quinta-feira, maio 15, 2003



Carandiru em Cannes

A seleção de Carandiru para a mostra oficial do Festival de Cannes me fez lembrar uma teoria que o Alex Antunes propôs já há algum tempo. Era mais ou menos assim. As reações, da opinião pública e da crítica, a um determinado fato ou expressão cultural, sofrem de um certo "delay" no tempo. Ou seja, chegam um tanto atrasadas e acabam atingindo o alvo errado.

Isso explicaria, por exemplo, as reações adversas ao Cidade de Deus, que metralharam o filme pela sua "glamourização da violência" e "cosmética da pobreza". Na idéia do Alex, estas críticas na verdade deram vazão a um sentimento acumulado durante outros sucessos do novo cinema brasileiro, como Central do Brasil e Eu, Tu, Eles. Cidade de Deus apenas pagou o pato, injustamente, pela demora desta reação.

Então fico aqui pensando com meus botões que só isso pode explicar a seleção de Carandiru para o festival. Carandiru é um bom filme, Babenco tem nome, influência, coisa e tal. Mas essa indicação deve muito à onda de choque provocada pelo filme de Meirelles. Cidade de Deus causou furor ano passado em Cannes, quando foi exibido na mostra não-oficial. E talvez a reação de reconhecimento ao novo cinema urbano brasileiro tenha demorado um ano para chegar.

Reconhecimento certo, alvo errado. Porque os filmes são incomparáveis, sob qualquer perspectiva.

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