quarta-feira, setembro 03, 2003






'He's a prophet and a pusher, partly truth, partly fiction. A walking contradiction.'

É comum ouvir que Quentin Tarantino e David Fincher bebem sua mistura de sexo, violência e psicose direto da fonte de Martin Scorsese. Depois de ver Taxi Driver (pela primeira vez no último domingo – vergonha) só posso pensar uma coisa – a dupla cool dos anos 90 ainda tem que tomar muito caldinho de feijão para fazer um filme daquela estatura.

E olha que eu adoro Pulp Fiction, Seven e Clube da Luta. São filmes excelentes. Mas é impossível comparar. Tarantino pode ter herdado a violência estética, descolada e ágil. Mas quanto ao conteúdo, seus filmes são rasos. Tarantino é um excelente contador de estórias de ação, e isso já é o bastante.

David Fincher, além da estética, também toma emprestados alguns temas típicos de Scorsese. A inadequação, o isolamento, a alienação, a neurose, a violência. Mas Fincher carrega demais na mão, seus filmes são cheios de discursos, repletos de frases de efeito. Pense no psicopata de Seven, ou no pirado Tyler Durden do Clube da Luta. São personagens que se explicam demais, são panfletários, tagarelas.

Taxi Driver é daqueles filmes artesanais, onde nada do que vemos na tela está ali por acaso. Tudo ali é de uma coerência incrível, mesmo sendo extremamente contraditório. Consegue ser, ao mesmo tempo, elegante, violento, sutil e denso. Na verdade, o filme é Travis Bickle. Tudo se constrói, ou se destrói, em torno do motorista de táxi solitário forjado por Robert De Niro. Travis Bickle é a tal contradição ambulante.

Mas, mais do que um filme psicológico, Scorsese filmou um verdadeiro tratado sociológico. Assustadoramente atual, mesmo 27 anos depois. Gerou polêmica, foi indicado à quatro Oscars, mas não levou nenhum. Não deixa de ser irônico que Michael Moore tenha ganho o seu em 2003, documentando a posteriori uma situação cujos sintomas Scorsese já profetizara em 1976. Talvez isso dê algum sentido àquele clichê - “a frente do seu tempo”.


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