quinta-feira, novembro 29, 2012

sexta-feira, novembro 23, 2012

Black Friday: o Inferno do Economista Comportamental

Tradução livre (e rápida) do artigo de Kevin Roose publicado na New York Magazine.















Existem muitas, muitas razões para você não entrar nessa história de Black Friday. Você pode preferir dormir, ou mesmo passar um pouco mais de tempo com a família, ao invés de pegar uma fila de shopping às 2 horas da manhã. Talvez você se recuse por motivos humanitários, protestando contra os horários cada vez mais abusivos dos grandes varejistas, que obrigam seus funcionários a trabalhar no meio do feriado prolongado, batendo cartão em plena madrugada (muitos deles sendo chamados ao trabalho no próprio dia de Thanksgiving).

No entanto, entre todas as razões que existem para que uma pessoa inteligente não participe da Black Friday, eis a principal: ela foi cuidadosamente planejada para que você se comporte como um idiota.

O principal problema da Black Friday, na perspectiva de um economista comportamental, é o fato de que todos os incentivos que o consumidor poderia ter para aproveitá-la – a promessa de ter descontos enormes em produtos geralmente caros, como TVs ou computadores, a oportunidade de aproveitar esse dia e fazer toda a sua compra de Natal de uma só vez – são incentivos que se revelam ilusórios ou, simplesmente, são frustrados pelo tipo de comportamento que encontramos do outro lado do balcão. O país todo fica envolvido num experimento que testa a irracionalidade do consumidor, tudo muito bem maquiado para parecer um programa divertido para o meio do feriado.

O pesquisador Dan Ariely descreve em seu livro “Predictably Irrational” (Previsivelmente Irracional): “Repetimos sempre os mesmos tipos de erros, indefinidamente, porque nosso cérebro parece estar programado para isso”.

É claro que isso também se aplica aos outros 364 dias do ano. Mas na Black Friday, nossa capacidade de decidir racionalmente vai ao seu nível mais baixo, justamente porque o varejo se esforça ao máximo para maximizar as nossas más decisões. Aqui estão algumas das armadilhas em que você provavelmente cairá nesta sexta-feira:

A “Superoferta” - É geralmente um item mais caro, mais cobiçado (tipicamente uma TV ou algum outro eletrônico) que os lojistas anunciam num preço extremamente baixo. (A BestBuy anunciou neste ano uma TV Tela Plana da Toshiba por US$ 179.99, por exemplo). Os lojistas chamas esses ítens de “Grandes Prejuízos”, mas, na verdade, é raro que sejam vendidos realmente abaixo do preço de custo. Na maioria das vezes são itens com uma margem de lucro bem pequena, reduzida ao máximo para que você seja atraído para dentro da loja. Uma vez lá dentro, você provavelmente você vai levar outras coisas pelo seu preço normal, com altas margens de lucro embutidas.

Este é o principal segredo do varejo na Black Friday: você simplesmente não vai comprar só a TV. Vai levar também os cabos HDMI revestidos, o suporte para pendurar a TV na parede (e sua taxa de instalação, é claro), o cabo de força alternativo, e o jogo de Xbox que chamou sua atenção quando você passava pelo corredor. Desse modo, no momento em que chega ao caixa, todo o desconto que você tinha aproveitado na TV já desapareceu pelo caminho.

A “Escassez Sugerida” - A estratégia aqui é conquistar o interesse pelo produto martelando a mensagem de “quantidade limitada” ou “somente 2 unidades por cliente” o que leva a pensar que estamos diante de uma oportunidade realmente imperdível. É o típico marketing da enganação, e em nenhuma época do ano é usado mais descaradamente que na queima da Black Friday. (É claro que há também escassez de verdade na Black Friday - quando o lojista coloca, por exemplo, apenas 50 ou 100 unidades para vender como “Superoferta” – o que faz você correr o risco de ser o 51º da fila, perder seu tempo e ainda ficar de mãos abanando. O que seria pior afinal?)

O “Auto-Engano Motivador” - Muitos consumidores ficam felizes ao somar todos os descontos que ganharam na Black Friday, mas se esquecem de colocar na conta os fatores “indiretos” do seu dia de compras – combustível, deslocamento, estacionamento, taxas de garantia, trocas. (Sem falar em perder seu tempo de feriado numa fila de shopping). Se tudo for colocado no papel, existe grande chance de chegarmos a conclusão que não foi um negócio tão bom assim.

A “Escalada Irracional” - Este é um comportamento muito interessante, a velha ilusão do“já cheguei até aqui, vamos compensar esse prejuízo”. As pessoas costumam ter dificuldade para desistir de situações onde estão se dando mal financeiramente. Isso acontece muito na Black Friday. Você já fez seu investimento inicial, o péssimo investimento de acordar às 2 da manhã, dirigir até o shopping, brigar por uma vaga no estacionamento, esperar na fila as lojas abrirem. Para compensar isso tudo, você se sente disposto a comprar ainda mais do que previa antes. (Já estou aqui mesmo, por que não aproveitar para gastar mais 100 dólares?)

Um dos meus estudos favoritos na área da economia do comportamento se chama “Previsores Neurais do Processo de Compras” (link disponível no artigo original) onde, monitorando as ondas cerebrais de alguns “consumidores-cobaias”, foi possível registrar como o processo de compra é profundamente irracional. Os pesquisadores descobriram que assim que o comprador descobre que um determinado preço está abaixo do que ele esperava, seu córtex central pré-frontal (a região do cérebro responsável pela tomada de decisões) se ilumina, enquanto que preços acima do esperado fazem disparar a ínsula (região que processa a dor). A atividade cerebral demonstrou forte correlação com o fato dos consumidores acabarem comprando determinado produto ou não.

A “Anestesia de Curto-Prazo” - Os economistas geralmente acham que as escolhas do consumidor, ou do “mercado”, são baseadas em frias e racionais análises de custo-benefício – um monte de pessoas dizendo a si mesmas “Será que ter uma TV grande por US$ 179,99 agora vai me trazer mais prazer que deixar US$ 179,99 no banco para fazer outras coisas no futuro?” – mas esse estudo de 2007 demonstra que, definitivamente, os consumidores não se comportam dessa maneira. A escolha, na verdade, é entre duas opções bem concretas e de curto-prazo : “prazer imediato” ou “dor imediata”.

Isso explica o porquê de, durante a Black Friday, os varejistas tirarem da cartola todos os seus truques para minimizar a “dor imediata” da compra: parcelamento à longo prazo no cartão de crédito, parcelas de pequeno valor, cartões de fidelidade com “bônus” para cada compra, cartões de crédito próprios das lojas acumulando pontos de incentivo, etc. O problema destas fórmulas de anestesia do curto-prazo, obviamente, são suas consequências de longo-prazo – taxas de juros astronômicas e outras diversas taxas escondidas.

As “Justificativas do Pós-Compra” - Quando compramos um produto muito caro, costumamos menosprezar seus defeitos e falhas simplesmente para justificar nossa decisão anterior. Na Black Friday, o investimento é mais do que financeiro – nos envolvemos emocionalmente, um dia após o Thanksgiving, nesse ritual estranho de se colocar numa fila gigantesca, acompanhados de amigos e parentes, aguentando o frio e o sofrimento, em busca de aparelhos eletrônicos baratinhos. Após a compra, esse excesso de investimento leva a um excesso de racionalização das justificativas que, junto com o pesadelo que é pensar num processo de troca/devolução nas grandes lojas, faz com que acumulemos um monte de coisas mesmo não estando minimamente satisfeitos com elas.

É isso mesmo. Na visão dos economistas do comportamento, fazer compras nos outros 364 dias do ano é equivalente a enfrentar um tiroteio armado com uma faca. Mas fazer compras na Black Friday é como entrar no mesmo tiroteio empunhando uma faca de massinha-de-modelar. Entre os truques do varejo e nossas próprias falhas cognitivas, você não tem quase nenhuma chance de poupar algum dinheiro de verdade ou sequer tomar decisões racionais. (E, além de tudo, você pode ser roubado no caminho).

Na verdade, é bem possível que apenas ficar aqui dizendo para você não aderir à Black Friday faça com que você ative seu “viés da contradição” (a tendência de se fazer sempre o oposto do que alguém te recomenda) e saia correndo atrás desse carnaval de ofertas e descontos. Se for esse o caso, boa sorte. Você vai precisar.


quarta-feira, novembro 14, 2012

Os dez mandamentos de Plínio Marcos


Por onde andará Plínio Marcos?

Plínio Marcos, calaboca, já morreu. Caio Fernando Abreu também mas, ao contrário dele, nunca vejo Plínio no Facebook.

Nos meus idos vinte anos, tempo em que a gente costuma ser mais gauche na vida, eu tinha uma certa fascinação pelo Maio de 68. Também pendurei no mural do quarto um recorte de jornal com os "Dez Mandamentos de Plínio Marcos".

Lembrei deles ontem, com o carinho da nostalgia. E, apesar de toda enunciação de um "credo", em si, ser um pouco constrangedora, eles ainda fazem pensar. Daqui a pouco, quem sabe, vão parar no "Face".

  1. Onde houver autoridade, não pode haver criatividade.
  2. A arte é uma magia; a gente aprende, mas ninguém ensina.
  3. Qualquer método logo vira um sistema burocrático.
  4. As grandes sabedorias - a poesia, a magia e a arte - não podem habitar corações medrosos.
  5. Tudo se consegue com esforço; não se chega a lugar nenhum sem caminhar.
  6. A arte, de um modo geral, só faz sentido como tribuna livre, onde se possa discutir até as últimas consequências os problemas do homem.
  7. A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais que as armas, por isso a arte e o ensino oficiais são sempre sufocantes.
  8. Para poder ver, é preciso esquecer a religião, a educação e a ideologia.
  9. Cuidado com o papo dos velhos; geralmente o que dizem é para justificar a vida miserável que viveram.
  10. Não se prenda a nada. Esses ensinamentos eu escutei pelas trilhas dos saltimbancos em mais de quarenta anos de andanças. Têm me valido.


terça-feira, novembro 13, 2012

Minha Estratégia Secreta® para evitar encrencas com e-mails

Tradução do texto de James Fallows publicado no site da revista The Atlantic


Criei um plano à-prova-de-idiotas capaz de garantir que qualquer pessoa possa evitar sofrer o tipo de desastre que se abateu sobre o General David Petraeus, sua biógrafa Paula Broadwell e sua troca de e-mails.

Trata-se de um plano tão perfeito e eficiente que não exige de você nenhum ajuste de comportamento, de nível de fidelidade conjugal, ou qualquer coisa do tipo. Meu plano reconhece que, desde as mais remotas eras, as pessoas se comportam mais ou menos da mesma maneira, e vão sempre se comportar assim.

Para usufruir da minha Estratégia Secreta® basta que você me envie um cheque no valor de US$ 99.95 , aos cuidados do escritório da revista The Atlantic. Ou melhor, vá lá, na internet tudo é de graça mesmo, siga lendo este texto e aproveite meus conselhos.

Meu plano é o seguinte:

Nunca coloque numa mensagem de e-mail, seja para quem for enviá-la, nada que possa lhe causar problemas se a mensagem cair em mãos erradas.

Este é o plano. Está tudo aí. Simplesmente respeite esta regra. Sempre.

Eu nem me refiro às dificuldades menores do dia-a-dia que podem surgir quando algumas de nossas informações pessoais são reveladas: números de Cartão de Crédito, informações financeiras, problemas que estamos tendo para controlar o peso ou alguma outra questão de saúde, confissões constrangedoras que fazemos aos amigos.

Eu me refiro às coisas que podem realmente causar problemas. Críticas pesadas às pessoas com quem você trabalha – ou, pior, à pessoa para quem você trabalha. Fofocas e intrigas sobre pessoas que pensam que somos amigos. Qualquer indício sobre qualquer comportamento que possa criar problema se exposto – por exemplo, a hipótese de você estar tendo um caso extra-conjugal e preferir que sua mulher e seus colegas de trabalho não sejam informados sobre o assunto.

Correspondência desviada, ou que simplesmente caiu em mãos erradas, sempre foi uma fonte de tristeza e sofrimento desde os tempos pré-computador. Por exemplo: a tragédia narrada no grande romance de Ian McEwan, “Reparação”, ocorre em razão de um acontecimento desses.

Mesmo assim, o e-mail tornou tudo ainda diferente:
  • E-mails podem facilmente ser re-enviados, podendo chegar a lugares não desejados inicialmente.
  • E-mails podem facilmente ser enviados para destinatários errados, seja através do clássico “Reply to All” seja pelo sistema de Auto-Complete que sugere os endereços de e-mail
  • E-mails podem facilmente ser arquivados.
  • E, talvez o mais importante, e-mails podem facilmente ser encontrados. Você gastaria dias pesquisando um armário cheio de cartas velhas, mas consegue achar coisas saborosas numa pasta de e-mails em apenas alguns segundos.

Cuidadosamente, costumo sempre checar três vezes os campos “To:” e “Cc:” antes de enviar qualquer mensagem. Também ativei um dispositivo no Gmail que se chama “ooops”, que te dá alguns segundos para desenviar uma mensagem que você tenha enviado por engano.

Além disso, antes de colocar qualquer coisa em um e-mail, pergunto para mim mesmo: o que aconteceria se a pessoa que eu menos desejasse que lesse esta mensagem conseguisse lê-la. No caso de qualquer crítica, opinião ou julgamento não passar neste teste, a melhor saída é optar pelo velho bate-papo, pessoalmente ou mesmo por telefone. Quem um dia imaginaria que o telefone, que pode obviamente ser grampeado ou interceptado, seria um dia visto como uma forma de comunicação “mais segura” ou “mais privativa” que uma troca de e-mails. Mas, de verdade, é assim que as coisas são.

Nunca coloque nada num e-mail que possa lhe causar problemas sérios se ele for compartilhado com outras pessoas. É isso. Vou ficar esperando pelos meus US$ 99,95.

sábado, novembro 10, 2012

A Inteligência Política de Obama

Tradução livre do texto de Adam Gopnik, publicado no site da revista The New Yorker


A noite da última terça-feira foi muito bonita para aqueles que admiram o Presidente Obama por seu temperamento, sua inteligência, sua calma, sua decência e também por sua recusa, diante da óbvia e intensa pressão de suas filhas, em comprar um segundo cachorro. (E vamos admitir isso de uma vez por todas: é uma delícia ter um cachorro - mas um só é o suficiente). A noite de terça serviu também para sacramentar o Fenômeno Obama. Por uma concreta, ainda que pequena, margem - ou seja, como uma necessidade do destino, mais do que uma mera contingência política.

Ainda se trata de uma das mais fantásticas trajetórias na história da América: um rapaz negro de Chicago, com um estranho nome africano e sem nenhum grande feito no currículo além de um brilhante discurso em 2004 e um bonito e introspectivo livro de memórias autobiográficas, se torna o mais importante personagem do ainda todo-poderoso Império Americano. Nada de tão improvável aconteceu numa democracia, ou semi-democracia, desde os tempos de Disraeli.

E, uma vez mais, nos espantamos diante da capacidade dos adversários de Obama de odiá-lo com tanta paixão. Um homem que até mesmo suas filhas adolescentes devem ter dificuldade de contrariar, um homem que nunca demonstra raiva, que sempre busca a conciliação, mesmo sob risco de prejuízo próprio, e que dificilmente disse algo rude, mal-intencionado ou destemperado durante toda sua vida pública.

No entanto, basta assisti-lo subir até o palco e tomar seu lugar no púlpito para entender algumas das razões de tanto ódio. Obama é, acima de tudo, calmo, tranqüilo – é auto-suficiente, e essa auto-suficiência, essa tranqüilidade explícita, que é vista, até mesmo por seus admiradores, como um certo distanciamento, uma ironia perante sua própria eloquência, deve transmitir aos seus detratores um desapego e arrogância insuportáveis. John Kennedy, que tinha a mesma característica do distanciamento, foi muitas vezes acusado, com bastante justiça, de ser ensimesmado e indiferente aos outros. Não se sentia obrigado a agradar ninguém. Mas, ainda assim, odiá-lo? De que forma exatamente? Por que, precisamente? (Republicanos, que já tiveram a oportunidade de assistir à impotência e indignidade dos Democratas odiando Reagan, o seu próprio “sujeito auto-suficiente”, já deveriam saber lidar com isso). Mas é inevitável. Todo mundo admira o cara que ganha tudo e mal derrama uma gota de suor – menos aqueles que estão disputando a corrida ao seu lado, que preferiam, pelo menos, que aquele cara parecesse ter se esforçado um pouco. Um homem que é tão auto-suficiente, disse o filósofo, nem sempre reconhece as carências dos outros. (Alguém duvida que Bill Clinton adoraria ser mencionado no discurso da vitória do Presidente? Ele não obteve essa honra mas, sendo um homem com muito mais sensibilidade, certamente ele teria citado Obama, se os papéis da noite estivessem trocados).

O fato realmente estranho no pronunciamento da vitória foi que Obama retornou, com paixão e sinceridade evidentes, aos temas daquele primeiro e belo discurso das prévias Democratas em 2004: a unidade nacional; somos menos divididos do que nossa política parece sugerir; não existem “Estados Republicanos” ou “Estados Democratas”. “Não, não!” parecem querer intervir alguns de seus admiradores: “Preste atenção ao que aconteceu durante os últimos quatro anos, Sr. Presidente! Somos definitivamente tão divididos quanto sugerem nossas disputas políticas. É, na verdade, por essa razão que nossa política é assim.”

Persistir acreditando em algo já tantas vezes refutado pela realidade é parte do dom de Obama. Apesar de seu mandato ter sido bem sucedido – a reforma do Sistema de Saúde, políticas econômicas racionais, Juízes da Suprema Corte lúcidos, fim da tortura, e todo o resto – o seu projeto político mais específico foi, de diversas formas, um fracasso. No começo de seu primeiro mandato, Obama claramente pensava que suas tão evidentes qualidades, sua boa vontade, sua  inteligência e vontade de conciliação – qualidades que ele também julgava como evidentes, já que a modéstia, assim como a carência, também não faz parte das armas do “sujeito auto-suficiente” – tudo isso faria com que o pessoal da direita, pelo menos os mais racionais, viessem para o seu lado, assim como afastaria os mais radicais de ambos os partidos. Mas isso não aconteceu. Nem perto disso. Assim, é fácil perceber por que alguns de seus apoiadores (Chirs Matthews, por exemplo) ficaram, apesar de toda a euforia da 2ª vitória, um tanto exasperados – não vamos repetir isso tudo de novo, vamos?

A verdade, no entanto, é que existem razões claras que explicam por que Obama é um fenômeno e uma delas é possuir uma inteligência política tão afiada que o permite perceber rapidamente quando uma ilusão lhe é útil. Inteligência política é um dom tão distinto e intuitivo quanto qualquer outro tipo de inteligência – a inteligência motora de um atleta, ou a inteligência analítica de um intelectual – e um grande componente da inteligência política reside na fidelidade que o líder demonstra às suas próprias ficções. O novo filme de Spielberg, “Lincoln”, nos lembra (ou nos fará lembrar, quando for lançado mais amplamente), que toda a conduta de Lincoln no seu mandato durante a guerra civil se baseava na ficção de que a secessão, a divisão “Norte-Sul” dos EUA, nunca havia de fato ocorrido – que o Sul não era uma nação rebelde, mas apenas um bando de foras-da-lei se organizando em gangues e fazendo arruaças. O que era fácil constatar que acabava de ter acontecido – um grupo de estados se tornando uma nação em separado – simplesmente não tinha acontecido. Essa ilusão de continuidade, de união indissolúvel mesmo diante de sua evidente dissolução, era essencial à causa de Lincoln e às suas próprias crenças.

À lista de – como poderíamos chamá-los? – nobres mentirosos (um tanto duro, mas creio que transmite algo do conceito) deveríamos adicionar muitos outros grandes políticos. Franklin D. Roosevelt, com sua afirmação de que o medo era tudo que tínhamos a temer, quando havia muita coisa bem real a ser temida; Reagan, da mesma forma, repetindo sempre seus mitos e mantras. Por hora, Obama precisa conhecer as vantagens de se brigar e os limites de se invocar a união. Mas ele sabe, da mesma forma, que um “sujeito auto-suficiente” não pode deixar de cultivar cuidadosamente o seu discurso mais querido, sob o risco de torná-lo vazio e irrelevante. Se toda esta habilidade pode fazê-lo ser visto às vezes como ingênuo, ou até mesmo como manipulador, bem, afinal, é ele quem é o fenômeno e não você. E foi ele quem bateu o pé e não cedeu ao segundo cachorro. 

sexta-feira, novembro 09, 2012

Traduzindo



Depois desses últimos anos de redes sociais, bateu uma rebordosa internética por aqui. E, por mais contraditório que possa parecer, me deu uma baita vontade de tornar meu tempo online mais produtivo. No mínimo, mais interessante. Tempo livre não é para se jogar fora, afinal. 

Tradução é algo que me interessa e que gosto de fazer. Vou então aproveitar o espaço deste saudoso e moribundo bloguito para, de quando em quando, postar minhas traduções de textos interessantes que vou encontrando por aí, nessas andanças pela internet anglófona e hispano-hablante. Quem sabe arrisco também algum trecho dos livros que estou lendo, e outras miscelâneas mais.

No respeitável ofício da tradução sou diletante e aprendiz. Por isso vou deixar sempre o link para o texto original. E ficarei extremamente feliz com críticas, correções e qualquer pitaco a respeito. Me iluminem, por favor.

Sem mais delongas, vamos tirando o pó disto aqui.