segunda-feira, abril 23, 2007

Os 7 Filmes Mais Cool do Início da Década de 90


1. Nikita (La Femme Nikita), de Luc Besson, 1990.
2. Cães de Aluguel (Reservoir Dogs), de Tarantino,1992.
3. Amor à Queima Roupa (True Romance), Tony Scott,1993.
4. A Assassina (Point of No Return), de John Badham, 1993.
5. Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, 1994.
6. O Professional (Léon), de Luc Besson, 1994.
7. Parceiros do Crime (Killing Zoe), de Roger Avary, 1994.

Com o fim da barroca e estapafúrdia década de 80 e de todas suas aberrações coloridas e cultura pop infantilóide, os anos 90 deram início à Era do Cool. Por algum motivo o jeito de ser dos anos anteriores havia se esgotado e, pouco a pouco, a nova década foi construindo uma nova estética e um novo espírito. Mal e porcamente, para resumir o novo zeitgeist basta dizer que o chique agora não era mais ser “hot”, mas sim ser “cool”.

Visualmente, os anos foram se tornando cada vez mais limpos, sóbrios e elegantes. No exagero, beiramos também o insosso e anoréxico. No campo das idéias e atitudes, os 90 foram definitivamente a década da ironia, talvez uma reação ao relativismo e às incertezas do final de século. Frente à crueza da realidade, só era possível se divertir com um pouco de cinismo. A postura cada vez mais cética em relação ao futuro, no entanto, era preenchida com despreocupação e individualismo. Cada um na sua, numa boa. Um tipo de niilismo bem-humorado. O muro caíra e Fukuyama decretara o fim da História, enquanto Clinton, o criador do politicamente correto, melecava o vestido da estagiária. Num mundo como esse, sem utopias ou esperanças, não era recomendável levar as coisas muito à sério, não valia muito a pena se engajar profundamente em nada. Dane-se. Deixa pra lá. Nevermind.

O ambiente cultural, as artes, geralmente captam e reforçam o espírito do tempo com alguma antecedência. Na maioria das vezes, coube à literatura, ou mesmo à música, esse papel de vanguarda, de anunciador das novas idéias. O interessante é que, desta vez, o cinema também deu o pontapé inicial na Era do Cool.

Os 7 filmes da lista acima, escondidos por trás da máscara de meros títulos de ação, são as mais perfeitas fotografias dessa virada. Na virada da década, enquanto o público da MTV ainda escolhia entre New Kids on The Block e Bon Jovi, Luc Besson e Quentin Tarantino lançavam, respectivamente, "Nikita” e “Cães de Aluguel” e criavam uma fórmula - violência estilizada embebida em auto-ironia e humor sarcástico - que influenciaria a estética dos próximos dez anos. Kurt Cobain berraria “Nevermind!” também em 1991 e, então, estaria definido o caldo cultural que dominou a década. O amor, a ternura e a esperança ainda demorariam um bom tempo para voltar a dar as caras.

“Nikita” e “Cães de Aluguel” são os primeiros filmes da safra e, por isso, também os mais importantes. Besson e Tarantino foram as duas mentes doentias que captaram o momento e o amplificaram para o resto da população terrestre. Entretanto, foi somente em 1994 que “Pulp Fiction” atingiria um público mais amplo e se tornaria o ícone mais popular desse ciclo. É uma grande obra, pela qual, no entanto, não nutro uma afeição especial. Com os demais filmes da lista, sem motivo aparente, me acontece justamente o contrário – são filmes imperfeitos, nem tão significativos assim, mas pelos quais guardo bastante carinho.

A sensação de “movimento cultural” é ainda mais reforçada pelo fato de que todos estes filmes, além das similaridades estéticas, possuem entre si conexões bastante objetivas. Todos eles são, na verdade, criações mais ou menos diretas de Luc Besson ou Quentin Tarantino. Depois de filmar “Nikita”, o francês Besson lançou em 1994 seu primeiro filme anglófono, “O Profissional”, talvez meu favorito desta lista. Jean Reno, que já havia interpretado o papel clássico do “The Cleaner” em “Nikita”, é agora catapultado para sua carreira internacional. Gary Oldman é sempre um maluco inesquecível. Natalie Portman, doce e sensual aos 12 anos de idade, despertando inevitavelmente o lado pedófilo de muitos marmanjos. Por sua vez, “A Assassina”, de 1993, é na verdade uma refilmagem americana de “Nikita”, com o mérito de rivalizar em muitos aspectos com o original. Bridget Fonda em sua melhor forma, Gabriel Byrne sempre um clássico. E, ainda por cima, o grande Harvey Keitel assumindo a pele do “Cleaner”.

Harvey Keitel serve aqui de ligação entre os filmes de Besson e os demais quatro filmes, todos eles “tarantinescos”. Keitel, que já havia sido protagonista de Tarantino em “Cães de Aluguel", interpreta novamente em “Pulp Fiction” uma personagem claramente inspirada no “Cleaner” dos filmes de Luc Besson. Apesar de diferentes na composição e no estilo, ambas personagens tem como missão “limpar” os rastros de sangue deixados pelos protagonistas.

Os dois filmes restantes são criações indiretas de Quentin Tarantino, mas nem por isso menos tarantinescas. Ele escreveu o roteiro de “Amor à Queima-Roupa” , posteriormente dirigido com talento por Tony Scott em 1993. Tem Christian Slater e Patrícia Arquette em seus anos dourados. Já “Parceiros do Crime” , de 1994, é dirigido por Roger Avary, que seria posteriormente co-roteirista de “Pulp-Fiction", e é também produzido por Tarantino. Um sensacional filme de roubo à banco, filmado em Paris. Tem como vilão principal o francês Jean-Hughes Anglade que, para fechar o ciclo, já havia atuado, anos atrás, no “Nikita” de Luc Besson.

Alguns outros filmes da mesma época tem estéticas bastante similares, sem no entanto se irmanarem totalmente com esse grupo. “Cabo do Medo”, de Martin Scorsese, é de 1991, mas serve muito mais como uma referência paterna. Todos esses filmes são, profundamente, filhos diretos do profético “Taxi Driver” de Scorsese. “Assassinos por Natureza”, de Oliver Stone, é um outro expoente da violência sem sentido e cheia de charme. Mas Stone é tão histriônico que é impossível rotulá-lo de cool. Outro filme bem interessante é “Estranhos Prazeres” (Strange Days), estrelado por Ralph Fiennes. O filme, no entanto, é de 1996 e possui já uma certa falta de espontaneidade, uma espécie de pose planejada. Funciona bem, mas já é industrial. Não à toa a produção é de James Cameron, o senhor Titanic.

É possível também citar diversos diretores que, mais adiante, foram fortemente influenciados por esse início dos anos 90. Doug Liman, (“Go – Vamos Nessa”) e Guy Ritche (“Dois Canos Fumegantes”, “Snatch”) talvez não existissem sem aquelas obras. Outro descendente direto da Era do Cool é David Fincher, talvez aquele que tenha ultrapassado com mais talento a mera cópia tarantinesca. “Seven” e, principalmente, “Clube da Luta”, não se limitaram ao simples pastiche e conseguiram adicionar algo novo àquela receita.

Se a cultura dos anos 80 foi irritantemente infantil, o niilismo e a ironia dos anos 90 também soam bastante adolescentes. Ao menos na cultura pop, alguma maturidade só viria a surgir no final da década, na música a partir do "OK Computer" (1997), do Radiohead, e no cinema com "Magnólia" (1999) de Paul Thomas Anderson. Ou talvez não seja nada disso, talvez seja só eu que tenha crescido. Mas isso é outra história. O fato é que quando hoje em dia se vê grupos contemporâneos de rock alternativo, dos Strokes ao Cachorro Grande, vestirem ternos pretos, camisa branca e gravata lisa preta, é impossível não ser enviado quinze anos no passado e se sentar na mesma mesa onde estão, elegantes e corrosivos, Mr. Orange, Mr. Pink, Mr. White, Mr. Blue e Mr. Brown, os lendários cães de aluguel de Quentin Tarantino.

sexta-feira, abril 13, 2007

Listas

Virou algo como um símbolo do nosso tempo essa obsessão por elaborar listas. Esses tais “20 melhores filmes da década”, “10 homens mais sexy do mundo”, ou mesmo “os 5 melhores cantores de folk-music dos anos 60”, parecem estar estampados em todo lugar. Ao lado do i-Pod, da internet e do Big Brother, essa mania de categorizar, sistematizar e catalogar referências culturais também é um sintoma bem interessante do espírito desta nossa era.

Digo interessante porque, ironicamente, não há nada mais irracional que tentar impor esse grau de racionalidade a coisas completamente subjetivas. É, portanto, bastante estúpido dar qualquer credibilidade a 99,99% dessas listas, na sua grande maioria baseada em enquetes de abrangência minúscula, com nível zero de rigor conceitual ou qualquer análise mais apurada, quando não raro simplesmente construídas deliberadamente através do gosto pessoalíssimo de dois ou três redatores descolados.

Como já disse, é sintoma de um tempo que prefere o raso e o rápido ao profundo e criterioso, que privilegia o personalismo barato das escolhas subjetivas e depreza a necessidade de uma opinião mais elaborada, fria e distanciada. Ao mesmo tempo, também é sinal de uma necessidade obsessiva de colocar um pouco de ordem no caos, de criar logo um registro mais perene de uma realidade que passa cada vez mais rápido, mesmo que essa fotografia do momento presente seja algo apressada, sem muita qualidade ou critério. Como numa fotografia digital clicada por um telefone celular, o importante não é a nitidez mas apenas capturar o momento.

É cem por cento claro também que estou sendo um grandíssimo chato nesta minha análise. Porque, ao mesmo tempo que são estúpidas, as listas são inegavelmente deliciosas. Deliciosas de fazer, deliciosas de consumir. Um prazer inescapável, é simplesmente dificílissimo fugir do fenômeno – o que demonstra que essa obsessão é de verdade um belo sintoma da psique algo demente desta nossa geração.

Como às vezes sou quadradinho ao exagero, meu cérebro precisa desmontar algumas armadilhas antes de conseguir apreciar as tais listas. Para mim, por exemplo, elas só funcionam se forem feitas e vistas como algo que pretenda refletir exclusivamente um gosto pessoal. Listas absolutas, que se pretendem "a tábua da lei", não me convencem. A última vez que senti essa dificuldade foi quando o Marcelo Costa, do Scream&Yell, me chamou para votar nos Melhores do Ano a serem eleitos pelo site. Me senti honrado pelo convite, é claro, mas também bastante angustiado. Dúvidas, idiotas eu sei, me atormentavam. Como escolher os “cinco melhores discos lançados em 2006” se eu devo ter escutado apenas uma dúzia de álbuns novos durante o ano? Como votar na “melhor música do ano” se eu devo ter escutado, otimisticamente, não mais que 0,001% das músicas lançadas em 2006? Eu me sinto tranquilo em escolher, é claro, os cinco melhores álbuns que eu escutei em 2006. Isso eu consigo. Posso também eleger aquela que, após ser devidamente filtrada pelos meus gostos, costumes e preferências, formados biológica e historicamente, se transformou na melhor música a chegar aos meus ouvidos no ano que passou.

É por isso que, no caso dessa pesquisa do Scream&Yell, sempre achei muito mais interessante consultar os votos individuais de cada “eleitor” convidado (que o Marcelo gentilmente disponibiliza) do que saber dos resultados finais de cada categoria. Enquanto o resultado consolidado me parece algo vago, as listas individuais me trazem um pouco da fotografia de cada pessoa, refletindo não apenas seus gostos e preferências culturais mas também revelando um pouquinho do perfil de cada um, da sua história e das inevitáveis influências das suas origens, do seu meio, da sua atividade.

Por mais incontáveis ranqueamentos que a Bizz, a MTV e a E!Television divulguem, e por mais fascinantes que eles sejam pela sua vã tentativa de colocar ordem na bagunça, essas listas serão sempre algo disformes, forçadas e incompletas. As melhores listas, as mais gostosas de se ler ou fazer, são sempre as listas particulares.

E é claro que toda essa gastação de verbo anterior foi simplesmente uma tentativa de me justificar. Sim, me entregarei a mais esta chaga dos tempos pós-modernos. Nas próximas semanas uma sequência de listas povoará e dará alguma vida a este minguado bloguinho. Lembrando sempre que as listas não refletirão a Verdade, apenas minhas preferências pessoais.