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terça-feira, outubro 29, 2002
Perdoai-os, eles não sabem o que falam
Com a palavra o colunista social do Estadão, Cesar Giobbi...
Portas abertas
O Brasil, uma hora ou outra, ia ter de viver esta experiência de esquerda. Pois não há melhor momento do que este. O País está estruturado, organizado, saneado. FHC deixou tudo pronto, inclusive portas abertas para mais mudanças e consertos. O que não deu para fazer foi porque o PT não deixou. Mas vai ter de fazer agora. Portanto, mais do que um governo de ruptura, este vai ser um governo de continuidade. Embora o discurso seja completamente outro, a verdade é essa mesmo. Graças a Deus. Porque o Brasil, com suas exigências, é maior do que qualquer ideologia. Começa, portanto, em janeiro, a administração Silva & Silva. E vamos todos torcer para que dê certo. O que ninguém quer é que o Brasil ande para trás.
Ao ler isso, num primeiro momento, senti um misto de raiva com desgosto (vcs já perceberam como adoro sentimentos misturados...). Esse "torcer pra que dê certo", na verdade preenchido pela ironia e pela inevitabilidade do "já que é assim, fazer o quê", é duro de engolir.
Mas o pior para o meu estômago foi a notinha seguinte. Não era opinião dele, simplesmente um relato do pensamento de terceiros:
Adesivo ressentido
Assim mesmo, há quem tenha ficado ressentido com os resultados mais do que esperados das urnas. Já se ouviu, no fim de semana, em almoços, gente dizendo que vai usar nos vidros dos carros adesivos dirigidos aos pedintes e ambulantes das esquinas. Nos adesivos, a frase: "Vai pedir pro Lula."
Nesse ponto fiquei fulo mesmo. Cogitei até enviar um e-mail para o tal colunista; depois pensei que seria melhor achincalhá-lo aqui mesmo.
Mas não vou achincalhar ninguém. César Giobbi assina sua coluna e, portanto, escreve o que bem entender. Tem o direito de destilar a vontade sua mágoa ressentida e de expressar a ignorância da aristocracia paulista como quiser. Talvez seja difícil de acreditar, mas agora não são mais eles que estão no palácio. E isso deve doer.
Discordâncias e cobranças são sempre salutares e necessárias. Com certeza o novo governo sofrerá críticas ferozes. Algumas serão embasadas, coerentes e construtivas; outras, infelizmente, virão como aquelas acima: ignóbeis, preconceituosas e limitadas. A verdade é que sempre vai haver esse tipo de opinião, de ambos os lados deve-se dizer. Mas não vou "patrulhar" o pensamento dos outros, como dizem por aí. Apenas discordo e lamento.
Triste é ver esse tipo de opinião publicada e assumida. Triste é constatar a ainda gigante miopia de certas pessoas, incapazes de perceber que estamos todos no mesmo barco.
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