Why deny the hype?
Depois que comecei meu mergulho no mundo blogueiro não passo um dia sequer sem dar de cara com o nome de Charles Bukowski. O velho escritor, beberrão beatnik, parece ser um dos maiores lugares comuns da “cultura alternativa”, “nova literatura”, “escritores independentes”, “geração Y” ou seja lá o que for. Amado, odiado, sempre estão lá, seja falando dele, seja apenas citando seu nome.
Por Odin, como nunca li nada desse cara antes? Mas que raios, ora bolas, também sou curioso, fui pegar algo pra conferir. Tinha lido em algum lugar que a onda era tal que seus livros tinham preços inflacionados nos sebos, devido à raridade. Mas encontrar algo não foi difícil nem caro - a LP&M lançou alguns títulos em sua coleção de livros de bolso (aqueles branquinhos e baratos, a venda até em lojas de conveniência, sabem?). Escolhi e comprei o “A Mulher Mais Linda da Cidade e Outros Contos” que, como o nome diz, é um livro de contos.
Entre altos e baixos, gostei bastante. Ao menos me deixou com vontade de ler algum romance dele. Mas Bukowski não virou meu Deus. Bem menos, passou longe disso...
De certa forma, porém, foi possível entender um pouco da idolatria e do apelo que o velho beberrão tem hoje. Sua literatura é auto-referente, ou seja, Bukowski coloca no papel suas experiências e sentimentos. De uma forma bastante direta e crua, quase sempre pela perspectiva mais disponível, a sua. Lembra algum fenômeno atual da internet?
O universo dos contos é bem pesado. Repleto sempre de bebidas, mulheres, ociosidade, piadas escatológicas, taras, loucos variados e vícios diversos. Entre longas narrativas de bebedeiras e enjôos, Bukowski encaixa alguns diálogos e sacadas geniais e faz uma ou outra reflexão interessante sobre a futilidade do homem, da América ou do Dry Martini. Essas reflexões são a melhor parte da leitura.
A questão é que esse foco auto-referente torna-se muitas vezes limitado. Há contos realmente muito bons, mas o tal “umbiguismo” acaba sendo cansativo. Na verdade, não me cansei da escrita de Bukowski, me cansei dele. O que, nesse caso, acaba dando na mesma. Talvez seu estilo dê melhor resultado na poesia, e realmente dizem que as suas são muito boas.
É claro que há muito espaço para arte no simples colocar de emoções sobre o papel. Por outro lado, sempre acreditei que o grande barato, a genialidade do escritor, está na criatividade, na sua capacidade de criar situações e personagens e de possuir empatia e sensibilidade suficientes para preenche-los de emoção autêntica e torná-los reais. Coisas como Chico Buarque e suas personas femininas, só para dar um exemplo descabido.
Bukowski é um bluesão de raiz, um desabafo cru, rasgado e visceral. Recomenda-se sempre ouvir blues, fortalece a alma. Eu adoro. Mas, às vezes, dá vontade de ouvir algo mais do que isso.
Leia mais em inglês:
http://www.levee67.com/bukowski - bio e biblio grafias
http://www.mindspring.com/~stewarts/poetry.htm - poesias
http://www.mindspring.com/~stewarts/bibliography.htm - alguns textos
Leia mais em português:
http://www.conradeditora.com.br/buk/ - biografia e trechos
http://fraude.org/joca.php - esse não acha tudo isso
http://www.screamyell.com.br/literatura - já esse gostou
brasileira!preta - a nossa bukowaska
Nenhum comentário:
Postar um comentário