segunda-feira, maio 30, 2005

Non, merci






Enquanto a gente discute se o Ronaldo é branco ou negro, os franceses foram lá e disseram não ao aprofundamento da União Européia. Numa espécie de discussão de relacionamento continental, as francesinhas iradas aí em cima ficaram com medo de dar o próximo passo na relação.

Aqui tem um joguinho interativo bem didático sobre as consequências desse referendo para o futuro próximo da Europa.

quarta-feira, maio 25, 2005

Sossegadas



Meu amigo, pense nas mulheres que trabalham com você. Um estudo feito por alguns economistas diz que elas não gostam tanto de competir como você gosta.

Eis o grande problema do mundo acadêmico. Esses caras não devem pisar numa empresa há anos.

terça-feira, maio 24, 2005

Formando opiniões



A ex-modelo Betty Lago falava sobre o impacto que foi desembarcar pela primeira vez na cidade de Nova York, em 1976, quando, de repente, ouve-se no estúdio: “Nhééééééé!”. Sim, parecia um bezerro desmamado chorando – onde, como, por quê? –, mas era só Luana Piovani usando seus dotes de atriz para fazer uma intervenção onomatopéica na fala da amiga. “Eu nascendo e ela já bombando em Nova York”, disse Luana, 29 anos, logo em seguida. Pois é, a cena aconteceu, acreditem. Foi na quarta-feira à noite, na estréia da nova temporada do programa “Saia Justa”, do GNT. Quem viu, teve vontade de chorar. Mesmo. “Nhééééééé!”


Sei que abuso em linkar o NoMínimo, mas este texto do Marcelo Camacho não se pode perder. Nada contra Luana, é claro. Afinal, na mesma matéria, ainda ficamos sabendo que ela até anda se exercitando com os livros. Benzadeus.

Mas fico pensando no tamanho desserviço que Paulo Francis, Lucas Mendes e seus amigos prestaram a civilização tupiniquim. Afinal, o saudoso Manhattan Connection acabou lançando moda e agora a TV brasileira parece recheada de rodas de bate-papo solto entre célebres formadores-de-opinião. Repare, tem até no SBT.

O resultado é mais pernicioso para o futuro da Nação que qualquer cartilha do Ministro Gil. Lá dentro da telinha, um bando de gente num papo besta, inventando opinião e se fazendo de sabido, sem nenhuma pauta e muito menos informacão. Aqui fora, outro bando consumindo conversa-fiada travestida de verdade inexorável.

O pior é que a droga é forte, atrai e vicía numa piscadela. Só consigo escapar porque sofro da já afamada "vergonha alheia" - se vejo um sujeito ameaçar falar besteira, me constranjo e mudo de canal. Pena, porque com um pouco mais de frieza daria para me divertir um bocado.

É fato. Paulo Francis, quem diria, acabou no Irajá e se chama Galisteu. E agora todos dão bola para o que ele, ou melhor, ela fala. E que Deus proteja minha fé na democracia, porque tá difícil.

Achados



(...) Já a parte decepcionante da locadora é a seguinte: alugo algum filme esplêndido, algo como Quando Paris Alucina. Em seguida, caminho para o balcão de atendimento, muito satisfeito de meu louvável bom gosto, singing myself, como Whitman ensinou. Na ocasional vidraça, reparo em meu reflexo e me encanto. No entanto, no balcão - ó desgraça -, a atendente não é nada educada: ela me olha, toma a fita de minha mão e não me diz, nunca me diz ah, mas que bom gosto o seu, que bom gosto, veja só, gastei todo o dia alugando filmes ruins para pessoas ruins, mas agora você veio e alugou esse filme maravilhoso, ah que bom, que bom, você salvou o dia, você salvou o dia e eu não sei como agradecer. Não, ela não diz nada disso. Ok, o melodrama talvez seja dispensável, mas ela poderia ao menos me endereçar algum olhar, algum sinal de que eu era, sem dúvida, alguém excepcional e de que o meu bom gosto - eu gosto do bom gosto - justificava a existência silenciosa de todo aquele acervo de filmes. Mas não. Ela apenas me diz: devolução amanhã até as oito.


A melhor coisa de ter uma caixa de comentários é poder topar de vez em quando com esses sujeitos que te dão a medida do que realmente é escrever bem - ter elegância, simplicidade e inteligência. Existe isso em blogues, sim, ouviram? O Ludovico mostra muito mais por .

segunda-feira, maio 23, 2005

A Vida Aquática






Estava esperando com carinho o novo filme do Wes Anderson. Afinal, o rapaz é o pai dos fantásticos Tenenbaums.

O fato é que Anderson fez de novo um filme belíssimo. Mas, com muita tristeza no coração, não consegui gostar dele.

Escrevi um texto desabafando a frustração. Está lá no Scream&Yell.

Palavras



Esta maquininha é deveras interessante. Apresenta mais de 86.000 palavras em Inglês, ordenadas pela sua freqüência de uso. O ranking é visual - quanto mais comum a palavra, maior o tamanho em que é apresentada.

Depois de intermináveis artigos, pronomes, preposições e algumas variações do verbo “to be”, aparece o primeiro substantivo – “TIME”, na 66ª posição. Os próximos são “PEOPLE” (81º), “WAY” (96º) e “WORK” (103º), que também é verbo.

“GOVERNMENT”, vem logo ali, em 140º.

“NO” aparece em 51º. “YES” em 146º.

“LOVE”, substantivo e verbo, vem em 380º. “PEACE”, só lá em 1155º.

“WAR”, “CAR” e “POLICE” aparecem curiosamente juntas, da 304ª à 306ª posição.

E agora chega. Já estou começando a manipular os dados.

via Por Um Punhado de Pixels

Praticamente um guru da Nova Era



You scored as Cultural Creative. Cultural Creatives are probably the newest group to enter this realm. You are a modern thinker who tends to shy away from organized religion but still feels as if there is something greater than ourselves. You are very spiritual, even if you are not religious. Life has a meaning outside of the rational.

Cultural Creative

88%

Postmodernist

75%

Idealist

69%

Existentialist

63%

Modernist

44%

Romanticist

38%

Fundamentalist

31%

Materialist

19%

What is Your World View? (corrected...again)
created with QuizFarm.com



Via Filisteu

Star Wars



Vi “Guerra nas Estrelas” quando foi transmitido pela TV (Manchete?) alguns anos-luz lá atrás. Foi na casa da minha avó, onde eu e minha irmã estávamos dormindo, numa TV preto-e-branco. Lembro, sem muita certeza, da minha mãe me ligando para avisar que o filme estava passando. Eu era um gurizinho maroto de uns 10 anos, que começava a se interessar por essa coisa de filmes. A cena final, com as naves entrando naquelas avenidas estreitas da Estrela da Morte, e Luke invocando a Força da intuição para acertar o alvo, foi sem dúvida um dos primeiros finais épicos que me ficaram marcados na retina.

Mais tarde, o Sarney lançaria o Plano Cruzado e meu pai compraria nosso primeiro vídeo-cassete (G-10? Paraguai?). Foi através dele que vi os seguintes dois episódios (aquele onde o pai de Luke corta o seu braço, e aquele dos ursinhos Ewoks). Bacanas.

Menos anos atrás, já na era pós-moderna da reciclagem mercadológica, lançaram aqueles primeiros episódios novamente no cinema (remasterizados? remixados?). Diante da oportunidade de revê-los na telona, fui aos dois primeiros. Nostalgia. Fico pensando naqueles uniformes kitsch (redundância) dos soldados imperiais e duvido se não foi aquela re-exibição que tenha dado início a atual onda trash-retrô de referências aos anos oitenta.

Ah, em algum lugar no meio dessa linha temporal, teve também desenho animado, naves e bonequinhos de plástico. Mas acho que eu já estava crescido.

Então George Lucas voltou (de onde?), reforçado pelas forças do target-marketing. Fui ver Episódio One, é claro, com expectativa vitaminada. Naquela altura, também fiquei curioso para ver alguns atores “cult” que estreavam no cinemão - Ewan McGregor e Natalie Portman. Lembro que foi também a época do Matrix, não? Mas, enfim, a parte disso, o filme se revelou simplesmente chato.

Na verdade, não apenas simplesmente chato. Chato ao ponto de não deixar vontade para uma segunda chance. Devo ter perdido a inocência. Consequentemente, não vi o Episódio 2 (Clones?).

Vingança dos Sith? Nada contra, mas não, obrigado. Me contem depois como foi.

segunda-feira, maio 16, 2005

Estorietas



O premiado e incansável Nemonox reuniu centenas de micro-contos (até 50 letras) na Casa das Mil Portas. Não vou ficar discutindo a validade da micro-narrativa enquanto expressão artística a nível de pós-modernidade. Mas se os pequeninos valem alguma coisa, é assim – aos montões. Por isso, parabéns à iniciativa do Nemo.

Tem alguns meus por lá, bem escondidos no meio da busca randômica. Vá e esbalde-se.

sexta-feira, maio 13, 2005

Cinema



Lá no Scream&Yell, um texto meu sobre "Cruzada", o épico politicamente correto de Riddley Scott.

Assunto para todos



Galerinha adora falar mal da futilidade, mas esse negócio de mundo das celebridades cumpre uma importante função social.

Parelho ao futebol, mas mais do que qualquer outro assunto, funciona como unificador da pauta nacional. Essa separação do Ronaldo e da Daniela por exemplo. É assunto para conversar com o porteiro, mas também serve para você puxar papo com aquela amiga bonitona do mestrado.

A respeito da separação, aliás, estou ainda em cima do muro. Minha opinião muda, como diriam as celebridades, 360 graus, dependendo do fato de haver ou não a tal multa recisória de R$ 15 milhões de reais. Se realmente a multa não existe, então confirma-se Daniela como a chiliquenta mais pateta que existe. Nenhuma visão de futuro. Que fique então mandando os sapos se beijarem na MTV tupiniquim.

Agora se o acordo existe mesmo, meu amigo, ela merece o prêmio da espertona mais maquiavélica. E, como disse o Marcelo Trasel, R$ 7 mil por hora faz da moça a acompanhante mais cara do mundo.

Dedução Artificial



Isto aqui é formidável. Com 20 perguntas, o robô esperto descobre o que você está pensando.

via Pedro Dória

quinta-feira, maio 12, 2005

Cruzada



Veja este filme, leia esta entrevista e este texto.

E descubra então como não é tão fantasiosa a hipótese de um jornalista ter dormido durante a exibição do filme que tem o objetivo de resenhar.

quarta-feira, maio 11, 2005

Futibas



A imprensa esportiva brasileira pode reclamar o quanto quiser, mas tem nas mãos o futebol que merece.

Toda essa quizumba corintiana serviu para derrubar algumas últimas máscaras. A fachada de bom-senso resistiu pouco ao evidente bairrismo, soberba e limitação argumentativa da maioria dos comentaristas esportivos. Afinal, o que fazer após duas derrotas venais do time alvi-negro? É claro, pedir a cabeça do técnico. Principalmente se ele for argentino. Afinal “ele não conhece o futebol brasileiro” e dois meses de trabalho atestaram definitivamente sua incompetência.

Para aumentar o ridículo, se viu claramente que os mais exaltados na malhação do Judas eram aqueles jornalistas já auto-proclamados corintianos. Coisas da paixão. Mas poucos saíram ilesos da crucificação de Passarela.

As exceções são as de sempre – o Juca Kfouri, o Tostão e o Neto. A serenidade do primeiro, entretanto, explica-se: seu alvo pessoal é outro, o iraniano Kia. E Juca me irrita um pouco por sua panca de bom-mocismo.

Resumo da ópera – a) Kirchner tem razão em reclamar do umbiguismo brazuca; b) o melhor de nosso jornalismo esportivo resume-se a dois boleiros matutos.

quarta-feira, maio 04, 2005

Meme



Sei que o Código da Vinci já é assunto velho, mas vira-e-mexe ainda me impressiono com o fenômeno.

Desde o começo do ano, tenho pegado o metrô pelo menos 2 vezes por semana. E posso jurar que em praticamente todas as viagens sempre encontro a Gioconda estampando aquele grande tijolo vermelho .

Invariavelmente, são sempre garotas que carregam o livro. As pistas ainda estão se encaixando. Mas suspeito que exista algo obscuro entre Dan Brown, Leonardo da Vinci e a chave de entrada da intrincada psique feminina.

segunda-feira, maio 02, 2005

Um pouco de ficção



Na falta de novidades, eis um pequeno conto escrito lá atrás, no já longínquo ano de 2004.



JEREMIAS

Jeremias escutava a canção do Chico e tinha devaneios. Pensava que ela poderia ter sido feita para ele, o pretensioso, considerando alguns pequenos ajustes, é claro. Olhe que Jeremias não era nada dado a vaidades, como já veremos adiante, muito menos costumava ter fantasias tão megalomaníacas.

O sujeito era simplório, isso logo se via. Parecia procurar esconder seu rosto entre os ombros, enterrando a cabeça no corpo franzino, coisa que já havia lhe gerado problemas na rua – alguns meninos um dia lhe chamaram de corcunda e ele foi obrigado a conter seus ímpetos. Depois de mais alguns olhares, percebia-se que não era propriamente feio. Poucos, porém, dispunham-se a investir todo esse tempo. E se pode dizer isso sem nenhuma pena, pois Jeremias fazia muito pouco para mudar essa situação. É como se gostasse que, numa contagem exageradamente otimista, digamos umas dez pessoas fossem capazes de lembrar seu nome sem titubear, deixando de fora deste número, logicamente, aqueles que baixavam os olhos para ler as letras pequenas do seu crachá.

Nada disso impedia que Jeremias ouvisse a canção do Chico e pensasse que ela tinha sido feita para ele. Ao contrário do que se pode imaginar, porém, essa idéia não tinha se criado assim, de uma hora para outra. Levara tempo e esforço. Para se transformar em conclusão, a mera suspeita de Jeremias dera tantas voltas pelos caminhos embaralhados do seu raciocínio que valeria pouco a pena procurar perseguir essa trilha, muito menos tentar descrevê-la.

Naquele momento, se alguém gastasse algum tempo mirando seu rosto perceberia logo que suas divagações não lhe eram nada prazerosas, muito menos espontâneas. Podia notar-se que seus pensamentos iam longe, que olhava a janela do micro-ônibus com olhos perdidos, mas era como se ele fizesse um imenso esforço para alcançar pensamentos tão pouco práticos e tão vagamente desenhados. Sem galhofa, se olhássemos para Jeremias sentado no primeiro banco da fila da direita, com os olhos fixos na transparência do pára-brisa, só poderíamos concluir uma coisa – o sujeito fazia ali um esforço do cão para se perder em pensamentos. Seus olhos apertados, sua testa enrugada, seus ombros tensos, tudo dizia que, mesmo sonhando alto, ele quase sofria.

Como a maioria das coisas da vida, todo esse sofrimento poderia ter sido evitado, não fosse uma ação alheia jogar o seu destino por aquele caminho. Jeremias poderia estar fazendo o que costuma, e gosta, fazer todo dia – tirar uma boa soneca antes de chegar ao escritório. Poderia não ter caido naqueles devaneios tão sofridos, poderia não estar metido em tanto esforço, poderia não investir na inutilidade uma energia que depois poderia lhe fazer falta. Afinal eram ainda sete horas da manhã. Poderia isso, poderia aquilo, mas sabe-se bem que a vida não é feita do que poderia. Jeremias poderia uma série de coisas, mas o imprudente motorista do micro-ônibus lhe fez o favor de mudar a estação do rádio, o que logo depois lhe colocou nos ouvidos a canção do Chico.

Já vimos que Jeremias não era vaidoso. Seu devaneio, enveredado pelos tais caminhos embaralhados da sua mente, lhe levara a concluir que a música havia sido feita para ele, e não sobre ele. Sua vida não encheria quatro estrofes, pensou com a inesperada coerência e a tipica modéstia de um Jeremias lúcido e corriqueiro. Descrevê-lo, com fidelidade, não exigiria mais que três versos. Era um sujeito simplório, como já dissemos.

A canção nunca poderia ter sido escrita sobre ele, ou ter sido inspirada nele, portanto. Sinceramente, isso pouco importa. O fato inóspito era que a música havia capturado a atenção de Jeremias tão impiedosamente, havia lhe retesado os músculos de forma tão aparente e lhe jogado num mundo de idéias doloridas nunca experimentadas, que Jeremias só podia ter a certeza que aquela música existia para ele. O devaneio pouco ligava se Chico conhecia Jeremias ou não, mas era óbvio que o compositor queria muito lhe dizer alguma coisa. E Jeremias escutava como nunca. Depois, mergulhou para dentro de si.

Jeremias percebeu que, todo dia, ele fazia tudo sempre igual. Mas ao mesmo tempo notou que não tinha ninguém para sacudi-lo às seis horas da manhã. Teve então um pensamento infame, e pensou que o único que lhe era fiel no despertar era seu rádio-relógio, último modelo. Ou que havia, sim, quem lhe sacudisse, mas este era só seu chefe, e não exatamente às seis horas da manhã, mas um pouco mais tarde. Tudo arriscou descambar para uma piada sem graça dentro dos caminhos embaralhados da mente de Jeremias, mas a música continuou e ele logo percebeu que aquilo não tinha a menor graça. E que estava, a seu modo, irremediavelmente preso àquele enredo.

Duro para Jeremias foi perceber que ficaria muito feliz se seu cotidiano fosse apenas monótono, pois ele até não gostava tanto de surpresas, mas que além de monótono, não havia nada nem ninguém que valesse mesmo a pena dentro da sua rotina. Sua testa se franziu ainda mais quando ele desejou com uma força que nunca pensou antes que pudesse desejar ter alguém com quem pudesse dividir o seu dia-a-dia medíocre, e pensou então na felicidade extrema de um beijo pontual. Talvez não pudesse ter alguém, e aí se contentaria se simplesmente tivesse algo que colorisse a sua rotina, algum interesse que lhe fugisse à obrigação. Mas não tinha.

Faz-se necessário dizer que, naquele dia, Jeremias não chegou ao escritório. Mandaram falar que era por motivo de força maior. Algumas pessoas que haviam estado com ele naqueles momentos chegaram a dizer que Jeremias, ao descer no ponto de ônibus usual, paralisou-se junto ao meio-fio. Ficou ali em pé, completamente estático, por vários minutos. A figura do homem não deve ter agradado muito aos passantes, pois vieram retirá-lo logo depois. Nunca mais se ouviu notícia dele, mas também não se pode dizer que isso tenha feito muita diferença.