quarta-feira, abril 27, 2005

Vai um jurozinho aí?



Quando ouvi esta ordem do nosso presidente, dei um sorriso de canto de boca e me orgulhei da minha pró-atividade. Já cumpri suas recomendações com bastante antecedência, meu capitão.

Mês passado, eu estava afundado no cheque-especial. Levantei my fat ass do sofá, liguei para um amigo e ofereci um negócio bom-para-ambas-as-partes. Rapaz bem sucedido, ele tinha disponível o capital que me era necessário. Eu, de minha parte, lhe oferecia um jurinhos bem maior do que ele conseguiria numa aplicação segura, mas, ainda assim, muitíssimo menor do que eu seria obrigado a pagar se optasse pelo crédito de qualquer instituição do sistema bancário formal. Simples assim.

Era a esse tipo de iniciativa que Lula se referia, não?

Se eu entendi bem, nosso presidente deve ter mesmo se rendido ao liberalismo econômico mais radical. Prega agora que tudo isso que está aí - instituições, bancos, regras, governo, políticas - só serve para atrapalhar. Porque somente fugindo a tudo isso, dando um jeitinho, partindo para o cada-um-por-si e informalizando-se de vez, é que se torna possível escapar aos preços abusivos do nosso cartelizado sistema financeiro nacional.

Diga não aos juros abusivos. Arranje um agiota gente-boa.

Ironias a parte, eu não tenho nada contra encontrar caminhos que passem ao largo do sistema. Muito pelo contrário. Mas o commander-in-chief do sistema não pode defender esses caminhos, ora pois. A função dele é trabalhar para que as coisas funcionem melhor dentro do sistema. Reclamar, senhor presidente, é função nossa, tire a mão daí.

Vão dizer que o que Lula disse não passa de mais uma bravata de palanque. Isso é claro. É óbvio também que ele segue uma já manjada estratégia de comunicação pós-moderna que, a fim de preservar sua imagem pública, coloca-o a parte de qualquer ato duro-mas-necessário imposto pelo governo. Lula reclama dos juros altos, como se o Banco Central já possuísse autonomia e ele não tivesse mais nada a ver com isso.

Para sobreviver no poder, é claro que é preciso ser liso. No entanto, como eleitor do homem, confesso que já ando bastante cansado desta tática. FH já praticava o mesmo feitiço, mas Lula tem exagerado na dose. Ao invés de alguém que insiste em se descolar da realidade, criando versões e alternativas fantasiosas, eu preferiria um presidente que assumisse os atos do seu governo e se esforçasse para explicar a necessidade dos xaropes amargos. Mas isso sim parece fantasia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Demorei pra ler esse, mas merece todos os aplausos..
Vc tocou em pontos muito importantes. No país do analfabetismo estrutural, temos que fazer ecoar essa visão crítica dos acontecimentos. Eu votei no homem tb, e confesso, já percebi faz tempo q o feitiço continua o mesmo, e me pergunto até quando será possível alienar um país inteiro com " as cantilenas " do Governo (parafraseando Heloísa Helena)..

André Alvarez disse...

É isso Rodrigo.

A gente vai se virando como pode. Tirar a bunda da cadeira e ir a luta, apesar de todos os empecilhos e dificuldades, é a parte óbvia da coisa. É CLARO que nao dá para esperar pela ajuda DELES.

Agora ELES nao podem tirar o corpo fora desse jeito. Aí fica fácil demais.

Aliás, e esse dolar, vai ou nao vai :-)