muito radicais. Serra, um dia, poderá ser presidente do Brasil. Abandonou o radicalismo estéril. Tem imaginação. Me pergunto se aguenta o rojão.
Paulo Francis, "Trinta Anos Esta Noite", 1994.


O PSDB tinha dois candidatos. Um deles, segundo a última pesquisa do Ibope, estava empatado com Lula. O outro perdia no primeiro turno. O escolhido foi o que perdia no primeiro turno. Para quem está empenhado apenas em se livrar de Lula, como eu, e não dá a mínima para a disputa interna dos tucanos, o resultado não poderia ser pior. Pensei em atear fogo à sede do PSDB.
Diogo Mainardi, Revista Veja, 18/03/2006.

sexta-feira, março 17, 2006

Leituras à luz de G. Alckmin



(Sobre o regime militar 1964-1984)(...) as melhores pessoas, incorfomadas com imposições militares, aderiram ao terrorismo, morrendo quase todas ou se estragaram, psicologicamente, de alguma forma. Outras foram para a iniciativa privada. Quando veio a abertura democrática, em 1985, já estavam comprometidas demais com seus afazeres, responsabilidades etc para tentar a vida pública. O que é uma das causas da escumalha política hoje dominante no Brasil. Ulisses Guimarães, que emergiu como líder civil democrático nos últimos anos de regime militar, era um político insignificante nos tempos de Jânio e Jango. Lembro de um jantar em Brasília, 1961, em que toda vez que Franco Montoro abria a boca, era admoestado pelo líder do PDC, Paulo de Tarso: ‘Pára de dizer besteira, Franco’. Gerações perdidas...
Paulo Francis, em "Trinta Anos Esta Noite", 1994.


A natureza humana é sondável e o que se descobre, quase sempre, não faz bem à saúde. Yeats, o poeta, nota que os piores são sempre os mais passionais, enquanto aos melhores falta convicção.
Idem


Examinando sua vida, concluiu que havia feito tudo errado – Tudo. Sua vida estava arruinada, mas desde que não houvera muito para começar, não havia muito para lamentar. (...) Era inteligente ou idiota? Bem, agora não podia declarar-se inteligente. Tivera uma vez as características de inteligente, mas, como decidira ser sonhador, fora explorado pelos espertos. (...) É verdade que ele mesmo pedira para ser golpeado e deixara seus atacantes se fortalecerem. Aquilo levou-o a examinar o próprio caráter. Que tipo de caráter era o dele? Segundo o vocabulário moderno, era narcisista, masoquista e anacrônico. Seu quadro clínico era o de um depressivo mas não exatamente do pior tipo, maníaco depressivo. (...) Era inteligente? Seu intelecto seria muito mais positivo se tivesse um caráter paranóico e agressivo, ávido de poder. Era invejoso, mas não excepcionalmente competitivo – não um verdadeiro paranóico.
Saul Bellow, em "Herzog", 1964.

quarta-feira, março 15, 2006

Pediram arrego



E os tucanos vão mesmo jogar na defensiva. Diante do medo de perder tudo, pelo menos garantem o Serra, seja ganhando fácil o Palácio dos Bandeirantes, seja continuando na Prefeitura.

Para o Planalto, arregaram. Acredito que o Alckmin tenha mesmo uma fé (ou ambição)sincera nas suas possibilidades, mas ainda acho que ele vai ser boi de piranha para o Lulinha. Lula-lá traveis, minha gente.

Vou ter uma surpresa se o Brasilzão profundo comprar o Alckmim. O meu voto os tucanos já perderam. Como lulado arrependido, estava pensando seriamente em votar no Serra. No Alckmim, deixa pra lá.

terça-feira, março 14, 2006

Bienal



Não ia numa Bienal do Livro desde os tempos de escola. Estar lá numa tarde de segunda-feira e ter a experiência de ser atropelado por centenas de pirralhos ensandecidos, perseguidos desesperadamente por suas professorinhas ginasiais, no mínimo me despertou um bocado de saudosismo.

A coisa é demasiado grande, é verdade. Vale a pena somente para aqueles que curtem entrar numa livraria, gastar horas caminhando entre as estantes para, enfim, não levar nada. Se você tiver qualquer outro objetivo provavelmente há alternativas melhores.

Companhia das Letras, Record, Rocco, as editoras grandes estão todas lá, muito bem instaladas e representadas por atendentes lindas e cheias de gentileza. Mas os preços continuam os mesmos, proibitivos. Depois que se acostuma com os sebos, fica difícil desembolsar 60 reais num volume, por mais que a capa brilhante e as folhas cheirozinhas fiquem sedutoramente susurrando para você.

Compras, somente num lance de oportunidade. Foi o que encontrei na Editora Francis, a única que teve a boa vontade de cortar os preços em 50%. Fica a dica. A editora tem títulos de João Gilberto Noll, Isaac Bashevis Singer, Michael Moore, Ricardo Freire, Moacir Japiassu e, é claro, Paulo Francis. Fiquei com este último e fiz um pacotinho com três títulos – Cabeça de Papel, Cabeça de Negro e Trinta Anos Esta Noite – por 45 reais.

Só para lembrar quem estiver a fim – a Bienal vai até domingo, dia 19, no Pavilhão do Anhembi. Das estações de metrô Tietê e Barra-Funda saem ônibus gratuitos a cada 5 minutos.

quinta-feira, março 09, 2006

Na TV




Filhos do Carnaval

Depois da bem realizada “Mandrake”, “Filhos do Carnaval” é a nova aposta da HBO em produções made in Brazil.

A série é co-produzida pela O2 filmes, que já tem vasta experiência em contar as aventuras de gangsters no submundo carioca. Somando isso à velha e boa fórmula da sucessão de poder dentro de uma família mafiosa, e o jogo já está praticamente ganho. Jece Valadão, então, decide a parada.

O primeiro capítulo, ressalvas a parte, foi muito bom. Mais detalhes no texto que escrevi para o Scream&Yell.

quarta-feira, março 08, 2006

Saída, pela direita



E agora vamos em frente, ora pois.

Se alguém ainda não recebeu as novidades, o fato é que nas últimas semanas rompi os grilhões que me uniam ao malévolo capital internacional. Curto agora meus dias de desocupação e contribuo para engordar as estatísticas de desemprego da república lulesca. Apesar da situação não ser remunerada, isso deve ser o que chamam de liberdade. Vamos ver até quando aguento sem procurar amarrar meu burrinho de novo em alguma senzala por aí.

Não se assustem, a coisa foi rápida mas até certo ponto planejada. O saco já estava cheio, e minha vontade de sair já era clara. Um velho e bom deus ex machina veio então juntar a fome com a vontade de comer. A empresa abriu um programa de incentivo a demissões e o pacotinho oferecido foi suficiente para liquidar minhas dívidas com os amigos, o cheque especial, as prestações dos crediários e outras pendências. Já gastei tudo, mas agora estou zerado e dá para ir levando.

A velocidade de todo o processo (da possibilidade à decisão, e depois da ação ao fato consumado), no entanto, foi de assustar um pouco. Sinto agora a poeira baixando, e sinto também que vem chegando o momento daquele velho confronto solitário, o temível eu comigo mesmo. Muitas possibilidades podem significar nenhuma possibilidade mas, enfim, vou mentalizar o bom filósofo Fernando Vanucci e tentar evitar o medo de ser feliz. Relaxemo-nos, pois.

Lembro a todos que desempregado também significa aberto a propostas indecentes. Projetos, convites e sugestões indecorosas devem ser enviadas à tradicional caixa-postal de sempre. Minhas mãos começam a querer ser postas à obra.