Quando as bombas atingiram minha cidade natal, eu estava dormindo na Califórnia. Ao acordar, vi os feridos surgindo daquelas familiares estações de metrô londrinas e os destroços do ônibus da linha 30, tudo mediado pela televisão americana. Um comentarista americano disse: "Isso mostra que vivemos em um mundo em guerra." E todas as fibras do meu corpo responderam: não, essa não é a lição de Londres.
Londres sabe bem com o que se parece uma guerra. Lembra-se da 2a Guerra Mundial em cada detalhe, de uma forma que Nova York não poderia. Apesar de essas explosões terem produzido o maior número de mortes na cidade desde 1945, essa não é uma guerra, como os comentaristas americanos gostam de imaginar. Guerras são vencidas por Exércitos. Exércitos sustentados por sociedades, economias e inteligências fortes, com certeza; mas ainda assim, Exércitos. Isso nunca será uma guerra.
Isso é outra história. (...)
Vai haver mais disso. (...) Em certa medida, teremos que aprender a viver com isso, como vivemos com outras ameaças crônicas. É nisso que Londres mais impressiona. Os chefes de polícia já tinham alertado que a questão não era "se, mas quando" um ataque terrorista aconteceria. (...)
A fleuma, a sobriedade e a determinação com que os londrinos enfrentaram os ataques de quinta-feira refletem uma longa experiência, principalmente de 30 anos de ataques do IRA, assim como o temperamento nacional. Conviver com isso, como fazem os londrinos, é a melhor resposta que as pessoas comuns podem dar aos terroristas. Devo dizer que eles fizeram com que eu tivesse mais orgulho da minha cidade natal do que o sucesso da candidatura de Londres para ser a sede da Olimpíada de 2012, anunciada no dia anterior.
Quanta liberdade estamos dispostos a sacrificar em nome da segurança? Há um perigo real de que países como os Estados Unidos e o Reino Unido se direcionem para um Estado de segurança nacional, com mais perdas de liberdades civis. Isso não poder ser - porque vai custar-nos liberdade sem trazer qualquer garantia de segurança. Eu, por mim, preferiria continuar mais livre, e correria um risco marginalmente maior de ser explodido por uma bomba terrorista.
Isso não significa ser passivo ante essas atrocidades. Mas a resposta adequada não está, como os comentaristas da Fox News americana querem que acreditemos, em maior poderio militar para acabar com "o inimigo" no Iraque ou em qualquer lugar. Está em policiamento adequado e polícia inteligente. Recusando silenciosamente a metáfora da guerra, a Polícia Metropolitana da Londres descreveu os locais dos ataques ao metrô e ao ônibus como "cenas do crime". Isso mesmo. Crimes.
Trabalhando na cidade mais etnicamente diversa do mundo, eles desenvolveram pacientes técnicas de relações comunitárias e reunião de informações, assim como de investigação depois do evento. Isso não vai impedir os ataques. Não impediu esse. Mas policiamento adequado internamente, não o envio de soldados ao exterior, é a forma de reduzir a ameaça de terroristas que operam (...).
Depois, há a política de inteligência. Estava certo tirar a Al Qaeda do Afeganistão pela força das armas. Em contraste, está cada vez mais claro que a invasão do Iraque foi um erro, que quase certamente criou mais terroristas do que eliminou. Mas agora precisamos dar o nosso melhor em um péssimo trabalho. A última coisa que devemos fazer em resposta a esse ataque é sair do Iraque. Ao contrário, agora é hora de todas as democracias se unirem em torno da causa de reconstruir um Iraque pacífico e a meio caminho de ser libertado, enquanto insistem em novas mudanças na política de ocupação por parte dos soberanos Estados Unidos, não mais tomados pela febre conservadora de três anos atrás.
Um acordo de paz entre Israel e palestinos removeria outro grande sargento recrutador de terroristas islâmicos. E, é claro, trabalhar na direção da modernização, liberalização e democratização do Oriente Médio é a única estratégia de longo prazo que certamente vai drenar o pântano no qual os mosquitos terroristas são criados.
Aqui, é a Europa, mais do que os Estados Unidos, que precisa acordar, urgentemente, para o imperativo de fazer mais. Nestes dias, coisas que acontecem longe daqui, em Cartum e Kandahar, têm impacto direto sobre nós - às vezes fatal, enquanto vamos para o trabalho sentados num trem de metrô entre King's Cross e Russel Square. Não existe mais essa coisa de política externa. Essa é, talvez, a mais profunda das lições de Londres.
Timothy Garton Ash, historiador britânico e diretor do Centro de Estudos Europeus.
5 comentários:
Drex, Weezer confirmado pro Curitiba ROCK Festival. The Cure e Flaming Lips nas negociações.
Tu vem? Tu vem? Tu vem?
[estilo louquinho bicho de sete cabeças]
beijo
gi
Esse cara é realmente ótimo, oferece uma visão ampla do que está acontecendo na Europa, não apenas no que se refere ao terrorismo. Não li, mas ele escreveu um livro "Mundo Livre" que parece bastante interessante.
Abs Drex
Rodrigo
Muito bom o texto, mas faltou vossa análise desses tempos de "guerra"...
Comprei o novo do weezer (nossa já tinha até esquecido a última vez que comprei um cd, ah se vc não tem nada do chico science, a fnac tá vendendo o "da lama ao caos" por $11)
Tamu esperando vcs até agora lá no milos hein! rs...
[]´s
Digão
Oi, Drex
Ótimo texto, ótimas idéias. A imprensa brasileira podia parar de falar sobre mensalão. Vamos falar sobre Londres.
Estou lendo Wodehouse, for London.
Tudo bom?
Abraço,
Oi Drex, estava lendo seu diário de bordo do Peru, mas vc não terminou...poxa, eu estava adorando, vc escreve tão bem e passa uma visão diferente dos outros diários que li...pq não termina? vai deixar todo mundo cheio de curiosidade?....bom, mas o que li já valeu! Tchauzinho...Patty
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