(...) Já a parte decepcionante da locadora é a seguinte: alugo algum filme esplêndido, algo como Quando Paris Alucina. Em seguida, caminho para o balcão de atendimento, muito satisfeito de meu louvável bom gosto, singing myself, como Whitman ensinou. Na ocasional vidraça, reparo em meu reflexo e me encanto. No entanto, no balcão - ó desgraça -, a atendente não é nada educada: ela me olha, toma a fita de minha mão e não me diz, nunca me diz ah, mas que bom gosto o seu, que bom gosto, veja só, gastei todo o dia alugando filmes ruins para pessoas ruins, mas agora você veio e alugou esse filme maravilhoso, ah que bom, que bom, você salvou o dia, você salvou o dia e eu não sei como agradecer. Não, ela não diz nada disso. Ok, o melodrama talvez seja dispensável, mas ela poderia ao menos me endereçar algum olhar, algum sinal de que eu era, sem dúvida, alguém excepcional e de que o meu bom gosto - eu gosto do bom gosto - justificava a existência silenciosa de todo aquele acervo de filmes. Mas não. Ela apenas me diz: devolução amanhã até as oito.
A melhor coisa de ter uma caixa de comentários é poder topar de vez em quando com esses sujeitos que te dão a medida do que realmente é escrever bem - ter elegância, simplicidade e inteligência. Existe isso em blogues, sim, ouviram? O Ludovico mostra muito mais por lá.
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