terça-feira, novembro 19, 2002

Nove Rainhas, direção e roteiro do estreante Fabián Bielinsky, pela sua sinopse pode passar a idéia de ser mais um decalque do novo (ou não tão novo assim...) cinema americano, de Tarantino a Guy Ritchie: dois vigaristas pés-de-chinelo, unidos pelo acaso, envolvem-se num golpe milionário e enfrentam jogos, trapaças e reviravoltas em apenas um dia e meio de trama. Mas a semelhança se limita à sinopse. Nove Rainhas é mesmo novo, conseguindo ser moderno, esperto, ágil e engraçado sem em nenhum momento exibir tiroteios de escopetas ou exibir virtuosices estílisticas. Que eu me lembre, não morre ninguém em Nove Rainhas. Mas o filme não deixa de ser menos realista ou divertido por isso.

Ricardo Darín é o vigarista sênior que encontra por acaso nas ruas o jovem endividado Gastón Pauls. Sabendo que a ocasião faz o ladrão e sentindo um grande potencial ainda escondido no menino, o vigarista sênior não hesita em recrutar seu novo trainee. Cria-se então aquela relação delicada de mestre versus aluno, a delicada criação de confiança que vai se construindo e destruindo aos poucos.

Os vigaristas aqui não usam armas, são pequenos golpistas, como os velhos malandros da Lapa carioca, que com seus truques geniais vão coletando os trocados pelas ruas de Buenos Aires. O interessante é que, o que pode parecer inocente no primeiro momento, é colocado aos poucos numa moldura bem realista: ambos já vêem-se rodeados por uma cidade falida, com a população empobrecida e repleta de crianças mendigando nos faróis. Uma nova Argentina que faz lembrar muito mais o Brasil do que o orgulhoso país de alma européia de alguns anos atrás. Os vigaristas já sabem que o tempo já não é mais deles, que a violência galopa, que estão ultrapassados: precisam por isso de um novo e definitivo golpe, aquele que vai finalmente levá-los a aposentadoria. Eis que surgem então as Nove Rainhas.

É um daqueles filmes deliciosos em que se acompanha os diálogos espertos e as reviravoltas malandras com um sorriso nos lábios. Para finalizar, ainda com um daqueles finais mirabolantes, que ao mesmo tempo que faz dizer "nem f-----!!", dá vontade de ver o filme de novo para verificar se a saída faz sentido. E faz sentido - mesmo que a essa altura isso seja o menos importante.

Leia mais:
No Scream&Yell - o novo cinema latino versus novo cinema brasileiro.
No La Butaca - uma resenha espanhola.

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