segunda-feira, agosto 12, 2002



subject: Carta de Maracangalha VIII
date: 12.08.2002



E aí Ká!

Pensou que não ia ter mais notícias deste correspondente tropical, né? Se enganou direitinho, cara mana... O bom filho à casa torna e quem é vivo sempre aparece pra encher o saco mais um pouquinho....

Pois é, suas Cartas de Maracangalha estão de volta, só que agora literalmente flutuando pelo oceano internético. Ficou assustada quando te falei do blog? Bom, eu ainda me assusto um pouco. Prometo que se isso aqui virar alguma coisa tipo “The Osbournes” eu aborto a idéia na hora (ou vendo os direitos pro UOL, né?) Mas não há de ser nada não...Fazer mal à saúde não deve fazer...

Como estão as coisas aí na terra do Tio Sam? Putz, acabei de perceber que depois dos atentados de setembro passado, não escrevi mais pra vocês... Estranho, né? Parece que aquilo gerou algum tipo de choque anti-globalizante, impedindo até as correspondências familiares.

Falando sério, olhando agora de mais longe, acho que me senti um pouco desse jeito. As coisas estavam tão amedrontadoras no panorama global que era mais seguro e confortável passar a prestar atenção na própria vida cotidiana. Algo como se pensasse: ora, não tenho muito controle sobre o que acontece lá fora, deixa eu me manter no casulo e cuidar mais do meu próprio umbigo.

Interessante ver que isso também aconteceu com os próprios países, né? Além de contarmos com o iluminado e ilustrado líder da nação ianque, parece que o mundo inteiro passou por um momento meio conservador nesse ano. Aquele sonho globalizante (confundido constantemente com “americanizante”) ficou realmente utópico. Fico pensando se pra vocês, imigrantes tupiniquins no além-mar, tudo isso não deva deixar as coisas mais difíceis... Ainda mais com a cara de terrorista árabe do Peter, eh, eh...

Olhando aqui da terra brasilis, eu sinto que o mundo está cada vez mais longe. Por mais internet, conexão a cabo, Sony, CNN e MTV que se tenha, um dólar a 3 reais nos dá bem o tamanho da nossa significância. É como se o doce nos fosse oferecido mas tirado da nossa boca antes da primeira mordida. Viajar pra fora tá cada vez mais impensável. Comprar um cd, nem mesmo nacional. Revista importada, piada de colunista musical. Shows de rock, só do A-ha mesmo. Intercâmbio, curso de inglês, mochilada pela Europa... Coisas que eram planejáveis há 5 anos atrás, hoje não passam de lembrança.

Sabe, por um instante me senti meio fútil, meio ingrato reclamando dessas coisas. Porra, tem milhares de pessoas passando fome aqui do teu lado, cara!! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra e é triste, muito triste mesmo, ver que passamos por uma época em que parte da população do país, por menor que essa parte fosse, tinha acesso ao mundo e hoje não tem mais. Hipócrita seria se eu pensasse ao contrário...

Mas eu não sou pessimista não, muito pelo contrário. Vamos nos virando por aqui, lendo revistas importadas pela internet, assistindo a shows pela TV, baixando músicas pelo Kaaza (enquanto nos deixam...), gravando nossos próprios CDs piratas. Pois é, acessando o mundo virtualmente... E acho que temos nos virado bem aqui na terra brasilis... Sabe, pode parecer bobeira, mas eu sinto uma movimentação muito legal, um burburinho cultural, uma geração que tá se mexendo muito e fazendo muitas coisas legais. Apesar de toda a era das trevas que o mundo ameaçou (ou ameaça...) passar, têm algumas coisas borbulhando por aqui. É só procurar, ir atrás, só não vê quem não quer...

E tem as eleições, né? Mas isso é uma outra estória, pra uma outra carta...

Vou ficando por aqui, sei que já te cansei. Mas agora que voltei, me agüenta...

Inté mais!

Beijo,

Drex

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