segunda-feira, agosto 29, 2005

E a pergunta foi:







Na falta de ter divulgado o evento "A Casa Caiu" com antecedência, aproveito para falar um pouco sobre ele agora. No resfriar dos acontecimentos, já que acabo de voltar do debate.

O senador Eduardo Suplicy não pôde comparecer e acabaram sendo quatro os participantes da mesa - Xico Sá, jornalista e colunista, Soninha, vereadora de São Paulo pelo PT, Mino Carta, editor da revista Carta Capital, e Claudineu de Melo, professor da Escola de Governo. Formaram uma mesa interessante, sob certa perspectiva bastante homogênea. Afinal, todos eles pertencem ao time das pessoas de esquerda que estão desiludidas, decepcionadas e!ou desamparadas pela atual crise ética, não só do PT, mas de todo a política brasileira.

Cada um deles, porém, demonstrou um estilo singular. Xico Sá, com irreverência coloquial, abusou das metáforas sentimentais, próprias de sua experiência na análise dos relacionamentos amorosos, esforçando-se para traduzir assim sua desilusão partidária-ideológica. Diz-se desencontrado pela atual perda do romantismo e dos ideais. Mino Carta, mais "realpolitik", mandou às favas a perda de tempo dos românticos e defendeu que só se faz politica através dos fatos e do possível. Desdenhou o denuncismo frouxo da midia brasileira, vendida aos donos do poder. Poderosos estes a quem não interessa, em nenhuma hipótese, o impeachment do obediente e pallociano Lula, mas que estão plenamente empenhados em enfraquecer as possibilidades de reeleição do PT. Aproveitou para desdenhar o poder de mobilização da massa brasileira e, entre outras inúmeras frases de efeito, confessou que gostaria de ver um pouco do sangue dos banqueiros derramado pelas ruas brasileiras. Mino Carta é um carismático, um provocador inteligente e sem mais compromisso, daqueles imprescindíveis a qualquer sociedade civil que queira se manter auto-crítica.

Soninha, por sua vez, fiel aos seus ideais budistas, pregou o equilíbrio, a conquista paulatina da mudanca, sempre consciente e consistente. Uma democrata, ainda confiante em conseguir renovar as instituições. Sua esperança é louvável e,sobretudo, a ser invejada nestes dias difíceis. Professor Claudineu de Melo foi um tanto mais cético. Bastante mais, na verdade. Realista, insistiu que não há democracia que possa florescer saudável num terreno de tantas desigualdades como as presentes na sociedade brasileira. Acredita que o PT começa a perder seu rumo já em Junho de 2002, ao divulgar a moderada e conciliadora “Carta ao Povo Brasileiro”, na verdade abdicando de suas diretrizes básicas de modo a garantir uma vitória mais rápida e mais certa nas eleições daquele ano. Para o professor Claudineu, não faz nenhum sentido refundar o PT se for para o partido continuar apoiando um governo que não corresponde mais aos seus ideais primeiros.

A platéia, sim, deixou um pouco a desejar. Lembrou-me bastante das CPIs – longos discursos antecedendo a cada questão. Com direito também aos poeminhas e citações filosóficas. No entanto, isso já era de se esperar. O povo anda querendo se expressar, principalmente o povo ali presente, a maioria gente engajada na luta social, trazendo um sentimento de traição e abandono entalado na garganta. Foi pena que, num certo momento, a coisa se transformou um pouco numa limitada terapia de grupo do PT, sem avançar sobre as implicações futuras dos dilemas que se colocam agora à frente não apenas de um partido, mas de toda a sociedade.

Resta só parabenizar a Soninha por mais essa iniciativa de política participativa. Ela me parece ser daquelas que ainda acreditam que a mudança vem através dos detalhes, aos pouquinhos, passo-a-passo. E demonstra ter a paciência e a vontade necessárias para enfrentar o saco da política institucional (coisa que faz tanta falta ao nosso bonachão presidente). Basta dar um olhada no seu site para observar um exemplo básico de vontade de transparência polîtica.

E parabéns também ao pessoal do seu diretório, os responsáveis pela organização. Meu amigalhaço Gravata, por exemplo, estava lá e esfolou seus dedinhos para conseguir transcrever todo o debate no blog do evento. Graças a ele, para ler tudo o que se disse por lá basta clicar aqui.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Sitcom



O que há de melhor para se assistir hoje na TV brasileira, em qualquer horário ou canal, sem a menor dúvida, são os depoimentos das CPIs. Trata-se praticamente de um novo gênero de sitcom, com custo de produção baixíssimo para as emissoras e estratosférico para o país.

O enredo tem potencial para agradar das bases mais populares às audiëncias mais selecionadas. Depois do arroubo operístico de Roberto Jefferson, o tom navegou entre o detetivesco e a comédia nonsense. Um quê, assim, meio de Peter Sellers. Agora, passados alguns mistérios e diversas lambanças, parece que entramos na fase mexicana. Afloram-se as intrigas, os ciúmes e os mexericos entre os personagens.

Ainda hoje, por exemplo, o ponto alto do depoimento de Delúbio Soares à CPI do Mensalão não se deveu a nenhuma declaração do depoente. O babado da tarde foi revelado com indignação pelo deputado Fulano de Tal (desafortunadamente, às vezes faltam legendas com os nomes dos interrogadores), narrando aos presentes as supostas declarações feitas por supostos colegas da outra comissão ali ao lado, a CPI dos Correios. Os deputados ACM Neto e Onyx dos Pampas teriam se referido à CPI do Mensalão como “CPI do Abafão”, por conta da transferëncia de alguns documentos entre uma comissão e outra.

Todos demonstraram indignação. Não faltaram tiradas provocadoras, deixando a entender que o pessoal da CPI dos Correios só quer holofotes O presidente da turma, Senador Almir Lando, não deixou barato, comprou a braveza dos colegas e já prometeu Comissão de Ética aos indecorosos.

Entre tapas e beijos, só há de se esperar que nem a turma dos holofotes nem a patota do abafão percam o foco do enredo.

Por outro lado, um certa competitividade entre as CPIs pode ser até salutar. Se o sinal de sucesso das comissões for a geração de fatos concretos que levem a inevitáveis condenações, esse tipo de richa pode fazer aumentar a sede de sangue dos parlamentares. E, não me levem a mal, mas talvez Brasilia esteja precisando de um pouco de terror jacobino. Diziam há pouco mais de duzentos anos que há males que só podem ser expurgados com uma boa guilhotina.

Com esses deputados que estamos agora conhecendo pela TV, porém, é muito mais provável que tudo não passe de um ciumezinho colegial, facilmente contornável por um pedido de desculpas diplomático e um terno tapinha nas costas.

terça-feira, agosto 16, 2005

Arquivo



Toninho da Barcelona chegou já dizendo a que veio - jogou o sr. Ministro da Justiça no meio do lamaçal.

Com todo o respeito a inocência presumida do Dr. Thomaz Bastos (que até já correu para tentar se explicar) é impossível não pensar que, definitivamente, a coisa está preta.

Quanto ao doleiro, Toninho já colocou suas condições na mesa. Quer aliviar os 25 anos de xilindró aos quais está condenado. Seus advogados dizem que ele é um perseguido, um preso político. A Justiça, via Ministério Público, faz corpo duro. Os deputados e senadores da CPI parecem mais interessados. Quem conseguir pagar o preço de Toninho ganha o direito de escolher se ele fala ou se ele cala.

Oráculo



Pela linha constitucional, viriam: José Alencar, Severino Cavalcanti, Renan Calheiros, Nelson Jobim. Nossa Senhora, o povo se ajoelharia na catedral do Poder, implorando a Lula: "Fique, presidente, o senhor é uma catástrofe com encontro marcado com o final do mandato, os outros serão (ou seriam) catástrofes sem prazo certo e com expectativas incertas.


Hélio Fernandes é diretor do jornal carioca Tribuna da Imprensa. Tem 84 anos. Durante sua vida, mais do que testemunhar, sentiu na pele os eventos mais críticos da História brasileira do século XX.

Sempre foi figura presente nas linhas de combate da esquerda. Mas, antes de tudo, é um independente. Bem antes de todo este turbilhão, mesmo carregando todos os anos que tem nas costas, o sr. Fernandes andava por ai dando palestras, defendendo uma proposta econômica alternativa à ortodoxia Pallociana.

Na economia, suas idéias são bastante heterodoxas. Malfazeja os juros altos, como todo mundo, mas também critica o apego religioso à intocabilidade das dívidas externa e interna. Defende também um projeto nacional sólido e soberano, coisas um tanto fora de moda nos últimos quinze anos.

Pode-se criticar o seu pensamento econômico, dizê-lo mais apropriado para os anos dourados de Vargas ou JK. Mas, neste momento político, creio que qualquer um deve ouví-lo com atenção.

Nesta e nesta coluna, Hélio Fernandes analisa e prevê os desdobramentos da crise. Como um esquerdista decepcionado, ainda tem cautela e caridade com Lula, mas também possui a autonomia necessária para tocar nas feridas com crueldade. Atinge, nesse meio termo, uma lucidez que chega a ser dolorosa. Sua visão do futuro é, com muito eufemismo, sombria.

(...) a grande crise começou agora, se desenvolverá em 2006 e explodirá para valer em 2007. A razão? É simples. Se Lula for reeeleito (hipótese é hipótese, não é como fato que tem que ser provado) não governa. A oposição vai começar o processo de impeachment logo depois da posse. Terá 4 anos.

Se a chamada oposição (de hoje, de hoje) eleger o presidente em 2006, pode até tomar posse mas também não governa. Todos os crimes da DOAÇÃO do retrocesso de 80 anos em 8 (de FHC) voltarão a ser discutidos, até numa CPI.


quinta-feira, agosto 11, 2005

Diferentes



Vendo a triste figura de Delúbio Soares, vem-me à memória Gregório Fortunato, o Anjo Negro, o guarda-costas, o mais leal amigo que Getúlio Vargas já teve e que o levou à desgraça.

(...) Delúbio, o Anjo Tosco do Cerrado. Cruzei uma vez com ele, almoçando no Amadeus, restaurante de peixes ali na Haddock Lobo. No final da escada, na primeira mesa atrás da coluna, estava Delúbio, terno bem cortado e um havana cujo cheiro, por si só, chamaria a atenção do quarteirão inteiro. Ele não fazia reunião, concedia audiência. Várias pessoas aguardavam na parte térrea do restaurante. Uma a uma subiam, sentavam à sua mesa, conversavam em voz baixa, depois desciam. Era inacreditável que aquilo ocorresse a três quarteirões da avenida Paulista, em um lugar aberto e freqüentado.


Mais uma vez Luis Nassif. Desta vez me foi impossível, ao ler este trecho, não trazer à mente a imagem de um Don Vitto Corleone, sentado nobremente atrás de sua escrivaninha, segurando o queixo, selando compromissos e fazendo ofertas irrecusáveis, magnânimo dos destinos alheios.

Chacoalho a cabeça. Que bobagem. Como Nassif quis demonstrar, Delúbio não tem nada de Godfather. Delúbio não passa de um escroque, um atravessador embriagado em sua boçalidade arrivista. Não há fibra nem mesmo na sua suposta “ética de grupo”. Don Vitto nunca choraria na frente de seus pares, nunca mostraria seus dentes sujos perante uma comissão de inquérito. Don Vitto tinha a sua honra, e se preocupava com ela.

Por essa e por outras eu duvido que haja algum tiro no peito durante este mês de agosto.

Blue






O Jonas não gostou:

Em seu quarto disco - sintomaticamente intitulado Los Hermanos 4 - (...) os refrões são ainda mais escassos, as melodias, a princípio, menos assimiláveis e os arranjos não exatamente envolventes. Ainda assim, não é tão ousado e radical quanto pinta. (...) é lento, muito lento. Cansativo, em vários trechos.


Já o Carlos Eduardo Lima, esse gostou:.

Los Hermanos 4 é rico em nuances, é lento, é anti-rádio, é bonito pacas, é atemporal e pode ser clássico. (...) Não tem paralelos com o que é feito no Brasil hoje em dia.


Todo o resto que li, tanto na internet quanto na imprensa, gira em torno desses dois pólos. Quem está com a razão? Talvez a razão tenha pouco a ver com isso.

Particularmente, ainda penso que é cedo para emitir um veredicto. Bem diferente das anteriores, esta quarta criação dos Hermanos não é um álbum que te recebe de braços abertos, te dizendo olá com um sorriso rasgado no rosto. Definitivamente não. Ao contrário, é muito mais como aquela menina calada, cujo ar de mistério te confunde a cuca ao misturar timidez com auto-suficiência, introversão com olhares altivos. E só aos poucos, com esforço e não sem muito jeitinho, é que ela vai te dar o direito de descobrir que por trás daquela tristeza orgulhosa se escondiam coisas raras. Coisas raras que ela vai revelar, não para todos, mas só para você.

Isso leva tempo, mas geralmente vale o esforço. Coisa igual acontece com os discos do Wilco e do Radiohead, para ficar em outros dois integrantes do meu all star team. Los Hermanos 4 me pareceu estranho, modorrento, pelo menos nas duas primeiras audições. Mas já começou a se entregar, já conseguiu me fazer sorrir, já vejo ali as minhas pérolas. Promete.

Além do mais, como se vê ali em cima, a capa do CD combina direitinho com o tom deste bloguito. Dizem por aí que este ano o azul-marinho voltou à moda.

terça-feira, agosto 09, 2005

Das profecias 2



Esta aqui é, com toda a certeza, a prova definitiva de poderes ultrasensoriais dignos de um Walter Mercado.

No começo deste ano, eu comentava com minha garota que os Los Hermanos lançariam até Julho um novo álbum. Até aí nada de mais, isso já era informação divulgada. Mas então me veio a luz, e proferi despretensiosamente meu comentário profético: "Acho que desta vez eles vêm com um disco sem metais".

Julho já estava no finzinho e pimba. Acertei, quem diria. Depois falo mais sobre o 4.

Devagar com o andor



Apesar de toda a decepção política, cautela não faz mal à ninguém. A lama é profunda, mas é preciso ficar atento a muita gente que tem embarcado na onda do quanto pior melhor (vide revista Veja). O moralismo, agora prazerosamente destilado por velhos carcamanos, só tem serventia para a luta política mais mesquinha.

O momento exigiria virtudes que, infelizmente, andam bem raras de se ver. Lucidez, por exemplo. Algo como a que exibiu Luis Nassif em seu último artigo na Folha de São Paulo (dica do Gravataí no Imprensa Marrom).


Profissionalização já!

A CPI dos Correios está perdendo o foco. Está invadindo vidas privadas, ameaçando, imputando crime antes do julgamento, cometendo erros banais de avaliação. Deputados confundem movimentação (conceito financeiro) com faturamento (conceito econômico), desconhecem o funcionamento de empresas (pretender que uma financeira saiba o valor do CPMF pago pela companhia é ignorância).

Desanimado com a falta de objetividade dos membros da CPI, o sábio recluso volta a escrever para manifestar sua preocupação com a ignorância de tantos.

Pode-se até supor que Marcos Valério tenha ido à Portugal Telecom propor negócios, mas jamais imaginar que a empresa toparia. Maior empresa privada de Portugal, listada na Bolsa de Nova York, portanto sujeita à legislação norte-americana de mercado de capitais e à Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, é impossível supor que vá aceitar negócio com caixa dois.

Do mesmo modo, é ignorância supor que o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) tenha sido sondado para depositar US$ 600 milhões no Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa. O IRB não tem US$ 600 milhões para depositar e, se tivesse, jamais poderia depositar em um só banco. Por outro lado, o Espírito Santo é um dos bancos mais tradicionais da Europa, peso-pesado no poder e nas finanças de Portugal e com penetração internacional, inclusive nos Estados Unidos. Só faltava se envolver com o PTB. (...)


Continua aqui.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Das profecias



Nestes momentos turbulentos, antes de dar qualquer opinião acho bom deixar algumas coisas claras. Votei no Lula em 2002. Não sou, nem nunca fui, militante ou partidário do PT, mas já votei muitas vezes em candidatos do partido. Celso Daniel, em Santo André. Hélio Bicudo e Suplicy para o Senado. José Genoíno e José Dirceu, vejam só. No entanto, nunca tive fidelidade ideológica (um conceito um tanto limitador, afinal).

Chegar até o voto em Lula, porém, não foi para mim um processo fácil. Já tive minha fase PSDB, já fui admirador do Mário Covas e do Montoro. Em 94, fui de FHC. Em 98, já decepcionado com a promiscuidade governista tucana, optei pelo Ciro Gomes. Só em 2002, finalmente, tive a coragem de votar no Sr. Luiz Ignácio da Silva. Pareço ter feito o caminho contrário da maioria - quanto mais velho, mais progressista. Ou talvez, muito mais provavelmente, foi o PT que em 2002 já não oferecia mais tanto terror ao meu progressismo de boutique.

Tudo isso para contar uma coisa. Pouco antes das últimas eleições para presidente, eu discutia com meu pai, um daqueles conservadores pragmáticos que ainda defendem o Maluf, sobre os possíveis prós e contras do já então bastante provável governo do PT. O medo aos vermelhos, àquela altura, já estava bastante dilúído, até mesmo na cabeça do meu velho. Nossa discussão baseava-se em outro ponto - o que, afinal, aquela mudança poderia trazer de melhor para o país.

Depois de muitos minutos de idealismo hesitante, tasquei a cartada final: "No pior dos mundos, mudam-se os ladrões. Isso não deixa de ser distribuição de renda".

Aquela profecia revelou-se acertada pela metade. Alguns dos ladrões, enfim, ainda continuam os mesmos.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Determinação



Segunda-feira. Juro que ia começar um regime hoje. Mas uma colega aqui acabou de voltar da Argentina e trouxe alfajores. Enfim.