Mensagens furtivas. Idéias desconexas. Notícias ao léu. Opiniões duvidosas. Visões de Pasárgada
terça-feira, dezembro 24, 2002
É Natal...
Ao povo que ainda passar por aqui hoje, aproveito pra desejar uma feliz e boníssima noite de Natal.
Como estou sem poemas ou mensagens natalinas no meu estoque, não quero entrar em pregações edificantes. Apenas digo que gosto do Natal. E que acho importante esse espírito, nem que ele seja explicitado apenas agora no final do ano. Ter esperança não é ser hipócrita. Ter esperança é simplesmente necessário.
Espero que todos possam curtir a sua maneira esta data.
Com muita paz, amor e beijocas natalinas.
segunda-feira, dezembro 23, 2002
Ainda sem fotos...
Prometi que ia tentar. Tentar, tentei, conseguir já é outra estória...
Enquanto meu scanner não colabora e as fotos não vem, coloquei mas um dia de viagem lá no Diário de Bordo de Machu Picchu. Mais divagações à sua disposição...
quinta-feira, dezembro 19, 2002
Mais outro dia...
Acabei de colocar o DIA 3 lá no Diário de Bordo de Machu Picchu. Sei que os posts estão ficando compridos pra dedéu, mas foi o que escrevi, então vai assim mesmo. Quem tiver paciência e interesse, pode servir-se.
Prometo que ainda hoje vou tentar postar algumas fotos desses primeiros dias de viagem...
segunda-feira, dezembro 16, 2002
Quero mais...
Voltei de viagem e caí de cabeça no trabalho. Baita choque térmico, a semana passada foi desumana (expressões de piedade, por favor...). Me chamem de mal acostumado, mas já quero férias de novo. Ainda bem que o emendaço de fim-de-ano já está aí pra atender aos meus pedidos.
Energias sugadas pelas corporações imperialistas, blog em estado letárgico. Sabem aquela estória de ócio criativo? Pois é, é disso que estou precisando...
Mas apesar da cabeça vazia, sou um menino dedicado. Na falta de idéias, transcrevo mais um dia de viagem no Diário de Bordo de Machu Picchu. O DIA 2 já está lá...
terça-feira, dezembro 10, 2002
Diário de Bordo
Finalmente vamos sacudir a poeira e trazer esse bloguito de volta às atividades normais. Já estava mesmo sentindo falta de escrever aqui.
Voltei de viagem já na sexta, mas ainda estou misturando a correria do desfazer das malas junto com a volta ao trabalho. Se segundas-feiras já costumam ser maravilhosas, nada como uma segunda-feira pós-férias. Uma sensação de choque térmico prolongado. Mas aos poucos vou me acostumando...
Quanto à expedição Machu Picchu, valeu muito, muito a pena. Lugares sensacionais. Como viajei sozinho, acabei também tendo tempo para ler um pouco e escrever algumas besteirinhas.
Pensei em colocar essas "impressões" aqui neste bloguito, mas elas acabaram ficando um tanto confessionais e com um jeitão de diário que nunca foi a cara do "Cartas". Por isso achei melhor abrir um outro blog, o que também ajuda a organizar melhor as coisas. Vou colocar neste novo blog as anotações de cada dia da viagem, um dia de cada vez. Mais tarde também coloco algumas fotos.
Enquanto isso, o "Cartas" vai voltando às suas atividades normais.
Quem então estiver interessado em ler o Dia 1 do Diário de Bordo à Machu Picchu, por favor seja bem-vindo...
quarta-feira, dezembro 04, 2002
Mais do Peru
Já que ninguém resistiu aos trocadilhos infames com o
nome deste grande país latino, vamos enfiar o pé na jaca
de uma vez.
Para iniciar a série de trocadilhos do peru, que tal
esta: estava eu no trem para Cuzco, quando me deu aquela
vontade de descarregar o sistema hidráulico. Já no
banheiro, naquele momento relaxante defronte ao
mictório, eis que leio a seguinte mensagem fixada na
parede:
NO LANCE PAPIEL, BASURA O OBJECTOS
MANTENGA EL PERU LIMPIO
Ok, amigos, mas só porque voces pediram...
segunda-feira, dezembro 02, 2002
subject: Carta do Peru
date: 02.12.2002
Oi Ká!
Tudo bem contigo?
Olha só, cá estou eu refazendo a mesma trilha que voce fez um tempo atras. Bem, nao exatamente o mesmo caminho, mas quase. Mas já explico direitinho...
Estou aqui em Aguas Calientes, que como fiquei sabendo a apenas tres dias atras, é a cidade peruana mais perto de Machu Picchu. Bem, nao que de pra chamar isso de cidade, mas voce ve que ate internet cafe já há por aqui.
Alias, para minha surpresa, o que nao falta na Bolivia e no Peru sao esses internet cafes. Tenho que confessar que o que faltou para eu ter escrito antes foi mesmo um pouquinho mais de tempo e disposicao. Correria braba isso aqui... Mas enfim, no lugar da Carta de Maracangalha, eis aqui a primeira Carta do Peru (sem trocadilhos infames, ok?)
Bem, depois de ter passado por La Paz, atravessado o Lago Titicaca, dormido em Copacabana, passado a fronteira para o Peru e dormido em Puno, finalmente cheguei em Cuzco. Tremenda cidade, hein? Aqui sim vale a pena passar um bom tempo. Alias, tempo foi o meu problema, pois acabou nao dando tempo para fazer os 4 dias de caminho inca ate Machu Picchu. Senao, nao consiguiria voltar a La Paz a tempo de pegar o aviao pra Sampa.
De alguma forma porem eu chego lá... Peguei o trem de Cuzco pra cá e amanha acordo cedinho para subir uma trilha de 2 horas pra Machu Picchu. Nao sao 4 dias, mas ja da pra abrir a boca...
Depois conto os detalhes da viagem com mais calma. Agora vou ficando por aqui, esse negocio de internet cafe custa dinheiro...
Aliás, falando em dinheiro, como estao meus presentinhos de Natal? To esperando por eles, hein... ,-)
Beijoca,
Drex
sábado, novembro 23, 2002
Aviso aos Navegantes
Aos viajantes d'além mar que naufragarem por aqui durante os próximos 14 dias deixo um aviso: este bloguito está em recesso de viagem.
Após muita enrolação e pequenos imprevistos, finalmente coloco o pé na estrada amanhã. Machu Pichu lá vou eu... Quando voltar, conto um pouco das andanças, por isso espero que depois desse recesso vocês ainda se lembrem de aparecer aqui de vez em quando.
Se encontrar algum cybercafe perdido nas montanhas, quebro o retiro e venho aqui pra matar a saudade... Quem sabe envio uma "Carta do Peru" pra cá... No meio tempo, sirvam-se dos blogs indicados ali ao lado, e, se ainda houver paciência, dos arquivos aqui do Cartas.
Beijo, abraço e até mais!
terça-feira, novembro 19, 2002
Momento Supercine de Cinema
DOBRADINHA PORTENHA
Nove Rainhas (2000) e O Filho da Noiva (2001)
É um tanto sado-masoquista acreditar que das situações de crise e de sofrimento saem as melhores invenções. É triste, mas é a mais pura verdade. E se as guerras geram avanço tecnológico e as fossas criam as mais belas poesias, também é possível crer que o caos político-ecônomico argentino foi de certa forma estimulante para a retomada do cinema dos nossos hermanos portenhos. Esses dois filmes são excelentes: Nove Rainhas é do ano passado e já está disponível em vídeo; O Filho da Noiva, que estréia nos cinemas esta semana, era um dos indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro em março deste ano, ocupando um dos lugares que poderia ter sido de Abril Despedaçado. Mas vamos com mais calma:
Nove Rainhas, direção e roteiro do estreante Fabián Bielinsky, pela sua sinopse pode passar a idéia de ser mais um decalque do novo (ou não tão novo assim...) cinema americano, de Tarantino a Guy Ritchie: dois vigaristas pés-de-chinelo, unidos pelo acaso, envolvem-se num golpe milionário e enfrentam jogos, trapaças e reviravoltas em apenas um dia e meio de trama. Mas a semelhança se limita à sinopse. Nove Rainhas é mesmo novo, conseguindo ser moderno, esperto, ágil e engraçado sem em nenhum momento exibir tiroteios de escopetas ou exibir virtuosices estílisticas. Que eu me lembre, não morre ninguém em Nove Rainhas. Mas o filme não deixa de ser menos realista ou divertido por isso.
Ricardo Darín é o vigarista sênior que encontra por acaso nas ruas o jovem endividado Gastón Pauls. Sabendo que a ocasião faz o ladrão e sentindo um grande potencial ainda escondido no menino, o vigarista sênior não hesita em recrutar seu novo trainee. Cria-se então aquela relação delicada de mestre versus aluno, a delicada criação de confiança que vai se construindo e destruindo aos poucos.
Os vigaristas aqui não usam armas, são pequenos golpistas, como os velhos malandros da Lapa carioca, que com seus truques geniais vão coletando os trocados pelas ruas de Buenos Aires. O interessante é que, o que pode parecer inocente no primeiro momento, é colocado aos poucos numa moldura bem realista: ambos já vêem-se rodeados por uma cidade falida, com a população empobrecida e repleta de crianças mendigando nos faróis. Uma nova Argentina que faz lembrar muito mais o Brasil do que o orgulhoso país de alma européia de alguns anos atrás. Os vigaristas já sabem que o tempo já não é mais deles, que a violência galopa, que estão ultrapassados: precisam por isso de um novo e definitivo golpe, aquele que vai finalmente levá-los a aposentadoria. Eis que surgem então as Nove Rainhas.
É um daqueles filmes deliciosos em que se acompanha os diálogos espertos e as reviravoltas malandras com um sorriso nos lábios. Para finalizar, ainda com um daqueles finais mirabolantes, que ao mesmo tempo que faz dizer "nem f-----!!", dá vontade de ver o filme de novo para verificar se a saída faz sentido. E faz sentido - mesmo que a essa altura isso seja o menos importante.
Leia mais:
No Scream&Yell - o novo cinema latino versus novo cinema brasileiro.
No La Butaca - uma resenha espanhola.
Ricardo Darín é o vigarista sênior que encontra por acaso nas ruas o jovem endividado Gastón Pauls. Sabendo que a ocasião faz o ladrão e sentindo um grande potencial ainda escondido no menino, o vigarista sênior não hesita em recrutar seu novo trainee. Cria-se então aquela relação delicada de mestre versus aluno, a delicada criação de confiança que vai se construindo e destruindo aos poucos.
Os vigaristas aqui não usam armas, são pequenos golpistas, como os velhos malandros da Lapa carioca, que com seus truques geniais vão coletando os trocados pelas ruas de Buenos Aires. O interessante é que, o que pode parecer inocente no primeiro momento, é colocado aos poucos numa moldura bem realista: ambos já vêem-se rodeados por uma cidade falida, com a população empobrecida e repleta de crianças mendigando nos faróis. Uma nova Argentina que faz lembrar muito mais o Brasil do que o orgulhoso país de alma européia de alguns anos atrás. Os vigaristas já sabem que o tempo já não é mais deles, que a violência galopa, que estão ultrapassados: precisam por isso de um novo e definitivo golpe, aquele que vai finalmente levá-los a aposentadoria. Eis que surgem então as Nove Rainhas.
É um daqueles filmes deliciosos em que se acompanha os diálogos espertos e as reviravoltas malandras com um sorriso nos lábios. Para finalizar, ainda com um daqueles finais mirabolantes, que ao mesmo tempo que faz dizer "nem f-----!!", dá vontade de ver o filme de novo para verificar se a saída faz sentido. E faz sentido - mesmo que a essa altura isso seja o menos importante.
Leia mais:
No Scream&Yell - o novo cinema latino versus novo cinema brasileiro.
No La Butaca - uma resenha espanhola.
Fazendo a mesma relação, a sinopse de O Filho da Noiva, de Juan José Campanella, fará você temer aquele dramalhão sentimental com cara de novela das seis: quarentão divorciado vive as atribulações do dia-a-dia, dividindo-se entre a ex-esposa temperamental, a filha pré-adolescente, a namorada pós-adolescente, o pai ancião, a mãe doente e a administração do seu tradicional restaurante herdado da família - logicamente, entre todos estes, a maior parte da atenção vai para o restaurante. Então, um piripaque cardíaco faz o quarentão estressado rever seus planos, repensar suas prioridades e reconstruir sua vida.
Brega, né? Brega nada, vida. Sem sentimentalismos piegas ou soluções fáceis, o filme vai destrinchando, com extrema sensibilidade, humor e emoção, alguns nós e angústias presentes nesta nossa louca vida moderna. Ou talvez o problema não seja a vida moderna, mas sim algumas escolhas que temos que tomar desde sempre, relativas a temas não tão novos assim: amor, auto-realização, família, reconhecimento, amizade.
O quarentão aqui é Ricardo Darín (o mesmo vigarista sênior do Nove Rainhas, lembra?), fantástico. O piripaque dele traz à tona alguns problemas, mas as soluções mais fáceis não são sempre as verdadeiras. Os problemas tem raízes mais fundas, e as soluções verdadeiras dão trabalho de encontrar. Nesse processo, entra em jogo também um novo plano do seu velho pai. Esse plano envolve também sua mãe, e como ambos estão nos últimos suspiros, também torna-se um dilema para o quarentão apoiar ou não este derradeiro sonho.
Fazendo força para evitar o nacionalismo barato, temos que dar o braço a torcer - O Filho da Noiva, assim como Nove Rainhas, é um exemplo que o novo cinema argentino oferece também para nós da terra brasilis. Exemplo de como ser inteligente sem ser pretensioso, de como tocar temas profundos e ter sensibilidade sem necessariamente abusar de lirismos, metáforas, regionalismos, pores-do-sol e magníficas paisagens. O novo cinema argentino escancara a dura situação do seu país, mas ao mesmo tempo é universal, contemporâneo, real e urbano.
Cidade de Deus, mesmo muito diferente destes dois exemplos, já deu um passo a frente. Quem sabe estará no Oscar deste ano - se nenhum filme argentino atravessar o caminho novamente.
Leia mais:
http://www.elhijodelanovia.com/ - Site Oficial
Resenhas no Globo e no E-pipoca
Brega, né? Brega nada, vida. Sem sentimentalismos piegas ou soluções fáceis, o filme vai destrinchando, com extrema sensibilidade, humor e emoção, alguns nós e angústias presentes nesta nossa louca vida moderna. Ou talvez o problema não seja a vida moderna, mas sim algumas escolhas que temos que tomar desde sempre, relativas a temas não tão novos assim: amor, auto-realização, família, reconhecimento, amizade.
O quarentão aqui é Ricardo Darín (o mesmo vigarista sênior do Nove Rainhas, lembra?), fantástico. O piripaque dele traz à tona alguns problemas, mas as soluções mais fáceis não são sempre as verdadeiras. Os problemas tem raízes mais fundas, e as soluções verdadeiras dão trabalho de encontrar. Nesse processo, entra em jogo também um novo plano do seu velho pai. Esse plano envolve também sua mãe, e como ambos estão nos últimos suspiros, também torna-se um dilema para o quarentão apoiar ou não este derradeiro sonho.
Fazendo força para evitar o nacionalismo barato, temos que dar o braço a torcer - O Filho da Noiva, assim como Nove Rainhas, é um exemplo que o novo cinema argentino oferece também para nós da terra brasilis. Exemplo de como ser inteligente sem ser pretensioso, de como tocar temas profundos e ter sensibilidade sem necessariamente abusar de lirismos, metáforas, regionalismos, pores-do-sol e magníficas paisagens. O novo cinema argentino escancara a dura situação do seu país, mas ao mesmo tempo é universal, contemporâneo, real e urbano.
Cidade de Deus, mesmo muito diferente destes dois exemplos, já deu um passo a frente. Quem sabe estará no Oscar deste ano - se nenhum filme argentino atravessar o caminho novamente.
Leia mais:
http://www.elhijodelanovia.com/ - Site Oficial
Resenhas no Globo e no E-pipoca
quinta-feira, novembro 14, 2002
Momento Remexendo as Gavetas
Como alguns de vocês já sabem, no momento estou de férias e em casa. Um plano de viagem que faliu, uma faringe que se revoltou, e estou eu aqui, curtindo o aconchego do lar.
Nada a se reclamar, muito pelo contrário, mas vocês devem saber: depois de dormir 12 horas, almoçar, ver aquele gordinho-mala do Vídeo-Show e arriscar um começo de Sessão da Tarde, começa a dar uma certa formigação nas pernas (nas pernas, claro, pra não comprometer) e toca procurar alguma coisa pra fazer...
Antes que vocês comecem a pensar sacanagem, a primeira coisa que inventei fazer foi arrumar meu quarto. E isso inclui arrumar as gavetas, o que, pra mim, torna-se um verdadeiro trabalho arqueológico. Depois de horas de análise, selecionando o que merece ser jogado no lixo e o que é digno de guardar-se por mais alguns anos, achei algumas coisas especialmente interessantes. Coisas que decidi mostrar aqui pra vocês (viram como sou legal?).
Mas não se preocupem. Não se trata de nada escrito por mim, nenhum desabafo de adolescente apaixonado... Apenas alguns recortes guardados. O primeiro é uma lista de "mandamentos" escrita pelo dramaturgo Plínio Marcos. Pensamentos essenciais...
Na Trilha dos Saltimbancos
por Plínio Marcos
1. Onde houver autoridade não pode haver criatividade.
2. A arte é uma magia. A gente aprende, mas ninguém ensina.
3. Qualquer método logo vira um sistema burocrático. Mas nenhum método também pode virar um método.
4. A poesia. A magia. A arte. As grandes sabedorias não podem habitar corações medrosos.
5. Tudo se consegue com esforço. Não se chega a lugar nenhum sem andar.
6. A arte de um modo geral só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se pode discutir até as últimas consequências os problemas dos homens.
7. A cultura nas mãos dos poderosos constrange mais que as armas. Por isso a arte e o ensino na mão do governo é sempre sufocante.
8. É necessário aprender a arte de falar, de calar, de ouvir. Não escute e não fale movido pelo jogo do intelecto e da imaginação. E nunca se cale por inibição.
9. Para poder ver é necessário esquecer a religião, a educação, a ideologia.
10. Cuidado com o papo dos velhos. Geralmente tudo que falam e ensinam é para imobilizar a criação renovadora. Tudo que dizem é para justificar a vida miserável que viveram.
11. Não se apegue a nada.
Essas coisas eu escutei pela trilha dos saltimbancos em mais de quarenta anos de andança. Tem me valido.
quarta-feira, novembro 13, 2002
O Blog do Ernesto...
O Marcelo Tas, aquele cara que apesar de ainda jovem é careca desde que me lembro dele, sempre está aprontando das suas. Lembram do Ernesto Varella, aquele repórter maluco que saía entrevistando o povão pela rua? Pois é, já era ele há mais de 15 anos (e já careca...) Confesso que sempre me confundi entre quem era o personagem e quem era o jornalista de verdade... Mais recentemente, no comando do Vitrine, tornou o programa da TV Cultura bem ágil e contemporâneo, inclusive plugado nas novidades da internet.
Para continuar inovando, esta semana o cara lançou seu novo programa na rádio Brasil2000 FM: o Blog do Tas. Confesso que ainda não ouvi o programa, mas só a idéia em si já é interessante. Resta saber se vai ser mesmo explorado o potencial de comunicação gerado pela união dessas duas mídias, o rádio e a internet. Além é claro da capacidade de participação e interação com o público que a ferramenta do blog oferece.
Pode sair coisa muito legal disso aí. Como também pode ser algo simplesmente visando aproveitar o boom bloguício no país. De qualquer forma, não deixa de ser interessante ver os blogs extrapolarem o mundinho virtual e começarem a invadir as grande mídias.
terça-feira, novembro 12, 2002
Momento Supercine de Cinema
O grande Carlos Gerbase, cineasta, crítico, punk e músico gaúcho, escreveu entre 1999 e 2000 uma sensacional coluna de cinema no extinto portal ZAZ, que depois virou Terra. Suas resenhas de filmes seguiam sempre uma determinada estrutura própria. Estrutura essa que vou copiar aqui, é claro que sem nenhuma autorização.
FALE COM ELA
Rapidinho...
Fale com Ela (Hable con Ella, de Pedro Almodóvar, 2002), é a estória de dois homens que, unidos por coincidências fantásticas que só mesmo Almodóvar pode tornar possíveis, passam a envolver-se em torno do relacionamento e da dedicação que cada um deles tem com suas mulheres. A genial mão do espanhol está sempre lá, na sensibilidade e beleza da estória e dos personagens, na força das cores, dos cenários, da música (brasileira, por sinal). Tudo que um fã do diretor reconheceria num primeiro olhar, mas que também agora é capaz de agradar e encantar mesmo àqueles que nunca foram com a cara do alegre espanhol. Dito isso, tenho que confessar uma coisa: não gostei de Fale com Ela.
Agora com mais calma...
Tudo bem, talvez isso seja só coisa de admirador chato. São poucas as pessoas hoje de quem posso dizer que sou realmente um fã. Fã no sentido de conhecer e gostar da obra, de esperar ansiosamente pelo próximo trabalho. Teria que pensar para escolher outros exemplos, mas posso dizer sem titubear: sou fã de Pedro Almodóvar. E talvez essa expectativa (maldita seja...) tenha me feito decepcionar diante de Fale com Ela. De novo: é um filme ótimo, acima da média, sucesso de crítica e que vale a pena ser visto. Mas saí do filme com a nítida sensação de que faltou algo.
Almodóvar é um dos poucos diretores contemporâneos que conseguiu aliar o cinema autoral com sucesso comercial. Seu estilo é único e inconfundível, ao mesmo tempo que consegue encontrar reconhecimento na indústria e no mercado. Um filme de Almodóvar é uma obra de Almodóvar: ele escreve, dirige, manda e desmanda, imprime a sua marca e ainda consegue ganhar dinheiro com isso. Poucos diretores tem hoje essa capacidade e esse poder.
O próprio diretor denomina seu estilo como "neorrealismo fantástico" ou "naturalismo do absurdo". Nos primeiros filmes, mesmo já fantástico e genial, Almodóvar possuía uma expressão exagerada, neurótica, visceral. Estórias como as de O Matador(1985) e Kika(1993) chegam a ser bem estranhas, ainda mais dentro da sua estética do exagero. Sem dúvida a obra-prima desta primeira fase é Mulher a Beira de Um Ataque de Nervos(1987), filme onde a mistura de todos seus ingredientes sai perfeita: o acaso, o absurdo, o humor, o desvendamento da alma feminina, tudo se equilibra de forma magnífica.
Já consagrado internacionalmente (leia-se, também nos EUA), seus três últimos filmes tem sido recebidos como obra-primas pela crítica. Desde Carne Trêmula(1999), passando por Tudo Sobre Minha Mãe(2001) e chegando agora à Fale com Ela, Almodóvar demonstrou amadurecimento, sofisticou suas mensagens, depurou seu estilo. Conseguiu lapidar seu exagero natural. Mas, nesse processo, sempre corre-se o risco de perder algo da magia e da energia anterior. Perder o seu mojo, como diria Austin Powers...
Mas ainda não falei nada sobre Fale com Ela. Muito se comentou que o tema do filme era a amizade entre dois homens, que Almodóvar, após tanto analisar as mulheres, colocava agora seu foco agora sobre a alma masculina. Não concordo. Acho que a estória apenas utiliza dois personagens masculinos para tratar de um só tema, muito mais amplo e geral. Pois temos de um lado a estória da dedicação e do amor incondicional que um homem tem para uma mulher, e, do outro lado, um outro homem que ainda busca descobrir dentro de si essa capacidade de amar.
O que o filme explora é essa busca pela capacidade de se entregar, de amar verdadeiramente. Um assunto sem dúvida belo, que causa tamanha estranheza no mundo atual que só poderia ser simbolizado por um personagem às raias da loucura. A amizade masculina não chega a ser analisada no filme, é apenas um pano de fundo para o aprendizado entre os personagens. Em Carne Trêmula, por exemplo, Almodóvar explora muito mais alguns comportamentos tipicamente masculinos. Para mim Fale com Ela ainda é um filme sobre a alma feminina, talvez o veredicto de Almodóvar quanto a isso. Após tantos filmes devassando o labirinto feminino, dá para sentir um certo ar conclusivo no genial diálogo onde o enfermeiro explica ao escritor como uma mulher pode ser misteriosa mas, ao mesmo tempo, pode ser bem simples de se agradar.
Apesar de todas suas qualidades, falta a Fale com Ela um pouco mais de ritmo, de energia, da força que se espera de um filme de Almodóvar. Ao pensar no filme assim, a posteriori, não faltam pontos positivos. Mas ele é sempre morno, nunca chegando a realmente envolver. Cenas lindíssimas, como as da tourada ao som de Elis Regina, valem o ingresso, mas não fazem a estória decolar.
Talvez o problema seja a expectativa imposta pelo nome do diretor. Mas é impossível fugir disso, afinal, esperei mais de um ano para ver esse filme. Ainda acredito que Carne Trêmula é o auge desta nova fase de Almodóvar. Muita gente prefere Tudo Sobre Minha Mãe, mas acho que o primeiro tem mais vida, mais sal, mais graça. Ainda assim, Tudo Sobre Minha Mãe tem qualidades superiores à fase antiga de Almodóvar. Já Fale com Ela, infelizmente, faz ter saudades de outros tempos.
Leia Mais:
Site Oficial - Muito legal, mergulhe agora...
Na Folha, no Globo, no zine Contracampo
Ainda dá pra se ufanar...
- A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em excursão internacional, foi ovacionada pelo público nova-iorquino após apresentação neste domingo. O metidíssimo maestro John Neschling, após atender os pedidos de bis, voltou cinco vezes ao palco para receber os aplausos. Vai ficar mais metido ainda, e com toda a justiça. Mesmo para quem não é fã de música erudita, vale muito a pena ir até a fantástica Sala São Paulo, na Estação Júlio Prestes, e assistir qualquer apresentação da OSESP. Preços a partir de 12 reais, mais barato que alguns cinemas.
- Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, foi um dos sete indicados ao European Film Awards, na categoria de melhor filme não-europeu. Isso mesmo sem o filme ter sequer estreado comercialmente na Europa (Cidade de Deus foi apenas exibido no último Festival de Cannes, em mostra paralela).
Notícias chupinhadas das notinhas do Caderno 2 do Estadão.
Demorei?
É isso aí, mesmo sem ter ido a lugar algum, estou de volta. Para os que sentiram falta, minhas desculpas. Para os que não sentiram, olá, tudo bem, como estão?
A semana passada foi um tanto corrida pra mim. Fiz aniversário, última semana de trabalho antes das férias, planos de férias indefinidos. Pra terminar, todo esse fim de inferno astral mais a montanha-russa climática de Sampa me deram de presente uma bela faringite neste fim-de-semana.
Mas agora que meus linfócitos ganham terreno sobre as bactérias visitantes, sinto que este bloguito já pode voltar a programação normal. Pelo menos até eu arrumar minhas malas e decidir pra onde raios afinal eu vou viajar...
quarta-feira, novembro 06, 2002
Torcer não custa nada...
Os boatos estão soltos.
O responsável pelo primeiro deles é o Alexandre Petillo, editor da Zero, que já tinha antes comentado no blog da revista e agora publicou uma matéria no Folhateen. Como não podia deixar de ser, o guru-indie Lúcio Ribeiro já tratou de espelhar a notícia na sua coluna de hoje. Ou seja, a essa hora o burburinho já se espalhou indefinidamente. Melhor - mais gente pra sonhar, torcer e rezar por isso.
É o seguinte: dizem as santas línguas que teremos brevemente na terra brasilis um megafestival de rock. Quando? Em março de 2003. Onde? Em Curitiba, capital cultural da América Latina. Com quem? Parece que as negociações estão adiantadas com coisas como Radiohead, Strokes, White Stripes, Wilco, Hives, Vines, Foo Fighters. Tá bom ou quer mais?.
Mas ainda tem mais. Um segundo boato, também chupinhado do blog da Zero, diz que a banda independente-militante Manic Street Preachers, empolgada com a vitória do Lula, estaria disposta a fazer um show no país a preço de custo.
Malditos sejam se levantarem minhas expectativas assim e depois não acontecer nada. Promessas também não faltaram esse ano. Mas, se a esperança derrotou o medo e até o Rush veio, quem sabe... Dedos cruzado, por favor.
terça-feira, novembro 05, 2002
Fim do Garagem
Ontem, às 22 horas, foi transmitida a última edição do Garagem, programa semanal da rádio Brasil2000 FM dedicado ao rock alternativo em geral, produzido e apresentado pelos voluntários André Barcinski, Paulo César Martin e Álvaro Pereira Júnior. Segundo essas três figurinhas carimbadas do jornalismo musical, o programa foi tirado do ar pela direção da rádio.
Nunca concordei “ideologicamente” com o Garagem, com sua crítica generalizada a tudo que é MPB e com os ataques sistemáticos aos bodes expiatórios preferidos do programa: sinhô Caetano e o atual “trio-balista” (aqui aproveito para confessar que curto bastante a Marisa Monte, acho o Carlinhos Brown e o Arnaldo Antunes exageradamente viajantes, mas reconheço seu talento; quanto a Caetano, já devia estar internado, mas seu passado tem muito crédito). Sempre achei que isso tudo, mais o lance de destruir CDs com furadeira, acabavam reforçando uma idéia de pretensão, sectarismo e exclusivismo da música alternativa (e sempre achei que o objetivo deveria ser o contrário).
Pode parecer contraditório (que novidade, eu contraditório...), mas mesmo assim, eu ouvia, gostava e, por consequência, lamento bastante esse final repentino. Era o tipo de programa com o qual você pode não concordar racionalmente, mas ainda assim se diverte muito com ele. Eu fazia o papel de ouvinte "mulher-de-malandro", "bate que eu gosto" - e suponho que era essa discordância que fazia a graça. Eu sabia que o polemicismo era barato e sem sentido, proposital até, mas mesmo assim não deixava de ser engraçado. E ainda haviam as músicas, sempre agradavelmente desconhecidas.
É pena também pela perda de um dos poucos espaços na mídia para músicas que não entram no esquemão do set-list jabazeiro das FMs de rock. Além também do papel jornalístico e ativista que o programa exercia na cena de rock alternativo. Os indies agora, pelo menos nas ondas do rádio, estão órfãos. Ou dá pra se contentar com o Kid Vinil?
O Garagem era pretensioso e sectário, mas também era engraçado, musicalmente diferente e deliciosamente politicamente incorreto. Talvez seu trio de agitadores ainda finque a bandeira em um novo espaço, quem sabe. Até lá, que vayan com Dios.
segunda-feira, novembro 04, 2002
Hoje...
Hoje é aniversário da Karina, minha querida mana, escorpiana misteriosa e arretada, senhora Freitas de respeito, exilada na Califórnia e destinatária-mor destas Cartas de Maracangalha.
Parabéns Ká!! Beijo e muita força!
P.S.: Mando a letra abaixo de presente. Não precisa reclamar, eu sei que sua vida aí não anda tão dura como a da Iracema, mas não adianta, sempre que escuto essa música lembro de você ;-)
Iracema voou
Chico Buarque
Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
Tem saído ao luar
Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudade do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita
Me liga a cobrar
- É Iracema da América
sexta-feira, novembro 01, 2002
Why deny the hype?
Depois que comecei meu mergulho no mundo blogueiro não passo um dia sequer sem dar de cara com o nome de Charles Bukowski. O velho escritor, beberrão beatnik, parece ser um dos maiores lugares comuns da “cultura alternativa”, “nova literatura”, “escritores independentes”, “geração Y” ou seja lá o que for. Amado, odiado, sempre estão lá, seja falando dele, seja apenas citando seu nome.
Por Odin, como nunca li nada desse cara antes? Mas que raios, ora bolas, também sou curioso, fui pegar algo pra conferir. Tinha lido em algum lugar que a onda era tal que seus livros tinham preços inflacionados nos sebos, devido à raridade. Mas encontrar algo não foi difícil nem caro - a LP&M lançou alguns títulos em sua coleção de livros de bolso (aqueles branquinhos e baratos, a venda até em lojas de conveniência, sabem?). Escolhi e comprei o “A Mulher Mais Linda da Cidade e Outros Contos” que, como o nome diz, é um livro de contos.
Entre altos e baixos, gostei bastante. Ao menos me deixou com vontade de ler algum romance dele. Mas Bukowski não virou meu Deus. Bem menos, passou longe disso...
De certa forma, porém, foi possível entender um pouco da idolatria e do apelo que o velho beberrão tem hoje. Sua literatura é auto-referente, ou seja, Bukowski coloca no papel suas experiências e sentimentos. De uma forma bastante direta e crua, quase sempre pela perspectiva mais disponível, a sua. Lembra algum fenômeno atual da internet?
O universo dos contos é bem pesado. Repleto sempre de bebidas, mulheres, ociosidade, piadas escatológicas, taras, loucos variados e vícios diversos. Entre longas narrativas de bebedeiras e enjôos, Bukowski encaixa alguns diálogos e sacadas geniais e faz uma ou outra reflexão interessante sobre a futilidade do homem, da América ou do Dry Martini. Essas reflexões são a melhor parte da leitura.
A questão é que esse foco auto-referente torna-se muitas vezes limitado. Há contos realmente muito bons, mas o tal “umbiguismo” acaba sendo cansativo. Na verdade, não me cansei da escrita de Bukowski, me cansei dele. O que, nesse caso, acaba dando na mesma. Talvez seu estilo dê melhor resultado na poesia, e realmente dizem que as suas são muito boas.
É claro que há muito espaço para arte no simples colocar de emoções sobre o papel. Por outro lado, sempre acreditei que o grande barato, a genialidade do escritor, está na criatividade, na sua capacidade de criar situações e personagens e de possuir empatia e sensibilidade suficientes para preenche-los de emoção autêntica e torná-los reais. Coisas como Chico Buarque e suas personas femininas, só para dar um exemplo descabido.
Bukowski é um bluesão de raiz, um desabafo cru, rasgado e visceral. Recomenda-se sempre ouvir blues, fortalece a alma. Eu adoro. Mas, às vezes, dá vontade de ouvir algo mais do que isso.
Leia mais em inglês:
http://www.levee67.com/bukowski - bio e biblio grafias
http://www.mindspring.com/~stewarts/poetry.htm - poesias
http://www.mindspring.com/~stewarts/bibliography.htm - alguns textos
Leia mais em português:
http://www.conradeditora.com.br/buk/ - biografia e trechos
http://fraude.org/joca.php - esse não acha tudo isso
http://www.screamyell.com.br/literatura - já esse gostou
brasileira!preta - a nossa bukowaska
Depois que comecei meu mergulho no mundo blogueiro não passo um dia sequer sem dar de cara com o nome de Charles Bukowski. O velho escritor, beberrão beatnik, parece ser um dos maiores lugares comuns da “cultura alternativa”, “nova literatura”, “escritores independentes”, “geração Y” ou seja lá o que for. Amado, odiado, sempre estão lá, seja falando dele, seja apenas citando seu nome.
Por Odin, como nunca li nada desse cara antes? Mas que raios, ora bolas, também sou curioso, fui pegar algo pra conferir. Tinha lido em algum lugar que a onda era tal que seus livros tinham preços inflacionados nos sebos, devido à raridade. Mas encontrar algo não foi difícil nem caro - a LP&M lançou alguns títulos em sua coleção de livros de bolso (aqueles branquinhos e baratos, a venda até em lojas de conveniência, sabem?). Escolhi e comprei o “A Mulher Mais Linda da Cidade e Outros Contos” que, como o nome diz, é um livro de contos.
Entre altos e baixos, gostei bastante. Ao menos me deixou com vontade de ler algum romance dele. Mas Bukowski não virou meu Deus. Bem menos, passou longe disso...
De certa forma, porém, foi possível entender um pouco da idolatria e do apelo que o velho beberrão tem hoje. Sua literatura é auto-referente, ou seja, Bukowski coloca no papel suas experiências e sentimentos. De uma forma bastante direta e crua, quase sempre pela perspectiva mais disponível, a sua. Lembra algum fenômeno atual da internet?
O universo dos contos é bem pesado. Repleto sempre de bebidas, mulheres, ociosidade, piadas escatológicas, taras, loucos variados e vícios diversos. Entre longas narrativas de bebedeiras e enjôos, Bukowski encaixa alguns diálogos e sacadas geniais e faz uma ou outra reflexão interessante sobre a futilidade do homem, da América ou do Dry Martini. Essas reflexões são a melhor parte da leitura.
A questão é que esse foco auto-referente torna-se muitas vezes limitado. Há contos realmente muito bons, mas o tal “umbiguismo” acaba sendo cansativo. Na verdade, não me cansei da escrita de Bukowski, me cansei dele. O que, nesse caso, acaba dando na mesma. Talvez seu estilo dê melhor resultado na poesia, e realmente dizem que as suas são muito boas.
É claro que há muito espaço para arte no simples colocar de emoções sobre o papel. Por outro lado, sempre acreditei que o grande barato, a genialidade do escritor, está na criatividade, na sua capacidade de criar situações e personagens e de possuir empatia e sensibilidade suficientes para preenche-los de emoção autêntica e torná-los reais. Coisas como Chico Buarque e suas personas femininas, só para dar um exemplo descabido.
Bukowski é um bluesão de raiz, um desabafo cru, rasgado e visceral. Recomenda-se sempre ouvir blues, fortalece a alma. Eu adoro. Mas, às vezes, dá vontade de ouvir algo mais do que isso.
Leia mais em inglês:
http://www.levee67.com/bukowski - bio e biblio grafias
http://www.mindspring.com/~stewarts/poetry.htm - poesias
http://www.mindspring.com/~stewarts/bibliography.htm - alguns textos
Leia mais em português:
http://www.conradeditora.com.br/buk/ - biografia e trechos
http://fraude.org/joca.php - esse não acha tudo isso
http://www.screamyell.com.br/literatura - já esse gostou
brasileira!preta - a nossa bukowaska
Outros navegantes...
Como sexta-feira passada (já está virando tradição isso...) coloco mais algumas dicas de blogs na lista dos Navegantes d´Além Mar preferidos.
Desta vez entram ali os Pensamentos Imperfeitos da Bia, para quem gosta de poesia; o Spectorama que, mais do que blog, é o site do “escritor pop” André Takeda; e finalmente o Epinion, blog ducarai da digníssima Paula Foschia.
Última palavra
Se você não agüenta mais a enxurrada de análises sobre a vitória do Lula, tome fôlego e leia o último e definitivo texto sobre isso aqui.
Se você estava em Marte e ainda não leu nada sobre a vitória do Lula, dispense outras coisas, basta ler isso aqui.
O Hélio Schwartzmann é tão racional e objetivo que chega a ser pessimista. Mas é sempre lúcido e coerente. Vale a pena conferir.
quinta-feira, outubro 31, 2002
Acoxambrações
Isso se escreve assim mesmo? Esse "x" está bem esquisito... Mas, se a palavra vem de "fazer nas coxas", deve ser assim mesmo...
O fato é que, graças a uma amigona do meu coração (não vou revelar o nome para salvá-la de pedidos indecorosos...), consegui resolver o problema dos comments aqui do bloguito. Agora também tenho YACCS!! Obrigadíssimo mesmo, senhorita!!
Mas, como pra mim nada é simples, agora começa a tal acoxambração. Por enquanto, vou deixar os dois sistemas de comentários ativos. O Enetation deve voltar ao ar daqui a pouco (ou quando Deus quiser...) e ali ficam guardados ainda os comentários antigos. Nos posts novos, peço que vocês dêem preferência ao YACCS para comentar.
Assim me desagarro do passado aos poucos, sem traumas nem choros...
quarta-feira, outubro 30, 2002
Everybody loves George?
No afã (bonito isso, hein?) de expressar opinião e defender algum ponto-de-vista, muitas vezes corre-se o risco de fazer simplificações fáceis e recorrer a generalizações.
Isso acontece muito, por exemplo, quando se desce a lenha nos nossos irmãos americanos do norte, os malditos, capitalistas e tapados ianques. Eu mesmo já me referi aqui à estupidez da "unanimidade bushiana" que demonstra-se dominante nos EUA.
Tudo bem, na sua maioria, a visão de mundo deles não deve passar da cerquinha branca do jardim, mas existem (precisam...) haver exceções. Sempre digo que Os Simpsons é a última esperança viva de que, pelo menos, ainda existe auto-crítica na cabeça do americano.
Por exemplo, para provar que nem todo mundo nos States concorda com o Bush, minha mana Ká enviou para mim esta tira de quadrinhos, publicada no San Francisco Chronicle. Eu só agradeço. Neste caso, é muito bom saber que minha generalização estava exagerada...
Ibope de Links
Os últimos dias foram bem monotemáticos neste bloguito. Já deu, né? Hora de mudar de assunto...
Uma das ferramentas que mais gosto neste mundo blogueiro é o TopLinks. Ainda por cima, é produto nacional: foi desenvolvido por um brasileiro exilado no Canadá, o Cris Dias, inspirado no gringo Blogdex.
O “robozinho” do TopLinks varre todos os blogs cadastrados no seu sistema e oferece uma lista dos principais endereços “linkados” nestas páginas. Já encontrei muita coisa nova e interessante mergulhando nessa lista.
Mais bacana ainda é a nova função da ferramenta: você coloca um endereço (sua página, por exemplo) e ele te mostra todos os links deste endereço encontrados nos mais de 34.000 blogs já cadastrados. Bem legal.
Já tinha me cadastrado há algum tempo. Agora coloquei o “robozinho” ali embaixo, na coluna da esquerda. Dê um pulinho lá, confira e não esqueça de cadastrar também o seu bloguito.
terça-feira, outubro 29, 2002
Perdoai-os, eles não sabem o que falam
Com a palavra o colunista social do Estadão, Cesar Giobbi...
Portas abertas
O Brasil, uma hora ou outra, ia ter de viver esta experiência de esquerda. Pois não há melhor momento do que este. O País está estruturado, organizado, saneado. FHC deixou tudo pronto, inclusive portas abertas para mais mudanças e consertos. O que não deu para fazer foi porque o PT não deixou. Mas vai ter de fazer agora. Portanto, mais do que um governo de ruptura, este vai ser um governo de continuidade. Embora o discurso seja completamente outro, a verdade é essa mesmo. Graças a Deus. Porque o Brasil, com suas exigências, é maior do que qualquer ideologia. Começa, portanto, em janeiro, a administração Silva & Silva. E vamos todos torcer para que dê certo. O que ninguém quer é que o Brasil ande para trás.
Ao ler isso, num primeiro momento, senti um misto de raiva com desgosto (vcs já perceberam como adoro sentimentos misturados...). Esse "torcer pra que dê certo", na verdade preenchido pela ironia e pela inevitabilidade do "já que é assim, fazer o quê", é duro de engolir.
Mas o pior para o meu estômago foi a notinha seguinte. Não era opinião dele, simplesmente um relato do pensamento de terceiros:
Adesivo ressentido
Assim mesmo, há quem tenha ficado ressentido com os resultados mais do que esperados das urnas. Já se ouviu, no fim de semana, em almoços, gente dizendo que vai usar nos vidros dos carros adesivos dirigidos aos pedintes e ambulantes das esquinas. Nos adesivos, a frase: "Vai pedir pro Lula."
Nesse ponto fiquei fulo mesmo. Cogitei até enviar um e-mail para o tal colunista; depois pensei que seria melhor achincalhá-lo aqui mesmo.
Mas não vou achincalhar ninguém. César Giobbi assina sua coluna e, portanto, escreve o que bem entender. Tem o direito de destilar a vontade sua mágoa ressentida e de expressar a ignorância da aristocracia paulista como quiser. Talvez seja difícil de acreditar, mas agora não são mais eles que estão no palácio. E isso deve doer.
Discordâncias e cobranças são sempre salutares e necessárias. Com certeza o novo governo sofrerá críticas ferozes. Algumas serão embasadas, coerentes e construtivas; outras, infelizmente, virão como aquelas acima: ignóbeis, preconceituosas e limitadas. A verdade é que sempre vai haver esse tipo de opinião, de ambos os lados deve-se dizer. Mas não vou "patrulhar" o pensamento dos outros, como dizem por aí. Apenas discordo e lamento.
Triste é ver esse tipo de opinião publicada e assumida. Triste é constatar a ainda gigante miopia de certas pessoas, incapazes de perceber que estamos todos no mesmo barco.
Cair de pé, ou não...
Eu não tinha nada contra ele, até admirava o dito. Era meio sem-graça, mas parecia confiável e competente. Submetido à pressão, no entanto, aos poucos foi revelando sua arrogância e prepotência.
Subjugado, rejeitado, derrotado - mas ainda vivo - poderia demonstrar um pouco de dignidade e espírito público, isso não faria mal a ninguém. Mas não. É tão obsessiva sua ambição individual que já estou pegando raiva desse sujeito
Xô Uruca!!
subject: Carta de Maracangalha XII
date: 28.10.2002
Oi Ká!
Tudo bem contigo?
Estava com a idéia de que esta seria a carta de número 13. Mas não, é apenas a 12. É, você acertou, eu queria fazer um trocadilho e não deu certo. Porque o 13 é mesmo o número da vez...
Você precisava estar aqui ontem; a festa foi emocionante. É cair no lugar comum, mas foi tudo inesquecível. Ainda mais após três semanas de segundo turno gerando um sentimento contraditório, uma mistura de ansiedade e receio. Havia uma tensão no ar, uma espera nervosa pelo que já deveria estar certo.
Mas como o difícil é mais gostoso, talvez tenha sido melhor assim. Ontem soltou-se o grito da garganta e a comemoração lembrou Copa do Mundo: o povo na rua, a manifestação de alegria, a emoção no rosto das pessoas. Mas foi ainda mais bonito que qualquer conquista de campeonato mundial. A felicidade ali não era da vitória já consagrada, mas da esperança pelo futuro.
Essa esperança pode ser piegas, boba até, mas me deu um nó na garganta. Olhos realísticos e objetivos podem achar tudo isso sem sentido e sem valor. Mas ver na TV hoje o depoimento das mais diferentes pessoas, enchendo o peito de confiança, identificação e orgulho com o Lula, foi, com o perdão da palavra, muito foda. Se todo esse símbolo, essa energia, essa força não tiver valor, não sei de mais nada. Depois de muito tempo de ceticismo, ontem eu vi fé nos olhos das pessoas. Vontade de mudar e de fazer desse país um lugar decente.
Confesso que tudo isso mexeu comigo. E olha que, como você sabe, não sou um petista categórico, muito menos militante, nem mesmo sou um eleitor fiel do Lula. Lembra de como, nesta nossa querida casa de família unida e imigrante, de vovôs malufistas e papais pragmáticos, não é fácil assumir-se um idealista. Tive de começar aqui pela comarca, com o saudoso Celso Daniel, oPTando aos poucos, passando por deputados e senadores, escolhendo Bicudos, Suplicys e Genoínos, mas sempre colocando estes no meio de outros tucanos. Você sabe também que tenho um lado crítico, chato e racional, que odeio adesismos automáticos. Talvez por isso, somado quem sabe a um preconceito subconsciente, nunca havia votado no Lula antes. Foi preciso me decepcionar com a estagnação política do tucanato para que, no começo deste ano, eu "saísse do armário" de uma vez.
Posso dizer que matei a Regina Duarte de dentro de mim e Lulei gostoso. E a primeira vez, como todas da vida, foi emocionante e inesquecível.
Agora a hora é de cobrar consistência, exigir coerência, apoiar e reclamar quando adequado e necessário. Acredito que o tal "pacto social" e o "amplo debate", tão declamados pelo barbudinho, são muito importantes. Por outro lado, tenho receio que esse discurso comece a ter cheiro de "Centrão", aquela velha coalizão da Constituinte de 88, onde sempre cabia mais um. É perigoso passar a colocar para dentro da mesma panela todo e qualquer ingrediente. Existem interesses divergentes sim, e às vezes escolhas terão de ser feitas. Que sejam as escolhas certas.
Aí nos States parece que a repercussão foi melhor que o esperado, não? Vi ontem na CNN a Av. Paulista coberta de bandeiras vermelhas, foices e martelos, mas a apresentadora gringa não parecia ter um tom alarmista. O discurso era até bem positivo. Que sentiste? O Tio Bush ligou pro barbudinho hoje e dizem que tiveram uma prosa amistosa e "esfuziante". Nice people, hein?
Bem, chega de lero-lero. Análises e divagações não faltam por aí... O que importa agora é que a expectativa virou realidade e que a pedreira que se tem pela frente é dura, muito dura.
Como diriam os doutos, alea jacta est...
Tudo de bom e inté mais ver..
Beijo,
Drex
segunda-feira, outubro 28, 2002
domingo, outubro 27, 2002
Sempre me alertaram pra não juntar emoção com decisão
E que a esperança não combina com o atual déficit cambial
Cuidado pra não sonhar e depois posar de palhaço
Me aconselharam o equilíbrio e a razão
E me deram um coração cansado
Por favor, me deixem
Que venha o futuro
Hoje eu só quero
pensar
agir
ser
um otimista
sexta-feira, outubro 25, 2002
quinta-feira, outubro 24, 2002
Momento Supercine de Cinema
Filmes da Mostra SP de Cinema
(ora, por que perder a oportunidade afinal?)
AGORA OU NUNCA
O Ministério da Saúde Britânico deveria obrigar o diretor e roteirista Mike Leigh a estampar no cartaz promocional de Agora ou Nunca (Inglaterra, 2002) a seguinte advertência: “assistir deprimido pode levar ao suicídio”. Respire fundo, tudo aqui vai ser angustiantemente simples, banal, tedioso e sem-sentido. Irreversível, muitas vezes. No final, pode parecer sadismo, mas a jornada vale a pena.
Se você assistiu ao mais aclamado filme de Mike Leigh, Segredos e Mentiras, ganhador da Palma de Ouro em Cannes 1996, sabe do que estou falando. Leigh, inspirado por suas raízes teatrais, costuma fazer filmes de baixo orçamento, com diálogos improvisados, elenco sem glamour e estórias simples sobre a vida cotidiana. A partir da vida aparentemente sem sal de pessoas comuns, ele consegue sempre extrair dramas intensos e dissecar personagens inesperadamente complexos.
Em Segredos e Mentiras ainda havia algum humor e auto-ironia, mas aqui o buraco é mais embaixo. Agora ou Nunca aborda a vida de três famílias proletárias moradoras de um mesmo conjunto habitacional. Passando por todos os problemas corriqueiros da vida, do alcoolismo à depressão, da falta de dinheiro à gravidez indesejada, todos ali se identificam em duas coisas: não vêem muito sentido nas suas vidas e estão acomodados com isso. Só uma das personagens exibe algum otimismo. No mais, todos parecem estar afundando numa espiral sem saída.
O que angustia aqui é a visão de que a vida não precisa ser trágica para ser triste. De como as limitações, frustrações e insatisfações do dia-a-dia acabam isolando cada um num mundo solitário e sem sentido.
No final do filme, nossas almas são salvas e concede-se um fio de esperança para os personagens. Mas isso acontece sutilmente, pois os problemas continuam todos lá, todos ainda por resolver. O que muda, simplesmente, é o modo de encarar estes problemas.
Talvez Leigh abuse um pouco da tragédia cotidiana de seus personagens. Ou talvez apenas carregue nas tintas para explicitar os absurdos labirintos em que costumamos entrar. Acaba usando um pouco da estratégia de ir até o fundo do poço para só então propor alguma saída. Esse tipo de redenção funciona melhor em Magnólia, mas a comparação seria injusta: Magnólia é uma obra-prima.
Agora ou Nunca não é uma obra-prima, mas é humano, sensível e honesto. Por isso, acaba não sendo de fácil ingestão. Mas, como propõe o filme, a vida não é fácil, mas é a vida.
Leia mais:
http://www.mgm.com/ua/allornothing/ - Site
http://www.contracampo.he.com.br/43/agoraoununca.htm - Elogio a sensibilidade
http://www.contracampo.he.com.br/43/agoraoununca2.htm - Critica ao pessimismo
quarta-feira, outubro 23, 2002
Momento Supercine de Cinema
Filmes fora da Mostra SP de Cinema
(porque ainda existem filmes em cartaz que eu ainda não vi...)
CASAMENTO ARRANJADO
Zaza é um cara solteiro de 32 anos de idade. É simpático, boa-pinta, moderno. Como diz seu pai, tem um carro do ano, TV de tela grande, um som da Sony último tipo. Papai sabe de tudo isso pois é papai quem banca tudo. Zaza está prestes a acabar seu doutorado em Filosofia na Universidade de Tel-Aviv. Não trabalha, portanto.
Do ponto de vista de sua família judia conservadora, Zaza é um solteirão. Pior, é um baita dum bom partido, queridinho da mamãe, mas ainda solteirão. Como isso?! Zaza deve casar, e logo. É preciso arranjar uma pequena virgem judia, de alma limpa e ilibada, se possível também razoavelmente rica.
Problema é que Zaza não quer se casar. Se finge de morto, tem outros planos. Está apaixonado por alguém que não se encaixa naqueles padrões. Pronto, está desenhado o filme: a luta do amor de um homem versus a vontade da família e a força da tradição.
Mas não é bem assim. O diretor israelense Dover Kosashvilla, em seu primeiro longa metragem, tem uma proposta mais realista. Zaza não é Romeu e sua amada não é Julieta. E Casamento Arranjado (Israel, 2001) pode deixar as almas românticas um tanto quanto incomodadas.
Num dos diálogos mais legais do filme, Zaza mostra que acredita no amor da mesma maneira que, como filósofo, acredita em Deus. Com esperança, mas hipoteticamente. Desejando que ele exista, mas sem fé verdadeira. Espera que o amor o liberte. Mas será que vale a pena?
É tentar se enganar se pensarmos que a família, a tradição e a continuidade religiosa são as únicas barreiras. A famosa Mãe Judia nesta estória tem um papel forte e determinante (além de muito engraçado). Mas quem, mesmo sem mãe conservadora, nunca enfrentou essa encruzilhada, nunca se colocou em dúvida ao ter de escolher entre o certo e o incerto, a realidade estável ou o sonho trabalhoso? Mais forte que a tradição é a comodidade. Ou talvez, uma coisa leve a outra.
Como aquele chiclete que agora esqueci o nome, Casamento Arranjado é agridoce. Nos EUA os exibidores devem ter quebrado a cabeça para classificá-lo – seria uma comédia romântica ou uma comédia dramática? Os diálogos e a edição tem um ritmo lento, que se estranha até. São raras as cenas em que dá-se o direito à música de fundo. As piadas e o humor entretanto estão sempre presentes. Porque a realidade com freqüência é ironicamente amarga, mas nem sempre possui trilha sonora.
O preço a pagar pode ser alto - Zaza vai assumir a fatura? Ora, não esperem que eu conte o final...
Leia mais:
http://www.celluloid-dreams.com/late/ - Site
http://www.uol.com.br/mostra/jornal/jornal112.htm - Falatório exagerado sobre a cena de sexo (é muito realista, bonita, mas é isso)
Scream&Yell - Procure na seção de cinema do finado zine a ótima resenha do Marcelo Costa.
segunda-feira, outubro 21, 2002
Em tempos de Regina Duarte e carros-bomba sem sentido, ainda prefiro um pouco de poesia...
Pois paz sem voz,
não é paz, é medo.
Marcelo Yuka, 1999
O Medo
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
Vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo...
Nevava
O medo com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa curta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema: outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus; vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo.
eles povoam a cidade,
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Se as coisas são inatingíveis... Ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, não fora a mágica
Presença das estrelas!
As duas últimas poesias foram roubadas do blog da Tchela... Pode ir lá que ainda tem muito mais...
domingo, outubro 20, 2002
subject: Carta de Maracangalha XI
date: 20.10.2002
Oi Ká!
Tudo bem com vocês? Tudo calmo aí com os gringos?
Me parece que o humor do Tio Bush tem andado mais calmo, não? Bem, talvez seja só a imprensa brasileira que não esteja mais falando tanto nele... É engraçado como a intensidade do noticiário internacional aqui no Brasil depende muito da falta de assunto interno. Quando falta assunto tupiniquim, eles mandam bala nas notícias sobre o apocalipe now iraquiano. Mas, como agora o tema do momento são as eleições, parece que nada mais está acontecendo no além-mar.
Nossa, falando em eleições percebi como esta carta demorou pra sair, né? Acho que te escrevi a última já faz quase um mês, lá pro final de Setembro. Bem, tudo acabou saindo mais ou menos como tínhamos conversado naquela carta. Algumas surpresas, mas nada de espetacular. Para presidente, tudo aconteceu conforme o esperado. Seria mesmo muito difícil o Lula vencer no primeiro turno. Entretanto, depois destas duas semanas de campanha do segundo round, já é possível sentir como foi mesmo uma pena a coisa não ter acabado já logo no 6 de outubro.
É claro, foi muito legal ver escolhidos os dois candidatos com as propostas mais consistentes e pertencentes aos talvez dois únicos partidos sérios da terra brasilis, o PT e o PSDB. Isso foi sem dúvida um avanço. Só que, ao mesmo tempo, esse resultado colocou esses dois partidos frente-a-frente, em uma briga de foice que não tem sido nada limpa.
Seria ótimo, e era até de certa forma lógico, que um governo do PT constituísse uma aliança progessista com os tucanos e pudesse finalmente dar alguma seriedade ao país. Enfim poderíamos deixar de fora o ranço da política antiquada, paternalista e corrupta de coisas como PFL, PMDB, PPB, PDT e etc. Pouco importando a idelologia, da esquera até a direita, seria uma opção pelo novo frente ao velho.
Essa briga suja do 2º turno talvez faça essa aliança impossível. Como já disseram por aí, criou-se uma "polarização artificial" entre os dois partidos. O PSDB está assumindo algumas posturas reacionárias e conservadoras que não têm nada a ver com o partido. O progama eleitoral do Serra desta semana me deu dor de estômago. E isso não é figura de linguagem. Os tucanos, jogando as últimas e deseperadas cartas, adotaram um discurso de exploração do medo, um terrorismo psicológico dos mais baratos. Colocaram a Regina Duarte para fazer uma declaração digna de reunião da Liga das Senhoras Católicas. Só falta agora pedir para que as famílias brasileiras acendam uma vela na janela contra o comunismo, como nos idos de 1964, quando a nossa temerosa classe média foi manipulada para apoiar o golpe militar. Quem diria que o digno partido da social-democracia brasileira se transformaria na TFP do século XXI. Isso tudo é falso, desesperado e eleitoreiro. É mesmo uma pena...
Bem, mas o que importa é que as eleições são daqui a uma semana. E, esbarrando no clichê brega, estamos mesmo nos aproximando de um momento histórico. Pela primeira vez na história brasileira o poder público muda realmente de mãos. Pela primeira vez, um partido de esquerda chega a Presidência do país. Um partido consistente e democrático, a ser eleito pelas vias institucionais. Apoiado por mais de 50 milhões de brasileiros que não viram no PT mais medo do que os franceses poderiam ver em Lionel Jospin ou os alemães em Gerard Schroeder.
Se os anos que virão serão de progresso ou estagnação, ninguém pode saber e não depende só disso. Como sabiamente disse o Macaco Simão, "um governo Lula a gente não sabe como vai ser, mas um governo Serra a gente já sabe que vai ser uma bosta"... Realmente importante é que essa rotação no poder público transmite um sinal claríssimo para as elites brasileiras. Um sinal de que não é mais possível sustentar esse modelo de exclusão social que existe hoje no país. Não é mais possível manter-se esse abismo desumano, essa imensa diferença de condições de vida entre as pessoas, e ao mesmo tempo conseguir manter o poder devido à alienação política da população. O povo, mesmo sem educação, hoje vê que é preciso mudar algo.
Talvez este seja o principal resultado destas eleições. Agora tornou-se impossível fechar os olhos a este sinal. E abrir os olhos será, sem dúvida, melhor para todos
Agora, que cada um faça a sua parte.
Beijo,
Drex
A capa da Veja desta semana fez por merecer uma assinatura.
Mereceu o cancelamento da minha assinatura.
quarta-feira, outubro 16, 2002
Momento Prestação de Serviço
No meio dos gostos pessoais de cada um, da discussão gerada pelo post abaixo (e de certa forma também ocorrida em todos estes blogs) dá pra tirar somente um denominador comum: banda velha toca por dinheiro, banda nova toca por tesão. E esses dois combustíveis dificilmente se misturam...
Se alguém então estiver a fim de ver e ouvir muito tesão, parece que o final deste ano reserva pelo menos dois festivais de bandas independentes em Sampa. Prepare-se:
STAR GUITAR FESTIVAL
* SÁBADO – 02/11 *
Evil Sounds Drink [16hs]
Biônica [17hs]
Transistors [18hs]
The Concept [19hs]
Pullovers [20hs]
Hurtmold [21hs]
Pelvs (RJ) [22hs]
* DOMINGO – 03/11*
Monokini [16hs]
Post [17hs]
Starfish [18hs]
Momento 68 [19hs]
Objeto Amarelo [20hs]
Forgotten Boys [21hs]
Thee Butchers’ Orchestra [22hs]
Local: Tramp Club - Rua Padre Garcia Velho, 63 – Pinheiros (próx. à Fnac)
Apoio: Revista Dynamite, Festival Upload, Volume 1, Indie Records, Velvet CDs, Plastic Fantastic, Esquizofrenia E-Zine, Editora Conrad, Slag Records.
Mais informações, inclusive sobre vendas de ingresso, acessem o Esquizofrenia (e aproveitem para conhecer este bacana e-zine musical organizado pelo Gilberto Custódio).
FESTIVAL UPLOAD 2
Ainda sem o set list de bandas divulgado, a segunda edição do maior festival de Sampa para bandas nacionais de pop e rock está confirmado para os dias 5. 6 e 7 de dezembro. Provavelmente no SESC Pompéia.
Melhor que isso, a organização do festival está aceitando inscrições de bandas. É só mandar o material para Festival Upload Caixa Postal 31248 - CEP 01309-970 - São Paulo, SP - Produtora responsável: INKER - Agência Cultura - E-mail de contato: upload@inker.art.br.
Informações tiradas do blog da Sylvie, o Baby Borderline.
Pronto. Nesses palcos pelo menos tesão não deve faltar...
terça-feira, outubro 15, 2002
Pimentas docemente ardidas
Demorei para escrever algo sobre o Red Hot Chili Peppers, não é? Resenha que se preze tem que sair logo no dia seguinte, just-in-time. Durante essa demora já encontrei duas opiniões bem diferentes sobre o show de São Paulo. O Sukrillius, que escreve no Abacaxi Atômico, comenta que foi o show do ano. Já o Alexandre Pettilo, que também é editor da Zero, escreve no BOL que a apresentação foi perfeita mas burocrática.
Tucanei. Isso mesmo, vou ficar no muro das lamentações paradoxais, dou razão para os dois.
Isso porque o show foi duca, muito bom mesmo; a banda estava musicalmente perfeita, entrosadíssima, além do Anthony Kieds ter me surpreendido com a qualidade da sua voz ao vivo. Mandaram as músicas mais tranquilas, porém lindas, do último disco, e detonaram a galera com todos os hits do Californication e do Blood Sugar Sex Magic. E ainda teve Suck My Kiss (que é minha preferida e eu nem esperava ouvir...).
Por outro lado, é também verdade que a banda já não consegue aquela conexão transcendente com a galera. Tá bom, traduzindo, faltou mesmo um pouco de tesão, de energia, de interação, de empatia com o público. Certa hora um amigo comentou comigo que o RHCP vai virar o Rolling Stones da nova geração. Banda cheia de hits com longevidade monótona. Será? Ou isso tudo é só papo de velho e na verdade somos nós, eu e o Alexandre Petillo, que já não conseguimos nos empolgar mais com as doses de pimenta-malagueta que hoje agitam a garotada?
Deu para sentir que minha opinião está muito pouco formada, né? Então esqueçam tudo isso e vão ouvir música que é o que interessa...
Sujeitinho insistente...
Sei que já estou sendo chato com essas indicações, mas como diz o clichê, não posso evitar. A coluna do Elio Gaspari desta semana está imperdível. Confiram.
Como bom jornalista, aquele que ataca tanto gregos como troianos, o Gaspari está batendo forte nos tucanos assim como na coluna passada criou polêmica ao criticar o candidato do PT. Para quem perdeu, ele criticou duramente o Lula por este ter aceitado, durante um jantar pouco antes do final do 1º turno, um presente do publicitário Duda Mendonça. O tal presente era a garrafa de vinho Romanée Conti bebida durante o dito jantar, com preço de aproximadamente R$ 6.000,00. Para Gaspari, um homem público que deseja manter a coerência, deve recusar esse tipo de agrado, seja de quem for.
Independentemente da minha opinião, acho que o Gaspari tem o direito de criticar esse tipo de atitude do Lula, pois ele cobra essa extrema lisura imparcialmente de todas as figuras públicas. Entretanto, há certamente outros modos de analisar-se a questão. Como fez também outra das opiniões imprescindíveis do país, o Luis Fernando Veríssimo. Simples e direto.
sábado, outubro 12, 2002
sexta-feira, outubro 11, 2002
Porque a vida também é fútil e corriqueira
(principalmente num final de sexta-feira modorrenta)
Fazendo uma daquelas viagens promocionais, o elenco da série de TV Scrubs esteve em São Paulo ontem. Meu Deus, como ninguém me avisou disso antes?!
Sério, Scrubs é atualmente a melhor série de comédia transmitida na TV. Passa na Sony, toda terça, às 21:30. Não tem pra ninguém. E tenho dito.
Livros & dissimulação
Não leio muitos livros. Pelo menos, não tantos quanto gostaria. Confesso que tenho inveja de alguns amigos que consomem facilmente um livro num fugaz fim-de-semana. Ou de certas listas que já li em diversos blogs, feitas por algum desses leitores vorazes, estabelecendo a marca de trinta, quarenta livros lidos apenas neste ano corrente. Meu cunhadão de além-mar, o Peter, é uma dessas traças humanas. Compra sempre três ou quatro livros de uma vez e devora todos em menos de duas semanas. Sem nenhuma ironia, admiro muito isso.
Meu ritmo é bem menor que esse. Minha média tem sido, entre altos e baixos, um livro por mês. Não que eu não goste de ler. Adoro, e acho essencial. Mas sou preguiçoso, além de indisciplinado. Talvez alguns outros interesses também me desviem dos livros e me levem a prazeres de consumo mais fácil, como CDs, revistas, jornais, séries de TV e filmes. Ou mais fáceis ainda, como bater papo em mesa de bar. Mas isso tudo é desculpa; o fato é que gostaria de ler mais.
Por essa razão (a lerdeza da minha leitura), raras foram as vezes que repeti um livro. Imaginem, com minha paulatinidade e me sentindo devedor com todos os grandes mestres da literatura mundial, como eu poderia gastar tempo lendo um livro novamente? Próximo da fila, por favor... Pensando bem, acho que nunca tinha feito isso antes.
Agora já fiz. Mês passado (olha a minha média aí...) peguei novamente Dom Casmurro, do Machado de Assis, para ler. Havia acompanhado a saga de Bentinho na época, e com o objetivo, do vestibular, lá nos idos de 1992. Definitivamente, dá para saborear muito melhor as ironias do Machadão depois de ganhar mais dez anos de bagagem nas costas.
Mudando de assunto um pouco, só para concluir. Meninas, acordai. Ao invés de reclamar que a situação está difícil, que faltam homens no mercado, que nenhum moçoilo mais quer compromisso, eis a minha dica: sigam os ensinamentos de Capitu. Está tudo lá. Sonhas com rapazes comendo na tua mão, abanando o rabinho feito cãozinhos? Leiam-na e releiam-na. Sejam oblíquas e dissimuladas. Aí então, coitados de nós...
Extra!
Olha só como sou cool... Vou fazer igual ao Lúcio Ribeiro e dar uma notícia pescada diretamente do site da NME.
Os ingressos do show do Red Hot Chilli Peppers estão esgotados. Não, não estou falando do show de amanhã em Sampa, ainda com ingressos disponíveis (tel. 6486-6000)... Eu sou cool (já disse isso antes, não?) e tive informações privilegiadas que o RHCP irá fazer 5 shows no Reino Unido. Em março de 2003. E os ingressos já acabaram. Dá uma conferida aqui...
quinta-feira, outubro 10, 2002
Já que estou mesmo sem assunto e já que neste sábado estarei de volta ao Pacaembu, resolvi remexer o baú de velharias. Para quem interessar possa, eis abaixo algumas lembranças do começo deste ano...
Roger Waters - São Paulo - Março, 2002
Já vou logo dizendo que não sou um fã do Pink Floyd, não tenho nenhum disco, nem ao menos sabia que Roger Waters era o baixista do grupo. Não me xinguem por isso. Conheço a banda pelos seus (grandes) clássicos que tocam nas rádios e por alguns amigos fanáticos. Aliás, uma das razões que me levaram ao show foi uma dessas amigas fanáticas. Tudo bem, era o sonho dela, não podia negar a companhia. Por outro lado, sei também que o Floyd é fundamental, tem grandes músicas e que a oportunidade seria única. Então fui... fui ver o show do Pink Floyd. E até que o tal Roger Waters valeu a pena...
Mas não foi tão fácil assim. Apesar de ter conseguido o ingresso por só 20 reais, tive que pagar meus pecados em 2 horas de congestionamento até chegar ao Pacaembu. Afinal era um dia histórico, concerto do Floyd somado ao maior congestionamento da Terra. 220 km!! Imaginei como estariam os fãs naquela hora, presos no trânsito, loucos e ensandecidos, prestes a perder o momento esperado por mais de 20 anos. Bem, mas tudo acabou dando certo, a chuva também ajudou, derrubou uma torre de luz e o show atrasou mais de 40 minutos. No final, chegamos, sentamos e tudo começou após apenas 10 minutos. Perfect timing!
Luzes, câmeras e Roger Waters, compenetradíssimo, detonando seu baixo. Aquela orquestra maravilhosa (sim, aquilo é uma orquestra) arrepiando o Pacaembu com todos os seus famosos arranjos apoteóticos e hipnotizantes (era só o início, The Days Of Our Lives). Já logo ali, chega o hino, Another Brick on the Wall, e a galera solta os pulmões. Foi simplesmente bonito.
Aí veio Mother, belo poema (me lembra Dylan...), e mais algumas músicas que não conhecia. O som, o telão e toda a produção vão chamando a atenção. Tudo bem, eu estava sentado longe pra dedéu, mas mesmo assim curti o espetáculo visual. Pra fechar a 1º parte, Wish you were here, pra qualquer fã chorar. Eu não, lógico, sou macho, só cantei junto...
Intervalinho de 20 minutos, respirar e analisar o ambiente. Público eclético e tranqüilo. Cabeludos (alguns), patricinhas (surpresa, muitas), famílias inteiras e galeras várias. As arquibancadas estavam cheias e a pista (com cadeiras...) vazia pela metade. Retrato do Brasil, os lugares podem até sobrar, mas os organizadores gente boa não abaixam os preços. Se queima o café, mas não se vende barato.
No segundo tempo, alguns outros clássicos como Time (muito legal...) e Money. Daí vieram algumas músicas da carreira solo e, confesso, me deu um pouco de sono (poxa, a sexta foi braba, tava cansado...). Pra acordar, o gran finale, com a pensante Comfortably Numb recitada por 20 mil pessoas. Teve ainda o bis com uma música nova feita pra Anistia Internacional. Foi bonito e tal, mas já era meio o anticlímax.
Resumo: show impecável, profissionalíssimo, certinho em todos os detalhes. Pra mim, um não-fã curioso, confesso que não teve aquele tesão, aquele êxtase quase sexual dos grandes shows de rock (vcs sabem do que estou falando, não??). Mas valeu muito a pena, valeu mesmo.
Depois ainda teve uma gostosa caminhada pelas ruas do Pacaembu, bairro tradicional e muito legal de Sampa. Noite linda, quente, cheia de estrelas... E, pra terminar, uma boquinha no Burgão da Doutor Arnaldo. Dá pra querer mais? Ê, São Paulo...
terça-feira, outubro 08, 2002
Terríveis homenzinhos verdes
Fui ver Sinais neste último fim-de-semana e pude chegar a uma conclusão: o tal diretor indiano de nome esquisito é mesmo sensacional. Definitivamente não é para qualquer um escolher um dos mais explorados temas de ficção, já batido e surrado nos mais diversos estilos, de Orson Welles a Men In Black, e conseguir fazer um filme extremamente tenso, soturno e nervoso. Realmente o indiano tem uma mão afinadíssima...
Muita gente não gostou do filme. Pudera, concordo que homenzinhos verdes é coisa de estória da carochinha. No entanto, confesso que, pra mim, o filme foi aterrorizante. Não sei, talvez além do talento do indiano, algo do filme tenha mexido comigo. Despertado algum daqueles medos escondidos, aqueles que a gente treina pra disfarçar e faz força pra deixar bem quietinho.
Porque acredito que é possível colocar qualquer coisa no lugar daquele rídiculo homem verde. Esse é um filme sobre medo. Medo do desconhecido, medo de ver as coisas acontecerem e não ter controle sobre elas, medo de sentir-se incapaz, medo de perder a esperança. Coisas assim, que chegam a ser estranhas de tão banais. É claro que não pensei sobre tudo isso durante o filme, mas o resultado foi consequente: duas horas de tensão.
Sujeitinho sorrateiro esse indiano...
segunda-feira, outubro 07, 2002
Momento Vendendo a Alma por Dim-Dim
Eu até aceito que um diretor, ator ou atriz de cinema faça de quando em quando um filme "pipoca" e caça-níqueis para poder faturar dim-dim e financiar um projeto mais pessoal, elaborado e não-comercial.
Mas dou risada pra não chorar quando um controvertido e polêmico crítico musical, da estirpe de um Álvaro Pereira Júnior, faz uma matéria para o Fantástico acompanhando Sandy & Júnior em seu emocionante e frenético dia eleitoral. E ainda nem foi preciso perguntar em quem eles iriam votar...
EJECT nele!
Festa da democracia
Plagiando o grande Elio Gaspari, o andar de cima não se cansa de zombar da patuléia. Faz-se a choldra votar, mas não importa como. Afinal votar, mais que direito, é dever, é obrigação, dá trabalho e exige sacrifício. Mas não esqueçam de levar esse santinho, nem de voltar para pegar sua dentadura mais tarde. Se sobrar tempo, é claro.
Enquanto Maluf vota em 5 minutos em Higienópolis, na Cidade Ademar o povo confraterniza-se ficando até 3 horas debaixo do sol. Mas não falaram que, na tal democracia, voto de rico vale tanto quanto voto de pobre? Ah, então deve ser porque o Doutor Paulo acordou mais cedo...
Administrando expectativas
As trombetas já anunciam a derrota do PT neste 6 de outubro. Deixaram passar a oportunidade de levar a presidência já no 1º turno. Este será o discurso alardeado pelo governo, pela imprensa aderente e pelos tucanos.
O maior desafio de Lula neste primeiro momento será administrar a frustração do "já ganhamos no 1º turno" e rebater essa análise tendenciosa. Afinal, obter a maior votação histórica do PT, com 39 milhões de votos, mais de 46% do eleitorado e o dobro de votos do 2º colocado, convenhamos, não tem nada de derrota.
Estamos aprendendo
Passando o olho pelos resultados para o Senado e para o Governo dos Estados, dá pra notar um surpreendente avanço dos partidos progressistas (incluindo aí os tucanos, PT, PSB, PPS e outros). Mais do que isso e independentemente da tendência ideológica, tem muita gente nova despontando por aí. Muitos velhos coronéis e antigas oligarquias estão sendo derrotados.
Sepultamos definitivamente Maluf e Quércia em São Paulo. Newton Cardoso (MG), Gilberto Mestrinho (AM) e Antonio Britto (RS), foram impiedosamente abatidos a tiro. Leonel Brizola, no Rio, está procurando o antigo eleitorado até agora. Íris Rezende em Goiás está cambaleando e gente moralmente anti-higiênica, do tipo de Joaquim Roriz (DF), teve vitória fácil frustrada e vai ter que lutar mais um round.
Luzes no fim do túnel...
Estamos aprendendo?
Na Bahia, ACM elegeu-se com mais de 30% dos votos e volta ao Senado após rápidas férias forçadas. Além disso, leva consigo seu fiel escudeiro, César Borges, como segundo senador, e fez seu candidato a governador, Paulo Souto, já no primeiro turno.
No Rio, além da Garotinha já ter levado de primeira, elegeram também o bispo Marcelo Crivella, aquele da Record, para o Senado. Isso deixando de fora gente do calibre do tucano Artur da Távola.
Alagoas continua dividida entre os dois sinhozinhos, Ronaldo Lessa e Fernando Collor. Alguns velhos matutos continuam firmes, como Espiridião Amim em SC e Jarbas Vasconcelos em PE.
Ainda demora...
Onda Fascista
É possível tirar dos resultados destas eleições as interpretações mais estapafúrdias. Uma delas, por exemplo, é a verificação inconteste da marcha do nazi-fascismo entre o povo de São Paulo. Doutor Enéas obteve 1 milhão e meio de votos na disputa para deputado federal. Sua companheira (irmã? mulher? filha? amante??) Doutora Havanir, obteve 600 mil votos para deputado estadual.
Pensei comigo, ah, mais dois loucos na Câmara não vão fazer diferença. Que nada... Pelo coeficiente eleitoral, a proporção de votos obtida pelo Dr. Enéas lhe dá o direito de eleger praticamente todos os candidatos do PRONA. É mais ou menos assim: a votação de Enéas, mais alguns votos pingados dos candidatos do PRONA, totalizou aproximadamente 9% dos votos para deputado federal em São Paulo. Dessa forma, o partido terá direito a 9% das cadeiras de São Paulo. Ou seja, dos 70 deputados federais de Sampa, seis ou sete serão do PRONA. Mas que partido nanico, hein?
Realmente a marcha fascista está em franca evolução. Ou talvez seja só o povão se vingando das três horas de fila de ontem.
sexta-feira, outubro 04, 2002
Debate
Que se lixe todo o arranjo político, as estruturas e alianças partidárias, as propostas de governo. Que tal analisarmos exclusivamente o desempenho dos candidatos no debate de ontem?
Me desculpem os governistas ou qualquer um que desgoste do barbudinho. Mas se os tucanos queriam realmente ganhar esta eleição, deveriam ter escolhido alguém melhor que aquele carequinha. Reconheço toda a sua formação, experiência e reputação técnicas, mas apesar de ter tudo isso, ele fica no chinelo em termos de carisma, liderança e jogo de cintura. Isso frente a alguém que, como insistem em dizer, não tem nem mesmo o curso superior.
Lula ontem se esquivou das provocações, evitou polêmicas, não ofereceu respostas objetivas. Fugiu do debate? Não, simplesmente se comportou da maneira mais adequada para sua candidatura. Demonstrou toda a habilidade e preparação que Serra reza todo dia para Deus (ou para o Nizan) lhe dar.
Sem entrar no mérito de quem faria o melhor governo, Serra demonstrou-se um péssimo candidato. Ele tem carisma para ser, no máximo, deputado federal.
Sucessão
Pensou que eu ia falar de eleição de novo, né? Bem, já chega disso... Que tal algo mais sério?
Depois da morte do Quadradinho e do Scream&Yell, dá pra sentir um certo vácuo no espaço dos e-zines culturais. Pelo menos sinto isso na minha rota diária internética. Entre coisas velhas e outras novidades, algumas opções pleiteiam o posto de sucessores. Rei morto, rei posto? Ainda não, nenhuma delas já conquistou meu coração, mas são opções legais pra se experimentar:
O já velho Omelete continua muito bem-feito. Bem-feito até demais... Tem aquela cara meio industrial, que acaba tirando um pouco do charme e da espontaneidade. É patroncinado pela Editora Panini, e isso também leva o site a ter uma forte concentração nas matérias sobre HQs. Não gosto da parte de cinema, mas tem algumas críticas e colunas musicais interessantes. O que vale muito a pena são as colunas do Marcelo Forlani, Don´t Mind The Gap, e do Juliano Zappia, London Arena.
Totalmente diferente disso é a proposta do Fraude, zine criado pelo Eduardo Fernandes (ex-CardosoOnLine) que concentra grande parte da turma daquele extinto zine, além de outras colaborações. Não contém muitas resenhas, mas oferece textos variados e refinados, opiniões, crônicas, ficção e "jornalismo gonzo". Dizem alguns que o Fraude é um tanto pretensioso. Mas eu adoro que se tenha pretensões quando se tem o que oferecer.
Novidade mesmo é o lançamento do Manivela, um zine que se entitula de "cultura alternativa", encabeçado pela Kátia Abreu (ex-Quadradinho). Ainda não mergulhei a fundo, mas está bem bonito, tem fácil navegação e parece ter um conteúdo de primeira. Vale a pena tentar.
Se alguém conhecer alguma outra opção interessante, por favor me avise. Por enquanto vou afogar minhas mágoas nestas três muletas. Quem sabe uma delas me conquista de vez...
P.S.: A Revista Zero, que oportunamente me serviria de muleta no mundo impresso e real, está me dando um baile. Tinha falado nela dias atrás, mas o lançamento do número três demorou um pouco. Parece que finalmente estará nas bancas na próxima segunda.
quarta-feira, outubro 02, 2002
Shortcuts
- O Lúcio Ribeiro anda anunciando a "redescoberta" do Morrissey lá pelo primeiro mundo e insistindo num provável revival dos Smiths. Tudo isso se encaixa logicamente nessa onda anos 80 que já chegou há algum tempo. O correspondente de além-mar Peter (meu caro cunhadão...) manda dizer que lá em cima, na Califórnia, realmente o Morrissey tem feito algumas apresentações. O ex-Smiths inclusive abriu (isso mesmo, abriu...) alguns shows da maior banda de rock mexicana, os Jaguares, e parece que faz meio o papel de guru-musical para os tais chicanos. O gente-boa está com a moral alta entre o público latino dos States, conforme diz essa nota aqui, já do mês passado.
- Não fui só eu que achou que "O Articulador" era um contraponto à atual "unanimidade Bushiana". Li ontem que o filme estreou no Brasil antes mesmo de ser lançado nos States, o que é extremamente incomum. Isso porque os produtores preferiram adiar o lançamento por acharem um tanto inoportunas as críticas feitas no filme ao prefeito Rudolph Giuliani e à classe artística de Nova Iorque. "O Articulador" foi filmado antes dos atentados, quando apontar os excessos de Giuliani ainda não era sacrilégio...
- Estava ouvindo Mundo Livre S/A quando de repente achei que era o Tom Zé que cantava... Depois pensei que era o Raul Seixas... Me digam, sou só eu que viajo ou a voz daquele cara (a voz, não o som da banda...) parece muito com a daqueles dois baianos? Ou seria só o sotaque mesmo?
terça-feira, outubro 01, 2002
Aviso aos indecisos
Talvez seja díficil alguém ainda não ter se dado conta, mas as eleições são este domingo. Isso mesmo meu amigo, dia seis, domingo, daqui a 5 dias. Prepara-se, votar em seis calangos vai exigir inspiração e preparo físico. Já preparou sua colinha? Bem, nem eu... Ainda está indeciso? Também não tenha vergonha. Melhor estar indeciso do que, por exemplo, fazer parte dos 25% de paulistas que votarão no Quércia para senador.
Agora, se você ainda não escolheu seu candidato à presidência, me permita dar uma dica. Não, não vou te dizer em quem você deve votar, não adianta insistir...
Mas vamos fazer um trato: leia estas duas colunas, escritas por dois famosos brasileiros com posições políticas claramente definidas, Luís Fernando Veríssimo (assumidamente de esquerda) e Arnaldo Jabor (tucano roxo). Ambos estão, de certa forma, apoiando seus preferidos, Lula e Serra. Desculpe, não achei colunistas que assumam votar no Ciro ou no Garotinho...
Leia os textos atentamente. Daquele que te parecer menos paranóico, mais equilibrado, coerente, intelegível, positivo e genial, você adota o candidato.
Não deu pra decidir ainda? Então não deixe de ler os posts de ontem do Gravataí Merengue. Ele te explica direitinho...
Em quem vou votar? Desculpe, mas não quero te influenciar...
Perda
O texto sobre "O Articulador" postado ali abaixo foi vítima de uma triste ironia. Estava engatilhado pra enviar o texto ao e-zine Scream&Yell quando entrei no site e li o editorial escrito pelo Marcelo Costa: o S&Y tinha acabado ali. C´est fini...
Essas coisas sempre me trazem um sentimento um tanto contraditório. Sinto um certo pesar, uma tristeza inevitável pela perda de algo do qual realmente gostava. Por outro lado, fica também a certeza de que tudo muda e precisa mudar; os sonhos se renovam e novas coisas virão por aí. É um misto saudade anunciada X torcida pelo futuro que sempre me alça em qualquer despedida, seja ela do colega que muda de emprego, do amigo que viaja pro exterior, dos meus próprios recomeços.
Fica também a dúvida se é realmente possível manter algo de qualidade na Internet. Ou mesmo na imprensa cultural. Afinal até mesmo o idealismo mais incorpado uma hora morre de fome.
Mas é isso aí. O mundo gira e a Lusitana roda, assim como cobra parada não engole sapo... Boa sorte pro Marcelo e pro pessoal do S&Y, muita coisa boa ainda vai surgir dessa trupe. E espero também que ainda haja muito coelho pra sair dessa cartola chamada Internet. Eu, aqui do meu cantinho, faço força pra acreditar...
Momento Supercine de Cinema
O ARTICULADOR
Algumas coisas na vida são assim. Você sabe que deveria gostar delas mas, de verdade mesmo, lá bem no fundo, sabe que alguma coisa não deu certo, faltou algo, não houve o “click”. Saí da sessão de “O Articulador” (People I Know, de Dan Algrant) com esse sentimento. Trama interessante, temas controvertidos e bem desenvolvidos, algum suspense, atuação já usualmente soberba do Al Pacino. O que faltou afinal?
Mas vamos com calma. Antes de procurar a resposta, vamos ao filme. O tal “articulador” do título não se trata de um hábil negociador envolvido numa trama internacional. Ao contrário do que nossos títulos traduzidos podem sugerir, este não é thriller de ação. Al Pacino representa o personagem-título, Eli Wurman, um decadente assessor de imprensa de Nova York. Um título como “O Relações Públicas” seria mais adequado, mas talvez menos atraente.
O ponto é que, Eli Wurman, que no passado se envolvia com causas nobres e assessorava gente influente, hoje apenas inspira piedade daqueles que o cercam: Victoria Gray (Kim Bassinger, sempre luminosa), amiga e viúva de seu irmão, e Cary Launer (Ryan O´Neal), uma celebridade de Hollywood, seu velho e fiel cliente.
Dividido entre dedicar-se às suas causas idealistas, agradar gente famosa e manipular jornalistas, o angustiado Eli envolve-se numa delicada trama de interesses ao tentar ajudar aquele mesmo velho cliente. A partir daí, “O Articulador”, transita, de maneira um tanto indecisa (e talvez este seja o seu principal problema) entre a resolução desta trama e a discussão de alguns temas, no mínimo, interessantes.
É possível preservar e realizar os ideais, valores e sonhos da juventude? É possível obter sucesso e ao mesmo tempo manter-se eticamente limpo dentro de um meio marcado pela manipulação e pelo jogo de interesses? Quais são as chances de chegar ao fim da vida, olhar pra trás e perceber que realizamos algo que realmente importa? Ou que simplesmente queríamos? O “Articulador” lança estes dados e ensaia uma discussão interessante sobre estas e outras questões, digamos, um tanto desconfortáveis. Sendo que a figura angustiada e decadente de Al Pacino não nos dá muitas esperanças de obter respostas positivas.
O discurso do filme, que esboça críticas à cultura competitiva americana, ao conservadorismo do poder público, à falsidade de uma sociedade hipocritamente puritana, chega a ser interessante por oferecer um contraponto aos nossos atuais tempos de unanimidade “Bushiana”. Mas, mesmo nisso, o filme não decola, mantendo-se dividido entre desenvolver sua trama de suspense ou explorar mais profundamente esses temas Talvez um certo receio em tocar na ferida à fundo ou medo de tornar-se um filme muito “cabeça”. No fim, é isso que falta ao filme: decisão. Como, Eli Wurman, “O Articulador” é cheio de qualidades, mas padece ao ficar dividido entre suas idéias e suas necessidades de mercado.
Se você está interessado em assistir uma discussão interessante sobre idealismo e angústias existenciais, magistralmente interpretadas pelo grande Al Pacino, vá ver “O Articulador” agora. Mas vá sem expectativas de ver um grande filme. Não há idéias geniais, faíscas de criatividade, nem mesmo uma trama envolvente. Somente algumas velhas verdades que podem ser, sem dúvida, tão úteis quanto amargas.
domingo, setembro 29, 2002
Pra continuar com o revival dos anos noventa, algumas coisas são essencias...
Choose life. Choose a job. Choose a career.
Choose a family. Choose a fucking big television.
Choose washing machines, cars, compact disc players, and electrical tin openers.
Choose good health, low cholesterol and dental insurance.
Choose fixed-interest mortgage repayments.
Choose a starter home. Choose your friends.
Choose leisure wear and matching luggage.
Choose a three piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics.
Choose DIY and wondering who you are on a Sunday morning.
Choose sitting on that couch watching mind-numbing sprit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth.
Choose rotting away at the end of it all, pishing you last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked-up brats you have spawned to replace yourself.
Choose your future. Choose life.
But why would I want to do a thing like that?
I chose not to choose life: I chose something else. And the reasons? There are no reasons.
Who need reasons when you've got heroin?
Trainspotting (filme de Danny Boyle, roteiro de John Hodge, baseado no romance de Irvine Welsh, 1996)
E quem ficou saudosista pode conferir o roteiro original aqui.
Lembram dos blogs que eu recomendei neste post? Pois é, foram parar ali na coluna dos meus preferidos Navegantes d'Além Mar. Doses diárias fazem bem à saúde...
sábado, setembro 28, 2002
Vocês já conheciam a Revista Simples? Eu ainda não. Esbarrei com ela ontem à tarde, por acaso, na banca de jornal. Olhei para ela e ela me retribuiu com aquele olhar meio assim, sabe, de relance. Não resisto àquilo... A danadinha sabia o que estava fazendo. Ela era o meu número e parecia saber que era. Pequenina, misteriosa, discreta mais cheia de charme. Além disso, parecia ter conteúdo. Não resisti. A abordagem foi rápida e logo a levei pra casa.
Hoje acordei, virei pro lado e ela ainda estava lá. Olhando pra ela assim, largada, deitada, percebi que não sentia nada. Não rolou aquela paixão, sabe, a atração à primeira não se transformou em intimidade. Mas foi bom, foi gostosinho. De repente a gente se cruza novamente por aí. Vai rolar de novo? Quem sabe...
Dilbert e a conspiração
Sempre fui muito cético com relação às mil e uma teorias da conspiração internacionais que muitas pessoas constumam ver em todo canto. Por um simples motivo: tenho adquirido durante anos a fio uma profunda crença na incompetência das organizações.
Volta e meia algum pensador, PhD em RPG e Doom com certeza, aparece com elocubrações de como a União Soviética coordena as FARC e o tráfico de drogas internacional em prol do comunismo, de como na verdade foi o Bush que mandou explodir o WTC, de como a Seleção Brasileira foi comprada na final da Copa de 98, de como Bill Gates planeja hipnotizar o planeta através do PC da sua casa. Neste momento, cientistas malucos e executivos sem escrúpulos estão criando um novo vírus pra dizimar a população africana. Em outro lugar longínquo, Pink e Cérebro planejam como dominar o mundo.
Para realizar somente uma dessas conspirações, seriam necessários não só com uma boa dose de genialidade maquiavélica humana (na qual acredito piamente), mas também uma extrema capacidade de conciliar interesses diversos, organizar forças difusas, coordenar ações complexas e manter sigilo absoluto (coisas nas quais já perdi completamente a fé).
Não sou ingênuo, é claro que acredito em interesses escondidos, manipulações políticas, incentivos financeiros e apoios. Também não me refiro a equipes pequenas com objetivos bem definidos (vide Osama e seus pilotos). Mas, creio que tudo isso é muito mais difuso, desorganizado, caótico e incontrolável do que nossas fantasias práticas imaginam. Em um sistema tão complexo, aposto muito mais na teoria do caos do que em relações causa-e-efeito friamente calculadas.
Trabalhar e conviver dentro de organizações por algum tempo me trouxe essa conclusão ironicamente triste: acredito muito mais no dinheiro, na ganância, no egoísmo e na ambição das pessoas do que na sua capacidade de se organizar e atingir algum objetivo.
quarta-feira, setembro 25, 2002
Somewhere in a snack bar...
Honey Bunny: I love you, Pumpkin.
Pumpkin: I love you, Honey Bunny.
Pumpkin: Everybody be cool. It's a robbery!
Honey Bunny: Any of you fuckin' pricks move, and I'll execute every mother fuckin' last one of ya!
Pulp Fiction (Quentin Tarantino, 1994)
Chupinhei isso do Zeitgeist para apoiar o movimento lançado por ali: vamos logo ao que interessa, está lançado o revival dos anos 90!
Epa, peraí... Isso significa pular o final dos anos 80 e o revival das bandas posers de hard rock, do metal farofa, de David Lee Roth, Sebastian Bach e Axl Rose?
Pensando bem , os 90´s podem esperar...
Quem vigia o vigilante?
Certa vez, há muito tempo em uma galáxia distante, a imprensa foi chamada de Quarto Poder. Seria ela o quarto ponto de sustentação que daria maior solidez ao tripé básico do sistema democrático: os poderes executivo, legislativo e judiciário. Ela teria a responsabilidade de ser o “grande olho” da população, vigiando e divulgando tudo o que os representantes desta faziam com o poder que ela própria lhes dera.
Para muita gente isso hoje não passa de piada. Os veículos de imprensa, sendo entidades ou empresas, têm seus próprios interesses. Pior ainda: podem agir conforme esses objetivos e se esconder atrás da máscara de vigilante isento.
E lá vamos nós novamente amarrados nas contradições da democracia, um nó que talvez só possa ser desatado pela educação, pelo pluralismo e pela diversidade de idéias.
Mas no meio disso tudo ainda dá pra encontrar esperança. Quem vigia o dono do Leão, o secretário da receita Everardo Maciel? É claro, Mr. Elio Gaspari. Por favor, leiam essa coluna, esse cara é meu ídolo...
Obs: Coloquei ali na lista de links favoritos o Colunas do Globo, onde podem ser encontrados regularmente não só o Gaspari, mas o Veríssimo, o Jabor, o Ventura e outros segundo sua preferência...
terça-feira, setembro 24, 2002
I can't believe it,
the way you look sometimes
like a trampled flag on the city streets
And I don't want it,
the things you're offering me
simbolyzed barcodes, quick I.D.
Cause I'm a 21st century digital boy
I don't know how to live
but I've got a lot of toys
My daddy is a lazy middle class intelectual
My mommy's on Valium, she's so ineffectual
Ain't life a mistery?
Angry and bad they are...
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