Vendo a triste figura de Delúbio Soares, vem-me à memória Gregório Fortunato, o Anjo Negro, o guarda-costas, o mais leal amigo que Getúlio Vargas já teve e que o levou à desgraça.
(...) Delúbio, o Anjo Tosco do Cerrado. Cruzei uma vez com ele, almoçando no Amadeus, restaurante de peixes ali na Haddock Lobo. No final da escada, na primeira mesa atrás da coluna, estava Delúbio, terno bem cortado e um havana cujo cheiro, por si só, chamaria a atenção do quarteirão inteiro. Ele não fazia reunião, concedia audiência. Várias pessoas aguardavam na parte térrea do restaurante. Uma a uma subiam, sentavam à sua mesa, conversavam em voz baixa, depois desciam. Era inacreditável que aquilo ocorresse a três quarteirões da avenida Paulista, em um lugar aberto e freqüentado.
Mais uma vez Luis Nassif. Desta vez me foi impossível, ao ler este trecho, não trazer à mente a imagem de um Don Vitto Corleone, sentado nobremente atrás de sua escrivaninha, segurando o queixo, selando compromissos e fazendo ofertas irrecusáveis, magnânimo dos destinos alheios.
Chacoalho a cabeça. Que bobagem. Como Nassif quis demonstrar, Delúbio não tem nada de Godfather. Delúbio não passa de um escroque, um atravessador embriagado em sua boçalidade arrivista. Não há fibra nem mesmo na sua suposta “ética de grupo”. Don Vitto nunca choraria na frente de seus pares, nunca mostraria seus dentes sujos perante uma comissão de inquérito. Don Vitto tinha a sua honra, e se preocupava com ela.
Por essa e por outras eu duvido que haja algum tiro no peito durante este mês de agosto.
3 comentários:
Oi, Drex
Rapaz, que filme, hã? O rapazinho de Scrubs fez bem. O filme tem frescor, vê-se que o sujeito tentou pôr ali as melhores idéias, fazer algo divertido, e que, aqui e ali, eventualmente, doesse. Conseguiu. Nem é que a trilha seja formidável; nem é que Natalie Portman faça a gente querer se enforcar, felizes. Quer dizer, é isso também. Mas vê-se o dedo de um diretor inteligente que está gostando do que está fazendo. Achei a cena final mal acabada, precipitada, não sei. Mas não chega a comprometer nada. Eu já estava totalmente ganho. É o que espero de um filme, em dias como este.
(o único problema é você ver o filme com uma platéia que não sabe a hora de rir e a hora de, por bom senso, ficar caladinha)
Abraço,
"Hora de Voltar" e' muito bacana mesmo, Ludovico.
Como escrevi la' nos comentarios do Dessincronizado, o texto sobre o filme esta linkado (lincado?) ai' ao lado. Enfim, o Zach Braff mostrou potencial e a Natalie Portman, bem, e ainda tem quem nao goste daquele sorriso...
Ô, rapaz, esse seu texto eu li, claro. Ele foi justamente uma dos ativadores da minha ansiedade para ver o filme. Só estreou agora por estas bandas capengas. Antes tarde, eles dizem.
(o que eu gosto nos seus textos é que você, sabiamente, prefere falar sobre você mesmo do que propriamente sobre o filme)
Abraço,
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