quinta-feira, março 06, 2003



O absoluto nosso de cada dia

São raras as caminhadas que são feitas sempre em frente, em linha reta, simplesmente para o alto e avante. Qualquer percurso, seja ele a busca do novo emprego ou da paz mundial, é cheio de desvios e obstáculos. É uma idéia bem clichê, digna de qualquer livro de auto-ajuda, eu sei, mas faz cada vez mais sentido na minha cabeça. E antes que você ache que eu andei dando copy-paste no "Minutos de Sabedoria" e desista de ler este post, me deixe chegar ao ponto.

O fato é que não dá para ficar interpretando como veredicto final cada evento que acontece na vida. O paradoxo é que, neste mundo onde tudo muda a cada instante, qualquer coisa explode nas manchetes dos jornais como a Verdade definitiva. Da nova banda salvadora do rock´n´roll à nova posição geopolítica da França, tudo é encarado como extraordinário, impactante, revolucionário. Exceto pelo fato de que, logo no dia seguinte, a verdade definitiva já é outra e precise, para chamar atenção, ser alardeada com o mesmo sensacionalismo. Talvez Paulo Ricardo estivesse mesmo certo e o mundo viva hoje dezenas de revoluções por minuto, mas, até pelo fato de serem tantas, é impossível carregar tanto nas tintas e levá-las tão à sério. Menos, minha gente, menos.

No plano pessoal, parece que acontece a mesma coisa. É tanta a correria que, de repente, quando um piano cai sobre a sua cabeça, parece que o baque é definitivo, que não há mais saída. Aparece qualquer pedra no meio, e já vemos ali o fim do caminho. Melhor desistir, mudar de estação, pular do barco, partir pra outra. Ninguém parece ter mais tempo, ou disposição, para insistir, para tentar duas vezes. Ao mesmo tempo que levamos qualquer obstáculo à sério demais, não hesitamos em procurar outros caminhos mais fáceis. Contráditório, mas nem tanto.

É preciso olhar as coisas com mais perspectiva, acredito. Pausa para respirar, evitar a ansiedade, colocar tudo no devido lugar. E conseguir realmente discernir entre o que é determinante de uma mudança de rumo e o que é simplesmente uma pedra no meio do caminho.

Fluxos e refluxos. A História do mundo, e nossa própria história, estão cheias deles. E às vezes, para se chegar ao mundo melhor ou ao próprio sonho individual, deve-se aceitar aquela velha máxima de dar um passo para trás, para depois dar dois passos para frente.

***

Divaguei, pra variar. Não queria dizer nada sobre escolhas pessoais ou problemas mundiais. Queria apenas falar um pouco sobre algumas coisas que me fizeram refletir sobre as tendências deste nosso mundinho cultural-mediático. Acabou dando nessa papagaiada toda. Mas, vamos lá, são duas as coisas:

Primeiro, acabei topando de novo na rede com os textos do Marcelo Costa, editor do finado Scream&Yell, escrevendo agora no diverso Tsc Tsc Tsc. Marcelo propõe um novo olhar sobre toda essa lenga-lenga de "pra onde vai o meu rock´n´roll"? Um novo caminho para a música pop mundial, um caminho que talvez passe aí pelo seu ladinho...

Do outro lado, a notícia da derrocada da rádio Brasil 2000 FM. Depois de acabar com o programa de rocka alternativo Garagem e perder o desportivo-humorísitico Na Geral (do hilário Beto Hora), a rádio acabou com o inovador e inteligente Blog do Tas. Já se confunde o que é causa e o que é motivo na grave crise financeira que a rádio atravessa. Tudo vai muito provavelmente acabar na venda da frequência para a transmissão da programação da Bandeirantes AM no dial FM.

Deixo que você reflita e me diga o que, no meio disso tudo, é fluxo ou refluxo, tendência irreversível ou mera pedra no meio do caminho.

Nenhum comentário: