quinta-feira, fevereiro 27, 2003



Demasiadamente Humana
ou Sobre a guerra, e já chega desse assunto...

Estranho, isso. Digo, ter que defender uma posição de não-agressão. O cidadão está lá, dando um duro danado, honrando a camisa, tocando a bola para frente. Ama, sofre e faz sofrer também. Mas, na medida do possível, vai vivendo e deixando viver. Tem sonhos, luta pelo que acredita. À sua maneira.

Então um dia, Tanatos desperta inesperado. A atração pela morte, que Freud descobriu humana como a vida, chega ao ouvido do cidadão e lhe sopra: Rapaz, acorda! Tua vida não vale um livro! Aventura, meu filho! O cidadão ouve calado e olha ao redor. Alguns amigos, que também ouviram o chamado, escolhem seu caminho. Uns partem para a luta revolucionária armada, outros alistam-se no exército. Fulano, que não tem grana, entra para o tráfico e barbariza. Outros ainda começam a saltar de asa-delta.

Mas o cidadão não dá bola pra Tanatos. Prefere ficar na dele. Honrar a camisa e lutar pelo que acredita, à sua maneira, ele já disse. Sempre preferiu Eros, a vida já lhe traz prazer e já lhe faz chorar bastante. Mas não pode, lhe dizem, o que é isso?, de pacatos o mundo já está cheio! Mexa esse traseiro gordo, meu filho, ou você vai ficar para trás! Ao vencedor as batatas, e os losers que fiquem escrevendo na internet! Pelo menos justifique-se, cidadão.

É impossível negar que a guerra faz parte do mundo. Que a história é uma sucessão de vencedores e vencidos. A violência também é parte do homem, que, antes de tudo, é bicho e tem que lutar por sua sobrevivência. Entender a guerra como parte do mundo, no entanto, não pressupõe dizer que ela é bem-vinda. Nem que é positiva ou benéfica. Assim como a violência pura e simples, a guerra simplesmente existe. E é provável que sempre exista, até mesmo como um mal necessário (como um ato de legítima defesa), enquanto ainda houver o injustificável movimento de agressão e ameaça.

A guerra é humana e é mal necessário, mas, como tal, não pode ser desejada ou justificada por si só. Simplesmente por negar um valor que é muito mais humano e necessário que ela: a Vida. E se defender a Vida tornou-se piegas, desculpem-me, mas pobres de nós.

Porque a defesa da Vida não é coisa dos hippies dos anos 70 ou dos babacas politicamente corretos dos anos 90. A defesa da Vida é coisa antiga. É até fácil perceber que nesse ponto, instintos e valores humanos caminham para o mesmo lado: a luta pela sobrevivência e a defesa da vida estão no mesmíssimo barco. Ou todo o desenvolvimento da civilização não tem sido feito com o intuito de frear os instintos destrutivos do homem (instintos que, no coletivo, transformam-se em auto-destrutivos)? O tal "pacto social" não teve como objetivo impedir o uso da violência entre os homens? Todo o processo de consolidação dos direitos civis e humanos, das estruturas sociais, da democracia, não teve como fim básico a garantia que o cidadão pudesse viver sua vida pacificamente, sem ser importunado por aventureiros e saqueadores?

É claro que o "pacto social" ainda não foi estabilizado internacionalmente. Se, dentro da sociedade, o cidadão já renunciou ao uso da violência, entre os Estados ainda não há renúncia plena à guerra. A ONU não deixa de ser uma tentativa nesse sentido, mas tudo ainda é muito recente e teórico. Sabemos que na geopolítica internacional ainda continua reinando a pré-histórica lei do mais forte. Mas não se pode negar que muitos esforços têm sido feitos. E que, tanto na construção de mecanismos contra a violência como contra a guerra, muita inteligência, esforço e genialidade têm sido empregados. Energias que não seriam gastas na luta contra algo que fosse positivo, benéfico ou desejável.

Muitos, entretanto, vêem com com maus olhos esses mecanismos. Anarquistas à esquerda, ou radicais-liberais à direita, vão dizer que tudo isso foi criado como um instrumento de dominação disfarçado, que o Estado é opressor e que tudo não passa de "limitações ao indivíduo". Irônico é que é neste tipo de pensamento, cético a qualquer mecanismo que estimule a cooperação internacional, onde reside boa parte da defesa pelas virtudes da guerra.

Irônico porque não existe um evento onde o Estado seja mais opressor aos direitos do indivíduo que na guerra. Quer seja pela propaganda, quer seja pela coerção do alistamento obrigatório, nada pode ser mais sujo e opressor que o Estado, na defesa dos seus ideais burocráticos e benêsses econômicas, recrutar e usar seus cidadãos como bucha de canhão. Nada é mais violador ao direito básico do homem que é a Vida.

Tanatos continua atazanando, mas o cidadão não dá bola. Olha para cima, pensa na vida e segue em frente. O mundo já se educou demais para resolver seus problemas na porrada. Foi o que ele sempre quis para si, e não pode perder a esperança que isso seja verdade. Até porque, o cidadão tem coração e, por mais que seja piegas, foda-se, ele importa-se sim com os velhos e com as crianças. E concorda com aquela estória de que é inaceitável inverter o curso natural das coisas e fazer com que os pais enterrem os filhos, e não o contrário.

Ademais, o cidadão acredita que não é só a guerra que estimula o espírito humano. Ele prefere sofrer como o jovem Werther a acompanhar as agruras de Homero. E ainda prefere a metafísica de Pessoa à testosterona de Hemingway.

quarta-feira, fevereiro 26, 2003



Maratona


Segunda-feira assisti ao primeiro Senhor dos Anéis no vídeo. Ontem, fui ao cinema ver o segundo. Confesso que gostei mais do primeiro.

Dois dias, seis horas de filmes e blog às moscas. Está aberta a temporada de caça ao Oscar.

terça-feira, fevereiro 25, 2003



Dissenso é fundamental




Paulo Polzonoff, o terrível, considera a guerra, de uma maneira geral, um evento natural, inevitável e estimulador ao desenvolvimento dos povos. Causou polêmica semana passada, quando expôs sua posição em seu blog. No entanto, Paulo é terrível, mas não é burro. Longe, muito longe disso. E, diferentemente de boa parte das pessoas que o atacaram por causa do seu texto, ele sabe que o debate é sempre saudável e que, quando existem argumentos coerentes, uma opinião merece sempre ser respeitada.

Por isso lançou a campanha do banner acima, onde pede que enviem para ele um texto em defesa da paz. Ainda para cutucar mais um pouco, Paulo proibiu que haja no texto algumas palavras que considera "chavões". De modo a evitar os "lugares comuns" do discurso flowerpower. Provocação? Lógico, mas por que não?

Os melhores serão escolhidos e premiados. Mas, melhor que isso, é a oportunidade de colocar a inteligência a serviço dessa causa que penso ser nobre. O Danilo Amarar, por exemplo, esbanjou-se nesse ótimo texto.

Enquanto matuto se aceito ou não a provocação do Paulo, confio em vocês, camaradas da paz. O que estão esperando? Pacatos do mundo, uni-vos e mãos à obra!

quarta-feira, fevereiro 19, 2003



Imagens e palavras

Me empolguei tanto com a proposta do Repórter X que acabei escrevendo dois textos para duas fotos minhas já antigas. Para quem ainda não sabe, o concurso propunha que fosse escrito um texto sobre uma determinada fotografia, com o mote de "furo de reportagem".

Conforme as regras, só participei com um dos conjuntos imagem/texto. Aqui, como as regras são minhas, publico ambos (detalhe que a foto enviada para o Reporter X foi a primeira, a do menininho solitário).





EXTRA!!

Terrorista no parque
Tentativa de ação terrorista é frustrada no Parque do Ibirapuera.

Em meio às manifestações pela paz ocorridas neste sábado no Parque do Ibirapuera em São Paulo, uma ação terrorista de proporções potencialmente gigantescas pôde ser evitada.

Nosso repórter, em ato de sorte e ousadia, flagrou o solitário terrorista em momento de reflexão pouco antes de ser abordado pelas autoridades. Percebe-se que, naquele momento, o insensível elemento concentrava-se no planejamento de sua ação, possivelmente dirigida aos manifestantes que aproximavam-se do local. Toda sua angústia e tensão podem ser percebidas por sua ameaçadora postura corporal.

Felizmente o terrorista não contava com a astúcia dos policiais à paisana que vigiavam o local. O que chamou a atenção dos defensores da lei, além dos trajes incomuns do elemento, foi a mochila que o terrorista carregava displiscentemente. Pendurada às suas costas, o equipamento exibia uma ilustração conhecida no submundo mafioso como "Demônio da Tasmânia". Tal insígnia só é ostentada por elementos que, se não pertencentes, já travaram contato com perigosas ordens religiosas do sudeste asiático. Ordens estas simpatizantes com o Eixo do Mal. Percebendo-se de tal fato, a polícia não hesitou em abordar o indivíduo e revelar suas verdadeiras intenções.

Graças a esta audaciosa ação, a paz e a ordem foram mantidas durante a tarde no parque. Fontes noticiosas informaram que, no final da tarde, dois elementos identificados como "pai" e "mãe" se apresentaram às autoridades como cúmplices do detido terrorista.


***






EXTRA!!

Tráfico no semáforo.
Contrabandistas flagrados em ação nas ruas de São Paulo

É cada vez mais alarmante a situação da segurança pública em nossa cidade. No começo da tarde de ontem, nosso enviado especial à perigosa periferia de São Paulo obteve mais um espantoso flagrante da atuação indiscriminada de grupos criminosos organizados.

Agindo despreocupadamente sob plena luz do sol, diversos elementos, traficantes de produtos contrabandeados, tentavam revender sua mercadoria aos transeuntes de uma das mais movimentadas vias da região. Nosso repórter, em manobra ousada, conseguiu flagrar a ação. Pelo retrovisor do veículo de reportagem, pode-se notar que o elemento, em primeiro plano, realiza explícita demonstração do uso do produto. Seu potencial cliente, no entanto, não desconfia que está prestes a comprar mercadorias ilegais e colaborar com o perigoso esquema dessa quadrilha.

Existem ainda poucas informações sobre essa conexão do tráfico, mas já sabe-se que o produto é proveniente da China e chega ao custo extremamente atraente de R$ 5,00 a unidade. Um custo que evidencia o extremo perigo desse tráfico, visto que propicia um potencial alastramento do produto entre as classes mais baixas, assim como jovens em geral.

Em iniciativa ainda mais ousada, nosso audaz repórter conseguiu declarações bombásticas de um dos traficantes. Ao ser perguntado se sabia do atual programa do Governo Federal para exterminar tais iniciativas ilegais, o popular "Fome Zero", o elemento respondeu provocativamente "A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte". Comentário petulante que explicita a periculosidade do elemento.



Momento Isso é Música para Meus Ouvidos

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo...

Não sei quanto a vocês, mas eu vivo sendo surpreendido por algumas peças que meu cérebro insiste em me pregar. Alguns truques baixos, sorrateiros e inconscientes, que o danado usa para me dar umas boas rasteiras e me deixar com cara da bobo.

Classificar e rotular, por exemplo. Por mais que eu conscientemente abomine esse tipo de coisa, algum mecanismo psicológico nefasto me leva a automaticamente agir dessa maneira. Logo após a primeira percepção (seja de uma pessoa recém apresentada ou uma banda de rock que acabei de conhecer), lá vai meu cérebro acionar o google das referências, verificar as gavetas disponíveis e encaixar o elemento no compartimento mais adequado.

É um truque sujo, e venho criando armas contra ele. Claro que todo mundo que se preza (e eu me prezo) não vai limitar sua opinião à simples primeira impressão. Me julgo bem tolerante até, procuro manter a mente aberta, não fazer julgamentos precipitados. Mas a primeira vista é forte, deixa marcas profundas e, se bobear, as coisas vão mesmo parar nas devidas gavetas, devidamente etiquetadas.

Tudo isso para dizer que eu não ia com a cara dos Los Hermanos. Que achava "Anna Julia" uma música que de legalzinha virou insuportável. E que o golpe de miseridórdia se deu com "Primavera", uma balada chatinha e insossa.

Tudo isso para dizer que o segundo disco da banda, "Bloco do Eu Sozinho", é simplesmente maravilhoso. E, por mais que eu lesse as críticas excelentes e visse o cd em diversas listas de melhores do ano, da década, da história, eu não acreditava que isso fosse possível. Os Los Hermanos já estavam na minha gavetinha de bandas descartáveis.

Até que um dia, sei lá o porquê, resolvi abrir a gaveta, comprar o disco e constatar minha profunda injustiça. O cd do Foo Fighters, comprado no mesmo dia, ficou na gaveta (atenção, gaveta agora no sentido literal, não figurado). Ao contrário, o "Bloco" me persegue. Vai comigo de casa para o carro, do carro para o escritório, do escritório de volta para casa. Acordo todo dia com uma das músicas na cabeça. Praga. Acho que eles estão se vingando de mim. Linda vingança.

Para quem já conhecia o disco, tudo isso não é novidade. Mas, compreendam, minha descoberta foi tardia. Truque sujo das primeiras impressões. Para quem ainda não conhece, vá atrás. Tire também o Los Hermanos do seu corredor da morte.



P.S.: O novo disco da banda sai em abril. Minhas gavetinhas e meus ouvidos, porém, agora já estão bem abertos.

terça-feira, fevereiro 18, 2003



Fusões & Aquisições

Google Buys Pyra: Blogging Goes Big-Time

Fora toda a sorte de teorias da conspiração e de dominação mundial que vão pulular pelos fóruns de discussão, uma notícia parece ser boa: a hospedagem da Blogspot vai ser transferida para os servidores do Google, rápidos, muito mais rápidos.



Boletim das Obras

As obras de reestruturação deste blog seguem no ritmo do Fome Zero. Pouco a pouco, com grandes esperanças mas resultados duvidosos. Já é possível anunciar algumas coisas, porém. Alguns dirão tratar-se de meros factóides, mas julgo que são mudanças de peso e substância.

Primeiro, adicionei mais alguns blogs na coluna ali da esquerda. Alguns são de amigos neurônicos que ainda não haviam sido linkados, como os da Camila, Fazão e Róbers. Outros são descobertas mais recentes e que se transformaram em leitura frequente minha: os blogs do Paulo Polzonoff, do Cláudio Delunardo, e dos Daniéis Galera e Pellizzari. Todos com selo de qualidade garantida.

Como tirar link sempre é coisa delicada, já deixo avisado: Marina, tirei seu blog da lista porque você não o atualiza desde dezembro, garota. Serve como protesto: você volta para o blog e o blog volta para a lista.

Em segundo lugar, recheei a lista de "Outros Portos Seguros" com mais publicações eletrônicas que merecem ser conferidas. O ótimo zine de cultura pop-alternativa (paradoxos do nosso tempo...) B*Scene, o one-man-zine Trabalho Sujo do Alexandre Matias, a subversiva revista eletrônica Nova-e e o completo e variado Digestivo Cultural.

Não parece nada, mas olha só quanta coisa...



Paz justificada

O último fim-de-semana demonstrou que o apelo pela paz é muito mais generalizado do que se imaginava. É claro que o impacto das manifestações ainda é bastante vago, até pelo boicote que a grande mídia dos EUA tem feito a esses eventos. Mas com a opinião pública não se brinca e, como boas e velhas raposas democráticas, os governos dos EUA e da Europa vão ter que lidar com estas pedras no sapato.

Não é incomum se ver por aí o posicionamento anti-invasão do Iraque classificado como uma atitude simplesmente anti-americana, típica de jovenzinhos-revolucionários-utópicos participantes do Fórum Social. Trata-se de um dos mais velhos truques da retórica - radicalizar e simplificar a idéia do oponente, de modo a torná-la incoerente.

Mas como incoerente mesmo é a posição pela guerra, até tradicionais defensores do Tio Sam têm se mostrado hesitantes. E contrangidos pela falta de lógica de Bush, saem da moita e mudam de lado.

Mário Vargas Llosa, ferrenho opositor das esquerdas latinas e admirador confesso da economia liberal americana, desta vez não segurou a barra. Defende a paz num sincero artigo que vale a pena conferir no Estadão deste domingo.

Tempos estranhos em que é preciso justificar a paz.

segunda-feira, fevereiro 17, 2003






Momento Supercine de Cinema


Deus é Brasileiro

- Doutor, estou com um problema.
- Pode dizer, meu filho, não se encabule.
- Não gostei de "Deus é Brasileiro", não...
- Desculpe, não entendi direito.
- Fui ver "Deus é Brasileiro", aquele filme, com o Antonio Fagundes fazendo papel de Deus, e não gostei não.
- Como é que é? Como assim meu filho? Espere só um minutinho...

(...)

- Pronto, já mandei a recepcionista embora. Você era o último paciente mesmo. Agora me explica direito esse negócio...
- Ôo, doutor, assim o senhor me assusta. É grave isso, é?
- É gravíssimo, meu filho. Você andou comentando isso com alguém?
- Não, não doutor, o senhor é o primeiro. Estava meio encabulado...
- Fez bem, fez bem. Melhor que isso não se espalhe. Mas, me diga, como o senhor pôde achar uma coisa dessas?
- Ah doutor, não gostei do filme não... Falaram um monte por aí, diálogos espertos, Cacá Diegues renovado... Acho que estava esperando demais... Isso é fatal doutor?
- Não é fatal, meu filho, mas é extremamente inconveniente! Veja bem, um filme tão positivo, tão bem humorado, com um Brasil tão exuberante. E ainda por cima com o Fagundes! Suspeito de um quadro agudo de insensibilidade patológica.
- Doutor, juro que, no final do filme, até me senti culpado. Mas, sei lá... Não me sensibilizei mesmo com o filme. E olhe, nada contra mostrar pobreza e sertão, gostei bastante daquele Central do Brasil, por exemplo. Mas esse aí, não sei, não me pegou... E olha que nem é tão exuberante assim...
- Que ninguém te ouça, meu filho! Logo em tempos tão otimistas você me vem criticar esse filme? Olhe, acho que seu caso está mesmo pendendo para um quadro crônico de falta de patriotismo latente...
- Mas doutor, veja se o senhor não concorda, o filme até que começa bem, simpático, mas depois fica patinando na mesma estória. E no final, Deus vai embora e não disse a que veio. Tudo fica por isso mesmo...
- Mas que heresia, meu filho. Mas me diga, nem mesmo daquele moleque você gostou? O menino é fantástico!!
- Nisso eu concordo, doutor. O tal do Wagner Moura vale o filme. Mas é só isso, viu... Quanto a esse negócio de bons diálogos, sou mais é assistir um episódio do Seinfield.
- Pronto, como desconfiei. Infecção imperialista em estágio avançado. Isso sim é grave, meu filho!
- Olhe doutor, vou falar tudinho, não quero esconder nada do senhor. Acho que esse filme, depois das últimas produções do cinema brasileiro, é fraquinho, fraquinho...
- Mas, filho, olhe a bilheteria do filme! Fantástica!
- Ah, isso aí já é culpa do Antonio Fagundes. Doutor, com todo respeito, confessa uma coisa pra mim. O senhor não percebeu uma edição assim meio capenga, um ritmo de diálogos meio estranhos, além também de um bando de coadjuvantes com atuações bem constrangedoras? Não dá um cheirinho meio de desleixo, meio de filme brasileiro dos anos 80?
- Bem, é, talvez... Na verdade, rapaz, você deve estar deveras acostumado às fortes doses de cinema americano, por isso não se acostuma com esta nossa nova linguagem.
- Não é questão de nova linguagem, não. É questão de profissionalismo, de qualidade. Cheguei a achar mesmo ridículo cogitarem que esse filme tenha possibilidades de concorrer ao Oscar.
- Fale baixo, rapaz. Duvidando agora da nossa representatividade internacional?
- Ai, doutor, será que isso é grave mesmo?
- Sinto muito, meu filho. Seu diagnóstico é realmente gravíssimo. Está patente que você é portador de radical implicância com o cinema brasileiro, o que, num quadro avançado, pode levar a uma terminal contrariedade ao interesse nacional.
- E tem cura doutor?
- Cura, cura mesmo, filho, tenho que dizer que não existe.
- Estou desenganado então?
- Pior, meu filho... Sob a nova regulamentação da Secretaria de Combate às Tendências Endêmicas, a determinação é que você seja imediatamente isolado do restante da população.
- Maldito filme, meu Deus!
- Mas acho que ainda resta uma esperança...
- Diga, doutor, por favor...
- O senhor não comentou sobre o filme com ninguém, não é?
- Não...
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Acha que consegue manter o silêncio e não falar sobre isso com mais ninguém?
- Bem, acho que sim.
- Nem mesmo com sua mulher?
- Juro, juro que não falo pra ninguém.
- Bom, sendo assim, acho que dá para te liberar sem quarentena. Mas boca fechada, ok?
- Claro, doutor, claro. Não sei como agradecer...
- Não há de quê, filho. Mas entenda, temos que zelar pela unidade nacional. É claro que existe uma taxa extra que vou ser obrigado a cobrar, tudo bem?
- Ah sim, claro...
- Além do valor da consulta...
- Tudo ótimo, doutor, imagine. Quanto lhe devo?
- Com ou sem recibo?
- Sem, é lógico.



Repórter X



Lembram daquele concurso que propunha mandarmos uma foto, acompanhada de texto, retratando um "furo jornalístico"? Pois é, hoje é o último dia para que as imagens e textos sejam postadas no blog do dito. Como eu sou mesmo de deixar tudo para a última hora, acabei de colocar lá a minha participação.

Se alguém quiser conferir, está aqui.


sexta-feira, fevereiro 14, 2003



Para todos os lados

Será que alguém possui idéias tão desorientadas a ponto de colocar na mesma lista de e-zines preferidos projetos de orientação tão diferentes como o Nova-e e o Digestivo Cultural? Pois é, eu.

Ou talvez tudo isso seja besteira, eles nem sejam muito diferentes, e eu não seja tão desorientado assim...



Mais Gangues...

Desculpem voltar ao assunto, mas me lembrei de mais algumas coisas que gostaria de dizer sobre o "Gangues de Nova York".

O filme estava em fase de finalização pouco antes de 11 de setembro de 2001. Por causa dos atentados, a Miramax achou por bem adiar o lançamento por mais de um ano. O medo dos executivos do estúdio era mesmo compreensível. O filme de Scorsese, sob vários ângulos, é extremamente incisivo. Toca em feridas ainda abertas, feridas que tem sido protegidas pelo atual pensamento comum da Doutrina Bush.

De uma maneira geral, só o fato de ter como personagem principal uma Nova Iorque dominada pela barbárie, já é um fator delicado. Mais especificamente, existem diversas críticas soltas pelo filme. Podem ser interpretadas como críticas ao modus operandi usual da política, mas, se quiserem, a carapuça pode servir plenamente em alguns casos mais notórios.

Por exemplo, em determinado momento, os políticos locais, mancumunados com as gangues, se esforçam para manipular as eleições. A sequência é hilária e ilustra literalmente o que deveria ser o nosso tradicional "voto de cabresto". Não conseguindo mais "arrastar" seus eleitores até a urna, alguns políticos exibem preocupação. O mais experiente deles, porém, tranquiliza os demais: "não se esqueçam que, na democracia, o que define uma eleição não são os eleitores, mas os apuradores".

A sorte de Scorsese é que Bush não deve ter entendido a piada.



Shows

Fevereiro já está acabando e a terra brasilis ainda continua abandonada pelos músicos internacionais. Falando de música pop, os únicos que pintaram por aqui até agora foi a electro Miss Kittin em janeiro, e o new-wave Brian Ferry nesta semana. Fãs à parte, com convites cotados à peso de dólar, dispensei ambos.

Mas vamos às previsões. Até agora os oráculos prometem as seguintes atrações...

- Silverchair - os moleques filhos do Nirvana já devem ter crescido um pouco. Aliás, já são até papais, vide o The Vines. Banda boa, mas o preço do ingresso deve me fazer pensar bastante. Estão já confirmados para Maio.

- Coldplay - fora em caso de força maior (tipo uma gripe ou dor de cabeça do guitarrista...) os ingleses melancólicos discípulos de Thom Yorke vem ao Brasil em agosto. Quem não tem Radiohead vai poder ir se virando com eles. Se vier, estou lá.

- TIM Festival - o Ronaldinho deve ter dado uma forcinha e a empresa italiana TIM (aquela do celular do Papa...) vai enfiar uma grana no circuito cultural brasileiro. Um dos eventos é a revitalização do Free Jazz Festival, que mudaria de patrocinador mas permaneceria sob a mesma organizadora do evento (a Dueto Promoções). O único porém é que o Festival, que antes acontecia simultaneamente no Rio e em São Paulo, agora será realizado em apenas uma dessas cidades, revezando a sede de ano para ano. Este ano, maledetos italianos, vai ser no Rio. Pensando bem, é uma chance para viajar, ouvir boa música e comer pizza com ketchup... Guardem seus tostões para outubro.

quinta-feira, fevereiro 13, 2003





Momento Supercine de Cinema

Gangues de Nova York

Seja ela trágica, épica ou vulgar, a verdade é que qualquer estória pode ser contada em três linhas. Está aí o hilário site bookinaminute para nos jogar isso na cara, assim como os "minicontos" se tornaram uma modalidade literária cada vez mais em voga. No fundo, isso não passa de uma necessidade para qualquer jornalista que tenha de produzir as notas policiais do dia.

O gostoso do biscoito, entretanto, está no recheio. Assim como uma piada pode ou não ter graça dependendo de quem a conta, o que faz realmente a emoção e a graça de uma estória não é a cronologia dos seus fatos. São os detalhes inseridos, as nuances criadas, o contexto da ação. São nestes meandros que se cria (ou não) o prazer do ouvinte, do espectador ou do leitor.

Filho presencia o assassinato de pai em uma luta com um grupo rival. Após anos no exílio, volta para vingar-se. Aproxima-se do inimigo, mas acaba envolvendo-se emocionalmente com ele. Vive então o dilema de honrar ou não sua vingança. Shakespeariano, não é? Depende. Podia muito bem ser a sinopse de um filme do Van Damme ou do Charles Bronson. Mas a minha sorte é que aquele era um filme de Martin Scorsese.

Gangues de Nova York (2002) não deixa de ser, entre tantas outras, mais uma saga sobre grupos mafiosos em disputa pelas ruas de Manhattan. Com o detalhe signitivativo de ser narrada por Martin Scorsese que, ao lado de Francis Ford Coppola, foi nos últimos trinta anos o melhor contador de estórias da Máfia dentro do cinema americano. Scorsese consegue fazer juz à sinopse shakesperiana e tirar dela toda a complexidade e tensão que a estória pode oferecer. É um filme forte e violento, mas, ao mesmo tempo, reflexivo e estranhamente belo.

O termo "gangues" do título não se refere aos grupos juvenis de hoje em dia, mas sim à verdadeiras facções mafiosas que dominavam os bairros pobres de Nova York no meio do século XIX. Cada qual com seus ideais político-religiosos e seus códigos de honra, essas "gangues" disputavam o poder dentro de uma sociedade ainda sem lei (ou, pelo menos, sem alguém que garantisse a lei...).

Daniel Day Lewis é o líder de um desses grupos, os auto-intitulados "Americanos Nativistas", ou seja, formado por indivíduos nascidos na América e de religião protestante. O filme inicia-se justamente na batalha campal onde os Nativistas enfrentam os "Coelhos Mortos", grupo de imigrantes irlandeses católicos, liderados por Liaam Neeson. A violência que se segue é impressionante, e faz lembrar a cena do desembarque das tropas na Normandia do "Soldado Ryan" de Spielberg e. A violência aqui, acompanhada por uma música instrumental contemporânea composta por Peter Gabriel, é estilizada sim, mas nunca deixa de ser chocante e cruel. Dá o tom para o restante do filme.

Lewis mata Neeson, vence a disputa entre os grupos e passa a dominar politicamente Manhattan nos anos que se seguem. O pequeno filho de Neeson vê tudo e foge. Volta mais tarde, já na pele de Leonardo DiCaprio, dando sequência à sinopse já contada acima. Daniel Day Lewis constrói um fantástico personagem, mantendo-o às raias da caricatura, sem porém errar no tom. Um "vilão" que possui tanta honra, dignidade e humanidade quantos os "mocinhos" da estória. Inesquecível. Um dos pontos altos é sem dúvida a interação dele com DiCaprio, e o astro juvenil também não desaponta. DiCaprio parece ser sempre o mesmo em todos seus filmes, mas sua interpretação é sempre convincente e segura.

O grande trunfo porém, o que o faz o filme realmente único, é a ambientação que Scorsese dá ao contexto histórico da trama. Ele retrata uma Nova York que, apesar de datada de 1850, tem um ar completamente apocalíptico. Cheia de violência, de disputas tribais, de sujeira e de orgias desenfreadas. Uma cidade em caos social e com um visual que estranhamente nos remete ao mundo pós-hecatombe de Mad Max. Imagens que em nada lembram os livros de História que estudamos no colégio.

Numa das melhores cenas do filme, um paternal Daniel Day Lewis explica para DiCaprio que o poder, dentro daquele caos, só pode ser conquistado através do medo das pessoas. E então, ironicamente se lamenta: "nossa civilização está em plena decadência". Lembrei imediatamente das palavras que costumo sempre ouvir dos meus avós, "estamos no fim do mundo...", e aquela contradição ficou marcada em mim: sob determinado ângulo, em determinados contextos, a civilização sempre esteve em decadência. Toda a vileza, egoísmo e orgulho humanos são coisas que sempre existiram e hão de existir.

Scorsese encerra seu retrato do inferno nova-iorquino numa sequência que oferece alguma redenção. É sem dúvida um alívio, mas dependendo do seu humor, a cena pode até esbarrar no sentimentalismo. Eu gostei. E o sentimento que fica é esse: a valorosa luta pelos ideiais e pela honra às vezes não passa de uma mesquinha e inócua afirmação de orgulho próprio. Uma luta que facilmente descamba para a barbárie e violência sem sentido. Na defesa de causas que, invariavelmente, não resistem à marcha impiedosa do tempo.

Qualquer semelhança com o hoje ou com o sempre não é mera coincidência.

Mais:
Página oficial
Ficha no IMDb
Mais fotos

quarta-feira, fevereiro 12, 2003



Atenção: blog em obras

Mesmo com o Ministério da Cultura não tendo liberado o tempo e os recursos necessários, informo que estão sendo iniciadas as reformas do template deste bloguito.

Como toda boa obra, vai demorar pacas pra acabar. Porém, sou ansioso demais para colocar as alterações no ar só quando estiver tudo prontinho. Portanto as modificações vão entrar aos poucos, conforme forem sendo feitas. Lógico que algumas delas não vão dar certo, por isso não se assustem se coisas estranhas e desconexas acontecerem por aqui durante o processo.

Desculpem o transtorno. Estamos trabalhando para melhor servi-los.







Ativismo editorial

Muito mais interessante que o texto sobre blogs que saiu na Trópico é a entrevista publicada pela Nova-e com Hernani Dimantas, autor do livro Marketing Hacker - a revolução dos mercados.

Hernani discute de maneira muito ampla o papel da internet na descentralização do poder da informação. Para ele, eventos como a pulverização das iniciativas editoriais (de blogs a e-zines), a disseminação dos softwares livres (o Linux, por exemplo), ou a simples troca de arquivos (mp3...) fazem parte de um mesmo fenômeno que já está revolucionando os meios de produção e de remuneração da antiga era industrial.

São reflexões bastante interessantes, e que merecem mais discussão. Segue um trecho abaixo, só para deixar um gostinho:

A comunicação de massa não é adversária. Apenas esta deixando de ter a importância que teve durante a era industrial. (...) O próximo passo é utilizar a mídia de massa para promover e incentivar a descentralização da mídia. Isto esta acontecendo na rede, mas é necessário dar condições financeiras para que as vozes despontem em todas as mídias. Estou seguro de que a próxima geração de colunistas, escritores e formadores de opinião seja oriunda da Internet.



Jabor recebe auta

No fim dos anos 70, o surgimento do Lula no ABC foi a única novidade progressista do país, a melhor crítica prática que a velha esquerda recebeu, depois de décadas de ilusões vagabundas. De repente, um operário inteligente descobriu o óbvio: que o delírio ideológico tinha de ser substituído por uma luta sindical de resultados. Lula ignorou intelectuais, carbonários e até pelegos getulistas, inaugurando um novo ângulo da realidade. E aí, intelectuais e acadêmicos ficaram deslumbrados: “Ahh... o operário chegou! Nosso Messias!”. Professores e professoras ficaram molhadinhos para “educar” o Lula: “Ahh... ele é primitivo, mas é domesticável para o marxismo”. As bonecas burras não entendiam que justamente o sentido prático, negocial, “de resultados” do Lula no ABC é que era o Novo

Depois de longo período, parece que Arnaldo Jabor conseguiu se recuperar do seu quadro intelectual neurótico-maníaco-depressivo. Sua última coluna está ótima, surpreendentemente coerente e equilibrada. Os paramédicos torcem para que não haja nenhuma recaída.

terça-feira, fevereiro 11, 2003



Óscar

O prêmio para Melhor Filme Estrangeiro no Oscar sempre foi o terror dos cinéfilos-videntes de plantão. Se as indicações para as outras categorias são praticamente cartas já marcadas pelas premiações anteriores (Globo de Ouro, Sindicato dos Críticos), prever a escolha dos 5 melhores filmes não falados em inglês é tarefa bem difícil. O mundo, mesmo globalizado, ainda é bem grande, e a oferta é vasta e diversificada. São 54 filmes de diferentes países. Previsões geralmente acabam em tiros n'água.

Este ano porém, aqui no Brasil a crítica-torcedora levou um baile único. Primeiro alardeavam que o maior concorrente ao nosso "Cidade de Deus" era o consagrado diretor espanhol Pedro Almodóvar. O bom "Fale com Ela", entretanto, estranhamente sequer seria indicado pela Espanha como concorrente do país ao Oscar.

Depois, os temores voltaram-se para "Pinocchio", fábula filmada por Roberto Begnini. Será que o fantasma de "Vida é Bela" podia novamente atrapalhar a jornada brasileira rumo à taça? Bem, no final, o italianinho saltitante apenas levou uma indicação ao "Framboesa de Ouro", prêmio dedicado às produções mais ridículas do ano.

Como viu-se ontem, infelizmente "Cidade de Deus" ficou de fora, preterido por outros filmes dos quais que pouco ou nada se falou em nossa terra brasilis.

Mas as surpresas não acabaram por aí. Para finalizar o desastre das previsões, nossa nação canarinho acabou ganhando uma representação, mesmo que por linhas tortas. Muitos dirão, porém, que Deus não acertou muito bem nestas linhas tortas, que estariam um tanto maltraçadas as tais linhas. Quem acabou indicado foi mesmo Caetano Veloso. Ele divide com a cantora mexicana Lila Downs a interpretação de "Burn It Blue", música da trilha do filme "Frida" indicada ao prêmio de Melhor Canção Original.

Bem, pelo menos não foi aquela tal do Cucurucucu...

segunda-feira, fevereiro 10, 2003



A Festa e Eu ou
It's the real thing! ou
Friends will be friends ou
Fucking bloody introversion...

Vamos lá, às favas com a originalidade e a rapidez. Também sou filho de Deus e também quero escrever sobre a Festa, mesmo depois de já ter lido vários depoimentos lindos de muita gente que esteve por lá. Mas, como cada um teve a sua festa, custa nada contar um pouco da minha.

Na lata, a Festa foi ducaralho. E surpreendente. Surpreendente sim, e talvez possa me explicar melhor com uma estorinha contada na própria festa, debaixo da garoa quente paulistana, pela querida Camila. Naquela mesma tarde de sábado, Camila havia dito à uma amiga que iria numa festa de "gente que tinha conhecido na Internet". A amiga da Camila então, num defensivo preconceito contra o novo, reagiu desgostosa: "nossa Camila, amigos da Internet, mas você não precisa disso"...

A ficha caiu. Essa é a questão: não se trata de precisar. Se trata de querer. Querer conhecer pessoas legais, encontrar gente fina, elegante e sincera. Interagir, se comunicar, trocar idéias, se encontrar no outro. Necessidades humanas muito mais antigas que a vovó de bicicleta. Internet ou clube, blog ou troca de cartas, tudo isso é detalhe processual. O que importa é a interação. E aquilo ali era real. A festa era a prova de que aquilo era real.

E só mesmo um sujeito com o carisma e a energia do Marcaurélio para fazer o pivô e colocar toda essa comunidade virtual num mesmo lugar. Marcão, tú é magnético, cara. Feio, gordo, careca, mas magnético! Parabéns mesmo.

Mas eu minto um pouco aqui. Talvez, pelo tamanho do evento, a ficha caiu com mais força naquele sábado à noite. Mas eu já tinha encontrado muito antes provas concretas das pessoas lindas que se pode encontrar atrás de um nickname. Esses malucos do Neurônio Descontrol já faz tempo não são mais apenas nicknames, já são amigos, já têm estória, já moram aqui no coração.

Mas voltemos à Festa. Chegamos ali eu, minha linda pequena (peculiarmente maior do que eu, devido a um salto alto desonesto... tudo bem, era aniversário dela, posso perdoar o deslize...) e o bando de amigalhaços neurônicos. Tinha já sido apresentado às figuras mitológicas de Deus, Menina da Torre e Quem??, sem contudo ter aprofundado muito a prosa. Espiava os rostos conhecidos com curiosidade, investiguei algumas etiquetas de rabo de olho. Não abordei ninguém, porém. Começou a garoa, sentamos lá dentro, as meninas foram dançar. Chegou a hora das filosofias de mesa de bar, e deu até mesmo para defender algumas teorias existenciais com o Fazão, o Róbers e com Deus. Claro que Deus não suportou muito minhas idéias de filisteu e fui devidamente fulminado pela sua ira em menos de dois minutos. Um prazer, é claro... E a festa foi rolando, entre boas conversas com a turma já conhecida e algumas cervejas para aplacar o calor.

Chega-se então à minha frustração da noite. Apesar de tudo ter corrido maravilhosamente bem, além do trio carioca, acabei não conhecendo mais ninguém novo. Como já estava bem acompanhado, me resignei à minha introversão e não saí em busca de pessoas que, juro, eu queria muito conhecer. Pessoas que já tive o prazer de conhecer pela net, como o Pedro Nunes e a Paulita Foschia, ou outras de quem simplesmente admiro muito o trabalho, como a Daniela Abade e o Fábio Fernandes.

Sei que isso não é nada simpático, mas é um comportamento com o qual já venho travando batalhas há algum tempo. Penso demais, tento achar o momento ideal, passo a achar que serei incoveniente, recolho as armas e permaneço na minha. É como se a abordagem me tomasse muita energia, e eu acabasse por desistir da empreitada. Tudo besteira, eu sei. Mas o fato é que sou eu quem acaba perdendo a oportunidade de conhecer gente nova. E o pior, gente que eu já sei que é legal.

Fiquei na espera do momento certo e quando vi, já era tarde demais. Devido a duas doses generosas de whisky servidas pelo gentil bar-man da festa, a certa altura confesso que já estava alto demais para travar qualquer contato inicial. Passei então a fazer juras de amor e amizade eterna aos meus amigos neurônicos, juras estas que, mesmo sinceras, não deixavam de conter aquela peculiar pieguice etílica.

E foi isso. Valeu aos amigos pela companhia e carinho de sempre e desculpas àqueles com quem deixei de conversar. Sei que quem perdeu a oportunidade fui eu. Mas outras oportunidades devem vir, assim espero. Confesso que funciono melhor em mesa de bar, ambientes menores, conversa solta. Taí uma boa pedida para uma próxima vez.



Demais enjôa

Espero que este meu questionamento não levante dúvidas a respeito da minha masculinidade, mas vocês também não acham que a Daniella Cicarelli está assim, só um tiquinho, superexposta?



De como a profundidade pode estar no observador...


Está certo que o tal ditado "há males que vem para o bem" não passa de uma condolente pílula anti-depressiva, um atenuante retórico para as vítimas das inevitáveis peças do destino.

Às vezes, porém, o dito faz mais sentido do que parece e passo a acreditar que, mesmo das coisas mais execráveis, dá para se colher bons frutos.

Tudo isso apenas para citar o belo texto que o Paulo Polzonoff escreveu sobre a insossa Elane, a professorinha do Big Brother. Ou, para continuar nos chavões, só que por um outro ângulo: quem sabe, sabe, e tira leite até de pedra...



Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda bossa é nova e você não liga se é usada


Hermanos los son...

sexta-feira, fevereiro 07, 2003


Censura, Tio Bush e pirataria...

Reconheço que esta semana aqui no Cartas foi extremamente minguada. Produção original às raias da nulidade. Só links, citações, dicas. Na falta de idéias, o hipertexto é fundamental...

Pra não sair do tom, encerro a semana citando mais algumas coisas que me chamaram atenção. Bom sinal é que, pelo menos, todos esses assuntos deixaram aquele gostinho de "queria dizer algo a respeito". Na falta de tempo agora, fica a promessa de posts futuros.

Ah, os links né? Ei-los:

- O blog Carta Aberta faz um alerta: censura à vista. A revista Você S/A foi impedida judicialmente de publicar matéria sobre a Indústria de Recolocação Profissional. Uma deformidade genética do mercado de trabalho que, com certeza, merece post.

- Hélio Schwartzmann, com o equilíbrio de sempre, faz um apanhado sobre a Doutrina Bush. Também ainda não falei sobre o Buchão por aqui, fica pra semana...

- A gravadora Abril Music fechou as portas e colocou a culpa na pirataria. Pirataria? Hmm, também merece meu pitaco..

Me cobrem...


quarta-feira, fevereiro 05, 2003



Pechincha

Eu sei que após os Napster, Audiogalaxy, Kaazas e CD-burners da vida, comprar CD é coisa pra se fazer só depois de ter pensado uma, duas, três vezes no assunto. Mas essa não dá pra perder...

Aqui você encontra o novíssimo CD do Foo Fighters, pela bagatela de R$ 16,90. E só nesta 1a edição, você ainda leva um DVD-bônus de lambuja. Semana passada o pacote estava por R$ 34,00. Tá pensando ainda?

E olha que ainda nem sou patrocinado pelo Submarino...





terça-feira, fevereiro 04, 2003



Déficit criminoso

Pudera que as contas públicas do Brasil nunca saiam do vermelho. E que o FMI seja sempre chamado para dar uma "forcinha". Isto é revoltante. Se o Palocci quer aumentar o tal superávit primário, talvez deva começar por ali.

E parabéns à Istoé pela coragem da reportagem.

segunda-feira, fevereiro 03, 2003



Admirável mundo novo

Um dia destes fiquei surpreso com uma notícia no jornal: tricotar é a nova moda e símbolo da contracultura. Já tinha lido algo parecido numa dessas colunas modernetes da internet, mas inocentemente não levei à sério. Agora ver aquilo dito assim, impresso no Estadão e vindo de uma matéria original do The Guardian, me deixou assustado.

A pulga ficou atrás da minha orelha. Minha mente não conseguia digerir muito bem a informação e, sem entendê-la, não podia classificá-la e arquivá-la na gavetinha adequada. Estaria eu velho demais para entender esses novos costumes? Sem se resignar, agindo como numa busca aleatória do google, meu cerébro relacionava aquela bizarra notícia a algumas outras lembranças, trazendo flashes rápidos à minha consciência: eu ouvindo com prazer o acústico do Roberto Carlos, a tchurminha dançando Balão Mágico num bar-hotel decadente, o visual retrô 80s, a cultura trash...

De alguma forma tudo aquilo se encaixava, mas eu não sabia como. Aquilo já estava me deixando maluco. Felizmente, com o texto do Daniel Galera publicado na Fraude finalmente fêz-se a luz e tudo ficou claro para mim. Saiba tudo sobre o consumo irônico e sua vida nunca mais será a mesma.



Tell me why you don´t like mondays?

O que não faz um dia de sol com o humor de uma pessoa, não? Faz até cantar, em plenos pulmões e no meio do trânsito, coisas como "Ive Brussel" do Jorge Benjor, ou "Everlasting Love", do Elvis.

Muita felicidade para uma manhã de segunda-feira... E isso é bom, muito bom...