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segunda-feira, junho 20, 2005
Poesia numa hora dessas?*
Leveza e peso
Onde foi parar a poesia?
Pergunto, e já ouço a resposta
que vai, claro, me soar como troça.
Bendita a troça que me protege.
Ai de nós sem a ironia.
Mas perguntar ofende?
Sempre, inevitavelmente.
As respostas serão ridículas
sempre, oras. Sobretudo
as minhas próprias.
O medo das respostas
me escancara, sem fuga, o prazer
que tiro do preguiçoso conforto.
Me cospe no rosto, envergonhado,
a infâmia da apatia.
Mas não só.
Diga a verdade, oras!
Vá até o fim agora,
e assuma que
o medo da resposta
me escancara, sem fuga
me cospe na cara, suja,
a vergonha
da covardia.
Ai de nós sem a ironia.
* Expressão emprestada do L.F. Veríssimo.
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Um comentário:
Confesso que não consigo evitar um certo constrangimento ao mostrar aos outros os poucos poemas que acabo escrevendo. Não pela qualidade deles (não tenho a pretensão que sejam bons), mas por alguma outra coisa, mais indefinida e misteriosa, que faz com que eu sinta que é vergonhosamente inadequado escrever poesia em nossos tempos. Não me constranjo em escrever parágrafos de prosa chinfrim ou textos cheios de opiniões duvidosas, mas é certo que colocar no blogue alguns versos é para mim bastante difícil.
Também é engraçado perceber que, mesmo consumando o ato, só consigo fazê-lo me escorando na ironia que é a tal expressão do Veríssimo. Isto é revelador. É como se, para se desculpar por soar grave demais, seja necessário se esconder atrás de alguma tirada esperta e descolada.
De certa forma, esse poema é um pouco sobre isso. Algumas coisas ficaram na minha cabeça desde que os gaúchos do Insanus tentaram iniciar um debate sobre a necessidade da ironia, e de que como isso já ultrapassou seus limites. Pensei então no Milan Kundera, na discussão dele sobre a leveza, o peso, o kitsch. Não consegui chegar a conclusão nenhuma, não consegui concatenar nenhuma idéia estruturada que se sustentasse. Geralmente, para mim, quando uma poesia sai é por esse motivo – ao não conseguir expressar uma idéia racionalmente, frases soltas (que chamam pretensamente de versos) são o caminho que me resta.
E chega disso, porque ficar se auto-analisando é ainda mais ridículo que escrever poesia.
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