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sábado, agosto 24, 2002
Me permitam um pouco de jornalismo de botequim e de divagações baratas de uma noite de sexta-feira. Tudo dentro do mesmo contexto, mas devidamente dividido em duas partes distintas, conforme dita a etiqueta.
A FESTA
Ontem fui à festa da revista de música Frente, comemoração do lançamento da sua 3a edição. Quem não foi realmente perdeu uma noite muito legal. Eu não havia ido à festa anterior e fiquei bem surpreso com o lugar (Grizu Party&Music, um espaço de eventos na Alameda Lorena): dois ambientes separados, bem cuidados, meia luz, bar bastante grande e uma pista razoável. Para começar, o Rick na porta é sempre um início ótimo pra qualquer balada. Quando entrei já passava da meia-noite e a festa ainda não estava cheia. Não encheria muito mais que aquilo, o que acabou sendo um dos pontos positivos. Sem aperto, sem esbarrões, circulação livre, gente na medida certa. E gente variada; gente interessada em revista, gente interessada em música, gente perdida em geral e as devidas intersecções entre os grupos. Na verdade, a festa não deve ter agradado a quem procurava uma balada pra realmente se acabar; a noite foi tranquila, para beber, conversar e curtir os shows. Pois é, os shows.
A primeira apresentação foi do Violeta de Outono. Conhecia pelo nome, mas confesso que nunca havia ouvido nada antes. Assistindo o show assim, sem nenhum conhecimento prévio do som, gostei bastante. Um trio poderoso, com um guitarrista/vocalista e um baixista já veteranos, acompanhados pelo baterista mais jovenzito. Dá para definir o som do Violeta a partir disso. Na frente, arranjos e melodias remetendo muito a algumas coisas dos anos 80. Atrás, uma bateria furiosa segurando tudo com muito gás. O baterista foi um show a parte, o cara toca com muito tesão, dá realmente gosto de ver. Ao mesmo tempo que ele traz um pouco de modernidade e energia para o som um tanto retrô da banda, faz lembrar muito o estilo de tocar de alguns malucos bateiristas dos anos 60, principalmente do The Who.
Depois de um curto intervalo, foi a vez dos Irmãos Rocha!, banda gaúcha já conhecida pelos becos musicais de Sampa. O som dos caras é totalmente energético, punk, hardcore, surf-music, tudo no mesmo balaio, com muito humor e tiração de sarro. A banda sem dúvida toca com muito tesão, originalidade e espontaneidade. Como diz um título deles, alguma coisa perto de "muita vontade com pouco talento". Mas confesso que já não era o tipo de som que eu estava disposto a ouvir às 3:30 da manhã. Acabei entregando os pontos e indo embora antes do show acabar. No momento e local adequados, no entanto, o som dos caras é muito recomendável.
Tenho só uma ressalva, porém bastante importante. Os dois shows foram muito longos, não houve quase tempo nenhum para os DJs. Para mim foi muito legal, mas para quem sai à noite em busca de balada pra se divertir, isso pode ser decepcionante. Afinal, o público veio para uma festa com duas bandas convidadas e não para um show das bandas. Uma noite com shows mais curtos e uma boa discotecagem na pista poderia atender a todos os gostos, tornar a festa mais diversificada e continuar formando público para as bandas.
A DIVAGAÇÃO
Durante o curto intervalo entre os shows, saímos pra pegar mais uma cerveja. Estavámos em uma das mesinhas quando começa a tocar algo familiar. Para minha supresa, o DJ colocara "Mr. Brownstone" do Guns'n'Roses. Imediatamente um sorriso me veio ao rosto; e começaram minhas divagações.
É mesmo impressionante como atualmente, dentro do público chamado alternativo, independente, indie, underground ou o raio que o parta, existe uma grande valorização das bandas do pós-punk e, mais recentemente, também do pop mais dançante do anos 80. Todos tratando Smiths, Echo, Joy Division, Jesus & Mary Chain, New Order e por aí a fora como bandas seminais da sua própria geração. Ouvir isso é cool. Então eu olho ao meu redor na noite e me sinto velho, do alto dos meus 26 anos, vendo uma molecada toda muito mais nova do que eu se comportando como se ouvisse The Cure desde 1985. Sinto muito, mas eu, mesmo velho assim, em 1985 ainda estava me divertindo com o Raul Seixas me desejando "boa viagem" no disco do Plunct Plact Zum.
E porque raios o Guns'n'Roses me fez pensar tudo isso? Ora, porque realmente aquele DJ foi muito ousado em tocar Guns numa festa alternativa. Poucas coisas podem ser consideradas mais "uncool" nos dias de hoje que os velhos clássicos da banda de Axl Rose. Apesar disso, e também apesar de hoje eu já ter descoberto e gostar muito de New Order, J&MC e Pixies, eu confesso que em 1989 o que eu ouvia mesmo e curtia muito era Guns'n'Roses. Foram deles que eu fui atrás dos discos, toquei as primeiras músicas, colei pôsteres atrás da porta. Foi por eles que me odiei por não ter ido ao Rock'n'Rio II. Não, eu nem sabia o que era Echo&The Bunymen quando da antológica turnê brasileira deles em 1987. É claro, o tempo não pára, depois disso veio o Nirvana e tudo mudou. E ainda viriam muitas outras coisas; e eu descobriria no passado um outro tanto de coisas legais. Mas quando ouvi ontem "Mr. Brownstone" dei aquele sorriso sem motivo, sintoma de felicidade boba e espontânea. É claro, as cervejas que tinha tomado também ajudaram. Mas senti um saudosismo bom, e me lembrei da frase do Richard Dreyfuss no filme Conta Comigo: a única certeza é que nunca teremos amigos como os amigos que tivemos quando tínhamos 13 anos. Nunca teremos a mesma espontaneidade, o mesmo sentimento de descoberta, de liberdade, de cumplicidade. Tudo dali pra frente será uma constante reinvenção, uma tentativa de trazer de volta aqueles belos momentos. É verdade. Nunca gostaremos de uma banda da mesma forma que gostávamos de uma banda quando tínhamos 13 anos.
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