segunda-feira, dezembro 15, 2003



Milk-shake

A Ponte Preta escapava da segunda divisão, eles pegavam o Saddam e a gente tomando milk-shake, sentados no balcão da lanchonete.

Alguns barbudos desciam a Rua Augusta ali fora, mas a gente não sabia para onde ir. Um olhando o outro, calados, com o estômago cheio de coisas que não queriam ser ditas. Talvez alguns minutos servissem para a gente relembrar como se tinha chegado até ali, e então, quem sabe, fazer o caminho de volta. Para entender quais foram as pedras.

Limpava o balcão sujo com um guardanapo de papel. No copo de água tônica, que tinha vindo antes para acabar com a sede, só restava o limão. A boca seca ficara também amarga. Os olhos, por outro lado, teimavam em se congestionar. O que tornava necessário engolir, por mais difícil que isso fosse.

Mas os minutos passaram e o milk-shake chegou, no colo da cavalaria. O creme, o chocolate, o sol e a Rua Augusta fizeram tudo ficar piegas. E doce. Pouco a pouco, claro e doce. E veio o beijo da reconciliação. Nada repentino, conseqüente. A única saída possível, porque a única desejada.

A televisão não pára. Mas só consigo pensar em como beijo de reconciliação é bom. E imagino o resto. Acompanhado de milk-shake.

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