quarta-feira, janeiro 03, 2007

Carpe Diem at Tiffany´s

Posso reclamar da vida, da falta de dinheiro, me afundar em questões existenciais, divagar indefinidamente sobre os rumos do próximo ano. Mas no que diz respeito a saber aproveitar os momentos de ociosidade solitária, tenho orgulho de afirmar: sou um profissional. Plenamente realizado.

No fundo, não é difícil, nem mesmo requer muitas posses. Esta noite, por exemplo. Depois da dura labuta de um dia de verão sem ar-condicionado, a receita foi bastante simples: trocar a roupa besuntada, vestir shorts e camiseta e me sentar na varanda. O resto veio como por consequência – vento fresco, abrir a garrafa do Santa Carolina Carménere, pegar o queijo camembert levemente vencido na geladeira. O jantar estava servido. Para completar, pôr o the best of Ella Fitzgerald para tocar e carregar no colo o “Bonequinha de Luxo” do Truman Capote para acabar de ler. Um pouco de hedonismo não deveria trazer culpa a nenhum cristão.

A oposição diria que a receita acima é pretensiosa demais e, talvez, ligeiramente gay. Eu diria que tal cardápio não é nada pretensioso, apenas sensato. Talvez pretensioso seja escrever sobre ele num blogue, mas aí se trata de outra história. Quanto a parecer gay, bem, eles me parecem bastante felizes.

Por mais que nos convençamos do contrário, o prazer hoje não custa caro. É claro, o cinema, o teatro, a assinatura da Net e do Vírtua estão pelos olhos da cara. Mas a garrafa do vinho me custou onze reais, o camembert vencido não mais que seis e a Ella eu tirei da estante. E, definitivamente, ter a Holly Golightly me encantando a cada linha, meu caro, isso não tem preço.

***

Sinceramente, esperava muito menos de Truman Capote. Já tinha lido algumas páginas do seu "A Sangue Frio" e sabia que o sujeito sabia narrar uma história. O filme-biografia do ano passado, no entanto, me rendeu alguma antipatia. Mas "Bonequinha de Luxo", no seu descompromisso de novela de noventa páginas, é um livro delicioso. Holly Golightly, a contradição em pessoa, caipira e chique, espontânea e esnobe, self-made-woman e aristocrata na mesma medida, é apaixonante. Nunca vi o filme e já caí de quatro por ela, mesmo sem conhecê-la na pele da Audrey Hepburn. Imagine depois.

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