sábado, novembro 23, 2002



Aviso aos Navegantes

Aos viajantes d'além mar que naufragarem por aqui durante os próximos 14 dias deixo um aviso: este bloguito está em recesso de viagem.

Após muita enrolação e pequenos imprevistos, finalmente coloco o pé na estrada amanhã. Machu Pichu lá vou eu... Quando voltar, conto um pouco das andanças, por isso espero que depois desse recesso vocês ainda se lembrem de aparecer aqui de vez em quando.

Se encontrar algum cybercafe perdido nas montanhas, quebro o retiro e venho aqui pra matar a saudade... Quem sabe envio uma "Carta do Peru" pra cá... No meio tempo, sirvam-se dos blogs indicados ali ao lado, e, se ainda houver paciência, dos arquivos aqui do Cartas.

Beijo, abraço e até mais!

terça-feira, novembro 19, 2002



Momento Supercine de Cinema

DOBRADINHA PORTENHA
Nove Rainhas (2000) e O Filho da Noiva (2001)


É um tanto sado-masoquista acreditar que das situações de crise e de sofrimento saem as melhores invenções. É triste, mas é a mais pura verdade. E se as guerras geram avanço tecnológico e as fossas criam as mais belas poesias, também é possível crer que o caos político-ecônomico argentino foi de certa forma estimulante para a retomada do cinema dos nossos hermanos portenhos. Esses dois filmes são excelentes: Nove Rainhas é do ano passado e já está disponível em vídeo; O Filho da Noiva, que estréia nos cinemas esta semana, era um dos indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro em março deste ano, ocupando um dos lugares que poderia ter sido de Abril Despedaçado. Mas vamos com mais calma:
Nove Rainhas, direção e roteiro do estreante Fabián Bielinsky, pela sua sinopse pode passar a idéia de ser mais um decalque do novo (ou não tão novo assim...) cinema americano, de Tarantino a Guy Ritchie: dois vigaristas pés-de-chinelo, unidos pelo acaso, envolvem-se num golpe milionário e enfrentam jogos, trapaças e reviravoltas em apenas um dia e meio de trama. Mas a semelhança se limita à sinopse. Nove Rainhas é mesmo novo, conseguindo ser moderno, esperto, ágil e engraçado sem em nenhum momento exibir tiroteios de escopetas ou exibir virtuosices estílisticas. Que eu me lembre, não morre ninguém em Nove Rainhas. Mas o filme não deixa de ser menos realista ou divertido por isso.

Ricardo Darín é o vigarista sênior que encontra por acaso nas ruas o jovem endividado Gastón Pauls. Sabendo que a ocasião faz o ladrão e sentindo um grande potencial ainda escondido no menino, o vigarista sênior não hesita em recrutar seu novo trainee. Cria-se então aquela relação delicada de mestre versus aluno, a delicada criação de confiança que vai se construindo e destruindo aos poucos.

Os vigaristas aqui não usam armas, são pequenos golpistas, como os velhos malandros da Lapa carioca, que com seus truques geniais vão coletando os trocados pelas ruas de Buenos Aires. O interessante é que, o que pode parecer inocente no primeiro momento, é colocado aos poucos numa moldura bem realista: ambos já vêem-se rodeados por uma cidade falida, com a população empobrecida e repleta de crianças mendigando nos faróis. Uma nova Argentina que faz lembrar muito mais o Brasil do que o orgulhoso país de alma européia de alguns anos atrás. Os vigaristas já sabem que o tempo já não é mais deles, que a violência galopa, que estão ultrapassados: precisam por isso de um novo e definitivo golpe, aquele que vai finalmente levá-los a aposentadoria. Eis que surgem então as Nove Rainhas.

É um daqueles filmes deliciosos em que se acompanha os diálogos espertos e as reviravoltas malandras com um sorriso nos lábios. Para finalizar, ainda com um daqueles finais mirabolantes, que ao mesmo tempo que faz dizer "nem f-----!!", dá vontade de ver o filme de novo para verificar se a saída faz sentido. E faz sentido - mesmo que a essa altura isso seja o menos importante.

Leia mais:
No Scream&Yell - o novo cinema latino versus novo cinema brasileiro.
No La Butaca - uma resenha espanhola.

Fazendo a mesma relação, a sinopse de O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, fará você temer aquele dramalhão sentimental com cara de novela das seis: quarentão divorciado vive as atribulações do dia-a-dia, dividindo-se entre a ex-esposa temperamental, a filha pré-adolescente, a namorada pós-adolescente, o pai ancião, a mãe doente e a administração do seu tradicional restaurante herdado da família - logicamente, entre todos estes, a maior parte da atenção vai para o restaurante. Então, um piripaque cardíaco faz o quarentão estressado rever seus planos, repensar suas prioridades e reconstruir sua vida.

Brega, né? Brega nada, vida. Sem sentimentalismos piegas ou soluções fáceis, o filme vai destrinchando, com extrema sensibilidade, humor e emoção, alguns nós e angústias presentes nesta nossa louca vida moderna. Ou talvez o problema não seja a vida moderna, mas sim algumas escolhas que temos que tomar desde sempre, relativas a temas não tão novos assim: amor, auto-realização, família, reconhecimento, amizade.

O quarentão aqui é Ricardo Darín (o mesmo vigarista sênior do Nove Rainhas, lembra?), fantástico. O piripaque dele traz à tona alguns problemas, mas as soluções mais fáceis não são sempre as verdadeiras. Os problemas tem raízes mais fundas, e as soluções verdadeiras dão trabalho de encontrar. Nesse processo, entra em jogo também um novo plano do seu velho pai. Esse plano envolve também sua mãe, e como ambos estão nos últimos suspiros, também torna-se um dilema para o quarentão apoiar ou não este derradeiro sonho.

Fazendo força para evitar o nacionalismo barato, temos que dar o braço a torcer - O Filho da Noiva, assim como Nove Rainhas, é um exemplo que o novo cinema argentino oferece também para nós da terra brasilis. Exemplo de como ser inteligente sem ser pretensioso, de como tocar temas profundos e ter sensibilidade sem necessariamente abusar de lirismos, metáforas, regionalismos, pores-do-sol e magníficas paisagens. O novo cinema argentino escancara a dura situação do seu país, mas ao mesmo tempo é universal, contemporâneo, real e urbano.

Cidade de Deus, mesmo muito diferente destes dois exemplos, já deu um passo a frente. Quem sabe estará no Oscar deste ano - se nenhum filme argentino atravessar o caminho novamente.

Leia mais:
http://www.elhijodelanovia.com/ - Site Oficial
Resenhas no Globo e no E-pipoca

quinta-feira, novembro 14, 2002



Momento Remexendo as Gavetas

Como alguns de vocês já sabem, no momento estou de férias e em casa. Um plano de viagem que faliu, uma faringe que se revoltou, e estou eu aqui, curtindo o aconchego do lar.

Nada a se reclamar, muito pelo contrário, mas vocês devem saber: depois de dormir 12 horas, almoçar, ver aquele gordinho-mala do Vídeo-Show e arriscar um começo de Sessão da Tarde, começa a dar uma certa formigação nas pernas (nas pernas, claro, pra não comprometer) e toca procurar alguma coisa pra fazer...

Antes que vocês comecem a pensar sacanagem, a primeira coisa que inventei fazer foi arrumar meu quarto. E isso inclui arrumar as gavetas, o que, pra mim, torna-se um verdadeiro trabalho arqueológico. Depois de horas de análise, selecionando o que merece ser jogado no lixo e o que é digno de guardar-se por mais alguns anos, achei algumas coisas especialmente interessantes. Coisas que decidi mostrar aqui pra vocês (viram como sou legal?).

Mas não se preocupem. Não se trata de nada escrito por mim, nenhum desabafo de adolescente apaixonado... Apenas alguns recortes guardados. O primeiro é uma lista de "mandamentos" escrita pelo dramaturgo Plínio Marcos. Pensamentos essenciais...

Na Trilha dos Saltimbancos
por Plínio Marcos

1. Onde houver autoridade não pode haver criatividade.

2. A arte é uma magia. A gente aprende, mas ninguém ensina.

3. Qualquer método logo vira um sistema burocrático. Mas nenhum método também pode virar um método.

4. A poesia. A magia. A arte. As grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos.

5. Tudo se consegue com esforço. Não se chega a lugar nenhum sem andar.

6. A arte de um modo geral só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se pode discutir até as últimas consequências os problemas dos homens.

7. A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais que as armas. Por isso a arte e o ensino na mão do governo é sempre sufocante.

8. É necessário aprender a arte de falar, de calar, de ouvir. Não escute e não fale movido pelo jogo do intelecto e da imaginação. E nunca se cale por inibição.

9. Para poder ver é necessário esquecer a religião, a educação, a ideologia.

10. Cuidado com o papo dos velhos. Geralmente tudo que falam e ensinam é para imobilizar a criação renovadora. Tudo que dizem é para justificar a vida miserável que viveram.

11. Não se apegue a nada.

Essas coisas eu escutei pela trilha dos saltimbancos em mais de quarenta anos de andança. Tem me valido.


quarta-feira, novembro 13, 2002



O Blog do Ernesto...

O Marcelo Tas, aquele cara que apesar de ainda jovem é careca desde que me lembro dele, sempre está aprontando das suas. Lembram do Ernesto Varella, aquele repórter maluco que saía entrevistando o povão pela rua? Pois é, já era ele há mais de 15 anos (e já careca...) Confesso que sempre me confundi entre quem era o personagem e quem era o jornalista de verdade... Mais recentemente, no comando do Vitrine, tornou o programa da TV Cultura bem ágil e contemporâneo, inclusive plugado nas novidades da internet.

Para continuar inovando, esta semana o cara lançou seu novo programa na rádio Brasil2000 FM: o Blog do Tas. Confesso que ainda não ouvi o programa, mas só a idéia em si já é interessante. Resta saber se vai ser mesmo explorado o potencial de comunicação gerado pela união dessas duas mídias, o rádio e a internet. Além é claro da capacidade de participação e interação com o público que a ferramenta do blog oferece.

Pode sair coisa muito legal disso aí. Como também pode ser algo simplesmente visando aproveitar o boom bloguício no país. De qualquer forma, não deixa de ser interessante ver os blogs extrapolarem o mundinho virtual e começarem a invadir as grande mídias.

terça-feira, novembro 12, 2002



Momento Supercine de Cinema

O grande Carlos Gerbase, cineasta, crítico, punk e músico gaúcho, escreveu entre 1999 e 2000 uma sensacional coluna de cinema no extinto portal ZAZ, que depois virou Terra. Suas resenhas de filmes seguiam sempre uma determinada estrutura própria. Estrutura essa que vou copiar aqui, é claro que sem nenhuma autorização.

FALE COM ELA

Rapidinho...

Fale com Ela (Hable con Ella, de Pedro Almodóvar, 2002), é a estória de dois homens que, unidos por coincidências fantásticas que só mesmo Almodóvar pode tornar possíveis, passam a envolver-se em torno do relacionamento e da dedicação que cada um deles tem com suas mulheres. A genial mão do espanhol está sempre lá, na sensibilidade e beleza da estória e dos personagens, na força das cores, dos cenários, da música (brasileira, por sinal). Tudo que um fã do diretor reconheceria num primeiro olhar, mas que também agora é capaz de agradar e encantar mesmo àqueles que nunca foram com a cara do alegre espanhol. Dito isso, tenho que confessar uma coisa: não gostei de Fale com Ela.

Agora com mais calma...

Tudo bem, talvez isso seja só coisa de admirador chato. São poucas as pessoas hoje de quem posso dizer que sou realmente um fã. Fã no sentido de conhecer e gostar da obra, de esperar ansiosamente pelo próximo trabalho. Teria que pensar para escolher outros exemplos, mas posso dizer sem titubear: sou fã de Pedro Almodóvar. E talvez essa expectativa (maldita seja...) tenha me feito decepcionar diante de Fale com Ela. De novo: é um filme ótimo, acima da média, sucesso de crítica e que vale a pena ser visto. Mas saí do filme com a nítida sensação de que faltou algo.

Almodóvar é um dos poucos diretores contemporâneos que conseguiu aliar o cinema autoral com sucesso comercial. Seu estilo é único e inconfundível, ao mesmo tempo que consegue encontrar reconhecimento na indústria e no mercado. Um filme de Almodóvar é uma obra de Almodóvar: ele escreve, dirige, manda e desmanda, imprime a sua marca e ainda consegue ganhar dinheiro com isso. Poucos diretores tem hoje essa capacidade e esse poder.

O próprio diretor denomina seu estilo como "neorrealismo fantástico" ou "naturalismo do absurdo". Nos primeiros filmes, mesmo já fantástico e genial, Almodóvar possuía uma expressão exagerada, neurótica, visceral. Estórias como as de O Matador(1985) e Kika(1993) chegam a ser bem estranhas, ainda mais dentro da sua estética do exagero. Sem dúvida a obra-prima desta primeira fase é Mulher a Beira de Um Ataque de Nervos(1987), filme onde a mistura de todos seus ingredientes sai perfeita: o acaso, o absurdo, o humor, o desvendamento da alma feminina, tudo se equilibra de forma magnífica.

Já consagrado internacionalmente (leia-se, também nos EUA), seus três últimos filmes tem sido recebidos como obra-primas pela crítica. Desde Carne Trêmula(1999), passando por Tudo Sobre Minha Mãe(2001) e chegando agora à Fale com Ela, Almodóvar demonstrou amadurecimento, sofisticou suas mensagens, depurou seu estilo. Conseguiu lapidar seu exagero natural. Mas, nesse processo, sempre corre-se o risco de perder algo da magia e da energia anterior. Perder o seu mojo, como diria Austin Powers...

Mas ainda não falei nada sobre Fale com Ela. Muito se comentou que o tema do filme era a amizade entre dois homens, que Almodóvar, após tanto analisar as mulheres, colocava agora seu foco agora sobre a alma masculina. Não concordo. Acho que a estória apenas utiliza dois personagens masculinos para tratar de um só tema, muito mais amplo e geral. Pois temos de um lado a estória da dedicação e do amor incondicional que um homem tem para uma mulher, e, do outro lado, um outro homem que ainda busca descobrir dentro de si essa capacidade de amar.

O que o filme explora é essa busca pela capacidade de se entregar, de amar verdadeiramente. Um assunto sem dúvida belo, que causa tamanha estranheza no mundo atual que só poderia ser simbolizado por um personagem às raias da loucura. A amizade masculina não chega a ser analisada no filme, é apenas um pano de fundo para o aprendizado entre os personagens. Em Carne Trêmula, por exemplo, Almodóvar explora muito mais alguns comportamentos tipicamente masculinos. Para mim Fale com Ela ainda é um filme sobre a alma feminina, talvez o veredicto de Almodóvar quanto a isso. Após tantos filmes devassando o labirinto feminino, dá para sentir um certo ar conclusivo no genial diálogo onde o enfermeiro explica ao escritor como uma mulher pode ser misteriosa mas, ao mesmo tempo, pode ser bem simples de se agradar.

Apesar de todas suas qualidades, falta a Fale com Ela um pouco mais de ritmo, de energia, da força que se espera de um filme de Almodóvar. Ao pensar no filme assim, a posteriori, não faltam pontos positivos. Mas ele é sempre morno, nunca chegando a realmente envolver. Cenas lindíssimas, como as da tourada ao som de Elis Regina, valem o ingresso, mas não fazem a estória decolar.

Talvez o problema seja a expectativa imposta pelo nome do diretor. Mas é impossível fugir disso, afinal, esperei mais de um ano para ver esse filme. Ainda acredito que Carne Trêmula é o auge desta nova fase de Almodóvar. Muita gente prefere Tudo Sobre Minha Mãe, mas acho que o primeiro tem mais vida, mais sal, mais graça. Ainda assim, Tudo Sobre Minha Mãe tem qualidades superiores à fase antiga de Almodóvar. Já Fale com Ela, infelizmente, faz ter saudades de outros tempos.

Leia Mais:

Site Oficial - Muito legal, mergulhe agora...

Na Folha, no Globo, no zine Contracampo



Ainda dá pra se ufanar...

- A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em excursão internacional, foi ovacionada pelo público nova-iorquino após apresentação neste domingo. O metidíssimo maestro John Neschling, após atender os pedidos de bis, voltou cinco vezes ao palco para receber os aplausos. Vai ficar mais metido ainda, e com toda a justiça. Mesmo para quem não é fã de música erudita, vale muito a pena ir até a fantástica Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, e assistir qualquer apresentação da OSESP. Preços a partir de 12 reais, mais barato que alguns cinemas.

- Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, foi um dos sete indicados ao European Film Awards, na categoria de melhor filme não-europeu. Isso mesmo sem o filme ter sequer estreado comercialmente na Europa (Cidade de Deus foi apenas exibido no último Festival de Cannes, em mostra paralela).

Notícias chupinhadas das notinhas do Caderno 2 do Estadão.



Demorei?

É isso aí, mesmo sem ter ido a lugar algum, estou de volta. Para os que sentiram falta, minhas desculpas. Para os que não sentiram, olá, tudo bem, como estão?

A semana passada foi um tanto corrida pra mim. Fiz aniversário, última semana de trabalho antes das férias, planos de férias indefinidos. Pra terminar, todo esse fim de inferno astral mais a montanha-russa climática de Sampa me deram de presente uma bela faringite neste fim-de-semana.

Mas agora que meus linfócitos ganham terreno sobre as bactérias visitantes, sinto que este bloguito já pode voltar a programação normal. Pelo menos até eu arrumar minhas malas e decidir pra onde raios afinal eu vou viajar...

quarta-feira, novembro 06, 2002



Torcer não custa nada...

Os boatos estão soltos.

O responsável pelo primeiro deles é o Alexandre Petillo, editor da Zero, que já tinha antes comentado no blog da revista e agora publicou uma matéria no Folhateen. Como não podia deixar de ser, o guru-indie Lúcio Ribeiro já tratou de espelhar a notícia na sua coluna de hoje. Ou seja, a essa hora o burburinho já se espalhou indefinidamente. Melhor - mais gente pra sonhar, torcer e rezar por isso.

É o seguinte: dizem as santas línguas que teremos brevemente na terra brasilis um megafestival de rock. Quando? Em março de 2003. Onde? Em Curitiba, capital cultural da América Latina. Com quem? Parece que as negociações estão adiantadas com coisas como Radiohead, Strokes, White Stripes, Wilco, Hives, Vines, Foo Fighters. Tá bom ou quer mais?.

Mas ainda tem mais. Um segundo boato, também chupinhado do blog da Zero, diz que a banda independente-militante Manic Street Preachers, empolgada com a vitória do Lula, estaria disposta a fazer um show no país a preço de custo.

Malditos sejam se levantarem minhas expectativas assim e depois não acontecer nada. Promessas também não faltaram esse ano. Mas, se a esperança derrotou o medo e até o Rush veio, quem sabe... Dedos cruzado, por favor.

terça-feira, novembro 05, 2002



Fim do Garagem

Ontem, às 22 horas, foi transmitida a última edição do Garagem, programa semanal da rádio Brasil2000 FM dedicado ao rock alternativo em geral, produzido e apresentado pelos voluntários André Barcinski, Paulo César Martin e Álvaro Pereira Júnior. Segundo essas três figurinhas carimbadas do jornalismo musical, o programa foi tirado do ar pela direção da rádio.

Nunca concordei “ideologicamente” com o Garagem, com sua crítica generalizada a tudo que é MPB e com os ataques sistemáticos aos bodes expiatórios preferidos do programa: sinhô Caetano e o atual “trio-balista” (aqui aproveito para confessar que curto bastante a Marisa Monte, acho o Carlinhos Brown e o Arnaldo Antunes exageradamente viajantes, mas reconheço seu talento; quanto a Caetano, já devia estar internado, mas seu passado tem muito crédito). Sempre achei que isso tudo, mais o lance de destruir CDs com furadeira, acabavam reforçando uma idéia de pretensão, sectarismo e exclusivismo da música alternativa (e sempre achei que o objetivo deveria ser o contrário).

Pode parecer contraditório (que novidade, eu contraditório...), mas mesmo assim, eu ouvia, gostava e, por consequência, lamento bastante esse final repentino. Era o tipo de programa com o qual você pode não concordar racionalmente, mas ainda assim se diverte muito com ele. Eu fazia o papel de ouvinte "mulher-de-malandro", "bate que eu gosto" - e suponho que era essa discordância que fazia a graça. Eu sabia que o polemicismo era barato e sem sentido, proposital até, mas mesmo assim não deixava de ser engraçado. E ainda haviam as músicas, sempre agradavelmente desconhecidas.

É pena também pela perda de um dos poucos espaços na mídia para músicas que não entram no esquemão do set-list jabazeiro das FMs de rock. Além também do papel jornalístico e ativista que o programa exercia na cena de rock alternativo. Os indies agora, pelo menos nas ondas do rádio, estão órfãos. Ou dá pra se contentar com o Kid Vinil?

O Garagem era pretensioso e sectário, mas também era engraçado, musicalmente diferente e deliciosamente politicamente incorreto. Talvez seu trio de agitadores ainda finque a bandeira em um novo espaço, quem sabe. Até lá, que vayan com Dios.

segunda-feira, novembro 04, 2002



Hoje...

Hoje é aniversário da Karina, minha querida mana, escorpiana misteriosa e arretada, senhora Freitas de respeito, exilada na Califórnia e destinatária-mor destas Cartas de Maracangalha.

Parabéns Ká!! Beijo e muita força!

P.S.: Mando a letra abaixo de presente. Não precisa reclamar, eu sei que sua vida aí não anda tão dura como a da Iracema, mas não adianta, sempre que escuto essa música lembro de você ;-)

Iracema voou
Chico Buarque

Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida

Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá

Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico

Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita

Uns dias, afoita
Me liga a cobrar
- É Iracema da América


sexta-feira, novembro 01, 2002

Why deny the hype?

Depois que comecei meu mergulho no mundo blogueiro não passo um dia sequer sem dar de cara com o nome de Charles Bukowski. O velho escritor, beberrão beatnik, parece ser um dos maiores lugares comuns da “cultura alternativa”, “nova literatura”, “escritores independentes”, “geração Y” ou seja lá o que for. Amado, odiado, sempre estão lá, seja falando dele, seja apenas citando seu nome.

Por Odin, como nunca li nada desse cara antes? Mas que raios, ora bolas, também sou curioso, fui pegar algo pra conferir. Tinha lido em algum lugar que a onda era tal que seus livros tinham preços inflacionados nos sebos, devido à raridade. Mas encontrar algo não foi difícil nem caro - a LP&M lançou alguns títulos em sua coleção de livros de bolso (aqueles branquinhos e baratos, a venda até em lojas de conveniência, sabem?). Escolhi e comprei o “A Mulher Mais Linda da Cidade e Outros Contos” que, como o nome diz, é um livro de contos.

Entre altos e baixos, gostei bastante. Ao menos me deixou com vontade de ler algum romance dele. Mas Bukowski não virou meu Deus. Bem menos, passou longe disso...

De certa forma, porém, foi possível entender um pouco da idolatria e do apelo que o velho beberrão tem hoje. Sua literatura é auto-referente, ou seja, Bukowski coloca no papel suas experiências e sentimentos. De uma forma bastante direta e crua, quase sempre pela perspectiva mais disponível, a sua. Lembra algum fenômeno atual da internet?

O universo dos contos é bem pesado. Repleto sempre de bebidas, mulheres, ociosidade, piadas escatológicas, taras, loucos variados e vícios diversos. Entre longas narrativas de bebedeiras e enjôos, Bukowski encaixa alguns diálogos e sacadas geniais e faz uma ou outra reflexão interessante sobre a futilidade do homem, da América ou do Dry Martini. Essas reflexões são a melhor parte da leitura.

A questão é que esse foco auto-referente torna-se muitas vezes limitado. Há contos realmente muito bons, mas o tal “umbiguismo” acaba sendo cansativo. Na verdade, não me cansei da escrita de Bukowski, me cansei dele. O que, nesse caso, acaba dando na mesma. Talvez seu estilo dê melhor resultado na poesia, e realmente dizem que as suas são muito boas.

É claro que há muito espaço para arte no simples colocar de emoções sobre o papel. Por outro lado, sempre acreditei que o grande barato, a genialidade do escritor, está na criatividade, na sua capacidade de criar situações e personagens e de possuir empatia e sensibilidade suficientes para preenche-los de emoção autêntica e torná-los reais. Coisas como Chico Buarque e suas personas femininas, só para dar um exemplo descabido.

Bukowski é um bluesão de raiz, um desabafo cru, rasgado e visceral. Recomenda-se sempre ouvir blues, fortalece a alma. Eu adoro. Mas, às vezes, dá vontade de ouvir algo mais do que isso.

Leia mais em inglês:
http://www.levee67.com/bukowski - bio e biblio grafias
http://www.mindspring.com/~stewarts/poetry.htm - poesias
http://www.mindspring.com/~stewarts/bibliography.htm - alguns textos

Leia mais em português:
http://www.conradeditora.com.br/buk/ - biografia e trechos
http://fraude.org/joca.php - esse não acha tudo isso
http://www.screamyell.com.br/literatura - já esse gostou
brasileira!preta - a nossa bukowaska



Outros navegantes...

Como sexta-feira passada (já está virando tradição isso...) coloco mais algumas dicas de blogs na lista dos Navegantes d´Além Mar preferidos.

Desta vez entram ali os Pensamentos Imperfeitos da Bia, para quem gosta de poesia; o Spectorama que, mais do que blog, é o site do “escritor pop” André Takeda; e finalmente o Epinion, blog ducarai da digníssima Paula Foschia.



Última palavra

Se você não agüenta mais a enxurrada de análises sobre a vitória do Lula, tome fôlego e leia o último e definitivo texto sobre isso aqui.

Se você estava em Marte e ainda não leu nada sobre a vitória do Lula, dispense outras coisas, basta ler isso aqui.

O Hélio Schwartzmann é tão racional e objetivo que chega a ser pessimista. Mas é sempre lúcido e coerente. Vale a pena conferir.