quarta-feira, outubro 23, 2002



Momento Supercine de Cinema

Filmes fora da Mostra SP de Cinema
(porque ainda existem filmes em cartaz que eu ainda não vi...)


CASAMENTO ARRANJADO

Zaza é um cara solteiro de 32 anos de idade. É simpático, boa-pinta, moderno. Como diz seu pai, tem um carro do ano, TV de tela grande, um som da Sony último tipo. Papai sabe de tudo isso pois é papai quem banca tudo. Zaza está prestes a acabar seu doutorado em Filosofia na Universidade de Tel-Aviv. Não trabalha, portanto.

Do ponto de vista de sua família judia conservadora, Zaza é um solteirão. Pior, é um baita dum bom partido, queridinho da mamãe, mas ainda solteirão. Como isso?! Zaza deve casar, e logo. É preciso arranjar uma pequena virgem judia, de alma limpa e ilibada, se possível também razoavelmente rica.

Problema é que Zaza não quer se casar. Se finge de morto, tem outros planos. Está apaixonado por alguém que não se encaixa naqueles padrões. Pronto, está desenhado o filme: a luta do amor de um homem versus a vontade da família e a força da tradição.

Mas não é bem assim. O diretor israelense Dover Kosashvilla, em seu primeiro longa metragem, tem uma proposta mais realista. Zaza não é Romeu e sua amada não é Julieta. E Casamento Arranjado (Israel, 2001) pode deixar as almas românticas um tanto quanto incomodadas.

Num dos diálogos mais legais do filme, Zaza mostra que acredita no amor da mesma maneira que, como filósofo, acredita em Deus. Com esperança, mas hipoteticamente. Desejando que ele exista, mas sem fé verdadeira. Espera que o amor o liberte. Mas será que vale a pena?

É tentar se enganar se pensarmos que a família, a tradição e a continuidade religiosa são as únicas barreiras. A famosa Mãe Judia nesta estória tem um papel forte e determinante (além de muito engraçado). Mas quem, mesmo sem mãe conservadora, nunca enfrentou essa encruzilhada, nunca se colocou em dúvida ao ter de escolher entre o certo e o incerto, a realidade estável ou o sonho trabalhoso? Mais forte que a tradição é a comodidade. Ou talvez, uma coisa leve a outra.

Como aquele chiclete que agora esqueci o nome, Casamento Arranjado é agridoce. Nos EUA os exibidores devem ter quebrado a cabeça para classificá-lo – seria uma comédia romântica ou uma comédia dramática? Os diálogos e a edição tem um ritmo lento, que se estranha até. São raras as cenas em que dá-se o direito à música de fundo. As piadas e o humor entretanto estão sempre presentes. Porque a realidade com freqüência é ironicamente amarga, mas nem sempre possui trilha sonora.

O preço a pagar pode ser alto - Zaza vai assumir a fatura? Ora, não esperem que eu conte o final...

Leia mais:

http://www.celluloid-dreams.com/late/ - Site

http://www.uol.com.br/mostra/jornal/jornal112.htm - Falatório exagerado sobre a cena de sexo (é muito realista, bonita, mas é isso)

Scream&Yell - Procure na seção de cinema do finado zine a ótima resenha do Marcelo Costa.

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