domingo, agosto 31, 2003



A Crônica Velha

O que se vê na maioria das cabeças pensantes brasileiras, aquelas que possuem espaço cativo na mídia impressa, é uma postura bastante negativa, não somente quanto às evoluções tecnológicas, mas quanto ao tempo presente. Generalizadamente.

Sem muitas exceções, o tom sempre oscila entre o saudosismo pelos anos dourados e a paranóia quanto aos tempos futuros. Tudo bem que vivemos o fim das utopias, mas não dá pra fechar os olhos ao presente e muito menos profetizar o fim das possibilidades futuras. Isso é, no mínimo, muito egoísmo para com as atuais e futuras gerações.

Cada vez que leio uma coluna do Jabor, do Cony, do Ubaldo, para ficar nos mais "conceituados", é como se visse minha avó assistindo ao Cidade Alerta e gritando aos quatro quantos: "Meu Deus, que situação, isso é o fim do mundo!!". Não tenho nada contra os idosos, mas penso que com a maior parte da crônica brasileira aconteceu isso: amadureceu demais, e hoje não passam de mentes velhas. (...)

(leia o texto completo no Imprensa Marrom!)

sexta-feira, agosto 29, 2003





Diários de Motocicleta
Ernesto Che Guevara

- O Livro -

(...) Como literatura, "De Moto pela América do Sul" tem o mesmo valor artístico que qualquer outro diário de viagem publicado em algum blog na internet. Mas, definitivamente, isso não tem a menor importância. Afinal, quem não gostaria de ler um blog escrito por Ernesto Che Guevara?


- O Filme -

Após a repercussão internacional de seus dois últimos filmes, Walter Salles Jr. estava engatilhado num projeto junto à Miramax para filmar "The Assumption of the Virgin", com participação da beldade Juliette Binoche. No entanto, algum desentendimento aconteceu com o estúdio americano, fazendo com que o diretor brasileiro abandonasse o barco para dedicar-se à adaptação do "Diário de Viagem" de Che Guevara. (...)

Leia os dois textos completos no Scream & Yell!



quarta-feira, agosto 27, 2003



Momento Supercine de Cinema



Agora ou Nunca

O Ministério da Saúde Britânico deveria obrigar o diretor e roteirista Mike Leigh a estampar no cartaz promocional de "Agora ou Nunca" (All or Nothing - Inglaterra, 2002) a seguinte advertência: "assistir deprimido pode levar ao suicídio". Respire fundo, tudo aqui vai ser angustiantemente simples, banal, tedioso e sem-sentido. Irreversível, muitas vezes. No final, pode parecer sadismo, mas a jornada acaba valendo a pena.

Quem se lembra do mais aclamado filme de Mike Leigh, "Segredos e Mentiras", ganhador da Palma de Ouro em Cannes 1996, sabe do que estou falando. Leigh, inspirado por suas raízes teatrais, costuma fazer filmes de baixo orçamento, com diálogos improvisados, elenco sem glamour e estórias simples sobre a vida cotidiana. A partir da vida aparentemente sem sal de pessoas comuns, ele consegue sempre extrair dramas intensos e dissecar personagens inesperadamente complexos.

(leia o texto na íntegra no Scream & Yell)

segunda-feira, agosto 25, 2003



Primavera




Sempre tive uma certa fascinação pelos acontecimentos do ano de 1968. Principalmente pelos levantes estudantis de Maio, em Paris, e pela Primavera de Praga.

Às vezes tento pensar na razão dessa fixação. Só consigo, no entanto, enxergar como isso denuncia uma série de contradições minhas. Talvez ninguém note, talvez eu consiga esconder, mas definitivamente é isso - sou um sujeitinho um tanto contraditório.

Tento sempre ser coerente, analisar tudo com bom senso, faço poses de equilibrado. Mas por traz da mente racional, bate um idealismo bobo e piegas. E só pelo fato de eu me referir a ele como bobo e piegas, já se vê como ele tem sido escondido e mal-tratado.

Na luta contra o excesso de superego, talvez seja bom dar ouvidos às besteiras sem sentido que diziam aqueles estudantes romanticamente malucos - sejamos realistas, exijamos o impossível.

Enfim, há 35 anos os tanques russos entravam em Praga e davam fim àquela primavera. Alexander Dubcek, o líder da Checoslováquia naquela altura, talvez estivesse exigindo o impossível - tentara flexibilizar a rigidez do regime, permitir o trânsito livre de pessoas, liberar a imprensa. Criava sua experiência de “democracia comunista”. Durou pouco. Mas aconteceu.

No último domingo o Estadão publicou um texto muito interessante, comparando a ação tomada pela URSS na época à estratégia adota pelos EUA na atualidade. Idealismo anda meio fora de moda, mas vale a pena ler.

"Quando a União Soviética se desintegrou, mais de 20 anos depois, os observadores ocidentais ficaram chocados. Eles já haviam se esquecido de 1968. Mas na época da invasão até a revista Time previu a queda: era o fim da Rússia heróica. Um país muito admirado por ter se atrevido a ficar sozinho e construir uma sociedade socialista, por proteger outros países socialistas, por sacrificar milhões cidadãos a fim de livrar a Europa do fascismo havia se tornado, simplesmente, um tirano que esmagava os países menores.

Uma superpotência que não representa mais nada, na qual ninguém mais acredita, que é vista apenas como tirânica, cairá a despeito de seu poderio militar. Se o governo Bush alguma vez quis refletir sobre a História, poderia pensar nisso."


sábado, agosto 23, 2003



Sua Dose Diária

Em certas épocas chego a pensar se vale mesmo a pena continuar lendo jornal e assistindo a noticiários na TV para me manter informado. É tamanha a dose diária de notícias urgentes, tragédias, colapsos mundiais e situações sem controle, que não sei até que ponto é benéfico ser bombardeado por tudo isso. Não que eu queira esconder-me do mundo ou alienar-me. A questão é que já perdi muito da credibilidade nos veículos que me entregam essas notícias. Não, não sou polyanna, não acredito que vivamos no mundo maravilhoso de moranguinho. Mas será que a intermediação da imprensa não tem ajudado a nos transformar em completos neuróticos e estressados?

O texto da semana já está lá no Imprensa Marrom. Leia tudo e comente!

terça-feira, agosto 19, 2003





Desculpem as palavras mas, caralho, é foda.



Sr. Mercado, me desculpe...

Preços justos que me fariam consumir desavergonhadamente:

- Revista - R$ 5,00
- CD - R$ 10,00
- Livro - R$ 12,00
- Ingresso de cinema - R$ 5,00
- Ingresso de teatro - R$ 7,00
- Ingresso de show - R$ 10,00
- Filme em DVD - R$ 15,00
- Aparelho de DVD - R$ 300,00
- Ponte Aérea ida-e-volta p/ RJ - R$ 100,00
- Diária em lugar limpo - R$ 20,00

Na ausência de tais valores, salvo raras exceções, me mantenho lendo matérias na internet, baixando minhas MP3, copiando CDs dos meus amigos, lendo os livros velhos da minha mãe, alugando fitinhas na locadora e tentando passar os fins de semana em casa.

sábado, agosto 16, 2003







Um ano

Na semana passada este bloguito fez aniversário. Um ano de Cartas de Maracangalha, quem diria hein? Eu não diria. Mas como diria o piadista, já que tá dentro, então deixa, rumbora rumo a mais outro ano.

Há doze meses atrás, se alguém me aconselhasse a ter cuidado porque fazer um blog mudaria a minha vida, eu não acreditaria. Mas mudou. E não estou falando de fama, mulheres e dinheiro, pois isso são coisas que já viriam naturalmente, eu sei ;-). Enfim, não me obriguem a ser piegas, vocês sabem do que estou falando. Afinal, são parte disso também.

Valeu muito pelas garrafas lançadas por vocês aqui durante este ano. Espero que elas continuem chegando.

E, para quem ainda acredita que Maracangalha não existe, Maracangalha existe sim. É só clicar nas casinhas ali embaixo para conhecer. Quem sabe, um dia, eu ainda saio de andanças pela Bahia e dou um pulinho por lá. Um dia...






sexta-feira, agosto 15, 2003



Jack Asses, os Homens do Ano

Ninguém mesmo escapa ao espírito da época. Há um programa, produzido pela MTV americana, cuja atração principal é visitar as residências modestas das celebridades do showbizi. Ontem eu me entretia assistindo à equipe de reportagem visitar as moradas dos intrépidos protagonistas do Jack Ass. Não fosse pela trilha sonora moderninha e a edição videoclíptica, eu estaria esperando o Otávio Mesquita aparecer na tela a qualquer momento. De repente a Sonia Abraão talvez.

Enfim, estava lá um daqueles super-Jack-Asses, mostrando-nos o que se faz quando se fatura algumas dezenas de milhões de doletas logo aos vinte e poucos anos – uma mansão imensa, uma linda morena, uma rampa de skate com uns sete metros de comprimento no meio do quarto, um porão cheio de máquinas de fliperama e vídeo-game, um half de cinco metros de altura no meio do quintal, uma garagem com três Audis e uma Ferrari Modena estacionadas.

Admirado, fiquei pensando que o sujeito deve ganhar um baita adicional de insalubridade para trabalhar no programa. Faz sentido, afinal, o desgaste da profissão provavelmente vai obrigá-lo a se aposentar mais cedo. Nada mais justo que ter seu mérito reconhecido, ser recompensado pelo suor do seu rosto. Sem contar a realização profissional trazida pelas escoriações e próteses dentárias.

Como disseram aí uns publicitários, acho que preciso rever meus conceitos. Depois da reportagem, a única coisa que me vinha à cabeça era uma tirinha do Calvin que eu tinha lido pela manhã. Bill Waterson, definitivamente, é o meu guru.







O Software Livre e a Desinformação

Neste momento entidades oficiais e não-governamentais estão discutindo um tema de importância estratégica para o país: a política de Tecnologia da Informação e a possível regulamentação do uso do software livre nas instituições públicas do Brasil.

Alguém aí sabe exatamente para onde está caminhado essa discussão? Pois é, com exceção de alguns peritos, aposto que muitos, como eu, ficam totalmente perdidos ao se confrontar com esse assunto pela primeira vez. E isso é só um exemplo, entre tantos, do serviço de desinformação que os veículos de imprensa tem prestado nos últimos tempos.


(sexta-feira é dia de Maracangalha lá no Imprensa Marrom, vá lá conferir...)



Internéticos sem causas

Um dos organizadores do tal Flash Mob ocorrido ontem em São Paulo esclareceu à imprensa que não, não havia nenhuma causa ou idéia a ser defendida no evento. O objetivo era somente reunir pessoas. E tirar o sapato delas no meio da rua.

Além de confirmar ao mundo como são mesmo esquisitos esses usuários da internet, a melhor coisa que se pôde aproveitar do encontro partiu de um dos poucos mobilizados que, percebendo toda a exposição dada pela mídia, se dignaram a levantar algum tipo de questionamento. O cartaz do sujeito levava a frase: "Contra burguês, baixe MP3".

Pôxa, pelo menos os caras são bons de rima!

quinta-feira, agosto 14, 2003



Cidade de Deus, de novo

Aquele texto postado aqui sobre o livro Cidade de Deus, do Paulo Lins, saiu agora lá no Scream&Yell. Está um pouco mais vitaminado e, no final, copiei dois trechos legais do livro para quem quiser sentir um gostinho. Eu recomendom...



Acredito muito que pra ser feliz a gente tem que aprender a viver com leveza, colocar os problemas em perspectiva, encarar a pequenez das coisas com humor, saber rir de si mesmo.

Saber disso eu sei, mas às vezes o bicho pega. Na verdade, não sei nem bem se tem algo a ver com isso. Mas vocês já se pegaram falando em algo que vocês realmente gostam, com toda a sinceridade, espontaneidade e coração, e de repente perceber que não está sendo levado à sério? Não sei se ser levado à sério é a questão. Talvez seja sentir que a importância e o sentimento que você coloca em algo está sendo menosprezado pelos outros. Vocês já sentiram isso, não sentiram?

Não sei se sou orgulhoso ou inseguro. Só sei que odeio isso.

terça-feira, agosto 12, 2003





Bicho de Sete Cabeças

Só fui assistir ao Bicho de Sete Cabeças no último domingo, quando passou na TV a cabo. Realmente, estava perdendo tempo, o filme é um dos melhores nacionais dos últimos anos.

Não achei o filme tão pesado quanto falam por aí. Claro, é uma estória de internação em hospício, pesada por natureza, mas não vi exagero ou exploração gratuita nas cenas. O filme é realista e forte na medida certa. Mas nem por isso deixa de ser um petardo.

Como disse o Luiz Carlos Merten, no Estadão, muito mais do que o sistema manicomial, o alvo principal do filme é a família. Na falta de abertura e comunicação, a estupidez, a chantagem e a força são as ferramentas utilizadas para manter-se o padrão estabelecido da família normal, estruturada e “feliz”.

Outra coisa interessante é que, apesar de claramente narrar o drama de uma vítima, o filme foge do maniqueísmo. A “culpa” pela criminosa internação de Neto não recai só sobre a estupidez conservadora do pai repressor. A irmã, mesmo letrada, esclarecida e “zen”, é conivente e até estimuladora do ato. E a mãe, mesmo angustiada num sofrimento passivo, é, no mínimo, cúmplice omisso da situação. Tudo bem, há pelo menos um vilão absoluto na estória: o sistema. Mas, afinal, precisa-se de um vilão, e realmente não há muitas coisas boas pra se falar desse tal sistema.

Como também já muito comentado, a atuação do Rodrigo Santoro é mesmo ótima. Mas quem arrebenta (e se destaca definitivamente como um dos meus atores preferidos) é o Othon Bastos. Depois de tornar inesquecível seu caminhoneiro solitário em “Central do Brasil”, agora ele está novamente sensacional como o pai cheio de boas intenções, mas idiota até a medula. Ainda assim, é impossível não dar destaque ao Santoro. Ainda acho ele meio “preso” na interpretação, mas, sem dúvida, o sujeito vem construindo uma carreira consistente. Afinal, não é para qualquer um levar chifre da Luana Piovanni em cadeia nacional e ainda sair dessa com a cabeça levantada.

Tem que se dizer ainda que, apesar de forte, o filme consegue ter cenas muito bonitas e sensíveis. E que a música do André Abujamra e as canções do Arnaldo Antunes se encaixam como uma luva e tem grande impacto na narrativa. Enfim, o filme é ótimo. E ainda dizem que a Laís Bodansky, diretora, filmou quase sem dinheiro. Somento durante a pós-produção encontrou o apoio da Benneton, da Itália, que se interessou pela temática polêmica. Aqui no Brasil, a cineasta teve enormes dificuldades para encontrar empresas que financiassem o filme com seus incentivos fiscais. Só posso utilizar um comentário feito novamente pelo Luiz Carlos Merten – coisas de um país que coloca a escolha de onde investir-se o dinheiro público nas mãos de diretores de marketing.

segunda-feira, agosto 11, 2003



Tá frio, né?

Finalzinho de segunda-feira polar, quer dar umas gargalhadas pra esquentar as entranhas? Vai lá no tradicionalíssimo Catarro Verde e confira este post. Aliás, preciso linkar isso logo ali ao lado. Para frio, melancolia ou irritação, Sérgio Faria é tiro e queda...



Anacronismo e Intolerância

Mario Vargas Llosa, este sim, é um verdadeiro liberal. E este é o título do seu excelente texto publicado ontem no Estado sobre a recente manifestação da Igreja Católica sobre o homossexualismo. Vão alguns trechos aí embaixo, mas vale a pena ler tudinho.


O que mais surpreende no documento sobre os casais homossexuais apresentado pelo Vaticano no dia 1.º de agosto - escrito pelo cardeal Joseph Ratzinger e aprovado pelo papa - não é a reafirmação da doutrina tradicional da Igreja Católica que condena o amor entre pessoas do mesmo sexo como "um comportamento desviado" que "ofusca valores fundamentais", e sim a veemência com que se exorta os parlamentares e servidores católicos a agir para impedir que sejam adotadas leis que autorizem a união homossexual ou, se elas forem aprovadas, para frear e dificultar sua aplicação. Neste caso é que parece não servir para nada aquela sábia distinção evangélica entre o que é de César e o que é de Deus: o documento toma de assalto a vida política e dá instruções inequívocas e terminantes aos católicos para que atuem em bloco, disciplinados e submissos como bons soldados da fé.

(...) Com argumentos assim, temperados com a presença sulfúrica do demônio, a Igreja mandou milhares de católicos e infiéis para a fogueira na Idade Média e contribuiu decisivamente para que, até nossos dias, a alta porcentagem de seres humanos de vocação homossexual vivesse na catacumba da vergonha e do opróbrio e fosse discriminada e ridicularizada, enquanto se impunha na sociedade e na cultura o machismo, com suas degenerantes conseqüências: a postergação e humilhação sistemáticas da mulher, a entronização da viril brutalidade como valor supremo e as piores distorções e repressões da vida sexual em nome de uma suposta "normalidade" representada pelo heterossexualismo. Parece incrível que, depois de Freud e de tudo o que a ciência foi revelando ao mundo em matéria de sexualidade no último século, a Igreja Católica - quase na mesma hora em que a Igreja Anglicana elegeu o primeiro bispo abertamente gay de sua história - aferre-se a uma doutrina homofóbica tão anacrônica quanto a exposta nas 12 páginas redigidas pelo cardeal Joseph Ratzinger.

(...) Se esse é o propósito, posso dizer com segurança que ele está fadado ao fracasso. Porque os escândalos sexuais recentes no seio das congregações, seminários, colégios e paróquias católicos não resultam de um enfraquecimento da autoridade eclesiástica nem da falta de disciplina interna, e sim de uma natureza humana que nem agora nem antes pôde ser artificialmente refreada sem que se causasse estragos e lacerasse a psicologia e a conduta das pessoas. A diferença entre hoje e ontem, em matéria sexual, dentro e fora da Igreja Católica, não é de comportamento. Este não pode ter variado muito, porque, embora muitos costumes e crenças tenham mudado, os impulsos, os instintos, os desejos e as fantasias que animam a vida sexual continuam sendo os mesmos. É de publicidade. Antes, os escândalos podiam ser ocultados e os pedófilos e assediadores sexuais, safar-se, como, aliás, continua ocorrendo nas sociedades fechadas e submetidas à ditadura religiosa.

(...) Os milhões de homossexuais católicos do mundo não renunciarão à sua sexualidade por causa das fulminações vaticanas. (...) Não é o sexo, são a Igreja e a fé católicas as vítimas privilegiadas deste novo manifesto cavernícola.




I know that I was born
I know that I will die
The in between is mine.


Uma pérola da geléia...

sexta-feira, agosto 08, 2003



Imprensa Marrom

Olha a novidade - a partir de hoje começo a dar meus pitacos semanais lá no site Imprensa Marrom. Toda a sexta-feira vai ter coluna nova por lá. Vamos ver como me comporto, esse negócio de prazos não vai muito com a minha cara.

Taí embaixo um gostinho da coluna. Mas não deixem de dar uma passada por lá, conferir o resto e comentar. Gravataí Merengue e eu agradecemos.

(...) Depois, voltei a pensar no assunto. Não, não tinha me arrependido. Só comecei a refletir em como este fato isolado reflete bastante o que vem acontecendo com o "mundo da comunicação" nesta aclamada "era internética". E o que vem acontecendo é: gente produzindo de graça, para gente consumir de graça. Pelos mais diversos motivos, pelos mais diversos meios. Mas é o que acontece, cada vez mais. (leia a coluna na íntegra no Imprensa Marrom)

quinta-feira, agosto 07, 2003



Indagações

Preciso da sua luz, irmão. Dois profundos questionamentos sócio-existenciais habitam minha mente nos últimos dias:

1) O que permite ao mocinho-galã da novela das oito, mesmo sendo um exímio polígamo, ainda sustentar sua condição de mocinho? Talento, prática ou habilidade?

2) Por que raios não há nenhum negro na nossa campeã panamericana seleção de basquetebol masculino?

Tenho cá minhas teorias, mas não dou nenhum crédito a elas. Alguém arrisca algum palpite?

quarta-feira, agosto 06, 2003



No carro

- Também não precisa ficar com essa cara de bunda, né?
- Tá, tá...
- Peraí, só porque eu falei que o Mel Gibson era bonito?
- Você não falou que ele era bonito, você falou que ele é um tesão...
- Ai, Tiago, deixa de ser ridículo!
- Agora ainda sou ridículo...
- Ahahah... Vai ficar com ciúmes do Mel Gibson? De um cara que está a três mil quilômetros de distância??
- Não estou com ciúmes...
- Mas ficou bravo.
- (...)

- Tipo, se o Mel Gibson viesse pro Brasil, encontrasse com você e te jogasse uma cantada, você me chifrava com ele?
- Ai, Tiago, de novo isso... Pára de ser ridículo!
- Fala verdade, você ia dar pra ele, não ia?
- Se liga, Tiago, essa situação é impossível!
- Mas, hipoteticamente, você dava, não dava?
- Tá bom, hipoteticamente eu dava.
- Tá vendo...
- Tá vendo o quê?
- Que eu não mereço o mínimo de resistência da sua parte...
- Mínimo de resistência? Caramba, Tiago, o cara é o Mel Gibson!!
- Podia ser o Brad Pitt...
- É, pro Brad Pitt eu também dava...
- (...)
- Porra, Tiago!

- Fala sério, vai. Você não ficou encanado com isso, ficou?
- Não tô encanado, Cíntia. Só achei engraçado... Você fala que me ama, mas se um cara da pinta do Mel Gibson chegar e quiser te levar embora, você vai sem pensar duas vezes.
- Um cara da pinta do Mel Gibson não. Só se fosse o próprio...
- (...)
- Eheh...

- É, realmente, se a Mônica Belucci viesse dar em cima de mim, não ia ter como não te trair, meu bem...
- Eu acho é bom.
- Como assim, acha bom?
- Putz, se a Mônica Belucci te desse bola e você não comesse, sinceramente eu ia começar a desconfiar da tua masculinidade.
- Ahahahaha...
- Namorado viado, tô fora.
- Vocês, mulheres, são foda...
- É claro, Tiago! Olha, aprende, se um dia você for me trair, que pelo menos seja com alguém que valha muito a pena.
- Ai, caralho, eu morro e não entendo vocês... Quer dizer que se eu te chifrasse com a Mônica Belucci você me perdoava?
- Perdoar, não perdoava. Mas ia entender.
- Isso quer dizer que, comendo ou não comendo, uma Mônica Belucci caidinha por mim seria o fim do nosso relacionamento?
- Hipoteticamente, muito hipoteticamente...

- Mas olha só... Eu acho que seguraria a onda com a Nicole Kidman, por exemplo.
- Por mim, é?
- É.
- Que bonitinho, amor!
- Viu só? Taí uma coisa legal... Vamos testar nossos níveis de tolerância.
- Como assim?
- Tipo, eu resistiria à Nicole Kidman. E você, resistiria a quem?
- Ah, sei lá...
- Putz, não tem nenhum?
- Mike Myers?
- Porra, Cíntia, não me fode...
- Ehehe... Ah, sei lá, o Bruce Willis, por exemplo, não faz meu tipo. Taí, eu reisitia ao Bruce Willis por você, amor!
- Também o cara já tá bem acabadinho né? Fala outro cara mais novo aí... Só faltava essa também, você me trocar pelo Al Pacino, Sean Connery...
- Ah, o Sean Connery até que é charmosão, vai...
- Ai, caralho.

- Fala outra você. Uma brasileira agora. Tipo, e a Luana Piovanni?
- Ah, meu bem, desculpa mas acho que não ia dar pra segurar a barra com a Luana Piovanni, não...
- Caramba, Tiago, aquela menina é a maior otária!
- E?
- Você, homens, são foda...
- Ahaha... Hipoteticamente, né Cíntia?
- Tá bom, hipoteticamente. Tá vendo, assim a gente fica combinado. Eu fico hipoteticamente com o Mel Gibson e você fica hipoteticamente com a Luana Piovanni.
- Ia dar um swing bom esse...
- Tarado!
- Eu, né?


- Aliás, já reparou como aquela tua vizinha é a cara da Luana Piovanni? Lembra bastante...
- (...)
- Você não acha?
- (...)
- Porra, Cíntia, também não precisa ficar com essa cara de bunda, né?

segunda-feira, agosto 04, 2003



Extra! Extra!

Dizem por aí que o último show do Los Hermanos no Rio de Janeiro foi tão bom, mas tão bom, que agradou gente da estirpe do temido filósofo Olavo de Carvalho e do famigerado jornalista cultural Paulo Polzonoff Jr. Leiam mais aqui!






Depois de fechar a última das quatrocentas páginas, a palavra que me veio à cabeça foi só uma: ufa!. Cidade de Deus, o livro, é extenso, muito extenso. E eu, que não me gabo em nada da velocidade das minhas leituras, demorei muito para terminá-lo. Entre idas e vindas, com um outro livro intrometido no meio, foram quase três meses. Mas, ao final da empreitada, além da satisfação de chegar ao fim, ficou também a satisfação de ter lido algo bom. Gostei do livro, valeu a pena.

O que fica, tanto no filme quanto no livro, é o mesmo - um retrato da evolução do tráfico e da violência na favela. Sem julgamentos ou respostas fáceis, apenas um retrato. Se o filme opta por transmitir esse retrato através da intensidade do impacto, o livro escolhe um caminho mais extensivo. Possui mais algumas dezenas de personagens, torna ainda mais complexos e emaranhados os longos 20 anos de saga criminosa. Além disso, a narrativa é caudalosa, com longas descrições e cheia de detalhes. Isso tudo, lá pelo meio do livro, chega a tornar-se repetitivo. Talvez a intenção fosse mostrar como a violência se banaliza, mas o fato é que a enxurrada de trairagens, mancumunações, roubos e mortes, acaba uma hora se tornando cansativa. Mas aí (se houver um pouco de persistência, é claro...) o carisma de alguns personagens te atrai novamente, a trama embala, e você é salvo de desistir no meio do caminho.

Outra coisa que estranhei bastante no início foi o estilo do Paulo Lins. Os diálogos, felizmente, são bem espertos e cheios de gírias características da época. Mas na narrativa e, principalmente, nas descrições, ele utiliza uma linguagem que, além de nada coloquial, é quase barroca. As descrições são tão caprichadas que às vezes os matões de Jacarépaguá parecem bosques bucólicos da Idade Média. A narrativa também usa e abusa de metáforas e imagens viajandonas. No começo isso me soou bastante deslocado, afinal a estória ali era de violência, pobreza, sarjeta e mundo cão. No decorrer da estória, porém, fui me acostumando, e acho até que tudo isso acaba se tornando um ponto positivo do livro. Tantos detalhes, tanto esmero na criação do ambiente, acabam aumentando a sensação e o impacto da realidade.

Quanto à violência (e esbarrando naquelas polêmicas criadas quanto a estética, cosmética, retrato ou exploração da pobreza, no filme ou no livro) não sou besta para tentar decifrar aqui qualquer mensagem, diagnóstico ou proposta que o livro teria para oferecer. Acho também que é besta quem procura ali resposta. Ali está a radiografia; a resposta, e as soluções (se existem soluções) têm que vir depois. E, para quem está acostumado a ver uma radiografia sempre tirada pelo "Cidade Alerta", está ali uma perspectiva bastante diferente.

sábado, agosto 02, 2003



Será?

Estou pensando em fazer um curso de Roteiro. Daqueles pra Cinema, Vídeo e Televisão. Sei que não é um curso desses que vai me ensinar a escrever bem. Afinal, escrever se aprende lendo, e escrevendo. Consequentemente, escrever roteiro de cinema se aprende lendo, escrevendo e vendo cinema. Não é essa minha expectativa, portanto. Mas acho que o curso seria bom para me exigir um pouco mais de constância e disciplina. E, lógico, seria a chance de passar um tempo agradável durante a semana conversando e aprendendo sobre cinema. Também acho que seria a chance de me tirar um pouco da toca do escritório, tirar o uniforme de "administrador", e conhecer gente que gosta e trabalha com isso.

Por outro lado, não consigo deixar de pensar num curso de Roteiro sem lembrar do Nicholas Cage interpretando os roteiristas gêmeos em "Adaptação". Fico imaginando uma reunião de losers querendo aprender as 25 regras de ouro do roteiro perfeito. Apesar dessa imagem não ser muito agradável, acho que vou fazer o curso sim. Não tenho problema em ser um loser e espero ser esperto o suficiente para não acreditar em qualquer 25 regras que venham me oferecer.

O que vocês acham? Só conheço uma pessoa que já fez um curso desses e queria ouvir outras opiniões... Metam aí o bedelho, mas rápido, porque preciso decidir isso até quarta-feira!

sexta-feira, agosto 01, 2003



Enquanto não tomo vergonha e dou um gás neste parado bloguito, não tenho escrúpulos em indicar mais dois textos alheios para garantir plenamente a sua diversão.

E são mais dois textos da Fraude. Sei que já virou exploração, mas, fazer o quê, se eu li os textos e imediatamente bateu a vontade de mostrá-los pra alguém, só me resta linkar.... E não digo mais nada sobre, pois os textos se bastam. Leiam, leiam, leiam!

"Então, repito, orgulho de que? Quem se gaba do que não fez ou não pensou direito ou precisa se convencer de algo. Se gabar de ser gay é como bater no peito e dizer: sou heterossexual, bonito, feio, pobre, diabético, paralítico, universitário, punheteiro ou careca. Ora bolas, ser gay é normal.

O que não é normal é ser rico. E outra coisa menos normal é ser o João Paulo Diniz. Esse sim, filho de Abílio Diniz, nasceu rico. Exemplo ínfimo nas estatísticas, consta que ficou pelado com as mais lindas mulheres das propagandas. Uma atrás da outra, três semanas com cada."

Do Orgulho de Ser Uma Bosta, por Pereira.

"A rede Globo cancelou a exibição do documentário sobre o tráfico no RJ, que deveria ir ao ar no Fantástico a partir deste domingo. Segundo a Folha de S. Paulo, o rapper MV Bill, um dos responsáveis pelo filme, tem “motivos de foro íntimo” para não veiculá-lo.

Mas isso não importa. A verdadeira questão é: o que haveria de novo no material? Crianças dizendo porque entraram para o tráfico? Reality show da favela? Narrações graves e indignadas disputando espaço com sons tiros? Autoridades falando das “dificuldades” de resolver o problema?

Alguém ainda precisa de reportagens sobre o assunto? Provavelmente iríamos assistir às crianças dizendo o óbvio: que querem consumir e não encontram emprego, que o tráfico aparece como uma possibilidade de ascensão social. Que elas crescem sob um estigma, o de que seus destinos estão traçados: a) ou viram criminosas, b) ou dependentes de projeto social, c) ou rappers. Tudo isto foi dito antes."

Não Assisti, Não Gostei, por Eduardo Fernandes.