sexta-feira, dezembro 30, 2005

Feliz 2006






You can't always get what you want
but if you try sometime
you just might find
you get what you need


quinta-feira, dezembro 29, 2005

Dos acontecimentos mais recentes



Desculpas àqueles que ainda insistem em me procurar por aqui. Quando a vida corre depressa, não tem jeito, este blogue fica de lado. E, meu Deus, para mim 2005 passou de uma forma assustadoramente rápida. Quando novembro chegou me senti atordoado – outro final de ano, outro aniversário (30!), outras férias, mas JÁ? A fugacidade do ano, porém, não conseguiu me enganar. O ano passou a jato, mas não foi nem leve nem suave. Foi pesado. E eu me sentia, já em novembro, como tendo sido atropelado por um trator. Estava cansado, e quase exclusivamente por causa do trabalho, uma ainda insistente fonte de stress, correria, desmotivação e noites mal-dormidas.

Foi este estado que me levou a não desistir de tirar férias ainda neste ano. Mesmo com tudo já planejado anteriormente, tive que forçar bastante a barra para conseguir mesmo sair. Convencer os outros e convencer a si mesmo que as coisas podem continuar funcionando sem a sua magnânima presença não são coisas fáceis de se fazer.

Tudo acabou dando certo. Conseguimos passar uma semana em Buenos Aires, eu e minha digníssima senhoura. Está certo, já tinha passado um mês lá nas minhas últimas férias mas, acreditem, vale a pena. Se quiser ir ao Primeiro Mundo e anda sem dinheiro para gastar na Europa ou em NY, meu amigo, Buenos Aires é a melhor pedida. Tudo do bom, e tudo barato. É claro, também havia um argumento emocional – tinha que levar minha garota favorita até uma das minhas cidades favoritas, oras.

O efeito colateral é que o dinheiro reservado para o mês de férias acabou-se na primeira semana. Com o cobertor curto, o jeito foi planejar passar o restante dos dias, incluindo Natal e Ano Novo, aqui mesmo em Sampa, com a família e os amigos que ainda ficarem na cidade. Até agora tem sido bom, muito bom. Tenho aproveitado para curtir o ap, arrumando as coisas com mais tempo e carinho. Tenho dormido e lido muito também. Foi aberto um sebo na avenida aqui ao lado, já há algum tempo, e minha primeira visita rendeu duas aquisições – Complexo de Portnoy, do Philip Roth e Memorias de Brideshead, do Evelyn Waugh. Com o tempo ocioso, no entanto, daqui a pouco já liquidei os dois e o livreiro vizinho deve ganhar uma segunda visita.

Volto ao trabalho somente no dia nove de janeiro. Depois do reveillon tenho ainda mais uma semana para planejar 2006. Começo o ano com muitas pretensões, mas sem dinheiro algum. Minha grande ginástica vai ser fazer com que essas duas coisas – a falta de dinheiro e os planos – não se tornem conflitantes. Ai ai.

Nesta pindaíba, o jeito é começar o ano com uma daquelas promessas típicas – emagrecer. Até onde eu sei, ainda não se gasta dinheiro fechando a boca. Vamos ver no que dá.

segunda-feira, novembro 21, 2005

Youth gone wild



So they say you're trouble boy
because you like to destroy
things that bring idiots joy
well what's wrong with a little destruction


The Fallen - Franz Ferdinand (2005)



terça-feira, novembro 01, 2005

Cenas da vida



Faço trinta anos no domingo. Estou numa lan-house agora. E um moleque acaba de me chamar de "senhor".

Isso já me aconteceu outras vezes, claro. Mas hoje eu dispensaria a cortesia.

quinta-feira, outubro 13, 2005

E no melhor futebol do mundo



Na televisão aqui ao lado, assisto a bagunça generalizada no jogo entre Santos e Corinthians. O campeonato brasileiro hoje oferece a perfeita analogia de um Estado desmoralizado. Como diria o cientista político, a autoridade perdeu sua legitimidade. Basta uma arbitragem medíocre, cheia de lambanças, para que a mera incompetência passe a ser interpretada como ladroagem, injustiça, resultado comprado. Daí são dois passos: jogadores revoltados, torcida invadindo o campo, polícia descordenada, jogo interrompido. Tudo isso num jogo remarcado em razão de crimes anteriores. E todos reclamam, cada um puxando sardinha para o seu lado, sem nenhuma coerência ou equilíbrio. Vem mais bagunça por aí – estádio interditado, mais gritaria. Vou ficar surpreso se este campeonato chegar ao final.

terça-feira, outubro 11, 2005

Traindo Evelyn Waugh



It seems to me that a prig is someone who judges people by his own, rather than by their, standards; criticism only becomes useful when it can show people where their own principles are in conflict.


A frase acima foi pinçada de um dos últimos pocket-books de 7 reais da Penguim que comprei, The Coronation of Haile Selassie, de Evelyn Waugh. É um pequeno ensaio sobre a coroação do último Imperador da Etiópia, em 1937, testemunhada in-loco pelo escritor inglês. Minha primeira leitura dele e eu, que esperava algo muito mais satírico, fui surpreendido por um equilíbio elegante entre fidelidade jornalística, ironia aristocrática e sensibilidade sincera.

Essa frase, no entanto, nao tem nada a ver com a Etiopia. Faz parte de um trecho do ensaio onde Waugh faz uma pausa na narrativa de viagem e parte para algumas divagações sobre o jornalismo. Esse trecho é tão interessante que me deu vontade de traduzí-lo. Para praticar um pouco, afinal. Tradução é algo que me interessa. Quem sabe, uma atividade futura, pós virada de mesa. E captar a elegância do texto do Waugh me pareceu um desafio interessante para um exercício amador. Pretensioso, vá lá, mas não me importo em fracassar.

Particularmente, foi essa tal frase, a mesma me capturou especialmente, a que mais me ofereceu dificuldade. No final, a traduzi assim:

Parece-me que ser pedante é ser alguém que julga os outros, ao invés de com os critérios destes, com os seus próprios; a crítica só se torna útil quando se pode demonstrar às pessoas que seus próprios princípios estão em conflito.

Não gostei. E aceito sugestões.

Enfim, vou colocar o trecho todo aí embaixo. Vale a pena ler, apesar da tradução.

Foi muito interessante para mim, quando os jornais começaram a chegar da Europa e da América, comparar minhas próprias experiências com aquelas dos diferentes correspondentes. Eu tinha a sorte de trabalhar para um jornal que valorizava a acuidade dos fatos antes de qualquer outra coisa; mesmo assim fui traído por alguns erros. À economia telegráfica pode-se creditar alguns deles, como quando “Abuna”, o título do primado da Abissínia, acabou expandido por um zeloso sub-editor para “Arcebispo de Abuna”. Nomes próprios frequentemente acabam sendo de alguma forma corrompidos e transposições curiosas de frases inteiras ocasionalmente acontecem, de modo que em algum lugar entre Addis Ababa e Londres fui pego pela surpreendente afirmação de que George Herui havia servido na equipe de Sir John Maffey no Sudão. Erros deste tipo parecem inevitáveis. Minha surpresa, ao ler as reportagens sobre a coroação não foi a de que meus mais impetuosos colegas tenham se permitido desconsiderar alguns detalhes ou ainda que tenham caído em algum exagero ocasional sobre os aspectos mais românticos e incogruentes do acontecimento. Pareceu-me, na verdade, que havíamos sido testemunhas de uma série bastante diferente de eventos. “Trazer primeiro as notícias” e “dar ao público o que ele quer”, os dois princípios dominantes da Fleet Street, nem sempre são conciliáveis.

Não pretendo fazer com isso nenhuma condenação convencional à “imprensa marrom”. Parece-me que ser pedante é ser alguém que julga os outros, ao invés de com os critérios destes, com os seus próprios; a crítica só se torna útil quando se pode demonstrar às pessoas que seus próprios princípios estão em conflito. É perfeitamente natural a um jornal barato procurar entreter ao invés de instruir, e dar prioridade ao que é surpreendente e frívolo sobre o que é importante mas tedioso ou inintelegível. “Se um cachorro morder um homem, isso não é nada; se um homem morder um cachorro, isso é notícia.” Minha reclamação é que na luta pela precedência a imprensa barata está abandonando os próprios critérios de serviço ao público que ela mesmo estabeleceu para si própria. Quase todo jornal de Londres, hoje, prefere uma matéria incompleta, inacurada e insignificante sobre um evento, desde que ela possa ser publicada mais cedo que seus concorrentes. Mas o público não está preocupado com essa competição. O leitor, abrindo seu jornal durante o café-da-manhã, não tem nenhum interesse vital sobre, por exemplo, a situação da Abissínia. Um acidente de avião ou uma luta de boxe podem ser casos diferentes. Nestes casos, ele simplesmente quer saber dos resultados o mais cedo possível. Mas a coroação de um imperador africano significa pouco ou nada para ele. Ele pode ler sobre isso na segunda ou na terça-feira, não ficará impaciente. Tudo que ele quer da África é algo que o divirta durante a viagem de trem ao trabalho. Ele terá a mesma diversão seja ela na terça quanto na segunda-feira.O dia de atraso fará diferença, para o correspondente no local, se ele terá tempo para desenvolver uma matéria detalhadamente informada (e, em quase todos os casos, quanto melhor informada é a matéria, maior é o entretenimento que oferecerá ao leitor). Ou pelo menos isso faz esta diferença. Os fatos dentro de um jornal se tornam divertidos e excitantes a medida que a eles é dada a credibilidade de eventos históricos. Qualquer pessoa, sentada por algumas horas a frente de uma máquina de escrever, é capaz de compor uma matéria que seria ideal a qualquer editor de notícias. Desenvolveria algo sobre mortes dramáticas na família real, trens descarrilhados, lançaria o país a guerra civil, descreveria brutais e insolúveis assassinatos. Todas estas coisas seriam profundamente interessantes ao leitor a medida que ele acredita que se tratam da descrição da verdade. Se lhe fossem oferecidas como ficção tornariam-se imensamente insignificantes. (E isto demonstra a imensa lacuna que separa o escritor do jornalista. O valor do romance depende do padrão que cada livro desenvolve para si mesmo; eventos que não possuem nenhum valor como notícia podem ganhar um valor qualquer de importância de acordo com seu lugar na estrutura de um livro assim como de sua relação com outros eventos da história, da mesma forma que cores secundárias são capazes de ganhar grande intensidade em certas fotografias). O prazer de se ler os jornais populares não vem, exceto muito indiretamente, do seu direcionamento político ou dos seus “artigos de opinião”, mas da hábil iluminação que lança sobre os lugares mais estranhos – frases ouvidas nas delegacias policiais, declarações feitas ao público em cidadezinhas do interior – que repentinamente revelam inesperados novos modos de vida. Se isso se tratasse de pura invenção perderia todo o seu interesse. Assim que alguém perceba que tal reportagem foi escrita como uma sátira, propositadamente, por um jovem repórter sentado em seu escritório, não há mais nenhuma graça nas opiniões indignadas tão dogmaticamente expressas na coluna das correspondências.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Enfim, o plebiscito*



*ou referendo, como corrigiu o Gravata ali nos comentarios.

Sim, meu voto é pela proibição do comércio de armas no Brasil. No entanto, não me sinto confortável para fazer aqui alguma defesa do ‘sim’. Creio que, numa análise racional, há argumentos válidos de ambos os lados. Aliás, há tantos argumentos válidos, tantas interpretações possíveis das estatísticas, tantas hipóteses e possibilidades, que, sinceramente, não creio que seja possível chegar a uma conclusão, objetiva e pragmática, sobre qual decisão trará melhores resultados para esta nossa jovem sociedade tupiniquim.

Tomei minha posição, portanto, muito mais baseado em valores e princípios pessoais do que numa análise fria e racional. Não sei se isso é bom. Mas no minímo faz refletir sobre as possibilidades desta coisa chamada “democracia direta”. Um plebiscito, na verdade, não deveria gerar esse tipo de expectativa – análises lógicas e soluções racionais devem ser esperadas, isso sim, daqueles famosos grupos e comissões de estudo, tão desmoralizados pela incompetëncia dos nossos representantes. Plebiscito é checagem de valores, de opções morais, ideológicas e políticas.

Acho que, justamente por isso, tem me cansado todo esse debate. No início, argumentos de ambos os lados me pareciam coerentes. Abri a cabeça, me propus a refletir. Depois, foram me chegando, também dos dois lados, as patetices, os reducionismos, as chantagens emocionais, as capas de revista, os sonhos românticos, a demagogia. E concluí o que já disse antes – há análises e estátisticas para todos, e só se faz uso delas para corroborar e legitimar posições já pré-estabelecidas. E aí, chafurdar numa discussão dogmática se torna muito tedioso.

Tem me espantado, entretanto, ver uma quantidade grandes de amigos defendendo o “não”. Como eu mesmo já me senti balançado por alguns argumentos, procuro entender. Mas vejo muita gente escolhendo o “não” apenas pela desilusão, pela descrença que haja alguma mudança, por não acreditar que isso vá gerar algum efeito real. Dizem não querem comprar gato por lebre, que o plebiscito é apenas um golpe demagógico do governo. Eis aí o verdadeiro efeito do “mensalão”. Desta vez, há muita gente preferindo varrer seus valores e sua esperança para debaixo do tapete, e optando pelo medo. Amadurecemos? Ou estamos apenas paralisados pelo trauma?

Enfim, nem queria ter tocado nesse assunto. Mas os macaquinhos aqui no sotão não paravam de se mexer, precisava colocá-los para fora. Para não concluir sem citar nem mesmo um argumento a favor da minha posição, tomo emprestadas as palavras do Firpo, um dos gaúchos lá do Insanus que ficou do lado do “sim”. Acho que ele conseguiu resumir meus motivos:


(...) vou votar sim porque tendo a preferir soluções disruptivas. Acho que, se nada de radical for feito a respeito - e o Estatuto nem é tão radical assim, convenhamos - a situação só tende a se deteriorar.

(...) É possível que, aprovado o Estatuto, a situação melhore, como indicam as reduções de óbitos por arma de fogo nos últimos meses, certamente reflexo da campanha de entrega de armas; também é possível que ela piore e que realmente aconteça o cenário mad max que os adeptos do "não" usam como espantalho; e também pode ser que nada aconteça, fique tudo na mesma.

Em qualquer um dos casos, pelo menos se buscou uma solução diferente.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Ataque pelos flancos



Talvez o segredo seja começar as coisas aos pouquinhos, enfrentar os problemas aos pedaços. Comer o prato pelas bordas, como dizem. Para que começar a ler Cortázar pelo "Jogo da Amarelinha"? Ou visualizar Borges como um velho e caolho professor de literatura inglesa que adora preencher seus contos com citações e teses indevassáveis? Parece ser gostoso romantizar as pendências, torná-las tragédias, ciclópes imortais, dragões indestrutíveis. Transformar o copo d'água numa tempestade tropical sempre valoriza o esforço empenhado. Mas ainda é possível ir mais longe – atingir o estado-da-arte da super-valorização exagerando a dimensão do muro ao ponto de a única solução razoável seja não ultrapassá-lo. Enfim, alcançar o desejável estado da procrastinação justificada.

E então volto ao começo – mas para que começar a ler Cortázar pelos labirintos do "Jogo da Amarelinha"? Não, não. Melhor comer pelas bordas.

Foi o que acabou me acontecendo ano passado, quando decidi empenhar meus 30 dias de férias num curso de espanhol em Buenos Aires. Não que seja necessário ir até Buenos Aires para começar a ler Cortázar (ainda que isso seja extremamente recomendável, e que tenha valido cada centavo). Mas tive a sorte de ter aulas com um professor que era também estudante de Literatura. E o literato sujeito, que além disso tinha também ótimo gosto, gostava de utilizar seus autores preferidos como material de classe.

Então ele trouxe “A Casa Tomada”, um conto do Cortázar. E eu falava também do Borges, e ele trouxe “A Intrusa”, do velho caolho. E então, depois de dois passos simples e pequenos, percebi que a melhor maneira de conhecer Buenos Aires era ler mais coisas como aquelas. Tinha que transformar aqueles dois escritores, antes gigantes intransponíveis, em meus guias de viagem.

Por sorte estava na cidade certa para se procurar livros usados. Comprei “Todos os Fogos, o Fogo”, do Cortázar e “Antologia Pessoal”, do velho caolho. Magníficos, de cabo a rabo. Borges tem sua dificuldade, não só pela erudição, mas pelo seu universo imensamente particular. Mas é o caso clássico do empenho que torna o prazer mais saboroso. Cortázar, por sua vez, é pop no melhor sentido do termo (se ainda preservou-se algum). Possui o apelo instantâneo, a fisgada inevitável, e é ao mesmo tempo inteligente, mordaz, irresistível. “A Autopista do Sul” é dum esquematismo genial. “Senhorita Cora” rasga a alma. “A Ilha ao Meio Dia” é mágica.

Comer pelas bordas, talvez seja esse o segredo. E escrevi tudo isso porque acabei de ler agora “O Informe de Brodie”, um dos últimos livros de contos do Borges, e aquele “Evangelho Segundo Marcos”, meu Deus, me impediu de ficar quieto no meu canto. É bom demais. Comer pelas bordas, é isso.

quarta-feira, setembro 28, 2005

Weezer em Curitiba



Foi fantástico. E por hora não preciso dizer mais nada. Basta ler a opinião da própria banda, direto do site oficial:

"Wow. One of the all time top weezer shows tonight.

(...) This place was insane. The band was totally feeding off the energy in the room, creating the rare and beautiful 'perfect storm' show situation that only happens once in a great while no matter how tight a band is."


Sim, sim. Once in a while.

O relato todo está aqui.

terça-feira, setembro 13, 2005

There will be bourbon



There’s bourbon on the breath
of the singer you love so much
He takes all his words from the books
You don’t read anyway


Jeff Tweedy



quarta-feira, setembro 07, 2005

Russas



Para aliviar o espírito, nada melhor que tirar os olhos do noticiário climático e assistir a alguma partida da chave feminina do US Open de tênis. Aliás, o torneio já me valeu todas as patacas pagas pelo pacote básico da tv à cabo (que assinei, na verdade, para acessar a internet aqui de casa).

Mas falava de tênis. Assistia a partida de hoje à noite e imaginava se aquelas personagens sofridas do velho Dostoiévski tinham a estampa desta russa aqui que vejo agora passeando pela tela. São coisas assim que deviam fazer valer a pena enfrentar aqueles invernos rigorosos e famintos.

Da minha parte, enquanto todos perseguem Maria Sharapova, fico com Elena Dementieva. Prefiro discrição e não gosto de muita concorrência.




domingo, setembro 04, 2005

New Orleans



Talvez você já saiba, mas vale a pena ressaltar. Dois brasileiros estão fazendo em seus blogues um testemunho vivo do triste rastro deixado pelo Katrina .

Idelbar Avelar não estava em New Orleans, mas já morou na cidade e seu blog virou agora um centro de encontro e informação da comunidade brasileira daquela cidade. E nas suas análises, Idelber traz o olho clínico e o coração pesado de quem já tinha ali um segundo lar.

Alex Castro estava lá, e só não ficou literalmente sob o olho do furacão porque conseguiu enfiar-se num dos ônibus que evacuava a cidade. Como se não bastasse, a situação ainda obrigou Alex a deixar seu cachorro pra trás. Agora o seu relato é de agonia.

segunda-feira, agosto 29, 2005

E a pergunta foi:







Na falta de ter divulgado o evento "A Casa Caiu" com antecedência, aproveito para falar um pouco sobre ele agora. No resfriar dos acontecimentos, já que acabo de voltar do debate.

O senador Eduardo Suplicy não pôde comparecer e acabaram sendo quatro os participantes da mesa - Xico Sá, jornalista e colunista, Soninha, vereadora de São Paulo pelo PT, Mino Carta, editor da revista Carta Capital, e Claudineu de Melo, professor da Escola de Governo. Formaram uma mesa interessante, sob certa perspectiva bastante homogênea. Afinal, todos eles pertencem ao time das pessoas de esquerda que estão desiludidas, decepcionadas e!ou desamparadas pela atual crise ética, não só do PT, mas de todo a política brasileira.

Cada um deles, porém, demonstrou um estilo singular. Xico Sá, com irreverência coloquial, abusou das metáforas sentimentais, próprias de sua experiência na análise dos relacionamentos amorosos, esforçando-se para traduzir assim sua desilusão partidária-ideológica. Diz-se desencontrado pela atual perda do romantismo e dos ideais. Mino Carta, mais "realpolitik", mandou às favas a perda de tempo dos românticos e defendeu que só se faz politica através dos fatos e do possível. Desdenhou o denuncismo frouxo da midia brasileira, vendida aos donos do poder. Poderosos estes a quem não interessa, em nenhuma hipótese, o impeachment do obediente e pallociano Lula, mas que estão plenamente empenhados em enfraquecer as possibilidades de reeleição do PT. Aproveitou para desdenhar o poder de mobilização da massa brasileira e, entre outras inúmeras frases de efeito, confessou que gostaria de ver um pouco do sangue dos banqueiros derramado pelas ruas brasileiras. Mino Carta é um carismático, um provocador inteligente e sem mais compromisso, daqueles imprescindíveis a qualquer sociedade civil que queira se manter auto-crítica.

Soninha, por sua vez, fiel aos seus ideais budistas, pregou o equilíbrio, a conquista paulatina da mudanca, sempre consciente e consistente. Uma democrata, ainda confiante em conseguir renovar as instituições. Sua esperança é louvável e,sobretudo, a ser invejada nestes dias difíceis. Professor Claudineu de Melo foi um tanto mais cético. Bastante mais, na verdade. Realista, insistiu que não há democracia que possa florescer saudável num terreno de tantas desigualdades como as presentes na sociedade brasileira. Acredita que o PT começa a perder seu rumo já em Junho de 2002, ao divulgar a moderada e conciliadora “Carta ao Povo Brasileiro”, na verdade abdicando de suas diretrizes básicas de modo a garantir uma vitória mais rápida e mais certa nas eleições daquele ano. Para o professor Claudineu, não faz nenhum sentido refundar o PT se for para o partido continuar apoiando um governo que não corresponde mais aos seus ideais primeiros.

A platéia, sim, deixou um pouco a desejar. Lembrou-me bastante das CPIs – longos discursos antecedendo a cada questão. Com direito também aos poeminhas e citações filosóficas. No entanto, isso já era de se esperar. O povo anda querendo se expressar, principalmente o povo ali presente, a maioria gente engajada na luta social, trazendo um sentimento de traição e abandono entalado na garganta. Foi pena que, num certo momento, a coisa se transformou um pouco numa limitada terapia de grupo do PT, sem avançar sobre as implicações futuras dos dilemas que se colocam agora à frente não apenas de um partido, mas de toda a sociedade.

Resta só parabenizar a Soninha por mais essa iniciativa de política participativa. Ela me parece ser daquelas que ainda acreditam que a mudança vem através dos detalhes, aos pouquinhos, passo-a-passo. E demonstra ter a paciência e a vontade necessárias para enfrentar o saco da política institucional (coisa que faz tanta falta ao nosso bonachão presidente). Basta dar um olhada no seu site para observar um exemplo básico de vontade de transparência polîtica.

E parabéns também ao pessoal do seu diretório, os responsáveis pela organização. Meu amigalhaço Gravata, por exemplo, estava lá e esfolou seus dedinhos para conseguir transcrever todo o debate no blog do evento. Graças a ele, para ler tudo o que se disse por lá basta clicar aqui.

quinta-feira, agosto 18, 2005

Sitcom



O que há de melhor para se assistir hoje na TV brasileira, em qualquer horário ou canal, sem a menor dúvida, são os depoimentos das CPIs. Trata-se praticamente de um novo gênero de sitcom, com custo de produção baixíssimo para as emissoras e estratosférico para o país.

O enredo tem potencial para agradar das bases mais populares às audiëncias mais selecionadas. Depois do arroubo operístico de Roberto Jefferson, o tom navegou entre o detetivesco e a comédia nonsense. Um quê, assim, meio de Peter Sellers. Agora, passados alguns mistérios e diversas lambanças, parece que entramos na fase mexicana. Afloram-se as intrigas, os ciúmes e os mexericos entre os personagens.

Ainda hoje, por exemplo, o ponto alto do depoimento de Delúbio Soares à CPI do Mensalão não se deveu a nenhuma declaração do depoente. O babado da tarde foi revelado com indignação pelo deputado Fulano de Tal (desafortunadamente, às vezes faltam legendas com os nomes dos interrogadores), narrando aos presentes as supostas declarações feitas por supostos colegas da outra comissão ali ao lado, a CPI dos Correios. Os deputados ACM Neto e Onyx dos Pampas teriam se referido à CPI do Mensalão como “CPI do Abafão”, por conta da transferëncia de alguns documentos entre uma comissão e outra.

Todos demonstraram indignação. Não faltaram tiradas provocadoras, deixando a entender que o pessoal da CPI dos Correios só quer holofotes O presidente da turma, Senador Almir Lando, não deixou barato, comprou a braveza dos colegas e já prometeu Comissão de Ética aos indecorosos.

Entre tapas e beijos, só há de se esperar que nem a turma dos holofotes nem a patota do abafão percam o foco do enredo.

Por outro lado, um certa competitividade entre as CPIs pode ser até salutar. Se o sinal de sucesso das comissões for a geração de fatos concretos que levem a inevitáveis condenações, esse tipo de richa pode fazer aumentar a sede de sangue dos parlamentares. E, não me levem a mal, mas talvez Brasilia esteja precisando de um pouco de terror jacobino. Diziam há pouco mais de duzentos anos que há males que só podem ser expurgados com uma boa guilhotina.

Com esses deputados que estamos agora conhecendo pela TV, porém, é muito mais provável que tudo não passe de um ciumezinho colegial, facilmente contornável por um pedido de desculpas diplomático e um terno tapinha nas costas.

terça-feira, agosto 16, 2005

Arquivo



Toninho da Barcelona chegou já dizendo a que veio - jogou o sr. Ministro da Justiça no meio do lamaçal.

Com todo o respeito a inocência presumida do Dr. Thomaz Bastos (que até já correu para tentar se explicar) é impossível não pensar que, definitivamente, a coisa está preta.

Quanto ao doleiro, Toninho já colocou suas condições na mesa. Quer aliviar os 25 anos de xilindró aos quais está condenado. Seus advogados dizem que ele é um perseguido, um preso político. A Justiça, via Ministério Público, faz corpo duro. Os deputados e senadores da CPI parecem mais interessados. Quem conseguir pagar o preço de Toninho ganha o direito de escolher se ele fala ou se ele cala.

Oráculo



Pela linha constitucional, viriam: José Alencar, Severino Cavalcanti, Renan Calheiros, Nelson Jobim. Nossa Senhora, o povo se ajoelharia na catedral do Poder, implorando a Lula: "Fique, presidente, o senhor é uma catástrofe com encontro marcado com o final do mandato, os outros serão (ou seriam) catástrofes sem prazo certo e com expectativas incertas.


Hélio Fernandes é diretor do jornal carioca Tribuna da Imprensa. Tem 84 anos. Durante sua vida, mais do que testemunhar, sentiu na pele os eventos mais críticos da História brasileira do século XX.

Sempre foi figura presente nas linhas de combate da esquerda. Mas, antes de tudo, é um independente. Bem antes de todo este turbilhão, mesmo carregando todos os anos que tem nas costas, o sr. Fernandes andava por ai dando palestras, defendendo uma proposta econômica alternativa à ortodoxia Pallociana.

Na economia, suas idéias são bastante heterodoxas. Malfazeja os juros altos, como todo mundo, mas também critica o apego religioso à intocabilidade das dívidas externa e interna. Defende também um projeto nacional sólido e soberano, coisas um tanto fora de moda nos últimos quinze anos.

Pode-se criticar o seu pensamento econômico, dizê-lo mais apropriado para os anos dourados de Vargas ou JK. Mas, neste momento político, creio que qualquer um deve ouví-lo com atenção.

Nesta e nesta coluna, Hélio Fernandes analisa e prevê os desdobramentos da crise. Como um esquerdista decepcionado, ainda tem cautela e caridade com Lula, mas também possui a autonomia necessária para tocar nas feridas com crueldade. Atinge, nesse meio termo, uma lucidez que chega a ser dolorosa. Sua visão do futuro é, com muito eufemismo, sombria.

(...) a grande crise começou agora, se desenvolverá em 2006 e explodirá para valer em 2007. A razão? É simples. Se Lula for reeeleito (hipótese é hipótese, não é como fato que tem que ser provado) não governa. A oposição vai começar o processo de impeachment logo depois da posse. Terá 4 anos.

Se a chamada oposição (de hoje, de hoje) eleger o presidente em 2006, pode até tomar posse mas também não governa. Todos os crimes da DOAÇÃO do retrocesso de 80 anos em 8 (de FHC) voltarão a ser discutidos, até numa CPI.


quinta-feira, agosto 11, 2005

Diferentes



Vendo a triste figura de Delúbio Soares, vem-me à memória Gregório Fortunato, o Anjo Negro, o guarda-costas, o mais leal amigo que Getúlio Vargas já teve e que o levou à desgraça.

(...) Delúbio, o Anjo Tosco do Cerrado. Cruzei uma vez com ele, almoçando no Amadeus, restaurante de peixes ali na Haddock Lobo. No final da escada, na primeira mesa atrás da coluna, estava Delúbio, terno bem cortado e um havana cujo cheiro, por si só, chamaria a atenção do quarteirão inteiro. Ele não fazia reunião, concedia audiência. Várias pessoas aguardavam na parte térrea do restaurante. Uma a uma subiam, sentavam à sua mesa, conversavam em voz baixa, depois desciam. Era inacreditável que aquilo ocorresse a três quarteirões da avenida Paulista, em um lugar aberto e freqüentado.


Mais uma vez Luis Nassif. Desta vez me foi impossível, ao ler este trecho, não trazer à mente a imagem de um Don Vitto Corleone, sentado nobremente atrás de sua escrivaninha, segurando o queixo, selando compromissos e fazendo ofertas irrecusáveis, magnânimo dos destinos alheios.

Chacoalho a cabeça. Que bobagem. Como Nassif quis demonstrar, Delúbio não tem nada de Godfather. Delúbio não passa de um escroque, um atravessador embriagado em sua boçalidade arrivista. Não há fibra nem mesmo na sua suposta “ética de grupo”. Don Vitto nunca choraria na frente de seus pares, nunca mostraria seus dentes sujos perante uma comissão de inquérito. Don Vitto tinha a sua honra, e se preocupava com ela.

Por essa e por outras eu duvido que haja algum tiro no peito durante este mês de agosto.

Blue






O Jonas não gostou:

Em seu quarto disco - sintomaticamente intitulado Los Hermanos 4 - (...) os refrões são ainda mais escassos, as melodias, a princípio, menos assimiláveis e os arranjos não exatamente envolventes. Ainda assim, não é tão ousado e radical quanto pinta. (...) é lento, muito lento. Cansativo, em vários trechos.


Já o Carlos Eduardo Lima, esse gostou:.

Los Hermanos 4 é rico em nuances, é lento, é anti-rádio, é bonito pacas, é atemporal e pode ser clássico. (...) Não tem paralelos com o que é feito no Brasil hoje em dia.


Todo o resto que li, tanto na internet quanto na imprensa, gira em torno desses dois pólos. Quem está com a razão? Talvez a razão tenha pouco a ver com isso.

Particularmente, ainda penso que é cedo para emitir um veredicto. Bem diferente das anteriores, esta quarta criação dos Hermanos não é um álbum que te recebe de braços abertos, te dizendo olá com um sorriso rasgado no rosto. Definitivamente não. Ao contrário, é muito mais como aquela menina calada, cujo ar de mistério te confunde a cuca ao misturar timidez com auto-suficiência, introversão com olhares altivos. E só aos poucos, com esforço e não sem muito jeitinho, é que ela vai te dar o direito de descobrir que por trás daquela tristeza orgulhosa se escondiam coisas raras. Coisas raras que ela vai revelar, não para todos, mas só para você.

Isso leva tempo, mas geralmente vale o esforço. Coisa igual acontece com os discos do Wilco e do Radiohead, para ficar em outros dois integrantes do meu all star team. Los Hermanos 4 me pareceu estranho, modorrento, pelo menos nas duas primeiras audições. Mas já começou a se entregar, já conseguiu me fazer sorrir, já vejo ali as minhas pérolas. Promete.

Além do mais, como se vê ali em cima, a capa do CD combina direitinho com o tom deste bloguito. Dizem por aí que este ano o azul-marinho voltou à moda.

terça-feira, agosto 09, 2005

Das profecias 2



Esta aqui é, com toda a certeza, a prova definitiva de poderes ultrasensoriais dignos de um Walter Mercado.

No começo deste ano, eu comentava com minha garota que os Los Hermanos lançariam até Julho um novo álbum. Até aí nada de mais, isso já era informação divulgada. Mas então me veio a luz, e proferi despretensiosamente meu comentário profético: "Acho que desta vez eles vêm com um disco sem metais".

Julho já estava no finzinho e pimba. Acertei, quem diria. Depois falo mais sobre o 4.

Devagar com o andor



Apesar de toda a decepção política, cautela não faz mal à ninguém. A lama é profunda, mas é preciso ficar atento a muita gente que tem embarcado na onda do quanto pior melhor (vide revista Veja). O moralismo, agora prazerosamente destilado por velhos carcamanos, só tem serventia para a luta política mais mesquinha.

O momento exigiria virtudes que, infelizmente, andam bem raras de se ver. Lucidez, por exemplo. Algo como a que exibiu Luis Nassif em seu último artigo na Folha de São Paulo (dica do Gravataí no Imprensa Marrom).


Profissionalização já!

A CPI dos Correios está perdendo o foco. Está invadindo vidas privadas, ameaçando, imputando crime antes do julgamento, cometendo erros banais de avaliação. Deputados confundem movimentação (conceito financeiro) com faturamento (conceito econômico), desconhecem o funcionamento de empresas (pretender que uma financeira saiba o valor do CPMF pago pela companhia é ignorância).

Desanimado com a falta de objetividade dos membros da CPI, o sábio recluso volta a escrever para manifestar sua preocupação com a ignorância de tantos.

Pode-se até supor que Marcos Valério tenha ido à Portugal Telecom propor negócios, mas jamais imaginar que a empresa toparia. Maior empresa privada de Portugal, listada na Bolsa de Nova York, portanto sujeita à legislação norte-americana de mercado de capitais e à Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, é impossível supor que vá aceitar negócio com caixa dois.

Do mesmo modo, é ignorância supor que o IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) tenha sido sondado para depositar US$ 600 milhões no Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa. O IRB não tem US$ 600 milhões para depositar e, se tivesse, jamais poderia depositar em um só banco. Por outro lado, o Espírito Santo é um dos bancos mais tradicionais da Europa, peso-pesado no poder e nas finanças de Portugal e com penetração internacional, inclusive nos Estados Unidos. Só faltava se envolver com o PTB. (...)


Continua aqui.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Das profecias



Nestes momentos turbulentos, antes de dar qualquer opinião acho bom deixar algumas coisas claras. Votei no Lula em 2002. Não sou, nem nunca fui, militante ou partidário do PT, mas já votei muitas vezes em candidatos do partido. Celso Daniel, em Santo André. Hélio Bicudo e Suplicy para o Senado. José Genoíno e José Dirceu, vejam só. No entanto, nunca tive fidelidade ideológica (um conceito um tanto limitador, afinal).

Chegar até o voto em Lula, porém, não foi para mim um processo fácil. Já tive minha fase PSDB, já fui admirador do Mário Covas e do Montoro. Em 94, fui de FHC. Em 98, já decepcionado com a promiscuidade governista tucana, optei pelo Ciro Gomes. Só em 2002, finalmente, tive a coragem de votar no Sr. Luiz Ignácio da Silva. Pareço ter feito o caminho contrário da maioria - quanto mais velho, mais progressista. Ou talvez, muito mais provavelmente, foi o PT que em 2002 já não oferecia mais tanto terror ao meu progressismo de boutique.

Tudo isso para contar uma coisa. Pouco antes das últimas eleições para presidente, eu discutia com meu pai, um daqueles conservadores pragmáticos que ainda defendem o Maluf, sobre os possíveis prós e contras do já então bastante provável governo do PT. O medo aos vermelhos, àquela altura, já estava bastante dilúído, até mesmo na cabeça do meu velho. Nossa discussão baseava-se em outro ponto - o que, afinal, aquela mudança poderia trazer de melhor para o país.

Depois de muitos minutos de idealismo hesitante, tasquei a cartada final: "No pior dos mundos, mudam-se os ladrões. Isso não deixa de ser distribuição de renda".

Aquela profecia revelou-se acertada pela metade. Alguns dos ladrões, enfim, ainda continuam os mesmos.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Determinação



Segunda-feira. Juro que ia começar um regime hoje. Mas uma colega aqui acabou de voltar da Argentina e trouxe alfajores. Enfim.

domingo, julho 24, 2005

Tirando o Pó



Com paciência, vou espanando a poeira. Aproveitei para responder aí embaixo ao pessoal que deixou comentários lá no último texto sobre Londres. Vejam só, além de me mimar com sua presença, amigos, vocês ainda me servem de pauta. Obrigadinho.

Resposta à Gi

A mui nobre senhorita quelquechose me alertou para o Curitiba Pop-Rock Festival. Até que enfim, Gi, no meio do festival de desgraceiras que tem sido o noticiário das últimas semanas, alguma coisa surge para afagar essa alma sofrida. O Weezer na Pedreira Leminski tem tudo para ser digno de boas lembranças. Méritos à produção do CRF, que conseguiu manter o nível e continuar sua antologia indie neste ano. Depois dos Pixies ano passado e Weezer em setembro próximo, o que o povo do All Star preto pode esperar para o ano que vem?

Mas confesso que meu coração está abalado mesmo é com o Wilco em novembro. Se não confirmarem nada para São Paulo, novamente terei o prazer de visitar o MAM na cidade maravilhosa. Por mais que o bolso doa, algo em mim torce para que eu seja mesmo obrigado a ir ao Rio novamente. Só fico com medo do TIM Lab ser pequeno demais para os fiéis de Jeff Tweedy espalhados pelo país.

E ainda tem Strokes, não dá para esquecer.


Resposta ao Rodrigo e ao Digones

Meus caros, esse texto do Garton Ash traz mesmo uma lucidez bem rara nestes momentos. Sinceramente, não tenho muito mais a dizer sobre os atentados – minha opinião está bem próxima do que ele disse ali.

Infelizmente, acredito que as novas explosões desta semana, por mais que não tenham deixado vítimas, tornaram as perspectivas um pouco mais sinistras. Afinal, não é pelo fato dos atentados estarem seguidamente fazendo menos mortos que eles tenham se tornado menos eficientes. Uma constância de pequenos atentados, mesmo sem vítimas, pode ser muito mais danoso à psicologia de uma população que um grande evento trágico isolado. Ainda tanto pior se esses pequenos sustos ocorrerem exatamente na seqüência do tal grande evento trágico. Condicionamento psicológico à favor do terror, quebrando até mesmo o louvável estoicismo britânico, vide o fortuito assassinato do emigrante brasileiro. Manter a sobriedade passa a ser difícil até para os ingleses.


Resposta ao Ludovico

Engraçado você falar no Wodehouse, Ludovico. Acabei de ler, há poucos dias, duas estórias curtas dele, “The Impending Doom” e “Song of the Songs”. Foram minhas primeiras, e me deram vontade de ler muito mais. Biscoito fino, Jeeves rules.

Aliás, falando em pocket-books, me permita uma estorinha. Por conta do meu curso de Espanhol, tenho ido à Av. Paulista pelo menos duas vezes por semana. Procuro sempre usar o metrô porque, afinal, estacionamento por ali é coisa ultra-valorizada. Acontece que o tempo às vezes aperta e me obriga a ir de carro mesmo. Para essas ocasiões, consegui arranjar um esquema interessante: deixo comodamente o carro no Conjunto Nacional e, depois da aula, compro um pocket-book dos mais baratos na Livraria Cultura. Acabo pagando uns 8 reais no livro e ganho o direito de só pagar mais 3 pelo estacionamento. Deixar o carro, em qualquer outro lugar, não sairia por menos de 8 reais. Sim, claro, no final das contas gastei onze ao invés de oito. Mas levo o livrinho para casa, oras.

Tão gostosa é a sensação questionável de comprar um pocket por 3 reais, que preciso me segurar para não começar a abandonar o metrô de propósito. Minha casa se encheria de livrinhos, mas aos poucos minha carteira ficaria bem mais leve. Ao final, uma dica: os pocket-books da Penguim, mesmo importados, conseguem ser mais baratos que os da LP&M e Martin Claret (custam R$ 7,75 enquanto os brasileiros podem custar oito, doze ou até vinte quatro reais). Quando se pensa que o preço de capa da Penguim é de uma libra e meia, vê-se que isso sim é política de incentivo à leitura. Para quem quer treinar o inglês, a opção é excelente.


Reposta à Patty

Patty (Patrícia?), legal você ter gostado do Diário. Volta-e-meia me perguntam por que não escrevi até o fim das andanças até Machu Picchu. Na época creio que foi por preguiça. Hoje não sei se conseguiria recuperar o clima da viagem. Mas enfim, quem sabe ainda tento.

sábado, julho 09, 2005

Londres



Quando as bombas atingiram minha cidade natal, eu estava dormindo na Califórnia. Ao acordar, vi os feridos surgindo daquelas familiares estações de metrô londrinas e os destroços do ônibus da linha 30, tudo mediado pela televisão americana. Um comentarista americano disse: "Isso mostra que vivemos em um mundo em guerra." E todas as fibras do meu corpo responderam: não, essa não é a lição de Londres.

Londres sabe bem com o que se parece uma guerra. Lembra-se da 2a Guerra Mundial em cada detalhe, de uma forma que Nova York não poderia. Apesar de essas explosões terem produzido o maior número de mortes na cidade desde 1945, essa não é uma guerra, como os comentaristas americanos gostam de imaginar. Guerras são vencidas por Exércitos. Exércitos sustentados por sociedades, economias e inteligências fortes, com certeza; mas ainda assim, Exércitos. Isso nunca será uma guerra.

Isso é outra história. (...)

Vai haver mais disso. (...) Em certa medida, teremos que aprender a viver com isso, como vivemos com outras ameaças crônicas. É nisso que Londres mais impressiona. Os chefes de polícia já tinham alertado que a questão não era "se, mas quando" um ataque terrorista aconteceria. (...)

A fleuma, a sobriedade e a determinação com que os londrinos enfrentaram os ataques de quinta-feira refletem uma longa experiência, principalmente de 30 anos de ataques do IRA, assim como o temperamento nacional. Conviver com isso, como fazem os londrinos, é a melhor resposta que as pessoas comuns podem dar aos terroristas. Devo dizer que eles fizeram com que eu tivesse mais orgulho da minha cidade natal do que o sucesso da candidatura de Londres para ser a sede da Olimpíada de 2012, anunciada no dia anterior.

Quanta liberdade estamos dispostos a sacrificar em nome da segurança? Há um perigo real de que países como os Estados Unidos e o Reino Unido se direcionem para um Estado de segurança nacional, com mais perdas de liberdades civis. Isso não poder ser - porque vai custar-nos liberdade sem trazer qualquer garantia de segurança. Eu, por mim, preferiria continuar mais livre, e correria um risco marginalmente maior de ser explodido por uma bomba terrorista.

Isso não significa ser passivo ante essas atrocidades. Mas a resposta adequada não está, como os comentaristas da Fox News americana querem que acreditemos, em maior poderio militar para acabar com "o inimigo" no Iraque ou em qualquer lugar. Está em policiamento adequado e polícia inteligente. Recusando silenciosamente a metáfora da guerra, a Polícia Metropolitana da Londres descreveu os locais dos ataques ao metrô e ao ônibus como "cenas do crime". Isso mesmo. Crimes.

Trabalhando na cidade mais etnicamente diversa do mundo, eles desenvolveram pacientes técnicas de relações comunitárias e reunião de informações, assim como de investigação depois do evento. Isso não vai impedir os ataques. Não impediu esse. Mas policiamento adequado internamente, não o envio de soldados ao exterior, é a forma de reduzir a ameaça de terroristas que operam (...).

Depois, há a política de inteligência. Estava certo tirar a Al Qaeda do Afeganistão pela força das armas. Em contraste, está cada vez mais claro que a invasão do Iraque foi um erro, que quase certamente criou mais terroristas do que eliminou. Mas agora precisamos dar o nosso melhor em um péssimo trabalho. A última coisa que devemos fazer em resposta a esse ataque é sair do Iraque. Ao contrário, agora é hora de todas as democracias se unirem em torno da causa de reconstruir um Iraque pacífico e a meio caminho de ser libertado, enquanto insistem em novas mudanças na política de ocupação por parte dos soberanos Estados Unidos, não mais tomados pela febre conservadora de três anos atrás.

Um acordo de paz entre Israel e palestinos removeria outro grande sargento recrutador de terroristas islâmicos. E, é claro, trabalhar na direção da modernização, liberalização e democratização do Oriente Médio é a única estratégia de longo prazo que certamente vai drenar o pântano no qual os mosquitos terroristas são criados.

Aqui, é a Europa, mais do que os Estados Unidos, que precisa acordar, urgentemente, para o imperativo de fazer mais. Nestes dias, coisas que acontecem longe daqui, em Cartum e Kandahar, têm impacto direto sobre nós - às vezes fatal, enquanto vamos para o trabalho sentados num trem de metrô entre King's Cross e Russel Square. Não existe mais essa coisa de política externa. Essa é, talvez, a mais profunda das lições de Londres.


Timothy Garton Ash, historiador britânico e diretor do Centro de Estudos Europeus.

domingo, junho 26, 2005

O Vermelho e o Negro



Só um tolo, pensou, encoleriza-se contra os outros: uma pedra cai porque é pesada. Serei sempre criança? Até quando terei o hábito de dar minha alma para essa gente, e justamente por seu dinheiro? Se quero ser estimado por eles e por mim mesmo, preciso mostrar-lhes que minha pobreza está em comércio com a riqueza deles, mas que meu coração está a mil léguas de sua insolência, situado numa esfera muito elevada para ser atingido por seus pequenos gestos de desdém ou de favor.


Stendhal, pela boca do espírito inquieto e orgulhoso de Julien. Rapazinho ambicioso esse. Mas sempre hesitante, sempre.

terça-feira, junho 21, 2005

Bolívia



É muito fácil, portanto, como fizeram durante esta semana o agora ex-presidente Sanchez de Lozada, a OEA e os EUA, alardear que a revolta popular em curso na Bolívia "põe em perigo a ordem constitucional" e é "uma conspiração para substituir a democracia por uma ditadura sindical". É muito fácil acusar que os líderes camponeses e indígenas Evo Morales e Felipe Quíspe são responsáveis por um "projeto subversivo" para instaurar uma ditadura.


Tudo muito parecido aos acontecimentos deste último mês, lá pelos idos dias de setembro de 2003 uma outra onda de protestos corria então a Bolívia. Daquela vez, consolidou-se o jornalista Carlos Mesa no poder. Desta, menos de dois anos depois, Carlos Mesa já caiu e o futuro ainda está em aberto.

Naquela oportunidade, publiquei um texto sobre a crise na Nova-e e no Imprensa Marrom. Como, quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas, segue o link para a coluna, se alguém estiver interessado. Se a situação mudou, foi muito pouco. Minhas opiniões continuam as mesmas.

segunda-feira, junho 20, 2005

Poesia numa hora dessas?*



Leveza e peso

Onde foi parar a poesia?
Pergunto, e já ouço a resposta
que vai, claro, me soar como troça.
Bendita a troça que me protege.
Ai de nós sem a ironia.

Mas perguntar ofende?
Sempre, inevitavelmente.
As respostas serão ridículas
sempre, oras. Sobretudo
as minhas próprias.

O medo das respostas
me escancara, sem fuga, o prazer
que tiro do preguiçoso conforto.
Me cospe no rosto, envergonhado,
a infâmia da apatia.

Mas não só.
Diga a verdade, oras!
Vá até o fim agora,
e assuma que
o medo da resposta
me escancara, sem fuga
me cospe na cara, suja,
a vergonha
da covardia.

Ai de nós sem a ironia.


* Expressão emprestada do L.F. Veríssimo.

quarta-feira, junho 15, 2005

A Aula de Governo do Sr. Roberto



Infelizmente não pude assistir pela TV ao depoimento do Deputado Roberto Jefferson, transmitido anteontem, como se dizia no meu tempo, ao vivo e a cores para todo o Brasil.

Li tudo nos jornais de hoje, mas o mais importante foi colher as impressões mais tarde, na mesa de jantar. Minha mãe ficou encantada com o sujeito. Depoimento dela: "Pode ser um canalha, mas meu Deus, que lábia, que talento, que articulação". Mamãe admirou também sua energia: "Falou mais de hora e meia, sem papel nenhum, citando nomes, datas e horários. E depois ainda esculhambou todos que faziam perguntas". E disse mais: "Aquele deputado presidente do PL, que tem banca de galã, suava em bicas, enquanto o Jefferson estava na maior tranquilidade...". É, mãe, não se fazem mais políticos como antigamente.

O surto do Sr. Roberto tem rendido frases memoráveis. "Vossa Excelência, me desculpe, mas o senhor recebia e repassava mensalão sim" é sensacional. O depoimento na Comissão de Ética foi praticamente uma aula magna, escancaradamente didática, de como funciona e sempre funcionou o sistema político, as eleições, os partidos, o governo e tudo mais neste país.

Neste ponto, ainda há o que agradecer ao PT. A impressão que se tem é que o Partido dos Trabalhadores ainda é um novato, um junior, um freshman no poder e, como tal, não teve a habilidade necessária para manter a esquemática sobre o devido e discreto controle. Lambuzou-se, afobou-se, atrapalhou-se e, então, o excremento de sempre acabou ficando bem de frente para o ventilador.

Lula, ao seu estilo, já prometeu: "não vai sobrar pedra sobre pedra". Se é para ficar no bordão, o clima aparenta estar mais adequado para o "salve-se quem puder".

Melinda & Melinda



Concordo com o Marcelo Costa. Woody Allen fez seu melhor filme em 5 anos. E isso não é pouca coisa quando se atende pelo nome de Woody Allen e se produz pontualmente sempre um longa por ano. Eu iria ainda mais além que o Marcelo, diria que é o melhor filme dele desde Celebridade, pois este tinha Winona e Charlize e aí também já é covardia. Mesmo que Melinda seja interpretada pela loirinha Rhanda Mitchel, com muito charme e talento, e que o filme ainda conte com a bela Amanda Peet, aquela que já foi a Jack, do Jack & Jill.

Para além das mulheres, os pontos positivos de Melinda & Melinda são aquelas qualidades já conhecidas dos filmes de Woody Allen – personagens tão esquisitos quanto verossímeis, charlando em intermináveis diálogos inteligentes, mas sempre muito honestos, vivendo uma história simples, mas sempre algo amalucada. Desta vez, o argumento de Allen é manjadíssimo demais – a vida é cheia de tragédia e comédia, tudo depende de como você a encara. Mas, apesar da aparente obviedade, a receita está tão bem equilibrada que é impossível não sair do cinema com um sorriso mezzo irônico mezzo bobo no rosto.

O próprio filme acaba confirmando a sua tese manjada - na vida, não só há tragédia e comédia, como elas frequentemente se confundem. A história de Melinda que propõe-se trágica, é cheia de momentos patetas e hilários. Do outro lado, a metade cômica do filme está repleta de dolorosos fracassos e paixões avassaladoras. Confesso que gostei mais da metade-dita-comédia, principalmente pelo Will Farell. Não conhecia muito o sujeito (era ele o Fartman??), mas foi aprovado com louvor no papel de alter-ego do chefe Woody.

Enfim, é tudo como os velhos gregos já diziam, e continuamos enfiados nessa grande roda tragicômica. Não à toa percebo que os filmes mais sinceros sempre acabam levando o rótulo de comédia dramática. O resto é tudo variação.

segunda-feira, junho 13, 2005

Melhor Opinião sobre o Assunto



Esse prédio da Daslu parece um pavilhão de cadeia, acho meio sinistro.


Fernanda, ex-Miss Penitenciária, moradora da favela da rua Funchal, vizinha da nova casa da sra. Tranchesi.

(a reportagem do Estadão, infelizmente, requer senha. Ou paciência para cadastrar-se)

terça-feira, junho 07, 2005

Cem Escovadas






Lá no Scream&Yell, um texto meu sobre o diário sapeca-romântico da italianinha Melissa Panarello, "Cem Escovadas Antes de Ir para Cama".

segunda-feira, maio 30, 2005

Non, merci






Enquanto a gente discute se o Ronaldo é branco ou negro, os franceses foram lá e disseram não ao aprofundamento da União Européia. Numa espécie de discussão de relacionamento continental, as francesinhas iradas aí em cima ficaram com medo de dar o próximo passo na relação.

Aqui tem um joguinho interativo bem didático sobre as consequências desse referendo para o futuro próximo da Europa.

quarta-feira, maio 25, 2005

Sossegadas



Meu amigo, pense nas mulheres que trabalham com você. Um estudo feito por alguns economistas diz que elas não gostam tanto de competir como você gosta.

Eis o grande problema do mundo acadêmico. Esses caras não devem pisar numa empresa há anos.

terça-feira, maio 24, 2005

Formando opiniões



A ex-modelo Betty Lago falava sobre o impacto que foi desembarcar pela primeira vez na cidade de Nova York, em 1976, quando, de repente, ouve-se no estúdio: “Nhééééééé!”. Sim, parecia um bezerro desmamado chorando – onde, como, por quê? –, mas era só Luana Piovani usando seus dotes de atriz para fazer uma intervenção onomatopéica na fala da amiga. “Eu nascendo e ela já bombando em Nova York”, disse Luana, 29 anos, logo em seguida. Pois é, a cena aconteceu, acreditem. Foi na quarta-feira à noite, na estréia da nova temporada do programa “Saia Justa”, do GNT. Quem viu, teve vontade de chorar. Mesmo. “Nhééééééé!”


Sei que abuso em linkar o NoMínimo, mas este texto do Marcelo Camacho não se pode perder. Nada contra Luana, é claro. Afinal, na mesma matéria, ainda ficamos sabendo que ela até anda se exercitando com os livros. Benzadeus.

Mas fico pensando no tamanho desserviço que Paulo Francis, Lucas Mendes e seus amigos prestaram a civilização tupiniquim. Afinal, o saudoso Manhattan Connection acabou lançando moda e agora a TV brasileira parece recheada de rodas de bate-papo solto entre célebres formadores-de-opinião. Repare, tem até no SBT.

O resultado é mais pernicioso para o futuro da Nação que qualquer cartilha do Ministro Gil. Lá dentro da telinha, um bando de gente num papo besta, inventando opinião e se fazendo de sabido, sem nenhuma pauta e muito menos informacão. Aqui fora, outro bando consumindo conversa-fiada travestida de verdade inexorável.

O pior é que a droga é forte, atrai e vicía numa piscadela. Só consigo escapar porque sofro da já afamada "vergonha alheia" - se vejo um sujeito ameaçar falar besteira, me constranjo e mudo de canal. Pena, porque com um pouco mais de frieza daria para me divertir um bocado.

É fato. Paulo Francis, quem diria, acabou no Irajá e se chama Galisteu. E agora todos dão bola para o que ele, ou melhor, ela fala. E que Deus proteja minha fé na democracia, porque tá difícil.

Achados



(...) Já a parte decepcionante da locadora é a seguinte: alugo algum filme esplêndido, algo como Quando Paris Alucina. Em seguida, caminho para o balcão de atendimento, muito satisfeito de meu louvável bom gosto, singing myself, como Whitman ensinou. Na ocasional vidraça, reparo em meu reflexo e me encanto. No entanto, no balcão - ó desgraça -, a atendente não é nada educada: ela me olha, toma a fita de minha mão e não me diz, nunca me diz ah, mas que bom gosto o seu, que bom gosto, veja só, gastei todo o dia alugando filmes ruins para pessoas ruins, mas agora você veio e alugou esse filme maravilhoso, ah que bom, que bom, você salvou o dia, você salvou o dia e eu não sei como agradecer. Não, ela não diz nada disso. Ok, o melodrama talvez seja dispensável, mas ela poderia ao menos me endereçar algum olhar, algum sinal de que eu era, sem dúvida, alguém excepcional e de que o meu bom gosto - eu gosto do bom gosto - justificava a existência silenciosa de todo aquele acervo de filmes. Mas não. Ela apenas me diz: devolução amanhã até as oito.


A melhor coisa de ter uma caixa de comentários é poder topar de vez em quando com esses sujeitos que te dão a medida do que realmente é escrever bem - ter elegância, simplicidade e inteligência. Existe isso em blogues, sim, ouviram? O Ludovico mostra muito mais por .

segunda-feira, maio 23, 2005

A Vida Aquática






Estava esperando com carinho o novo filme do Wes Anderson. Afinal, o rapaz é o pai dos fantásticos Tenenbaums.

O fato é que Anderson fez de novo um filme belíssimo. Mas, com muita tristeza no coração, não consegui gostar dele.

Escrevi um texto desabafando a frustração. Está lá no Scream&Yell.

Palavras



Esta maquininha é deveras interessante. Apresenta mais de 86.000 palavras em Inglês, ordenadas pela sua freqüência de uso. O ranking é visual - quanto mais comum a palavra, maior o tamanho em que é apresentada.

Depois de intermináveis artigos, pronomes, preposições e algumas variações do verbo “to be”, aparece o primeiro substantivo – “TIME”, na 66ª posição. Os próximos são “PEOPLE” (81º), “WAY” (96º) e “WORK” (103º), que também é verbo.

“GOVERNMENT”, vem logo ali, em 140º.

“NO” aparece em 51º. “YES” em 146º.

“LOVE”, substantivo e verbo, vem em 380º. “PEACE”, só lá em 1155º.

“WAR”, “CAR” e “POLICE” aparecem curiosamente juntas, da 304ª à 306ª posição.

E agora chega. Já estou começando a manipular os dados.

via Por Um Punhado de Pixels

Praticamente um guru da Nova Era



You scored as Cultural Creative. Cultural Creatives are probably the newest group to enter this realm. You are a modern thinker who tends to shy away from organized religion but still feels as if there is something greater than ourselves. You are very spiritual, even if you are not religious. Life has a meaning outside of the rational.

Cultural Creative

88%

Postmodernist

75%

Idealist

69%

Existentialist

63%

Modernist

44%

Romanticist

38%

Fundamentalist

31%

Materialist

19%

What is Your World View? (corrected...again)
created with QuizFarm.com



Via Filisteu

Star Wars



Vi “Guerra nas Estrelas” quando foi transmitido pela TV (Manchete?) alguns anos-luz lá atrás. Foi na casa da minha avó, onde eu e minha irmã estávamos dormindo, numa TV preto-e-branco. Lembro, sem muita certeza, da minha mãe me ligando para avisar que o filme estava passando. Eu era um gurizinho maroto de uns 10 anos, que começava a se interessar por essa coisa de filmes. A cena final, com as naves entrando naquelas avenidas estreitas da Estrela da Morte, e Luke invocando a Força da intuição para acertar o alvo, foi sem dúvida um dos primeiros finais épicos que me ficaram marcados na retina.

Mais tarde, o Sarney lançaria o Plano Cruzado e meu pai compraria nosso primeiro vídeo-cassete (G-10? Paraguai?). Foi através dele que vi os seguintes dois episódios (aquele onde o pai de Luke corta o seu braço, e aquele dos ursinhos Ewoks). Bacanas.

Menos anos atrás, já na era pós-moderna da reciclagem mercadológica, lançaram aqueles primeiros episódios novamente no cinema (remasterizados? remixados?). Diante da oportunidade de revê-los na telona, fui aos dois primeiros. Nostalgia. Fico pensando naqueles uniformes kitsch (redundância) dos soldados imperiais e duvido se não foi aquela re-exibição que tenha dado início a atual onda trash-retrô de referências aos anos oitenta.

Ah, em algum lugar no meio dessa linha temporal, teve também desenho animado, naves e bonequinhos de plástico. Mas acho que eu já estava crescido.

Então George Lucas voltou (de onde?), reforçado pelas forças do target-marketing. Fui ver Episódio One, é claro, com expectativa vitaminada. Naquela altura, também fiquei curioso para ver alguns atores “cult” que estreavam no cinemão - Ewan McGregor e Natalie Portman. Lembro que foi também a época do Matrix, não? Mas, enfim, a parte disso, o filme se revelou simplesmente chato.

Na verdade, não apenas simplesmente chato. Chato ao ponto de não deixar vontade para uma segunda chance. Devo ter perdido a inocência. Consequentemente, não vi o Episódio 2 (Clones?).

Vingança dos Sith? Nada contra, mas não, obrigado. Me contem depois como foi.

segunda-feira, maio 16, 2005

Estorietas



O premiado e incansável Nemonox reuniu centenas de micro-contos (até 50 letras) na Casa das Mil Portas. Não vou ficar discutindo a validade da micro-narrativa enquanto expressão artística a nível de pós-modernidade. Mas se os pequeninos valem alguma coisa, é assim – aos montões. Por isso, parabéns à iniciativa do Nemo.

Tem alguns meus por lá, bem escondidos no meio da busca randômica. Vá e esbalde-se.

sexta-feira, maio 13, 2005

Cinema



Lá no Scream&Yell, um texto meu sobre "Cruzada", o épico politicamente correto de Riddley Scott.

Assunto para todos



Galerinha adora falar mal da futilidade, mas esse negócio de mundo das celebridades cumpre uma importante função social.

Parelho ao futebol, mas mais do que qualquer outro assunto, funciona como unificador da pauta nacional. Essa separação do Ronaldo e da Daniela por exemplo. É assunto para conversar com o porteiro, mas também serve para você puxar papo com aquela amiga bonitona do mestrado.

A respeito da separação, aliás, estou ainda em cima do muro. Minha opinião muda, como diriam as celebridades, 360 graus, dependendo do fato de haver ou não a tal multa recisória de R$ 15 milhões de reais. Se realmente a multa não existe, então confirma-se Daniela como a chiliquenta mais pateta que existe. Nenhuma visão de futuro. Que fique então mandando os sapos se beijarem na MTV tupiniquim.

Agora se o acordo existe mesmo, meu amigo, ela merece o prêmio da espertona mais maquiavélica. E, como disse o Marcelo Trasel, R$ 7 mil por hora faz da moça a acompanhante mais cara do mundo.

Dedução Artificial



Isto aqui é formidável. Com 20 perguntas, o robô esperto descobre o que você está pensando.

via Pedro Dória

quinta-feira, maio 12, 2005

Cruzada



Veja este filme, leia esta entrevista e este texto.

E descubra então como não é tão fantasiosa a hipótese de um jornalista ter dormido durante a exibição do filme que tem o objetivo de resenhar.

quarta-feira, maio 11, 2005

Futibas



A imprensa esportiva brasileira pode reclamar o quanto quiser, mas tem nas mãos o futebol que merece.

Toda essa quizumba corintiana serviu para derrubar algumas últimas máscaras. A fachada de bom-senso resistiu pouco ao evidente bairrismo, soberba e limitação argumentativa da maioria dos comentaristas esportivos. Afinal, o que fazer após duas derrotas venais do time alvi-negro? É claro, pedir a cabeça do técnico. Principalmente se ele for argentino. Afinal “ele não conhece o futebol brasileiro” e dois meses de trabalho atestaram definitivamente sua incompetência.

Para aumentar o ridículo, se viu claramente que os mais exaltados na malhação do Judas eram aqueles jornalistas já auto-proclamados corintianos. Coisas da paixão. Mas poucos saíram ilesos da crucificação de Passarela.

As exceções são as de sempre – o Juca Kfouri, o Tostão e o Neto. A serenidade do primeiro, entretanto, explica-se: seu alvo pessoal é outro, o iraniano Kia. E Juca me irrita um pouco por sua panca de bom-mocismo.

Resumo da ópera – a) Kirchner tem razão em reclamar do umbiguismo brazuca; b) o melhor de nosso jornalismo esportivo resume-se a dois boleiros matutos.

quarta-feira, maio 04, 2005

Meme



Sei que o Código da Vinci já é assunto velho, mas vira-e-mexe ainda me impressiono com o fenômeno.

Desde o começo do ano, tenho pegado o metrô pelo menos 2 vezes por semana. E posso jurar que em praticamente todas as viagens sempre encontro a Gioconda estampando aquele grande tijolo vermelho .

Invariavelmente, são sempre garotas que carregam o livro. As pistas ainda estão se encaixando. Mas suspeito que exista algo obscuro entre Dan Brown, Leonardo da Vinci e a chave de entrada da intrincada psique feminina.

segunda-feira, maio 02, 2005

Um pouco de ficção



Na falta de novidades, eis um pequeno conto escrito lá atrás, no já longínquo ano de 2004.



JEREMIAS

Jeremias escutava a canção do Chico e tinha devaneios. Pensava que ela poderia ter sido feita para ele, o pretensioso, considerando alguns pequenos ajustes, é claro. Olhe que Jeremias não era nada dado a vaidades, como já veremos adiante, muito menos costumava ter fantasias tão megalomaníacas.

O sujeito era simplório, isso logo se via. Parecia procurar esconder seu rosto entre os ombros, enterrando a cabeça no corpo franzino, coisa que já havia lhe gerado problemas na rua – alguns meninos um dia lhe chamaram de corcunda e ele foi obrigado a conter seus ímpetos. Depois de mais alguns olhares, percebia-se que não era propriamente feio. Poucos, porém, dispunham-se a investir todo esse tempo. E se pode dizer isso sem nenhuma pena, pois Jeremias fazia muito pouco para mudar essa situação. É como se gostasse que, numa contagem exageradamente otimista, digamos umas dez pessoas fossem capazes de lembrar seu nome sem titubear, deixando de fora deste número, logicamente, aqueles que baixavam os olhos para ler as letras pequenas do seu crachá.

Nada disso impedia que Jeremias ouvisse a canção do Chico e pensasse que ela tinha sido feita para ele. Ao contrário do que se pode imaginar, porém, essa idéia não tinha se criado assim, de uma hora para outra. Levara tempo e esforço. Para se transformar em conclusão, a mera suspeita de Jeremias dera tantas voltas pelos caminhos embaralhados do seu raciocínio que valeria pouco a pena procurar perseguir essa trilha, muito menos tentar descrevê-la.

Naquele momento, se alguém gastasse algum tempo mirando seu rosto perceberia logo que suas divagações não lhe eram nada prazerosas, muito menos espontâneas. Podia notar-se que seus pensamentos iam longe, que olhava a janela do micro-ônibus com olhos perdidos, mas era como se ele fizesse um imenso esforço para alcançar pensamentos tão pouco práticos e tão vagamente desenhados. Sem galhofa, se olhássemos para Jeremias sentado no primeiro banco da fila da direita, com os olhos fixos na transparência do pára-brisa, só poderíamos concluir uma coisa – o sujeito fazia ali um esforço do cão para se perder em pensamentos. Seus olhos apertados, sua testa enrugada, seus ombros tensos, tudo dizia que, mesmo sonhando alto, ele quase sofria.

Como a maioria das coisas da vida, todo esse sofrimento poderia ter sido evitado, não fosse uma ação alheia jogar o seu destino por aquele caminho. Jeremias poderia estar fazendo o que costuma, e gosta, fazer todo dia – tirar uma boa soneca antes de chegar ao escritório. Poderia não ter caido naqueles devaneios tão sofridos, poderia não estar metido em tanto esforço, poderia não investir na inutilidade uma energia que depois poderia lhe fazer falta. Afinal eram ainda sete horas da manhã. Poderia isso, poderia aquilo, mas sabe-se bem que a vida não é feita do que poderia. Jeremias poderia uma série de coisas, mas o imprudente motorista do micro-ônibus lhe fez o favor de mudar a estação do rádio, o que logo depois lhe colocou nos ouvidos a canção do Chico.

Já vimos que Jeremias não era vaidoso. Seu devaneio, enveredado pelos tais caminhos embaralhados da sua mente, lhe levara a concluir que a música havia sido feita para ele, e não sobre ele. Sua vida não encheria quatro estrofes, pensou com a inesperada coerência e a tipica modéstia de um Jeremias lúcido e corriqueiro. Descrevê-lo, com fidelidade, não exigiria mais que três versos. Era um sujeito simplório, como já dissemos.

A canção nunca poderia ter sido escrita sobre ele, ou ter sido inspirada nele, portanto. Sinceramente, isso pouco importa. O fato inóspito era que a música havia capturado a atenção de Jeremias tão impiedosamente, havia lhe retesado os músculos de forma tão aparente e lhe jogado num mundo de idéias doloridas nunca experimentadas, que Jeremias só podia ter a certeza que aquela música existia para ele. O devaneio pouco ligava se Chico conhecia Jeremias ou não, mas era óbvio que o compositor queria muito lhe dizer alguma coisa. E Jeremias escutava como nunca. Depois, mergulhou para dentro de si.

Jeremias percebeu que, todo dia, ele fazia tudo sempre igual. Mas ao mesmo tempo notou que não tinha ninguém para sacudi-lo às seis horas da manhã. Teve então um pensamento infame, e pensou que o único que lhe era fiel no despertar era seu rádio-relógio, último modelo. Ou que havia, sim, quem lhe sacudisse, mas este era só seu chefe, e não exatamente às seis horas da manhã, mas um pouco mais tarde. Tudo arriscou descambar para uma piada sem graça dentro dos caminhos embaralhados da mente de Jeremias, mas a música continuou e ele logo percebeu que aquilo não tinha a menor graça. E que estava, a seu modo, irremediavelmente preso àquele enredo.

Duro para Jeremias foi perceber que ficaria muito feliz se seu cotidiano fosse apenas monótono, pois ele até não gostava tanto de surpresas, mas que além de monótono, não havia nada nem ninguém que valesse mesmo a pena dentro da sua rotina. Sua testa se franziu ainda mais quando ele desejou com uma força que nunca pensou antes que pudesse desejar ter alguém com quem pudesse dividir o seu dia-a-dia medíocre, e pensou então na felicidade extrema de um beijo pontual. Talvez não pudesse ter alguém, e aí se contentaria se simplesmente tivesse algo que colorisse a sua rotina, algum interesse que lhe fugisse à obrigação. Mas não tinha.

Faz-se necessário dizer que, naquele dia, Jeremias não chegou ao escritório. Mandaram falar que era por motivo de força maior. Algumas pessoas que haviam estado com ele naqueles momentos chegaram a dizer que Jeremias, ao descer no ponto de ônibus usual, paralisou-se junto ao meio-fio. Ficou ali em pé, completamente estático, por vários minutos. A figura do homem não deve ter agradado muito aos passantes, pois vieram retirá-lo logo depois. Nunca mais se ouviu notícia dele, mas também não se pode dizer que isso tenha feito muita diferença.

sexta-feira, abril 29, 2005

Conversas do Planalto



Brasília, 20h50. Piantella. 202 Sul. Restaurante. Roda de amigos.

- A melhor frase de feminista que eu já ouvi na vida foi numa convenção lá no Itamaraty. Uma mulher pediu a palavra e falou: “Eu só vou acreditar em igualdade entre o homem e a mulher no dia em que nomearem pra um cargo importante uma mulher incompetente”.


O Nomínimo publicou três colunas com fragmentos de conversas colhidos pelos recantos da nossa capital. O garimpo é obra de João Moreira Salles e Raquel Zangrandi. Várias pérolas, vale conferir.

quinta-feira, abril 28, 2005

Poucos e disputados



A banda de brit-pop-dark-punk-rock-andrógino Placebo tocou ontem em São Paulo. Tenho certeza que iria me divertir bastante, mas não fui ao show. Há duas semanas tentei comprar ingressos na FNAC e bati com a cara na janelinha da bilheteria: lotação esgotada. Malditos indies, compraram tudo com antecipação monstro.

Isso faz refletir sobre a agenda minguada de shows internacionais no Brasil. Algo não bate nessa estória. Se uma banda de público sectário vem ao Brasil para fazer 8 apresentações e consegue esgotar bilheterias, percebe-se que o fato de não termos mais atrações por aqui não é um problema de público. Afinal, o que se vê é um público com demanda reprimida bancando os custos ainda altos dos ingressos dolarizados.

Alguma outra coisa deve comprometer. Falta de iniciativa, tomada de risco, profissionalização. Será que é só mesmo possível bancar estes eventos com o patrocínio de telefônicas ou cervejarias? O Curitiba Pop Festival, ano passado, pareceu mostrar que outras fórmulas são possíveis. Em junho próximo, teremos shows-solos do White Stripes, que volta com a segurança gerada pelo sucesso do show carioca de 2003. Mas eram necessários muito mais destes exemplos.

Fico só nas conjecturas. Gostaria mesmo era de ouvir uma experiência mais pragmática sobre isso. Promotores de eventos, pronunciem-se.

Mexendo com a massa



Durante esta última semana, vários comentaristas esportivos espalharam o receio de que Romário fosse vaiado pela cruel torcida paulista, justamente na noite de sua despedida do selecionado canarinho. Falavam do bairrismo, lembravam uma suposta rejeição ao peixe.

Quanta pataquada mediática, meu Deus. Mas ontem o Pacaembu deu sua resposta.

Como se sabe, o jogo era também parte das comemorações dos 40 anos da platinada Rede Globo de Televisão. O baixinho marrento foi devidamente ovacionado ao sair de campo. Minutos mais tarde, porém, a torcida não demonstrou nenhuma caridade. Ouvia-se claramente pela TV um canto melodioso:

GALVÃÃUN, *%IAADO!!

E depois, num ritmo mais marcado:

Ê, GALVÃO, VAI TOMAR NO #*!!

Mais tarde, ainda viria o melhor da noite:

ÉSSEE, BÊ-TÊ!!

Sensacional.

Nunca subestimem a horda paulista. Ela sabe escolher suas vítimas com precisão cirúrgica e leves toques de ironia.

quarta-feira, abril 27, 2005

Vai um jurozinho aí?



Quando ouvi esta ordem do nosso presidente, dei um sorriso de canto de boca e me orgulhei da minha pró-atividade. Já cumpri suas recomendações com bastante antecedência, meu capitão.

Mês passado, eu estava afundado no cheque-especial. Levantei my fat ass do sofá, liguei para um amigo e ofereci um negócio bom-para-ambas-as-partes. Rapaz bem sucedido, ele tinha disponível o capital que me era necessário. Eu, de minha parte, lhe oferecia um jurinhos bem maior do que ele conseguiria numa aplicação segura, mas, ainda assim, muitíssimo menor do que eu seria obrigado a pagar se optasse pelo crédito de qualquer instituição do sistema bancário formal. Simples assim.

Era a esse tipo de iniciativa que Lula se referia, não?

Se eu entendi bem, nosso presidente deve ter mesmo se rendido ao liberalismo econômico mais radical. Prega agora que tudo isso que está aí - instituições, bancos, regras, governo, políticas - só serve para atrapalhar. Porque somente fugindo a tudo isso, dando um jeitinho, partindo para o cada-um-por-si e informalizando-se de vez, é que se torna possível escapar aos preços abusivos do nosso cartelizado sistema financeiro nacional.

Diga não aos juros abusivos. Arranje um agiota gente-boa.

Ironias a parte, eu não tenho nada contra encontrar caminhos que passem ao largo do sistema. Muito pelo contrário. Mas o commander-in-chief do sistema não pode defender esses caminhos, ora pois. A função dele é trabalhar para que as coisas funcionem melhor dentro do sistema. Reclamar, senhor presidente, é função nossa, tire a mão daí.

Vão dizer que o que Lula disse não passa de mais uma bravata de palanque. Isso é claro. É óbvio também que ele segue uma já manjada estratégia de comunicação pós-moderna que, a fim de preservar sua imagem pública, coloca-o a parte de qualquer ato duro-mas-necessário imposto pelo governo. Lula reclama dos juros altos, como se o Banco Central já possuísse autonomia e ele não tivesse mais nada a ver com isso.

Para sobreviver no poder, é claro que é preciso ser liso. No entanto, como eleitor do homem, confesso que já ando bastante cansado desta tática. FH já praticava o mesmo feitiço, mas Lula tem exagerado na dose. Ao invés de alguém que insiste em se descolar da realidade, criando versões e alternativas fantasiosas, eu preferiria um presidente que assumisse os atos do seu governo e se esforçasse para explicar a necessidade dos xaropes amargos. Mas isso sim parece fantasia.

segunda-feira, abril 25, 2005

Às vezes sempre



A música que postei abaixo, Sometimes Always, foi gravada pelo The Jesus and Mary Chain em 1994, num álbum chamado Stoned & Dethroned. Foi uma das últimas canções da carreira do grupo e suponho que, naquela altura, não deva ter agradado muito aos admiradores mais antigos da banda.

Sem microfonias ou distorções, Sometimes Always é apenas uma balada. Uma linda canção na qual Jim Reed suplica para que Hope Sandoval, sua cara-metade nos vocais, o receba novamente. Enfim, são raros os duetos românticos que não se transformam em pieguices constrangedoras. Não julgo se este salvou-se desta sina. Só sei que se tornou uma das minhas canções prediletas.

Assim como se vê nesta canção, as voltas nem sempre trazem explicações. Mas não se enganem. Sempre existe um motivo. Os porquês, no entanto, nem sempre são confessáveis ou, até mesmo, nem sempre são claros o suficiente para serem expressados.

Eu, que já declarei o fim inevitável deste bloguito, decidi agora pelo seu inevitável recomeço. Depois de mais de um ano, as mudanças por aqui se resumem ao template. Afinal, alguma coisa precisava mudar. Também havia pensado em me forçar alguma direção, me tornar mais focado e objetivo. Desisti. Porque sei que, de quando em quando, vou querer despejar por aqui divagações sem sentido e desabafos cifrados. Não tenho escapatória. Deixo então as regras para meu emprego das 8 às 17 e, aqui, vai ser escrever por escrever mesmo. E vamos nessa mais uma vez. Let’s fail better, ora pois.

I’ve been away and now I’m back, disse Jim Reed. Às vezes é simples assim. Ou, talvez, é melhor que seja simples assim.

Sometimes Always


I gave you all I had
I gave you good and bad
I gave but you just threw it back

I won't get on my knees
Don't make me do that please
I've been away but now I'm back

Don't be too sure of that
What makes you sure of that
You went away you can't come back

I walked away from you
I hurt you through and through
Aw honey give me one more chance

Aw you're a lucky son
Lucky son of a gun
You went away, you went away
You went away but now youre back

I got down on my knees
And then I begged you please
I always knew you'd take me back


De volta, mais uma vez. Com a ajuda da Corrente de Jesus e Maria.

sábado, abril 16, 2005



Antes de recomeçar a escrevinhar, quero quebrar um pouco a cabeça pra mudar o velho template. Reinício merece cara nova.

É um saco, cansativo deveras, mas acho que já estava com saudade de fuçar nesses códigos malucos de HTML. É claro que esqueci tudo do pouquíssimo que tinha aprendido antes. Agora é descobrir de novo, na tentativa e erro mesmo. Mas vamos lá, esperança, talvez valha a pena.

quarta-feira, março 30, 2005



Bom, então, que tal voltar com isso aqui, hein?

É isso aí. Vamos recomeçar a verborragia.