terça-feira, novembro 05, 2002



Fim do Garagem

Ontem, às 22 horas, foi transmitida a última edição do Garagem, programa semanal da rádio Brasil2000 FM dedicado ao rock alternativo em geral, produzido e apresentado pelos voluntários André Barcinski, Paulo César Martin e Álvaro Pereira Júnior. Segundo essas três figurinhas carimbadas do jornalismo musical, o programa foi tirado do ar pela direção da rádio.

Nunca concordei “ideologicamente” com o Garagem, com sua crítica generalizada a tudo que é MPB e com os ataques sistemáticos aos bodes expiatórios preferidos do programa: sinhô Caetano e o atual “trio-balista” (aqui aproveito para confessar que curto bastante a Marisa Monte, acho o Carlinhos Brown e o Arnaldo Antunes exageradamente viajantes, mas reconheço seu talento; quanto a Caetano, já devia estar internado, mas seu passado tem muito crédito). Sempre achei que isso tudo, mais o lance de destruir CDs com furadeira, acabavam reforçando uma idéia de pretensão, sectarismo e exclusivismo da música alternativa (e sempre achei que o objetivo deveria ser o contrário).

Pode parecer contraditório (que novidade, eu contraditório...), mas mesmo assim, eu ouvia, gostava e, por consequência, lamento bastante esse final repentino. Era o tipo de programa com o qual você pode não concordar racionalmente, mas ainda assim se diverte muito com ele. Eu fazia o papel de ouvinte "mulher-de-malandro", "bate que eu gosto" - e suponho que era essa discordância que fazia a graça. Eu sabia que o polemicismo era barato e sem sentido, proposital até, mas mesmo assim não deixava de ser engraçado. E ainda haviam as músicas, sempre agradavelmente desconhecidas.

É pena também pela perda de um dos poucos espaços na mídia para músicas que não entram no esquemão do set-list jabazeiro das FMs de rock. Além também do papel jornalístico e ativista que o programa exercia na cena de rock alternativo. Os indies agora, pelo menos nas ondas do rádio, estão órfãos. Ou dá pra se contentar com o Kid Vinil?

O Garagem era pretensioso e sectário, mas também era engraçado, musicalmente diferente e deliciosamente politicamente incorreto. Talvez seu trio de agitadores ainda finque a bandeira em um novo espaço, quem sabe. Até lá, que vayan com Dios.

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