sábado, maio 10, 2003



Divagações de uma mente preguiçosa

Já se tornou praxe. Sempre que este bloguito começa a ter crises de ânimo e entra num ritmo mais e mais letárgico, devagar quase parando mesmo, aparece o criador (modestamente, eu mesmo) decretando a solução dos problemas: hei de mudar tudo, do lay-out aos links, do estilo à proposta, da cor de fundo ao tamanho da fonte. E profetiza: da mudança, se fará a luz.

Mas do grito "haja um novo template!", nada se fez, nada surgiu. E como que por birra, da ordem "faça-se mais frequente!", tudo se tornou cada dia mais rarefeito, as galáxias se afastando, o espaço se esticando, a matéria se dissipando. Quase o vácuo, quase o fim. Quase um mês de um blog catatônico.

É fácil entender que o problema (ou a solução para o problema...) não está na mudança do lay-out, na renovação do ambiente. Suspeito que meu buraco é mais embaixo, no bom sentido é claro. Perigando plagiar o Wando, acho que é uma questão de manter o tesão, o prazer e o desejo. Porque é até simples descobrir algo que te dá tesão, que se gosta de fazer e que se querer fazer. Díficil mesmo, é se entregar definitivamente a esse algo. Encontrar a maneira de assumir, de matar a vontade, de vestir a camisa de verdade.

Não, amigos, não estou soltando a franga. Isto não tem nada a ver com lantejoulas e purpurina. Sei que estou sendo extremamente confuso, vago e prolixo. Provavelmente até, a esta altura ninguém mais está levando estas linhas à sério. Mas infelizmente, sim, estou tentando falar a sério. Tudo isso tem a ver, na verdade, com escrever. Com gostar de escrever, com querer escrever, com como achar uma forma de escrever e como vestir essa camisa de vez.

Li um frase há um tempo atrás, já não lembro onde nem de quem: "o sujeito que escreve carta pra jornal, das duas uma: ou é louco, ou quer ser articulista". Não dá pra levar ao pé da letra, mas que tem sua razão, ah tem. Sempre gostei de escrever. E na tal da internet, no tal "mundo bloguento", encontrei um ingrediente perigoso a este prazer pecaminoso: o lado de lá, o outro, o leitor. No man is an island, como diria Jon Bon Jovi, e quem não escreve para os outros que coloque seus textos na gaveta. É claro que não é só questão de ego, é a interação, é a possibilidade de comunicação, divulgar, influir, debater, sentir-se parte. Mas é lógico, é questão de ego também. Quem não gosta de ser reconhecido, afinal? Ainda mais por algo que, de verdade, gosta de fazer?

Pois é, descobri que ainda gostava de escrever e então o blog me trouxe, além da disciplina (não muita...), alguns pobres incautos que leram e, irresponsáveis, até que gostaram. E me deram idéias, esses incautos. Me criaram expectativas, os cruéis. E mesmo sabendo que há muita gente por aí que, mesmo com muito mais estofo do que eu, ainda não conseguiu, pensei que talvez houvesse uma pequenina possibilidade lá no fundinho do túnel de que um dia eu pudesse fazer desse prazer um novo modo de vida.

Não desisti. Mas também não virei a mesa, nem mesmo entrei para a Escola Panamericana de Artes. O irônico é que, vivendo neste dilema, acabei perdendo o tesão, o desejo, o prazer. Dilemas, ó, dilemas... Mas não pensem que não podia ficar pior: acabei criando um dilema sobre o dilema: será que não tinha mais tesão de escrever, ou não tinha mais tesão por esse bloguito? Precisaria eu de um viagra editorial? Ser ou não ser, é esta mesmo a questão?? Como diria a Ionita, devo sofrer de problemas psicológicos severos.

É difícil de acreditar mas, de toda essa divagação, emergi com uma resposta. Ou algumas, talvez. Quem disse que toda essa viagem ao didentro não ia me poupar uma ida ao analista? Antes, porém, queria contar uma estorinha, só pra deixar as coisas mais claras. Se alguém conseguiu sobreviver a este texto, não custa nada acompanhar mais um pouquinho. Tá com sono, já? Tá bom, então a estorinha fica para amanhã, pois agora já é mesmo tarde e a labuta pela manhã não tarda.

Nenhum comentário: