domingo, setembro 29, 2002



Pra continuar com o revival dos anos noventa, algumas coisas são essencias...

Choose life. Choose a job. Choose a career.
Choose a family. Choose a fucking big television.
Choose washing machines, cars, compact disc players, and electrical tin openers.
Choose good health, low cholesterol and dental insurance.
Choose fixed-interest mortgage repayments.
Choose a starter home. Choose your friends.
Choose leisure wear and matching luggage.
Choose a three piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics.
Choose DIY and wondering who you are on a Sunday morning.
Choose sitting on that couch watching mind-numbing sprit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth.
Choose rotting away at the end of it all, pishing you last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked-up brats you have spawned to replace yourself.
Choose your future. Choose life.

But why would I want to do a thing like that?

I chose not to choose life: I chose something else. And the reasons? There are no reasons.

Who need reasons when you've got heroin?


Trainspotting (filme de Danny Boyle, roteiro de John Hodge, baseado no romance de Irvine Welsh, 1996)

E quem ficou saudosista pode conferir o roteiro original aqui.




Lembram dos blogs que eu recomendei neste post? Pois é, foram parar ali na coluna dos meus preferidos Navegantes d'Além Mar. Doses diárias fazem bem à saúde...

sábado, setembro 28, 2002



Vocês já conheciam a Revista Simples? Eu ainda não. Esbarrei com ela ontem à tarde, por acaso, na banca de jornal. Olhei para ela e ela me retribuiu com aquele olhar meio assim, sabe, de relance. Não resisto àquilo... A danadinha sabia o que estava fazendo. Ela era o meu número e parecia saber que era. Pequenina, misteriosa, discreta mais cheia de charme. Além disso, parecia ter conteúdo. Não resisti. A abordagem foi rápida e logo a levei pra casa.

Hoje acordei, virei pro lado e ela ainda estava lá. Olhando pra ela assim, largada, deitada, percebi que não sentia nada. Não rolou aquela paixão, sabe, a atração à primeira não se transformou em intimidade. Mas foi bom, foi gostosinho. De repente a gente se cruza novamente por aí. Vai rolar de novo? Quem sabe...








Dilbert e a conspiração

Sempre fui muito cético com relação às mil e uma teorias da conspiração internacionais que muitas pessoas constumam ver em todo canto. Por um simples motivo: tenho adquirido durante anos a fio uma profunda crença na incompetência das organizações.

Volta e meia algum pensador, PhD em RPG e Doom com certeza, aparece com elocubrações de como a União Soviética coordena as FARC e o tráfico de drogas internacional em prol do comunismo, de como na verdade foi o Bush que mandou explodir o WTC, de como a Seleção Brasileira foi comprada na final da Copa de 98, de como Bill Gates planeja hipnotizar o planeta através do PC da sua casa. Neste momento, cientistas malucos e executivos sem escrúpulos estão criando um novo vírus pra dizimar a população africana. Em outro lugar longínquo, Pink e Cérebro planejam como dominar o mundo.

Para realizar somente uma dessas conspirações, seriam necessários não só com uma boa dose de genialidade maquiavélica humana (na qual acredito piamente), mas também uma extrema capacidade de conciliar interesses diversos, organizar forças difusas, coordenar ações complexas e manter sigilo absoluto (coisas nas quais já perdi completamente a fé).

Não sou ingênuo, é claro que acredito em interesses escondidos, manipulações políticas, incentivos financeiros e apoios. Também não me refiro a equipes pequenas com objetivos bem definidos (vide Osama e seus pilotos). Mas, creio que tudo isso é muito mais difuso, desorganizado, caótico e incontrolável do que nossas fantasias práticas imaginam. Em um sistema tão complexo, aposto muito mais na teoria do caos do que em relações causa-e-efeito friamente calculadas.

Trabalhar e conviver dentro de organizações por algum tempo me trouxe essa conclusão ironicamente triste: acredito muito mais no dinheiro, na ganância, no egoísmo e na ambição das pessoas do que na sua capacidade de se organizar e atingir algum objetivo.


quarta-feira, setembro 25, 2002



Somewhere in a snack bar...

Honey Bunny: I love you, Pumpkin.
Pumpkin: I love you, Honey Bunny.
Pumpkin: Everybody be cool. It's a robbery!
Honey Bunny: Any of you fuckin' pricks move, and I'll execute every mother fuckin' last one of ya!

Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)

Chupinhei isso do Zeitgeist para apoiar o movimento lançado por ali: vamos logo ao que interessa, está lançado o revival dos anos 90!

***


Epa, peraí... Isso significa pular o final dos anos 80 e o revival das bandas posers de hard rock, do metal farofa, de David Lee Roth, Sebastian Bach e Axl Rose?

Pensando bem , os 90´s podem esperar...




Quem vigia o vigilante?

Certa vez, há muito tempo em uma galáxia distante, a imprensa foi chamada de Quarto Poder. Seria ela o quarto ponto de sustentação que daria maior solidez ao tripé básico do sistema democrático: os poderes executivo, legislativo e judiciário. Ela teria a responsabilidade de ser o “grande olho” da população, vigiando e divulgando tudo o que os representantes desta faziam com o poder que ela própria lhes dera.

Para muita gente isso hoje não passa de piada. Os veículos de imprensa, sendo entidades ou empresas, têm seus próprios interesses. Pior ainda: podem agir conforme esses objetivos e se esconder atrás da máscara de vigilante isento.

E lá vamos nós novamente amarrados nas contradições da democracia, um nó que talvez só possa ser desatado pela educação, pelo pluralismo e pela diversidade de idéias.

Mas no meio disso tudo ainda dá pra encontrar esperança. Quem vigia o dono do Leão, o secretário da receita Everardo Maciel? É claro, Mr. Elio Gaspari. Por favor, leiam essa coluna, esse cara é meu ídolo...

Obs: Coloquei ali na lista de links favoritos o Colunas do Globo, onde podem ser encontrados regularmente não só o Gaspari, mas o Veríssimo, o Jabor, o Ventura e outros segundo sua preferência...



terça-feira, setembro 24, 2002



I can't believe it,
the way you look sometimes
like a trampled flag on the city streets
And I don't want it,
the things you're offering me
simbolyzed barcodes, quick I.D.

Cause I'm a 21st century digital boy
I don't know how to live
but I've got a lot of toys
My daddy is a lazy middle class intelectual
My mommy's on Valium, she's so ineffectual
Ain't life a mistery?


Angry and bad they are...


Rápido e rasteiro

A divagação do post abaixo foi motivada por uma notícia não tão longa, mas não menos fútil...

Parece que depois de ter perdido em 4 anos anteriores, o seriado Friends ganhou o Emmy nesta que foi, de longe, a sua pior temporada. Esses prêmios realmente são muito cômicos...



Porque a vida também é fútil e corriqueira...

O tempo passa, o tempo voa, e nem mesmo a poupança Bamerindus continua numa boa. Papo de velho saudosista, hein? Não, só a constatação de que, para desespero das beldades e deleite dos cirurgiões plásticos, o calendário não pára e as coisas mudam, ah, como mudam...

Não, não me refiro às mudanças de valores, à emancipação feminina, à nova geopolítica global, ao fim da inocência ou a alta do dólar. Está muito frio, os neurônios se recusam a refletir sobre essas coisas. Estava pensando em coisas mais corriqueiras mesmo. Televisão, por exemplo.

Há pouco tempo atrás, as séries de TV americanas eram execradas pelo público mais culto e “pensante”. Os chamados “enlatados” volta e meia eram espinafrados como sub-produtos descartáveis, tapa-buracos da programação, lixo imperialista, bugigangas baratas que roubavam o lugar da produção nacional. Eu, que cresci na garupa dos Chips, fazia lição de casa assistindo Primo Cruzado, Caras e Caretas e Super Vicky e espremia espinhas acompanhando Barrados no Baile, era resignado a me sentir um fraco e fútil consumidor de porcarias.

Em algum momento nestes últimos 15 anos a civilização ocidental penetrou por algum portal multidimensional e saímos num mundo onde as séries de televisão americanas são um fenômeno cultural, elogiadas pela crítica e sucessos de público. Já desde algum tempo é legal, é maneiro, é cool, é in, assistir, acompanhar e comentar as diversas séries da Sony, da Warner, da Fox.

Duas opções: ou as séries americanas melhoraram muito, ou as alternativas da televisão brasileira pioraram na mesma escala. Posso dizer que vi outro dia uma reprise de A Gata e o Rato (com o Bruce Willis já careca vinte anos atrás...) e aquilo já era ótimo, no nível das melhores sitcoms atuais. Fico então com a segunda opção...

Talvez seja melhor especificar e comparar, por exemplo, as séries de comédia. É mesmo impressionante como os programas humorísticos no Brasil sempre foram calcados no sexo. Cultura tropical? Sangue latino? Acho que o apelo fácil e rápido é a melhor explicação. Deixando de lado coisas como A Praça é Nossa (aí já é covardia...), alguns produtos novos e considerados como a nata da programação, como Os Normais (escritos por gente glamourizada, Fernandas Young da vida), tem 90% de suas piadas com alto teor sexual. Até a familiar Grande Família usualmente explora o tema com profundidade. Aí eu me pergunto: porque sitcoms americanas como Friends e Seinfeld conseguem falar de relacionamentos e matar de tanto rir sem apelar diretamente para piadinhas fulas? E isto não é moralismo, nada contra assuntos sexuais...Tudo contra ser monotemático.

Existe uma diferença de qualidade, sem dúvida. Teremos menos talento? Será que coisas de qualidade realmente não tem mercado ou não são rentáveis no Brasil? Como as coisas continuam mudando, quem sabe um dia não passamos mais uma vez pelo portal multidimensional. E que aí novamente valha a pena assistir às produções brasileiras e achincalhar os enlatados imperialistas...

segunda-feira, setembro 23, 2002



Fazendo a América

As garrafas lançadas aqui foram encontrar mais uma retirante tupiniquim perdida na terra do tio Bush. A Vanessa, que mora em Nova Iorque, também tira proveito destas atualizações da terra brasilis e até escreveu uma resposta bem legal à última Carta. Valeu Van!

Como minha mana Ká mora na Calífórnia, já posso dizer que as Cartas de Maracangalha alcançam os States de costa à costa... Agora o próximo objetivo é conquistar a Europa e mais 5 territórios a minha escolha...



Lexotan neles!

Continuamos com o dólar neurótico e o mercado nervoso. E haja paciência para ouvir a ladainha dos analistas econômicos... Será que, se de repente o Sadam, o Lula e o Ciro fossem pra outra dimensão, o dólar cairia? Santa falta de criatividade Batman! Melhor sair do meio do furacão, desligar a TV, se livrar da Miriam Leitão, e ler direto da fonte o que eles pensam sobre o barbudinho...

sexta-feira, setembro 20, 2002

Dicas para um fim-de-semana chuvoso

- Comprar a edição número três da Revista Zero, uma das poucas revistas tupiniquins sobre música, cinema e outras culturices pop. Pra quem não conhece, entre no site, que também é muito bom. Aliás o link vai já pra lista dos Outros Portos Seguros ali embaixo...

- Comprar ingresso pro show do Red Hot, porque este domingo acaba o prazo do preço promocional (se bem que isso tá me cheirando enrolação, como sempre...).

- Se você gosta de violão, firulices virtuosísticas, MPB da boa e chorinho, tem show do Yamandú Costa no SESC Pompéia. Chato pretensioso pra uns, gênio iluminado pra outros...



A divagação besta do post abaixo na verdade foi só pra dizer que na última semana andei saindo um pouco do meu círculo íntimo de blogs. Achei alguns novos fuçando por aí. Outros, foram eles que me acharam mesmo. Talvez vocês já conheçam, mas pra mim foram descobertas muito legais. Confiram...

Zeitgeist - tiradas impagáveis sobre nosso mundo pós-techno-cyber-punk-eletro-pop.

Baby Borderline - notícias fresquinhas sobre música, principalmente da cena rock. E a Sylvie ainda gosta de Hellacopters também!

Reticências - opiniões interessantes sobre política e essa nossa urbe em desespero... Além de ter meu mesmo vício dos três pontinhos...

Verba - blog da Marina, simpatizante das opiniões cinematográficas e eleitorais daqui (aquela foto do Ciro é ótima!).

Imprensa Marrom – críticas variadas sobre as últimas peripécias da imprensa brasileira.

Kibe Loco – as já famosas montagens fotográficas que me fazem dar gargalhadas no meio do escritório...

E finalmente dois blogs do pessoal do Spamzine: o novo do Alexandre Inagaki e o da Ione Moraes. Sem comentários, apenas não deixem de ler.

É muito? Bem, desligue a televisão, saia do Excel e faça algo que valha a pena...


Divagações bestas de um viajante compulsivo

Essa tal internet sempre foi um labirinto misterioso. Não sei por que caminhos, de repente me deparo com algo que vale a pena. Mas como o caminho foi caótico e o viajante é desorganizado, nunca mais consigo voltar até ali. Ou não, muito pelo contrário, também consigo ficar horas e horas andando no meio de um monte de lixo inútil e esquecível.

No meio disso tudo, o oceano dos blogs parece ter uma lógica diferente. Também é vasto e caótico, pero no mucho. Depois de um tempo (nem tanto) navegando neste marzão, dá pra perceber que existem certos “arquipélagos” (ou grupos, bolhas, conjuntos, alcatéias, comunidades, ou qualquer outro desses substantivos coletivos) que mais ou menos vão se delineando. É fácil e até engraçado perceber isso pelos links, pelos comentários, pelos acessos que cada blog recebe.

Parece óbvio? Pode ser, mas não deixo de achar interessante. Lógico, essas bolhas não são isoladas, vão se relacionando, se misturando, se reproduzindo... Muitos blogs permanecem dentro de suas bolhas, rodeados pelas ilhotas amigas. Alguns acabam servindo de ponto de encontro, porto seguro para, a partir dali, seguir para outros destinos. Outros poucos se expandem, passam a ter uma abrangência “internacional”.

Navegando pelos meus links usuais, encontro na maioria das vezes, sempre os mesmo links dos mesmos blogs. Primeiro um grupinho mais íntimo, depois a região vai se expandindo, mas o mapa é claramente definido. A exploração começa ao clicar em algo novo que apareça, e dali mais um e depois mais outro. Pronto, um território completamente desconhecido. A viagem radical mesmo é dar uma busca no google e se tele-transportar para uma ilha remota, onde não haja nenhum link conhecido. Mares nunca dantes navegados...

Tenho que dizer que a viagem nem sempre vale a pena. Mas entre mortos e feridos, dá pra sair com algumas coisas interessantes. Além disso, serve também pra descobrir o tamanho imenso desse marzão. Perceber que, não importa o número de acessos que seu blog tenha, a quantidade de visitas que ele recebe vai ser sempre um numerozinho merreca no meio disso tudo. Perceber que afinal, não é mesmo isso que importa.

quinta-feira, setembro 19, 2002



Escrevi este texto em março deste ano, no meio de uma discussão acalorada no fórum do 02neuronio.Talvez algumas coisas tenham mudado, acredito que não. Mas acho que agora, quando as eleições caminham novamente para a polarização, vale a pena tocar no assunto novamente. Com algumas adaptações, vai abaixo então o mesmo texto.

Falando de política, até agora este bloguito tem sido crítico, mas isento. Peço licença pra ser um pouco panfletário e idealista...




MEDO DA CHUVA

Aceitar algumas contradições é mais uma das coisas que a vida vai ensinando aos poucos. Faz parte da perda da inocência. No começo dói, mas de repente, você já está acostumado. Mas algumas delas ainda me surpreendem. É muito engraçado que, por exemplo, quanto mais na merda esteja a situação do país, mais conservadora se torne a opinião política de grande parte das pessoas.

Talvez isso não seja assim tão peculiarmente paradoxal. Acho que já existem até teorias de ciência política para explicar o fenômeno. Mas eu continuo achando isso engraçado; se não fosse trágico... E sim, meus amigos, eu me refiro aqui ao alardeado “medo-Lula”...

Com licença: vamos simplesmente admitir que vivemos num mundo injusto e desumano e não vamos tentar fazer nada pra mudar isso (nem que seja um simples voto?)? Simplesmente aceitar uma realidade porque achamos que é muito difícil mudá-la? Vamos continuar reclamando do país, fazendo cara de conteúdo, mas permanecer votando nos mesmos sujeitos?

Não sou revolucionário, não acredito em radicalismos… Mas a única verdade da história é que a mudança é constante e é uma míopia de curto prazo acreditar que o mundo deva ser eternamente dominado pelas “taxas de juros”. Sou otimista, acredito que é possível existir algo melhor.

Também é uma ilusão publicitária a visão radical, 8 ou 80, de que o PT vai transformar o país em uma ditadura cubana. Talvez o Lula, durante o café-da-manhã, aprecie algumas criancinhas tostadas com manteiga, mas o PT, assim como qualquer partido, tem consciência do espaço e do tempo em que vive. Não vamos subestimá-los.

Todos os países desenvolvidos praticam normalmente a alternância do poder. Nos EUA, democratas e republicanos revezam-se. Na Europa, os Partidos Socialistas e os Partidos Liberais também trocam de cadeiras constantemente. Tudo na maior normalidade. Isso é benéfico. Lembram-se da “rotação de culturas” da aula de biologia? Igual…

Só no Brasil se cria esse medo da alternância do poder. Por quê? Porque a mesma corja vem explorando o Tesouro Nacional há mais de 50 anos e não quer perder essa boquinha de jeito nenhum. Alguém já viu o PFL fora do poder? Há quanto tempo ACMs, Jaderes e Sarneys vem usando o SEU imposto de renda, a SUA CPMF, o seu INSS, para comprar suas ilhas e suas mansões?? Como eles vão sustentar seus luxos sem as torneiras do Estado?

Esse tipo de política de quintal é que causa o Déficit. Isso é o que causa o risco Brasil. E não o “medo-Lula”.

Eu também acreditava no PSDB. Mas o PSDB não colocou essa turma pra fora do poder. E isso já fazem 8 anos. Eu também admirava o homem FHC. Mas depois de vê-lo no outdoor com Maluf, por favor, não me peça para votar em seus cupinchas.

Este país está se transformando em uma bomba social. É preciso mudar isso. Eu quero mudar. Não acho que a opção é a ideal, mas é a que há. Será que já não é a hora de experimentar algo novo?


terça-feira, setembro 17, 2002

Caiu na rede é peixe...

Óia! Parece que este bloguito foi agraciado (não, agraciado não, que é coisa de boiola...), foi galardoado com o selo abaixo...





Não sei quem ofereceu, não sei quem me inscreveu... Só sei que gostei, principalmente por saber que existem pessoas que eu sequer conheço que lêem isso aqui (e ainda por cima gostam...). Voltem sempre, muchachos, e valeu pela lembrança!

Ah, não deixem de dar um pulo lá no tal site... Vale a pena conferir os outros "agraciados"...



subject: Carta de Maracangalha X
date: 17.09.2002



E aí Ká!

Tudo bem por aí?

Pelo menos passaram inteiros pelo 11 de setembro, né? Bem, livre das bombas, mas sem escapar do terrorismo psicológico e da mídia neurótica. Se aqui no Brasil isso já cansa, fico imaginando aí na terra do Tio Bush...

Por aqui está tudo bem. Domingo tem casamento de mais um primo (putz, já até perdi a conta... mas eu vou sobrevivendo), aquela festa de família, com direito à banda e buffet. E no mês que vem as já prometidas e ainda não devidamente planejadas férias. Acho que vai dar certo. Machu Pichu que me espere!

Mas vamos ao que interessa: atualizações tupiniquins. Bom, há uns 20 dias eu te enviei a última carta falando das perspectivas das eleições... Pois é, mudou tudo, mas tudo continua na mesma. Ou melhor, tudo voltou a ser como era antes.

Explico: Ciro, o voluntarioso, se empolgou com sua subida meteórica, ficou sonhando com a faixa no peito, e começou a falar besteira. Declarou que já sentia o cheiro da vitória, falou que o mercado que se dane, disse que a Patrícia Pillar era boa de cama. Bom, não foi isso, mas foi quase... Tudo simultaneamente ao horário eleitoral gratuito... Imagina se os adversário não iam deitar e rolar! Conclusão: Ciro caiu mais rápido do que subiu, e o Serra, muito mais por incompetência alheia que por mérito próprio, está de novo em segundo lugar.

Realizaram também alguns debates na TV: todos eles piada pura. Lula se preservando enquanto todos os outros debatiam, educadamente, sobre quem era o mais mentiroso e maquiavélico. Aliás, a campanha do Lula está uma coisa primorosa. Totalmente focada para acabar com o medo do barbudinho. E ele está colaborando direitinho: não tirou o sorriso do rosto nos últimos 3 meses. As bochechas devem estar doendo...

No final, felizmente, parece que as coisas estão entrando num eixo mais coerente. Os dois candidatos mais consistentes devem ir ao segundo round. Até falam da possibilidade do PT ganhar no 1º turno, mas acho isso balela, estratégia pra forçar voto-útil anti-Lula em cima do Serra. E a escolha, a discussão mesmo, vai ficar pra depois. Emoção por aí, minha gente!

Em Sampa também os ares da racionalidade parecem estar surgindo: o Maluf já dá seus sinais de debilidade, principalmente para o 2o turno. E não tem jeito, vai ter que ser o Geraldo o homem que vai derrotar o Maluf. O José Genoíno ainda não pegou gás, e a corrida já está acabando. Pelo menos e pelo amor dos meus filhinhos, parece que o Quércia também está caindo na disputa pelo Senado. Parece piada né, mas esses Jasons da política continuam oferecendo perigo.

No mais, tudo continua na mesma. Martinha Channel brigando com seus vereadores amiguinhos, a TAM derrubando um avião por semana, dólar neurótico, câmbio nervoso. A última da semana foi Fernandinho Beira-Mar fazendo a festa em Bangu-1. De repente todos descobrem que os traficantes mandam nos morros e nas cadeias, e a imprensa faz a festa do sensacionalismo com o óbvio ululante.

Eu ia falar do Bush e perguntar a opinião aí dos americanos sobre, mas isso aqui já ficou longo demais. Fica pra próxima...

Até mais e fiquem bem.

Beijos,

Drex

sábado, setembro 14, 2002



Test for Echo...

Eis mais uma luz no fim do túnel: estão falando que o Rush vem ao Brasil no final de novembro: dia 20 em Porto Alegre, 22 no Rio e 23 em São Paulo (valeu pelo toque, Má!).

Engraçado que uma das bandas mais difíceis, caras e esperadas desde muito tempo, acerte para vir ao Brasil justamente agora, em tempos de dólar estratosférico... Coisa de medalhão decadente aproveitando a raspa do tacho do público terceiromundista? Pode ser, mas vale mais um medalhão na mão que três novas promessas do rock voando. E o Rush é o que podemos chamar de imperdível...

Enquanto isso, alguns eventos espalhados pelo Brasil agitam o público de rock, seja ele tradicional, metaleiro ou alternativo...

Não estou falando? Quando tudo parece meio estagnado, os porões começam a tremer... Reading, Leeds, Benicassim? De repente, a novidade que realmente importa pode estar logo ali na esquina. It's evolution, baby...

quinta-feira, setembro 12, 2002



Momento Prestação de Serviço

BURBURINHO MUSICAL

O pessoal que gosta de rock mais alternativo está sendo bombardeado por centenas (atenção: hipérbole...) de novas opções de festas na noite de Sampa.

Pra quem antes se espremia pelos cubículos do DJ Club, do Orbital ou da Aloca, agora as novidades são diversas. Estou até meio perdido com tantos e-mails de promoção de novas festas que recebi esta semana: Plastic Fantastic, Funhouse, Roxy Music... Pelo menos na divulgação, todos parecem ter propostas legais, set list apetitoso, espaços para bandas ao vivo e outras atrações.

Pensei em escrever este post justamente pra organizar minha cabeça. Vamos lá, juntando as velhas e novas, vejamos quais são as opções da noite “alternativa” paulistana:

Quinta-feira:

Festa TRACKS na Roxy Music (Rua Maria Carolina, 648 – Pinheiros)
“Organização de Érica de Freitas e Rafael Perrota. Som indie, brit pop, guitar, techopop, new wave e afins”

E hoje, especificamente, tem festa de aniversário do velho MATRIX (r. Aspicuelta, 459 – Vila Madalena)


Sexta-feira:

Festa Revolution na FUNHOUSE (Rua Bela Cintra, 567, Consolação)
“A noite mais retrô da casa entra em sua terceira semana com apresentação dos Surfin’Bastards e o coquetel infalível de hits indie, camisetas de bandas fodonas e pista lotada! DJ convidado: Electric Mainline. Host: Rick Levy”

PLASTIC FANTASTIC(r. Mourato Coelho, 575 - Vila Madalena)
“Promoter Marcio Custódio (ex-Sound/DJ Club). A inauguração trouxe um público jovem e fã de música alternativa, seja rock, indie ou eletrônico”. Na sexta-feira, discotecagem mais dedicada aos anos 80.

Festa SOUND 80´S no DJ Club (Al. Franca, 241)
“Eletro Pop, New Wave, Gótico e demais tendências da década com os Djs Gé Rodrigues, Érica de Freitas e convidados.”


Sábado:

Festa D.e.L.I.C.i.o.U.S.? na FUNHOUSE (Rua Bela Cintra, 567, Consolação)
“Não tem outra! Discotecagem exclusiva, personalidades em desfile e show do Ludov no palco mais style dessa cidade metida à metrópole. Quer mais?! Lick Us! DJ convidada: Marcinha Macedo. Hosts: Rick Levy e Gina.”

PLASTIC FANTASTIC(r. Mourato Coelho, 575 - Vila Madalena)
O mesmo Marcio Custódio (ex-Sound/DJ Club) no sábado promove sua já conhecida discotecagem de rock, guitar, britpop e indie.

Festa SOUND no DJ Club (Al. Franca, 241)
“Os Djs Érica de Freitas, Rafael Perrota e convidados disparam o melhor do Rock Alternativo, Indie e Britpop na noite que é considerada a melhor pelo Guia da Folha e Guia da Revista Play Boy”

Festa TRASH 80´s no Hotel Cambridge (9 de julho –Centro) – Som 80´s, bem trash mesmo...


Domingo:

Festa G.R.I.N.D. n´A Loca! (Rua Frei Caneca, 916 – Cerqueira César)
“DJS André Pomba + convidados Rodrigo LC + Renato Electro Synth + Daniel - Performance Yuri Poison - Hostess Michael Love” – a já tradicional e liberal festa “ó-te-ma” dA Loca!


UFA!! Acho que é isso aí. Lógico, deve ter ainda muito mais...

Curioso como quando tudo parece meio parado e decadente, a renovação recomeça.

E, não me chamem de baladeiro não, dos lugares aí em cima eu já fui apenas ao DJ Club e ao Matrix. Isso foi só um trabalho jornalístico de prestação de serviços. Não que eu não pretenda conferir as novidades também. Aliás, estão convidados a me convidar...

quarta-feira, setembro 11, 2002



Havana, tempo que não vivi
Havana, saudade do que não vi

Havana, vermelha e amarela
do rosto preto, do peito em cor
Havana, da estrela e do azul
da idéia e da sina
Havana, da criança equilibrista
das ruas sem petróleo, dos prédios sem vidros
Havana, das ginastas artistas
do povo que ri, do velho que canta
Havana, que o mar te arrebenta

Havana, sozinha no mundo
Havana, perdida no tempo
Havana, a que resiste
Havana, se entrega

De um sonho que deixa um amargo na boca
Da liberdade criada, da dependência adquirida.
Do direito de ser pobre
e pura
feliz?
ela

Havana, que me obriga a ser piegas
Havana, que não me escapa da contradição


Desculpem, mas a culpa é do Win Wenders e do Ibrahim Ferrer.


Comemoração e Indicação

Olha só, me permitam um pouco de auto-promoção...

Um dos melhores oasis de cultura pop da net, o site Scream&Yell, já está desde o começo deste bloguito ali na lista dos links preferidos... Agora, o S&Y conseguiu se tornar mais preferido ainda: publicou o meu texto sobre o filme "Uma Onda no Ar", aquele que eu já tinha postado aqui na segunda. Posso comemorar né? :-) Passem lá pra dar uma conferida...

Aliás, pra quem se liga na "comunidade blogueira", vale a pena também ler a muito bem escrita crítica que o Diego Fernandes faz ao "Máquina de Pinball", livro da fenômeno pop Clarah Averbuck. Devastadora...



Teoria da Conspiração

Não adianta querer escapar, a neurose coletiva do 11 de setembro acaba te pegando de alguma forma. Estava eu vindo trabalhar hoje cedo, ligo o rádio do carro na Brasil2000 FM e ouço Imagine, o hino da paz de John Lennon. Legal, bonito mesmo, mas começar com as homenagens? Então, como o programa era chamado Classic Rock, ironicamente entram logo em seguida as matadoras Burn do Deep Purple e Simpathy for the Devil dos Stones. É, às vezes o rock consegue ser magnificamente inapropriado...

segunda-feira, setembro 09, 2002



Momento Supercine de Cinema

UMA ONDA NO AR ou
Variações sobre um mesmo tema


Depois de um final de semana cinza e frio, termino a tarde de domingo dentro de um shopping center nos subúrbios da Grande São Paulo. Objetivo: pegar uma sessão de cinema, para não perder o costume e o clichê. Quase me dei por vencido ao ver a multidão de pós-adolescentes ensandecidos junto à bilheteria. Mas não desisti, a batalha ainda não estava perdida. Principalmente depois que percebi que a maior parte da multidão se debatia por um ingresso para o tal de Triple X. Eu, inofensivamente, tinha apenas a modesta pretensão de assistir ao brasileiro "Uma Onda no Ar". Foi até fácil, no final havia menos de 20 pessoas na sala.

Uma pena, pois vale muito a pena ver o filme de Helvécio Ratton (Menino Maluquinho, Amor&Cia), inspirado na estória real da mineira Rádio Favela, contando toda a epopéia do nascimento e crescimento desta rádio-pirata, da clandestinidade ao reconhecimento internacional. Além do enredo interessante e da atuação carismática do Alexandre Moreno (melhor ator no Festival de Gramado) vale a pena principalmente para, nesta época de sucesso estrondoso do Cidade de Deus (de Fernando Meirelles), colocar frente a frente estes dois retratos do submundo urbano brasileiro.

Muitos já fizeram isso, mas é mesmo inevitável a comparação. Em algumas cenas de Uma Onda no Ar, é impossível fugir da sensação de déja vu com Cidade de Deus. O retrato da morro, o foco na juventude, a escolha entre ser “bandido” ou ser “trabalhador”, a intimidade com o tráfico e com a violência. Tudo leva a uma íntima proximidade de temas. Mas, ao mesmo tempo, os dois filmes são completamente diferentes.

Peço até permissão para viajar um pouco e tentar fazer uma analogia com a cena musical do fim dos anos 60, quando todos cantavam, à sua maneira, em oposição ao regime militar. É possível dizer que “Uma onda no ar” está para Geraldo Vandré, assim como “Cidade de Deus” está para Caetano e Gil. O primeiro, caminhando e cantando e seguindo a canção, utiliza uma temática política mais explícita, mais panfletária, colocando na boca da rádio o discurso da mudança e da indignação. O segundo, mergulhado na Tropicália e na Marginália brasileiras, desenha um retrato das nossas contradições, joga na nossa cara uma realidade degradante e nos abandona à mercê de nossas conclusões. Enquanto o filme de Ratton é explanativo e idealista, podendo aí descambar para a ingenuidade e para o maniqueísmo, o filme de Meirelles é descritivo, cruel e realista, sendo, por isso mesmo, muito mais contraditório e subjetivo nas suas mensagens.

Meio confuso, né? Vou tentar ir mais longe então... Porque, se tematicamente a analogia até que funciona, se pensarmos em termos de cinema, a coisa fica mais interessante ainda. Cidade de Deus, assim como a Tropicália, se propõe um filme mundial. Antropofagicamente se serve das melhores influências narrativas, tecnológicas, fotográficas do cinema mundial contemporâneo. De onde quer que elas venham, de Hollywood à Latinoamerica, de Coppola a Tarantino. “Uma onda no ar”, assim como as nacionalistas canções de protesto, é filho direto da tradicional linhagem do cinema brasileiro. Uma boa estória, interessante e cativante, mas que ainda esbarra nos mesmos problemas de sempre: falta de ousadia narrativa, certa pobreza técnica, alguma artificialidade nos diálogos, algumas atuações constrangedoras.

Mas, assim como musicalmente é injusto comparar Geraldo Vandré a Gilberto Gil, não se pode tirar os méritos de “Uma Onda no Ar”. É um ótimo filme e merece ser visto, principalmente por oferecer um novo enfoque e talvez uma nova esperança aos corações dilacerados por Cidade de Deus. Este sim, uma obra de arte.



Nepotismo sincero

Que meu maninho era artista eu já sabia. Agora dêem uma olhada na puta página legal que ele acabou de fazer pra ele. Caracas, ficou muito dez! Vai pra sessão de links agora...

Com esse talento e depois desses elogios, quem sabe ele não ajuda o irmãozinho aqui a melhorar a cara deste bloguito chinfrim...

quinta-feira, setembro 05, 2002



Lembrete

Falta de tempo e de fertilidade criativa às vezes vão deixar esse bloguito sem muitas novidades.

Quando é assim, não esqueçam de dar um pulinho ali na seção Ficção Barata e conhecer a Ana Alice... Isso é claro, para os novos navegantes, pois a galerinha do Neuronio Descontrol já conhece a Ana de outras paradas (o que não é desculpa pra não fazer uma visitinha né, quem sabe ela não se anima e aparece de volta...).

quarta-feira, setembro 04, 2002



Só pra ilustrar aquele post saudosista...

I get up around seven
Get outta bed around nine
And I don't worry about nothin' no
Cause worryin's a waste of my...time

The show usually starts around seven
We go on stage around nine
Get on the bus about eleven
Sippin' a drink and feelin' fine

I used to do a little
but a little wouldn't do
So the little got more and more
I just keep tryin'
to get a little better
Said a little better than before

We´ve been dancin' with
Mr. Brownstone
He's been knockin'
He won't leave me alone


Old and sweet band o´mine...


Fábula é isso, não é? Uma estória pequena, que tem uma mensagem embutida, que você ouve e não sossega até contar ela para alguém? Então é isso, é uma fábula sim. Ouvi, gostei e agora vou tentar contar...

Mini-fábula do pescador

Seu Zé vivia num casebre ribeirinho, na margem direita do Rio Juquiá. Ele, mais sua dona e seus três moleques. Acordava junto com o dia, tomava o café que a dona já tinha pronto, olhava pro céu, pegava suas coisas e saía pro rio. Voltava lá pelo meio-dia, trazia o almoço e mais alguma coisa. Comia o almoço e ia pra vila vender a mais alguma coisa. Deixava o peixe no armazém e voltava pra casa lá pelas 3. Aproveitava e vinha junto com os moleques, que costumavam sair do colégio também nessa mesma hora. Seu Zé sentava na varanda, e enquanto olhava os moleques brincarem, enrolava seu cigarrinho. Junto à beira do rio, a noite caía assim. Era isso todo santo dia. Menos de sábado, é claro, que não tinha mercado e o peixe ia estragar até na segunda; e de domingo e nos dias de festa, porque aí tinha a missa.

Um dia chegou um sujeito na casa de seu Zé. Veio de jipe e se chamava seu Antonio. Seu Antonio disse que estava participando de uma corrida, mas que não ia ter gasolina pra chegar na próxima parada. Perguntou se tinha telefone, mas como ali não tinha, acabou recebendo pousada mesmo. Seu Antonio gostava de prosa e seu Zé também não negava. No outro dia, foram os dois juntos pro rio, almoçaram juntos mais a dona e depois foram também juntos ao mercado. À tardinha, sentaram na varanda. Seu Zé acendeu seu cigarro, enquanto continuavam proseando e olhando as estrelas.

- Eita, seu Zé, como é lindo isso aqui, hein? Realmente o senhor tem a vida que pediu a Deus!
- Nunca pedi vida nenhuma pra Deus, não senhor, seu Antonio...
- Modo de falar, seu Zé... Mas sabe, uma coisa me deixou meio cismado...
- Pode falar, seu Antonio. Não se cale, não...
- Sabe, o senhor tem esse vidão aqui. Mas acho que dava pra tirar muito mais proveito disso tudo...
- Proveito como, seu Antonio?
- Ora, o senhor vai todo dia até a curva do rio e volta, não é? Podia ir mais além, aproveitar os cardumes do outro lado também...
- Mas aí fica longe, seu Antonio...
- Longe nada, seu Zé. Dá pra ir até o outro lado e voltar um pouco mais tarde. Pra que voltar logo ao meio dia? Só escurece depois das cinco mesmo...
- E pra modo de que eu ia ficar até essa hora no rio?
- Seu Zé, pra pegar mais peixe oras...
- E mais peixe pra quê?
- Pra vender, seu Zé!!
- Ah, mas aí se eu ficar no rio até a tardinha, não consigo ir até o armazém pra vender...
- Ora, é só pedir pra dona te ajudar. Veja bem, se você fizer isso, vai conseguir pescar o dobro de peixe. Então pode até mesmo ir vender lá no mercado central da outra vila...
- Viche, seu Antonio, pra que eu ia querer vender tanto peixe... Ainda mais ir até a outra vila...
- Que que é isso seu Zé! Isso aqui é um paraíso! Tem que aproveitar o que se tem na mão! Vendendo todo esse peixe, o senhor pode ir juntando um dinheirinho, pouco a pouco, até dar pra comprar um barco maior, daqueles com motor...
- Barco com motor?
- Isso mesmo. Aí o senhor podia ir ainda mais longe e aproveitar pra pescar em toda essa região...
- Eita, mas é muito peixe... E ainda tem os outro pescador também...
- Cadê a vontade, seu Zé? Com o barco o senhor vai poder entregar o peixe em outros lugares, vai poder juntar dinheiro de novo, comprar mais outro barco e chamar os pescadores pra trabalharem com você...
- Mais um barco? Chamar os outros pra trabalhar pra mim? A modo de quê?
- É assim seu Zé... Um barco, depois outro, depois mais um , e assim por diante...
- Viche maria...
- Vai chegar uma hora que o senhor vai dominar toda a pescaria aqui do Rio Juquiá...
- Ai, é mesmo??
- Pode até ser, seu Zé! E não só a pescaria... O senhor tambem pode começar a cuidar da distribuição, das vendas, pensar em expandir o negócio. Pode até criar uma marca: "Peixes do Seu Zé"... Que tal hein?
- Bonito mesmo, né? Mas, e o Tião do armazém, como fica?
- Não precisa de armazém, não, seu Zé! Caramba, realmente o senhor podia se dar bem, viu... Depois de tudo isso, o senhor podia até pensar em se juntar com alguma rede de supermercados, abrir sua própria firma, ir pra cidade grande... Que tal hein?
- Cidade, é... Abrir firma?
- Imagina, seu Zé? Escritório em São Paulo, magnata do peixe, muitos empregados, apartamento na cidade, carro do ano, tudo de bom e do melhor! Ficar rico, seu Zé!!
- Ai é? Mas vem cá seu Antonio, tudo isso aí demora um pouco, né?
- Lógico, seu Zé... Tem que ser pouco a pouco, com muita paciência e muito trabalho...
- Bom, de muito trabalho eu não tenho medo não. E paciência, também tenho bastante. Mas quanto tempo demora pra eu comprar esse tal barco aí?
- Olha, se você aumentar as vendas e poupar direitinho, acho que uns 3 anos...
- Três anos... E pra montar essa firma aí que o senhor falou?
- Ah, aí demora um pouco... Acho que mais uns 10 anos...
- E pra ficar rico mesmo, seu Antonio, com esse apartamento e carrão que o senhor falou, quanto tempo?
- Seu Zé, trabalhando duro, de manhã até a noite, investindo seu dinheiro pra expandir e fazendo tudo direitinho, aposto que em 20 anos o senhor tá por cima do dindin! Ricaço mesmo!
- Trabalhar duro e juntar dinheiro por 20 anos, é? E aí, seu Antonio, depois desses 20 anos de trabalho duro, que é que eu faço depois então?
- Ah, seu Zé, depois desses 20 anos o senhor já vai estar com a vida feita! Aí o senhor vai poder ficar tranquilo, sossegado mesmo, comprar uma casa na beira do rio e ficar só pescando, curtindo a família e admirando a natureza!

terça-feira, setembro 03, 2002



Duas novidades entrando pelo flanco esquerdo deste bloguito:

Primeiro, logo ali nos links caseiros (onde lê-se Terra Firme), uma pequena introdução para os marinheiros de primeira viagem que acabaram de chegar aqui trazidos pela deriva internética. Clique no Pra entender isso aqui... e leia um dos primeiros posts onde tento explicar o esquema do blog.

Logo abaixo, na lista dos blogs mui recomendados (onde lê-se Navegantes d'além-mar), coloquei um novo link, o do Utopia Dilucular, blog do Pedro Nunes. Tive que dar o braço a torcer... Antes achava que era coisa de masoquista, mas agora confesso que me viciei: leio o Utops todo dia. Pra quem não tem medo de tapa na cara. Ou pra quem gosta...