segunda-feira, agosto 25, 2003



Primavera




Sempre tive uma certa fascinação pelos acontecimentos do ano de 1968. Principalmente pelos levantes estudantis de Maio, em Paris, e pela Primavera de Praga.

Às vezes tento pensar na razão dessa fixação. Só consigo, no entanto, enxergar como isso denuncia uma série de contradições minhas. Talvez ninguém note, talvez eu consiga esconder, mas definitivamente é isso - sou um sujeitinho um tanto contraditório.

Tento sempre ser coerente, analisar tudo com bom senso, faço poses de equilibrado. Mas por traz da mente racional, bate um idealismo bobo e piegas. E só pelo fato de eu me referir a ele como bobo e piegas, já se vê como ele tem sido escondido e mal-tratado.

Na luta contra o excesso de superego, talvez seja bom dar ouvidos às besteiras sem sentido que diziam aqueles estudantes romanticamente malucos - sejamos realistas, exijamos o impossível.

Enfim, há 35 anos os tanques russos entravam em Praga e davam fim àquela primavera. Alexander Dubcek, o líder da Checoslováquia naquela altura, talvez estivesse exigindo o impossível - tentara flexibilizar a rigidez do regime, permitir o trânsito livre de pessoas, liberar a imprensa. Criava sua experiência de “democracia comunista”. Durou pouco. Mas aconteceu.

No último domingo o Estadão publicou um texto muito interessante, comparando a ação tomada pela URSS na época à estratégia adota pelos EUA na atualidade. Idealismo anda meio fora de moda, mas vale a pena ler.

"Quando a União Soviética se desintegrou, mais de 20 anos depois, os observadores ocidentais ficaram chocados. Eles já haviam se esquecido de 1968. Mas na época da invasão até a revista Time previu a queda: era o fim da Rússia heróica. Um país muito admirado por ter se atrevido a ficar sozinho e construir uma sociedade socialista, por proteger outros países socialistas, por sacrificar milhões cidadãos a fim de livrar a Europa do fascismo havia se tornado, simplesmente, um tirano que esmagava os países menores.

Uma superpotência que não representa mais nada, na qual ninguém mais acredita, que é vista apenas como tirânica, cairá a despeito de seu poderio militar. Se o governo Bush alguma vez quis refletir sobre a História, poderia pensar nisso."


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