terça-feira, novembro 19, 2002

Fazendo a mesma relação, a sinopse de O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, fará você temer aquele dramalhão sentimental com cara de novela das seis: quarentão divorciado vive as atribulações do dia-a-dia, dividindo-se entre a ex-esposa temperamental, a filha pré-adolescente, a namorada pós-adolescente, o pai ancião, a mãe doente e a administração do seu tradicional restaurante herdado da família - logicamente, entre todos estes, a maior parte da atenção vai para o restaurante. Então, um piripaque cardíaco faz o quarentão estressado rever seus planos, repensar suas prioridades e reconstruir sua vida.

Brega, né? Brega nada, vida. Sem sentimentalismos piegas ou soluções fáceis, o filme vai destrinchando, com extrema sensibilidade, humor e emoção, alguns nós e angústias presentes nesta nossa louca vida moderna. Ou talvez o problema não seja a vida moderna, mas sim algumas escolhas que temos que tomar desde sempre, relativas a temas não tão novos assim: amor, auto-realização, família, reconhecimento, amizade.

O quarentão aqui é Ricardo Darín (o mesmo vigarista sênior do Nove Rainhas, lembra?), fantástico. O piripaque dele traz à tona alguns problemas, mas as soluções mais fáceis não são sempre as verdadeiras. Os problemas tem raízes mais fundas, e as soluções verdadeiras dão trabalho de encontrar. Nesse processo, entra em jogo também um novo plano do seu velho pai. Esse plano envolve também sua mãe, e como ambos estão nos últimos suspiros, também torna-se um dilema para o quarentão apoiar ou não este derradeiro sonho.

Fazendo força para evitar o nacionalismo barato, temos que dar o braço a torcer - O Filho da Noiva, assim como Nove Rainhas, é um exemplo que o novo cinema argentino oferece também para nós da terra brasilis. Exemplo de como ser inteligente sem ser pretensioso, de como tocar temas profundos e ter sensibilidade sem necessariamente abusar de lirismos, metáforas, regionalismos, pores-do-sol e magníficas paisagens. O novo cinema argentino escancara a dura situação do seu país, mas ao mesmo tempo é universal, contemporâneo, real e urbano.

Cidade de Deus, mesmo muito diferente destes dois exemplos, já deu um passo a frente. Quem sabe estará no Oscar deste ano - se nenhum filme argentino atravessar o caminho novamente.

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http://www.elhijodelanovia.com/ - Site Oficial
Resenhas no Globo e no E-pipoca

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