quinta-feira, agosto 18, 2005

Sitcom



O que há de melhor para se assistir hoje na TV brasileira, em qualquer horário ou canal, sem a menor dúvida, são os depoimentos das CPIs. Trata-se praticamente de um novo gênero de sitcom, com custo de produção baixíssimo para as emissoras e estratosférico para o país.

O enredo tem potencial para agradar das bases mais populares às audiëncias mais selecionadas. Depois do arroubo operístico de Roberto Jefferson, o tom navegou entre o detetivesco e a comédia nonsense. Um quê, assim, meio de Peter Sellers. Agora, passados alguns mistérios e diversas lambanças, parece que entramos na fase mexicana. Afloram-se as intrigas, os ciúmes e os mexericos entre os personagens.

Ainda hoje, por exemplo, o ponto alto do depoimento de Delúbio Soares à CPI do Mensalão não se deveu a nenhuma declaração do depoente. O babado da tarde foi revelado com indignação pelo deputado Fulano de Tal (desafortunadamente, às vezes faltam legendas com os nomes dos interrogadores), narrando aos presentes as supostas declarações feitas por supostos colegas da outra comissão ali ao lado, a CPI dos Correios. Os deputados ACM Neto e Onyx dos Pampas teriam se referido à CPI do Mensalão como “CPI do Abafão”, por conta da transferëncia de alguns documentos entre uma comissão e outra.

Todos demonstraram indignação. Não faltaram tiradas provocadoras, deixando a entender que o pessoal da CPI dos Correios só quer holofotes O presidente da turma, Senador Almir Lando, não deixou barato, comprou a braveza dos colegas e já prometeu Comissão de Ética aos indecorosos.

Entre tapas e beijos, só há de se esperar que nem a turma dos holofotes nem a patota do abafão percam o foco do enredo.

Por outro lado, um certa competitividade entre as CPIs pode ser até salutar. Se o sinal de sucesso das comissões for a geração de fatos concretos que levem a inevitáveis condenações, esse tipo de richa pode fazer aumentar a sede de sangue dos parlamentares. E, não me levem a mal, mas talvez Brasilia esteja precisando de um pouco de terror jacobino. Diziam há pouco mais de duzentos anos que há males que só podem ser expurgados com uma boa guilhotina.

Com esses deputados que estamos agora conhecendo pela TV, porém, é muito mais provável que tudo não passe de um ciumezinho colegial, facilmente contornável por um pedido de desculpas diplomático e um terno tapinha nas costas.

2 comentários:

Menjol disse...

Seu post só reforça a minha impressão de que a maioria da espuma fabricada nas CPI´s não ajuda em nada. Aliás, talvez ajude sim. Talvez ajude a imprensa porca e falida e melhorar seus resultados financeiros.

Anônimo disse...

O máximo que uma CPI pode fazer é reunir provas e encaminhá-las ao Ministério Público.

As Comissões substituem o trabalhoh da delegacia. Só isso.

Agora, o maix bizarro é que independente da investigação parlamentar TAMBÉM rola a policial.

O que fazer com depoimentos com um teor aqui e outro ali? Pois é, tudo vai para o mesmo conjunto probatório.

Ao final, esssa bagunça acaba só prejudicando.

Mas os parlamentares sabem disso. Não são bobos. Usam a CPI como circo, para queimar o adversário ou se promoverem.

Já viu aquele negócio de fazer um super ultra discurso e depois não perguntar quase nada? É esse o espírito.