segunda-feira, novembro 03, 2003



Chuva

Num desses dias gelados de pouco tempo atrás, ouvi alguém praguejar contra o frio dizendo que conhecia dezenas de canções escritas em homenagem ao verão, mas não conseguia se lembrar de nenhuma ode poética ao inverno.

Como também não sou muito fã das temperaturas baixas, não me esforcei em refutar a afirmação. Mas ontem, fechado num quarto de hotel, privado de me perder pelo Rio de Janeiro pela força de um baita temporal, me peguei pensando na chuva. Meu Deus, como se canta a chuva, não?

De Jorge Ben aos Paralamas, chove chuva sem parar. No entanto, com a licença dos defensores da cultura nacional, minha música predileta sobre a chuva, aquela que estava na minha cabeça bem naquele momento, não é uma canção brasileira. Não, ainda não sou tão óbvio - também não é Raindrops Keep Falling On My Head, muito colorida praquele ontem cinzento. Poderia até ser I'm Only Happy When It Rains, aquele hit energético do Garbage, ótima também, mas não - ela é um tanto sarcástica demais prum momento de contemplação, um estado de felicidade e melancolia em combinação perfeita.

Na sacada do apartamento, de frente para a névoa branca que era para ser o Pão de Açúcar, eu cantarolava Happy When It Rains, do Jesus & Mary Chain.

Não sou daqueles que já ouviam o JMC desde os anos 80. Minha onda, naquela altura, era ouvir a trilha do Plunct Plact Zum!. Mas a banda foi uma das melhores descobertas tardias que fiz nos últimos tempos. Daquelas de se arrepender por não ter tido um irmão mais velho para ter me empurrado doses de roquenrol mais precocemente. Mas, tudo ao seu tempo, antes tarde do que nunca.

Abusando de clichês dignos dos mais mequetrefes críticos musicais, essa canção é uma daquelas pérolas do pop perfeito. É sério. Deve haver uma dúzia dessas, em todo o planeta. Tão perfeita, que virou trilha de comercial de automóvel. Não tenho muita certeza, mas posso jurar que era ela numa das últimas campanhas da Chevrolet.

Agora, por favor, deixem todo esse clichê de lado, tirem todo o mercantilismo imperialista da jogada e, enfim, fiquem só com a música. Escutem, ouçam. Assim como a quase homônima música do Garbage, ela é uma daquelas canções vivas, vibrantes, ideais pra se ouvir na estrada. Se também ainda carrega um pouco da mesma índole sadomasoquista daquela outra, Happy When It Rains traz, sobretudo, aquilo que, caramba, deve ser a tal tão cantada poesia da chuva. Uma melancolia feliz, que lava a alma, sacode a poeira e pede pra seguir em frente.


Happy When It Rains

Step back and watch the sweet thing
breaking everything she sees
she can take my darkest feeling
tear it up till i'm on me knees

plug into her electric cool
where things bend and break
and shake to the rule

talking fast couldn't tell me something
i would shed my skin for you
talking fast on the edge of nothing
i would break my back for you

don't know why, don't know why
things vaporise and rise to the sky

and we tried so hard
and we looked so good
and we lived our lives in black
but something about you felt like pain
you were my sunny day rain
you were the clouds in the sky
you were the darkest sky

but your lips spoke gold and honey
that's why i'm happy when it rains
i'm happy when it pours

looking at me enjoying something
that feels like feels like pain
to my brain

and if i tell you something
you take me back to nothing
i'm on the edge of something
you take me back

and i'm happy when it rains

(Jesus & Mary Chain)


Nenhum comentário: