quinta-feira, julho 20, 2006

Essa novela & Um pouco de sacanagem



O tal do Manoel Carlos entende mesmo do riscado. Grande autor. Apesar de todos seus maneirismos, é o escritor de novelas em melhor forma da atualidade, desbancando medalhões como Aguinaldo Silva e Gilberto Braga. Não teve jeito, “Páginas da Vida” vai me fazer continuar a perder tempo com televisão por mais alguns meses.

Há, é claro, ainda muitos apesares. Regina Duarte é sempre um pouco mala. O melodrama no tratamento da doença de Glória Menezes avança muitas vezes as fronteiras da breguice. Constrangedora também é a atuação do casal Malhação, claramente ainda sem aptidão para segurar papéis de peso.

O lado positivo, no entanto, está fazendo valer a pena. As tramas cotidianas de Manoel Carlos funcionam um pouco como uma sitcom americana – são realistas até a medida do agradável. Fazem a gente espelhar nossa realidade naqueles dramas familiares e problemas de relacionamentos, mas ao mesmo tempo nos poupam de temas mais sombrios. Sofrer no Leblon é um pouco como curtir uma fossa ao som de bossa-nova. Vira melancolia, acaba até sendo gostoso.

Tarcísio Meira é um monstro. Agora que Raul Cortez se foi, divide com Paulo Autran e Walmor Chagas o panteão dos grandes atores ainda vivos. O personagem de José Mayer, sempre o garanhão cafajeste preferido do autor, tem agora um toque cômico que lhe dá alguma fragilidade e patetice. Suas estripulias estão hilárias, e ainda temos Natália do Vale ainda linda com seus 50 e lá se vão tantos anos.

Finalmente, o saldo também se equilibra em outro núcleo da novela. Se por um lado somos obrigados a aguentar o andróide Edson Celulari, fomos brindados pela deliciosa nudez de Ana Paula Arósio. Mesmo no país do Carnaval, se deve admitir que foram cenas ousadas para uma familiar novela das oito. Cenas ousadas, mas muito bem-vindas, é claro.

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Indo um pouco além, essa nudez na novela das oito pode ser vista também como um reflexo de um fenômeno muito maior. Há algum tempo se ouve que, depois de mais de 40 anos de revolução nos costumes, a pornografia agora é a nova fronteira.

É interessante observar como isso é inegável. Não simplesmente a nudez, mas o sexo, explícito em diversos graus, está cada vez mais presente nos meios de comunicação e na vida cotidiana. Dos outdoors anunciando puteiros até o vasto conteúdo internético facilmente acessível, os exemplos sao varios. Paris Hilton se promove em cima de suas estripulias sexuais amadoristicamente filmadas enquanto atrizes-pornô dão depoimento em debates matinais na TV. Muito além da discussão sobre temas sexuais, também a exposição do corpo e do sexo vão se tornando, pouco a pouco, cada vez menos tabu.

É interessante notar como esse avanço da pornografia ocorre a partir do momento em que a revolução da informação se soma à já velha-de-guerra revolução sexual. O resultado é uma geração menos encanada sexualmente e com ferramentas à mão para desenfrear seu exibicionismo e seu voyerismo. Aos poucos, e com cada vez maior aceitaçao, a pornografia vai se transformando em fenômeno cultural. Vai virando fashion, cool, entra na moda.

No meio desse processo de abertura, acredito que o ponto mais interessante a ser discutido é aquele sobre quais são as fronteiras do bom-gosto e da vulgaridade em toda essa exposição sexual. Sem moralismos, essa talvez seja uma discussão muito mais estética que ética.

A internet, obviamente, é ferramenta e palco desse fenômeno. E nela já é possível notar algumas evoluções. O material pornográfico da rede, se antes era basicamente dedicado aos apreciadores dos filmes-pornô (leia-se adolescentes punheteiros), é hoje oferecido de formas muito mais variadas.

Lá fora isso já acontece há algum tempo. No Brasil, foi principalmente no último ano que começaram a aparecer sites que, mesmo continuando a oferecer conteúdo sexual e pornográfico, o fazem de maneira menos agressiva e mais elegante. Sites melhor desenhados, mais informativos, tambem voltados ao público feminino. Sem dúvida isso é sinal que a pornografia, fugindo da vulgaridade, vem tentando e conseguindo ampliar sua audiencia.

O Eros Blog é um claro exemplar gringo dessa tendencia. No Brasil, a coisa esta ainda começando. Um exemplo, mesmo que bem de leve, é o fato do portal jornalístico Nominimo ter escalado o colunista Pedro Dória para escrever o blog Papo de Homem, cujo título é auto-explicativo.

Falando em coisas mais pesadinhas, há alguns blogs que se caracterizam justamente por tentar oferecer a boa e velha sacanagem com elegância e bom gosto. Misturam o tradicional material visual (fotos e filminhos) com informação, curiosidades, contos, dicas e interatividade. O blog Lascivos é um bom exemplo disso.

Saindo dos guetos e deixando de ser coisa de desviados e maniacos, pornografia é hoje um assunto que dá pano pra manga. De teses sociológicas, filosofias de botequim, até conversinhas mais íntimas, existem diversas maneiras de abordar o tema. Há muito material interessante escrito na rede sobre o assunto. Assim que reencontrar algo, coloco aqui para quem se interessar.

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