quinta-feira, outubro 06, 2005

Enfim, o plebiscito*



*ou referendo, como corrigiu o Gravata ali nos comentarios.

Sim, meu voto é pela proibição do comércio de armas no Brasil. No entanto, não me sinto confortável para fazer aqui alguma defesa do ‘sim’. Creio que, numa análise racional, há argumentos válidos de ambos os lados. Aliás, há tantos argumentos válidos, tantas interpretações possíveis das estatísticas, tantas hipóteses e possibilidades, que, sinceramente, não creio que seja possível chegar a uma conclusão, objetiva e pragmática, sobre qual decisão trará melhores resultados para esta nossa jovem sociedade tupiniquim.

Tomei minha posição, portanto, muito mais baseado em valores e princípios pessoais do que numa análise fria e racional. Não sei se isso é bom. Mas no minímo faz refletir sobre as possibilidades desta coisa chamada “democracia direta”. Um plebiscito, na verdade, não deveria gerar esse tipo de expectativa – análises lógicas e soluções racionais devem ser esperadas, isso sim, daqueles famosos grupos e comissões de estudo, tão desmoralizados pela incompetëncia dos nossos representantes. Plebiscito é checagem de valores, de opções morais, ideológicas e políticas.

Acho que, justamente por isso, tem me cansado todo esse debate. No início, argumentos de ambos os lados me pareciam coerentes. Abri a cabeça, me propus a refletir. Depois, foram me chegando, também dos dois lados, as patetices, os reducionismos, as chantagens emocionais, as capas de revista, os sonhos românticos, a demagogia. E concluí o que já disse antes – há análises e estátisticas para todos, e só se faz uso delas para corroborar e legitimar posições já pré-estabelecidas. E aí, chafurdar numa discussão dogmática se torna muito tedioso.

Tem me espantado, entretanto, ver uma quantidade grandes de amigos defendendo o “não”. Como eu mesmo já me senti balançado por alguns argumentos, procuro entender. Mas vejo muita gente escolhendo o “não” apenas pela desilusão, pela descrença que haja alguma mudança, por não acreditar que isso vá gerar algum efeito real. Dizem não querem comprar gato por lebre, que o plebiscito é apenas um golpe demagógico do governo. Eis aí o verdadeiro efeito do “mensalão”. Desta vez, há muita gente preferindo varrer seus valores e sua esperança para debaixo do tapete, e optando pelo medo. Amadurecemos? Ou estamos apenas paralisados pelo trauma?

Enfim, nem queria ter tocado nesse assunto. Mas os macaquinhos aqui no sotão não paravam de se mexer, precisava colocá-los para fora. Para não concluir sem citar nem mesmo um argumento a favor da minha posição, tomo emprestadas as palavras do Firpo, um dos gaúchos lá do Insanus que ficou do lado do “sim”. Acho que ele conseguiu resumir meus motivos:


(...) vou votar sim porque tendo a preferir soluções disruptivas. Acho que, se nada de radical for feito a respeito - e o Estatuto nem é tão radical assim, convenhamos - a situação só tende a se deteriorar.

(...) É possível que, aprovado o Estatuto, a situação melhore, como indicam as reduções de óbitos por arma de fogo nos últimos meses, certamente reflexo da campanha de entrega de armas; também é possível que ela piore e que realmente aconteça o cenário mad max que os adeptos do "não" usam como espantalho; e também pode ser que nada aconteça, fique tudo na mesma.

Em qualquer um dos casos, pelo menos se buscou uma solução diferente.

5 comentários:

Anônimo disse...

Eu acho que votaria não, por muitos motivos que se eu colocasse aqui soariam clichê.

Eu só não entendo ainda o sim e o não. :D

Nas propagandas de rádio eles falam: "vote sim se você não quiser armas e vote não se sim, você não quer armas".

Ou vote não se sim, você é a favor da paz. Porque votando não você diz sim aos que não querem violência.

Ou algo parecido.

gi

Anônimo disse...

Você também não vai votar, né? Ou vai chegar em São Paulo a tempo?

gi

Anônimo disse...

É referendo, Drex.

André Alvarez disse...

"A diferença é simples. O plebiscito é convocado antes da criação da norma (ato legislativo ou administrativo), e é o povo, por meio do voto, que vai aprovar ou não a questão que lhe for submetida. Já o referendo é convocado após a edição da norma, devendo o povo ratificá-la ou não."

http://www.abril.com.br/noticia/portal/no_91421.shtml

Curvo-me a ti, Gravatex.

Anônimo disse...

Estatísticas: se você torturá-las elas dizem o que você quiser.