Mensagens furtivas. Idéias desconexas. Notícias ao léu. Opiniões duvidosas. Visões de Pasárgada
domingo, maio 28, 2006
All Along The Watchtower
"There must be some way out of here",
said the joker to the thief,
"There's too much confusion,
I can't get no relief.
Businessmen, they drink my wine,
plowmen dig my earth,
None of them along the line
know what any of it is worth."
"No reason to get excited,"
the thief, he kindly spoke,
"There are many here among us
who feel that life is but a joke.
But you and I, we've been through that,
and this is not our fate,
So let us not talk falsely now,
the hour is getting late."
All along the watchtower,
princes kept the view
While all the women came and went,
barefoot servants, too.
Outside in the distance
a wildcat did growl,
Two riders were approaching,
the wind began to howl.
[Bob Dylan, 1968]
quinta-feira, maio 18, 2006
Lembo ressucita
Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar.(...)
Nossa burguesia devia é ficar quietinha e pensar muito no que ela fez para este país.(...)
O Brasil está desintegrado.
Cláudio Lembo, o líder omisso da segunda-feira, tenta agora mostrar algum culhão. Chama a burguesia na chincha e diz muitas verdades. Pode parecer inócuo, ou até inocente, mas é muito bom ver alguém revirando certas hipocrisias.
E ele é do PFL. E tá no poder. Tá tudo de ponta-cabeça mesmo. Vamos ver as repercussões.
Via Nova Corja
terça-feira, maio 16, 2006
Crise de Pânico
A segunda-feira foi de caos em São Paulo. Por sorte, estive em casa durante todo o dia e pude acompanhar o noticiário de uma maneira mais calma e seletiva, filtrando os boatos e o sensacionalismo daquilo que realmente acontecia. Minha namorada, por outro lado, estava em pânico. Trabalhando na Av. Paulista, tudo que ela ouvia eram ordens de toque de recolher e notícias sobre universidades sendo metralhadas. Seguiu a orientação de voltar para casa o mais rápido possível e ficou duas horas presa num imenso congestionamento. Tudo também acabou bem, graças a Deus.
O calor dos acontecimentos permanece e ainda há muita discussão sobre o assunto. Mas, a posteriori e já com um pouco mais de cabeça fria, é impossível negar que o pânico que atacou a população hoje foi bastante superior a qualquer aumento real do perigo que já apresentam normalmente as ruas de São Paulo.
Quando digo isso, não menosprezo nada do que aconteceu durante o fim-de-semana. Não menosprezo a bárbara chacina premeditada de mais de 30 policiais e agentes (fato que derrubaria o Secretário de Segurança Pública em qualquer país civilizado), nem a tragédia e a dor de suas famílias. Não menosprezo a falência das políticas e das instituições de segurança e de justiça do Estado, muito menos menosprezo a força de organização e comando exibida pelo PCC.
Mas a fria verdade é que, hoje, o que se viu em São Paulo foi menos um perigo real a integridade de seus cidadãos e muito mais uma crise de pânico social. Nesta segunda-feira, apesar da gravidade dos atentados terem diminuído drasticamente, foi o medo que tomou conta das pessoas. Medo este que, ele sim, podia trazer um efeito dominó de eventos trágicos.
O terror instaurado, no entanto, levanta outra questão: afinal o pânico exibido pela população era gratuito? Não, não era. Eu, dentro do meu castelo, na hipotética segurança do meu lar, tive medo. O medo não é um sentimento racional. Ele não analisa probabilidades ou estatísticas. Nossos instintos psicológicos de sobrevivência são muito mais sutis e incontroláveis. Dentro da situação em que vivemos já há tanto tempo, o medo exibido pela população foi completamente legítimo.
A questão é que o medo legítimo de cada um transformou-se em pânico coletivo. E é aí onde constata-se o imenso despreparo de nossas autoridades em lidar com uma situação limite como a que vivemos nesta segunda-feira. É claro que houve sensacionalismo na imprensa. Isso é condenável, mas é usual. Vemos o Datena na TV toda a semana. No entanto, o grande causador de toda a histeria e desordem vistas hoje foi o completo vácuo de autoridade visto em São Paulo. No meio de boatos sobre fugas de presídios e bombas no aeroporto, fomos obrigados a esperar até as 17:00 para ouvir uma autoridade se pronunciar com alguma credibilidade e segurança. O Coronel da PM do Estado, cujo nome agora me escapa, exibiu objetividade, procurou demonstar sobriedade e ainda reclamou dos boatos. Excelente pronunciamento, sr. Coronel. Mas, convenhamos, onde estava o Estado, até então, para coibir os boatos e acalmar a população? Onde estava o governador Cláudio Lembo durante todo o dia? Onde está escondido o prefeito Kassab? Por acaso temos ainda líderes sérios neste país? Por Tutátis, não se brinca assim com a psicologia das massas.
O pânico da cidade de São Paulo é a mais evidente vitória atingida pelos atos terroristas do fim-de-semana. Conseguiram instaurar o terror entre a população, desestabilizar a sociedade, tomar as instituições como reféns. Este pânico, e não o desafio à polícia, é sem dúvida a grande conquista do PCC.
E fica a triste sensação de que, ainda além da tragédia lamentável de tantas mortes ocorridas, o que se comprovou nesta segunda-feira foi o completo despreparo de nossas autoridades para lidar com situações de crise.
Ainda há pouco tempo, Londres foi atacada impiedosamente por terroristas e a resposta da sociedade foi a mais completa manutenção da vida cotidiana da cidade. Se São Paulo não foi capaz de oferecer isso, a razão não é a diferença de temperamento de nossa população, mas sim a total incompetência e falta de credibilidade que infelizmente caracterizam nossos líderes.
E desculpem minha exaltação.
***
Alexande Inagaki e Vinicius Mota tem visões interessantes e coerentes sobre o que se passou.
quarta-feira, maio 10, 2006
Três coisinhas
Depois de pirar no sofá da Oprah, Tom Cruise apareceu ontem no David Letterman. Foi recebido ao som de "Jump" do Van Halen. Sensacional.
***
Aqui tem uma resenha tardia do "V de Vingança", com comparações interessantes entre o gibi e o filme. Vincente Renner, crítico-gonzo de cinema do Gordurama, é hilário: "V de Vingança é um filme bastante corajoso para os tempos que correm. Mas isso tá ficando meio lugar comum. Eu disse a mesma coisa do X-Men 2. Sinal de que tá fácil ser corajoso nos tempos que correm..."
***
Mais Tom Cruise going crazy aqui.
domingo, maio 07, 2006
Os Garotos Esquecidos
Até que enfim. Depois de assistir a dois shows dos Forgotten Boys num mesmo mês, consegui ver a Débora Falabella. Na sexta passada, depois de ver a banda tocar no Studio SP e sem paciência para curtir a discotecagem tardia do Lúcio Ribeiro, eu já tinha me resignado e tomava o caminho de casa. Mas, na saída, ela estava lá, iluminando a noite escura na úmida calçada da Inácio Pereira da Rocha. Doce, doce.
Com todo o respeito, é claro. Vocês sabem, ela namora o Chuck Hipolitho, guitarrista da banda e muito lembrado por suas aparições eventuais no único programa que já prestou do Marcos Mion, o saudoso Piores Clipes, do qual era o diretor. Acho que ele ainda trabalha na MTV, não sei.
Apesar de ser a mais pura verdade, dizer que ver a Débora Falabella foi a melhor coisa da noite é sacanagem com o Forgotten Boys. Gosto da banda e curti muito estes dois shows que assisti. O som me lembra bastante meus hard-rockers preferidos, os Hellacopters, e ao vivo eles demonstraram muita competência e presença de palco. Essa música de trabalho deles, aquela em inglês, "Just Done", é sensacional, um hit perfeito, redondo e direto. Só não estoura comercialmente porque estamos no Brasil.
Mas uma coisa me intriga nos Forgotten Boys. Sei que eles tem tradição e estrada, que possuem reconhecimento da crítica e que criaram uma aura de mito no mundo da música independente. Mas eu não consegui sentir essa bagagem toda nesses shows que testemunhei. E digo isso devido exclusivamente à reação do público. Ao contrário da banda, cheia de vibração e simpatia no palco, a audiência se portava de uma maneira, senão apática, elegantemente descomprometida. Não digo que as pessoas não estivessem se divertindo. Estavam. Mas era simplesmente isso, estavam se entretendo apenas. E eu espero mais de um público de rock, principalmente num show de uma banda que mostra raízes nos Ramones, Iggy Pop e Stooges.
Eles não tem capacidade para inflamar o público? Não creio que seja isso. Posso estar enganado, mas a impressão que me ficou foi a de que o Forgotten Boys, apesar de toda a estrada, ainda não conseguiu formar uma base comprometida de admiradores. Parece que há algo desconexo entre o som que eles fazem, que sinceramente merece um público muito mais furiosamente empolgado, e a reação blasé que a platéia indie oferece a eles.
Nessa última sexta-feira, no Studio SP, talvez essa impressão tenha sido intensificada pela frequência da casa. A festa chamava-se "Moda é Rock" e celebrava-se o lançamento de uma coleção da Ellus. Ao costumaz público de indies e moderninhos da casa somou-se uma infinidade de pessoas que pareciam saídas diretamente da Faculdade de Moda da Santa Marcelina. Há algo realmente muito pretensioso no ar quando absolutamente todas as pessoas presentes numa festa carregam um toque inusitado no seu vestuário. Echarpes, chapéus e por aí a fora. Fico somente me perguntando se investir num público sem alma agrega algo a uma banda. Bem, talvez a hora dessa decisão já tenha passado, talvez não haja mesmo outra opção a se tomar.
Minha opinião pode ser precipitada, eu sei. Apenas fico triste, pois acho que eles merecem ser muito mais que uma banda para jornalistas e publicitários.
sexta-feira, maio 05, 2006
Livros
"Mãos de Cavalo", de Daniel Galera
(texto também publicado no site Scream&Yell)
Não estou bem certo agora, mas creio que foi algum filósofo ou alguma figura mitológica da Antiguidade que decretava um conselho básico para o ser humano e sua eterna busca pela verdade: "Conhece-te a ti mesmo". Saber claramente o que se quer da vida, ou melhor, alcançar conhecer a si mesmo com lucidez, continua sendo hoje uma tarefa para toda a existência. Um processo no qual, infelizmente, são poucos os que conseguem chegar perto de um resultado satisfatório - aquilo que chamamos de felicidade e paz de espírito.
Mas chega de especulações metafísicas. Porque Daniel Galera é extremamente concreto ao enfrentar essas questões em seu terceiro e mais novo livro, Mãos de Cavalo , lançado nesta semana pela Companhia das Letras. No livro intercalam-se duas histórias. Na primeira, temos a trajetória de um garoto que, dos dez aos quinze anos de idade, metido em suas aventuras de bairro, entre corridas de bicleta e campinhos de futebol, vive justamente as primeiras descobertas em relação à sua própria identidade. Na segunda, um jovem cirurgião plástico que, ao chegar aos trinta anos depois de uma rápida, árdua e bem sucedida trajetória de estudos e experiências profissionais, começa então a colocar sua escolhas em cheque, bem no momento em que sai para uma longa viagem com um amigo.
É claro, e logo se consegue fisgar a isca, que as duas trajetórias pertencem na verdade a uma mesma pessoa. No livro, no entanto, elas são tratadas como quase independentes e Daniel Galera, com habilidade, costura os capítulos e mistura as referências de uma maneira que traz ao leitor um grande prazer em acompanhar, ele próprio, o processo de auto-descoberta vivido pelo personagem. Tanto o garoto como o cirurgião vão descobrir que, tragicamente, só se conhece a própria identidade a partir de eventos-limite, extasiantes ou cruéis, momentos que vão ser carregados pela vida a fora. Entre ritos de passagem e acertos de contas, forma-se um indivíduo.
Durante as duas trajetórias, Galera não perde a oportunidade de explorar temas bastante interessantes. O fascínio pela violência estética em contraponto à covardia frente a agressividade real, o recalque das emoções, o desejo e a impressão de ver nossas vidas registradas pelas lentes de uma câmara de cinema. O protagonista de Mãos de Cavalo não é uma pessoa simples, talvez ninguém seja mesmo. E pouco a pouco o vemos exposto pelo autor. Através das descrições ultra-detalhistas de cada situação, vemos dissecadas suas impressões frente a cada situação, seja ela o descer vertiginoso de uma ladeira montado numa CaloiCross aro 20', seja testemunhar o ventre de sua esposa ser rasgado durante o parto enquanto a anestesia ainda não funcionava.
Um dos pontos mais atraentes de Mãos de Cavalo, e aqui não há como esta opinião deixar de soar bastante particular, é a empatia “geracional” oferecida pela história. Identificando-se como contemporâneos do protagonista (e também praticamente do autor, já que Daniel Galera tem 27 anos de idade), qualquer homem de trinta anos que ler o livro vai inevitavelmente ser atacado pela nostalgia. Vai se lembrar de alguma pequena aventura da infância, uma invasão de algum terreno baldio ou uma intriga belicosa com a turma da rua de baixo. Ou mesmo apenas sentir saudades de eventos cotidianos, como ir jogar video-game na casa dos amigos ou jogar futebol na rua. Imediatamente lhe virá a cabeça a trilha sonora que mais lhe aprazia na época e, sem perceber, estará mergulhado no meio de suas próprias recordações. No entanto, há no livro também uma outra história, a crise dos 30 anos de um cirurgião plástico, cheia de culpas e reavaliações, e então, de um capítulo para o outro, o mesmo leitor vai ser expulso da nostalgia e será jogado numa dolorosa e frenética busca por paz e redenção. Talvez a grande conquista de Mãos de Cavalo seja conseguir gerar essa empatia e, ao mesmo tempo, tratar de assuntos tão pouco simples.
A dúvida que fica é a seguinte: o livro funciona apenas em razão desta identificação geracional? O personagem funciona apenas por que viveu situações características de nossa própria época de vida? Se a resposta for positiva, cria-se a hipótese de Mãos de Cavalo ser um livro recomendado apenas para homens com mais-ou-menos trinta anos de idade.
Mas a aposta é que não. O nível de maturidade exibido por Daniel Galera, a forma incisiva e objetiva com que ele expõe seu personagem, faz acreditar que o autor conseguiu ultrapassar uma mera afinidade de geração com sua narrativa. O personagem não funciona apenas porque nos é contemporâneo. Nos identificamos, na verdade, com a complexidade daquele sujeito. Afinal, Galera não oferece saídas fáceis, nem arrisca interpretações psicanalíticas simplistas. Ao ponto que, no final, admita-se, fica a tentação de querer mais respostas, fica um sentimento de carência de razões e significados mais objetivos. Mas querer isso talvez seja justamente negar a profundidade alcançada pelo personagem.
O nome de Daniel Galera surgiu, inicialmente, ligado à turma de estudantes gaúchos que publicava o já falecido e-zine Cardoso OnLine. O COL, como era carinhosamente apelidado, foi um dos primeiros fanzines distribuídos por e-mail e, na época, era certamente aquele com maior alcance e repercussão. Mais tarde, Galera fundou, junto com o também escritor Daniel Pelizzari, a editora Livros do Mal, pela qual publicou seus dois primeiros livros, a coletânea de contos Dentes Guardados, também traduzida e lançada na Itália, e o romance Até o Dia em que o Cão Morreu, que está sendo adaptado para o cinema por Beto Brant. Os dois primeiros livros de Galera são também ótimos e valem muito a pena serem lidos. Geram a mesma empatia mas, diferentemente de Mãos de Cavalo, seriam classificados mais adequadamente na categoria "livros que eu gostaria de ter escrito aos 22 anos de idade". Com seu último livro, a impressão é que Galera somou maturidade à sua costumaz capacidade criativa. Seja apenas mais um retrato de sua geração ou não, o que importa é que sua literatura continua agradando, dando prazer e fazendo pensar.
P.S.: Dentes Guardados está disponível para download gratuito no site do autor. Aproveite.
P.S.2: Lá no Scream&Yell também há um outra resenha bastante interessante sobre o livro, escrita pelo Moreno Osório.
quinta-feira, maio 04, 2006
E o Corinthians já era
O River foi menosprezado por todos os analistas esportivos e o Corinthians, também contaminado por alguma prepotência, só conseguiu exibir em campo o reflexo da desorganização que tem fora dele. Talvez não baste só confiar no talento.
De resto, o mais impressionante foi ver a rebelião popular dos sans-culotte corintianos. Visão aterradora das massas bárbaras tomadas pela fúria e pelo desejo de destruição. Qualquer líder político gostaria de ter o poder de mobilizar aquela energia.
No final, a horda acabou dominada por dez valentes guardas sem escudos. Mas que foi assustador, isso foi.
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