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sexta-feira, janeiro 31, 2003
Momento Isso É Música Para Meus Ouvidos
Rock Energético
Há muitos anos, em uma galáxia distante, houve um tempo em que músicos de rock usavam longas cabeleiras e vestiam jaquetas de couro. Guitarristas virtuoses transpiravam solos acelerados, enquanto os vocalistas eram dominados por uma energia frenética, resultado de um estado artificialmente alterado.
Não, não estou falando dos anos 80, das bandas de heavy-metal ou do hard-rock farofa. Tudo isso já era de certa forma uma expressão decadente. Quero ir mais para trás, para quando o peso, a sujeira e a velocidade eram a novidade, mas ainda continham muito da rebeldia adolescente e da tensão sexual do bom e velho rock´n´roll.
Misturar energia, peso e velocidade, mas manter o pé-na-cozinha, ser fiel às raízes bluesadas do rock. Receita básica que atravessou décadas, desde a insanidade do The Who e Stooges, passando pelas explosões do Led Zeppelin, Deep Purple e Lynyrd Skynyrd, resgatada pelo punk dos Ramones, mantida viva por coisas tão diferentes como AC/DC ou Steve Ray Vaughan.
Hoje porém vivemos tempos diferentes. Numa época em que o legal é ser cool, esse tipo de energia e vibração pode ser visto como afetação, pieguice ou exibicionismo. Por esse motivo, parecia mesmo improvável que, no meio das dezenas de bandas "salvadoras do rock" que apareceram nos últimos dois anos, despontasse algo como os Hellacopters. Ainda por cima, vindos da gelada Suécia.
Hellacopters é tudo que você tinha saudade no rock mas tinha vergonha de pedir. Um tipo de som que parece até estranho no formato CD, faz você se lembrar das velhas bolachonas de vinil onde se lia a mensagem: "ouça alto". Bastante saudosista sim, mas cheio de energia e vitalidade. Uma verdadeira chacoalhada para aqueles que já se cansaram de vocalistas depressivos, do som das guitarras do britpop, das misturas esquisitas de influências. Correndo por fora, fazem as manifestações roqueiras de New York e Detroit (Strokes e White Stripes, respectivamente) parecerem pose de crianças.
Apesar de estarem na estrada desde 1994, esses suecos malucos conseguiram projeção internacional somente nos três últimos discos, justamente aqueles lançados no Brasil (na verdade, o último ainda tem o lançamento por aqui prometido para o início deste ano). High Visibility, de 2000, é a porta de entrada ideal. Está tudo ali, finamente reunido, sem sobras ou excessos. Cream of the Crap!, de 2001, é o primeiro volume de uma coletânea de antigos EPs e singles. Traz muito do início da banda: a mesma energia, mas em um som mais cru, capaz de agredir ouvidos desavisados. O disco mais recente é By The Grace of God, recém lançado no segundo semestre de 2002. Diz-se que o disco é o mais comercial dos suecos. Certamente as melodias são um pouco menos inocentes e o som está mais maturado - o que nem sempre pode ser um bom sinal para uma banda como eles, mas o resultado continua sendo primoroso.
Os entendidos têm classificado a música dos suecos como "stoner-rock" (algo como "rock-chapado"). Colocam o mesmo rótulo no Queens of The Stone Age, por exemplo. Para mim, os dois são bem diferentes. Além de ser "rock-energético", os Hellacopters conseguem resgatar o espírito descompromissado, alegre e despreocupado dos velhos tempos de Chuck Berry, com suas letrinhas falsamente pueris unidas ao ritmo alucinante.
Eu sei que é só rock´n´roll. Mas eu gosto...
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