Em tempos de Regina Duarte e carros-bomba sem sentido, ainda prefiro um pouco de poesia...
Pois paz sem voz,
não é paz, é medo.
Marcelo Yuka, 1999
O Medo
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava
O medo com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa curta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema: outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus; vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo.
eles povoam a cidade,
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, não fora a mágica
Presença das estrelas!
As duas últimas poesias foram roubadas do blog da Tchela... Pode ir lá que ainda tem muito mais...
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